O ganho médio em Portugal diverge cada vez mais do da UE e Zona Euro

– Mas os lucros da banca no nosso país explodiram, estrangulando famílias e empresas sem qualquer limite
–Governo e Banco de Portugal permanecem passivos diante disso
–Portugal caminha para uma grave crise política, económica e social
–CGD, um banco público que ignora a sua missão

Eugénio Rosa [*]

Portugal é um país onde as desigualdades estão a crescer de uma forma muito rápida causando um aumento enorme da pobreza, o empobrecimento da classe média e o enriquecimento crescente de uma minoria. Estas desigualdades são ainda agravadas pela degradação crescente do SNS e da Escola Pública que são dois instrumentos fundamentais no combate às desigualdades.

Apesar dos enormes (auto) elogios à política das “contas certas”, o governo do PS/Costa deixa um país com uma economia frágil e a caminho da recessão (-0,2% no 3º trim./2023); com uma taxa de investimento, nomeadamente publico, muito baixa e inferior à média da UE; com uma Administração Pública degradada, sem meios e incapaz de responder aos grandes desafios que o país enfrenta; um país de baixos salários e de baixos custos de mão-de-obra – muito inferiores à media dos países da UE, portanto um país baseado em atividades de baixa produtividade.

O GANHO MÉDIO ANUAL EM PORTUGAL ESTÁ MUITO ABAIXO DO GANHO MÉDIO NA UE E NA ZONA EURO E DE MUITOS PAÍSES EUROPEUS. COM O PASSAR DOS ANOS A SITUAÇÃO NO LUGAR DE CONVERGIR TEM DIVERGIDO AINDA MAIS

O quadro 1, com dados do Eurostat, mostra essa crescente divergência em relação a muitos países da UE.

Quadro 1- Ganho médio anual em Portugal, no conjunto da UE e da Zona Euro e em cada um dos países, 2013-2022
Quadro 1.

Segundo o Eurostat, entre 2013 e 2022, o ganho médio em Portugal aumentou em apenas 2731€, enquanto a média nos países da UE foi de 4929€, e nos países da Zona Euro de 5128€ (dados das linhas a amarelo). Excetuando os países da antiga União Soviética (linhas a laranja) e a Grécia , nos restantes países do quadro, o ganho medio de 2022 em Portugal era muito inferior aos dos outros países (coluna com as percentagens a vermelho). Em relação ao ganho médio dos países da UE, o de Portugal representava apenas 59,4% em 2022; em relação ao da Zona Euro correspondia apenas a 53,5% em 2022; em relação ao da Suíça era 19%. Em relação aos países da antiga União Soviética, excetuado a Estónia que em 2022 já tinha um ganho médio superior ao de Portugal (o do nosso país representava apenas 95,1% do da Estónia), no que respeita aos restantes países em relação a todos eles, com exceção da Croácia o aumento do ganho médio entre 2013 e 2022, e também entre 2015 e 2022, foi muito superior ao verificado no nosso país (colunas a azul). Se esta diferença de ritmo de crescimento continuar o ganho médio dos trabalhadores desses países rapidamente ultrapassará o ganho médio em Portugal o que será dramático pois traduzirá um atraso crescente de Portugal a nível de condições de vida.

CUSTOS DE MÃO-DE-OBRA EM PORTUGAL MUITO BAIXOS – QUE EM 2022 ERAM APENAS 52,8% DA MÉDIA DOS PAISES DA UE – REVELAM UMA ECONOMIA EM QUE O INVESTIMENTO É REDUZIDO, A INOVAÇÃO É INSUFICIENTE E O BAIXO CRESCIMENTO ECONÓMICO ESTÁ ASSENTE FUNDAMENTALMENTE EM ATIVIDADES DE BAIXA PRODUTIVIDADE E DE BAIXOS SALÁRIOS

Como revelam os dados do Eurostat constantes do quadro 2, em 2022, o custo médio hora da mão-de-obra em Portugal representava apenas 52,8% da média dos países da UE, mas havia muitos países em que essa percentagem era ainda inferior : Bélgica apenas 37%; Dinamarca 34,4%; Alemanha 40,8%, França: 39,5%; etc. (% da última linha do quadro 2). Estes dados mostram que o reduzido crescimento económico em Portugal continua a basear-se em atividades de baixa produtividade e de baixos salários.

Quadro 2.

Devido à profunda degradação da Administração Pública causada pela política de “contas certas” e de redução frenética da divida pública, e também pela incapacidade dos empresários cujas empresas estão, na sua maioria, descapitalizadas quer em capital quer em conhecimento, o investimento é reduzido e a produtividade é baixa.

O que sucedeu e está a se verificar com os programas comunitários prova isso – o “PORTUGAL 2020” que devia ter terminado em 2020 só encerrou em 2023; o “PRR” em que dos 16644 milhões € Portugal já recebeu 5142 milhões € só foi pago aos beneficiários finais apenas 1963milhões € (11,8% do total e 38,2% do recebido pelo governo) e o que não for executado até 2026 o país perderá; e o “PORTUGAL 2030”, com 23000 milhões de fundos comunitários que devia ter sido iniciado em 2021 mas que que nem ainda começou, pois está ainda na fase de avisos de “abertura de concursos” – dá bem uma ideia da incapacidade do governo e dos empresários portugueses para desenvolver o país.

Após oito anos de governo, António Costa deixa um país com uma Administração Pública profundamente degradada, incapaz de promover a utilização atempada e eficiente dos milhões de fundos comunitários, com taxas de investimento publico e privado muito inferiores à média da UE, com baixa produtividade e baixos salários e com grandes desigualdades em que os lucros imorais da banca são a face mais visível e caminhando para uma grave crise económica e social.

OS ENORMES E IMORAIS LUCROS DA BANCA EM PERIODO DE CRISE À CUSTA DO ESTRANGULAMENTO DAS FAMILIAS E DAS EMPRESAS, DO CRESCIMENTO ECONÓMICO E DO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS QUE CAMINHA PARA A RECESSÃO. A CGD TRANSFORMADA EM 2ª ADMININISTRAÇÃO FISCAL NA ARRECADAÇÃO DE RECEITAS PARA O ESTADO, IGNORANDO A SUA MISSÃO

Os lucros dos cinco maiores bancos que operam em Portugal no 3º trimestre de 2023 são imorais e inaceitáveis perante as dificuldades crescentes que enfrentam as famílias e as empresas e o país. Os bancos seguem à risca as recomendações dadas por Mário Centeno numa entrevista à TV que mencionámos num estudo anterior. Disse ele que era bom que os bancos tivessem lucros para compensar os que não tiveram no passado. E era a um homem desta natureza sem qualquer visão estratégia para o país, com uma mentalidade de contabilista de “contas certas”, que António Costa queria entregar o governo do país. É evidente que o desnorte é muito grande.

Quadro 3 – Crédito concedido, juros cobrados, Margem financeira e Lucros dos 5 maiores bancos em 9 meses de 2022 e de 2023
Quadro 3.

Embora o crédito concedido por estes cinco grandes bancos não tenha aumentado entre 2022 e 2023, pois em set/2022 o crédito total somava 204641 milhões € e, em set/2023, apenas 203779,3 milhões € (-0,4%), os juros cobrados por estes explodiram (os da CGD aumentaram em 100% embora o crédito concedido tenha diminuído em -2,7%).

Tomando com base os juros cobrados pela CGD, BCP e Novo Banco, que são aqueles que apresentaram a Margem financeira desagregada em que é possível conhecer o montante de juros cobrados, conclui-se que estes três bancos cobraram, nos nove primeiros meses de 2022, 3712,2 milhões € de juros aos seus clientes e, nos nove primeiros meses de 2023, já cobraram juros no montante de 7134,4 milhões € (+92,2%).

A Margem financeira, que se obtém deduzindo aos juros cobrados os juros pagos pela banca, aumentou, entre 2022 e 2023, de 3803,8 milhões € para 6820,1 milhões €.

Como consequência, os lucros líquidos destes cinco maiores bancos apenas nos nove meses de 2023 somaram 3298 milhões € (só a CGD teve 987,4M€, quase 1000 milhões €, de que se gaba Paulo Macedo), quando em igual período de 2022 tinham já sido de 1669,9 milhões €. E isto perante a passividade, para não dizer mesmo a conivência, do Banco de Portugal de Centeno e do governo de Costa. O que torna felizes os banqueiros é a infelicidade das famílias que têm cada vez maiores dificuldades para pagar juros enormes e imorais e em que o risco de perder a casa em que vivem é cada vez maior.

12/Novembro/2023

[*] edr2@netcabo.pt

O original encontra-se em www.eugeniorosa.com

Este artigo encontra-se em resistir.info

14/Nov/23