A Coreia do Norte e o duplo critério
por La Jornada
O Conselho de Segurança da ONU aprovou sábado 14 a
Resolução 1718/2006, a qual impõe duras
sanções económicas, comerciais e armamentísticas
à Coreia do Norte pelo seu ensaio nuclear de segunda-feira 9 de Outubro.
O castigo imposto pela potências nucleares, nações que
monopolizaram a tecnologia atómica para fins bélicos e ocupam os
postos de maior importância no conselho, põe em evidência a
hipocrisia que prevaleceu nesta crise.
Não é gratuito que o embaixador norte-coreano perante as
Nações Unidas, Pak Gil Yon, acuse o Conselho de Segurança
de ter "dupla moral": por um lado, "não é capaz
de mencionar uma palavra de inquietude para com os Estados Unidos", por
outro, permite que este país ameace "com ataques nucleares
preventivos e agrave as tensões reforçando as tropas armadas e
realizando exercícios militares conjuntos em grande escala
próximo à península coreana".
O diplomata norte-coreano tem argumentos de sobra para acusar de hipocria os
membros do conselho: os Estados Unidos, Rússia, China, França e
Grã-Bretanha realizaram no mínimo 2 mil detonações
nucleares, na superfície ou subterrâneas, com o silêncio e
inclusive a cumplicidade da ONU. Outros países foram tolerados por
razões geoestratégicas, como a Índia, o Paquistão e
Israel. Perante este panorama, que nação tem qualidade moral
para decidir quem tem direito a possuir ou não esta tecnologia?
Basta assinalar os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, cuja moralidade e
civilidade supostamente garantem um bom uso dessas armas. A guerra contra o
terrorismo empreendida por Washington desde há pouco menos de cinco anos
deixou uma longa esteira de violações dos direitos humanos. E o
Conselho de Segurança não actuou consequentemente, a
contra-corrente inclusive da própria Carta da ONU, que reprova
invasões unilaterais como a do Iraque. Tem Washington o direito de
decidir quem usa ou não a energia atómica?
Entretanto, os representantes estadunidenses nas Nações Unidas
parecem actuar como se assim acreditassem. A resolução contra a
Coreia do Norte não só contempla as sanções
típicas: prevê também restrições derivadas
da legislação anti-terrorista impulsionada por George W. Bush
desde os ataque de 2001. A iniciativa Proliferação Segura,
aprovada em 2003, estimula os países a proibir a compra e venda de armas
à Coreia do Norte, Irão e outros países considerados
perigosos pela Casa Branca, e inspirou uma disposição de que
todos os países inspeccionem a mercadoria que sai ou entra naquele
país asiático.
Apesar de a China ter dito ao conselho que permitiria que se adoptasse a
disposição, mas que não a aprovava, esta manobra mostra o
desplante estadunidense nesta crise. Por um lado promove as
sanções mais duras à Coreia do Norte, propondo inclusive o
uso da força. Por outro, limita a margem de manobra para eventuais
aproximações. Felizmente a China e a Rússia impediram ou
suavizaram diferentes aspectos da sanção, como a
menção de uma possível utilização da
força para solucionar esta crise. "A China exorta firmemente os
países interessados a adoptar uma atitude prudente e responsável
a respeito, e a abster-se de tomar medidas provocatórias que possam
intensificar as tensões", disse o embaixador de Pequim na ONU, Wang
Guangya.
Contudo, o caminho seguido pela comunidade internacional, encabeçada por
Washington, está longe da prudência e da moral. Por um lado
é incapaz de medir com a mesma vara situações semelhantes:
o que é mais perigoso, os Estados Unidos com centenas de ogivas
nucleares, ou a Coreia do Norte? Por outro, e capaz de condenar milhões
de pessoas à miséria mais espantosa só para castigar um
país que assume o seu direito à tecnologia de ponta.
15/Outubro/2006
O original encontra-se em
http://www.jornada.unam.mx/2006/10/15/edito.php
Este editorial encontra-se em
http://resistir.info/
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