por Michel Chossudovsky
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"Descobrimos a bomba mais terrível da história mundial. Pode
ser o fogo de destruição profetizado na Era do Vale Eufrates,
depois de Noé e da sua famosa Arca.... Esta arma será usada
contra o Japão... [Nós] vamos usa-la de forma que apenas os
objectivos militares, e soldados e marinheiros sejam o alvo, e não
mulheres e crianças. Mesmo que os japoneses sejam selvagens,
cruéis, impiedosos e fanáticos, nós como líder
mundial para o bem-estar comum, não podemos deixar cair esta
terrível bomba na velha nem na nova capital... O objectivo será
exclusivamente militar... Parece ser a coisa mais terrível alguma vez
descoberta, mas pode ter o mais útil dos resultados."
(Presidente Harry S. Truman, Diário, 25/Julho/1945)
"O Mundo notará que a primeira bomba atómica foi
lançada sobre Hiroshima, uma base militar. Isso foi assim porque
nós desejámos neste primeiro ataque evitar, na medida do
possível, a morte de civis.."
(Presidente Harry S. Truman num discurso radiofónico dirigido à Nação, 09/Agosto1945)
[Nota: a primeira bomba atómica foi lançada sobre Hiroshima no
dia 6 de Agosto de 1945; a segunda sobre Nagasaki, no dia 9 de Agosto, dia do
discurso radiofónico de Truman à Nação]
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Desde o lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima, em
6 de Agosto de 1945, a humanidade nunca esteve tão perto do
inconcebível: um holocausto nuclear que potencialmente se poderia
propagar, em termos da radioactividade resultante, numa grande parte do
Médio Oriente.
Todas as protecções da era da Guerra Fria que classificou a bomba
nuclear como "uma arma de último recurso", foram
destruídas. Agora são consideradas como acto de
"autodefesa", a utilização de armas nucleares em
acções militares "ofensivas".
A distinção entre as armas nucleares tácticas e o arsenal
convencional de combate foi esbatida. A nova doutrina nuclear de
América está baseado numa "combinação de
capacidades de ataque". Esta última doutrina, que se aplica
especificamente ao plano do Pentágono para o bombardeamento aéreo
contra o Irão, considera o uso de armas nucleares em
combinação com armas convencionais.
Tal como no caso da primeira bomba nuclear que, nas palavras de Presidente
Harry Truman, foi "lançada sobre Hiroshima, uma base militar",
hoje as "mini-bombas nucleares" são anunciadas como
"seguras para a população civil envolvente".
Conhecida oficialmente em Washington, como "Publicação
conjunta 3-12" (Joint Publication 3-12), a nova doutrina nuclear (Doutrina
para Operações Nucleares Conjuntas - Doctrine for Joint Nuclear
Operations - DJNO) (2005 de Março) reclama uma
"integração de ataques convencionais e nucleares" sob
um comando e controlo unificado e "integrado" (C2).
Esta doutrina descreve longamente o planeamento da guerra como uma
gestão do processo de tomada de decisão, onde os objectivos
militares e estratégicos serão alcançados através
da combinação de instrumentos, com pouca
preocupação com a resultante perda de vidas humanas.
O planeamento militar está focalizado no "uso mais eficiente da
força", isto é, numa combinação óptima
de diferentes sistemas de armamento para alcançar os objectivos
militares estabelecidos. Neste contexto, o armamento convencional e nuclear
é considerado como fazendo parte da "caixa de ferramentas"
à qual os chefes militares podem recorrer e escolher os instrumentos que
considerarem estarem de acordo com a "evolução das
circunstâncias" no teatro de guerra. (Nenhuma destas armas da
"caixa de ferramentas" do Pentágono, incluindo bombas
anti-bunker, bombas de fragmentação, mini-bombas nucleares, armas
químicas e biológicas são consideradas "armas de
destruição maciça" quando usadas pelos EUA ou pelos
seus parceiros de coligação).
O objectivo declarado é:
"garantir o mais eficiente uso da força
e proporcionar aos líderes dos EUA uma gama alargada de
opções de ataque [nuclear e convencional] para solucionar
eventualidades imediatas. A integração de forças
convencionais e nucleares é assim crucial ao sucesso de qualquer
estratégia abrangente. Esta integração assegurará
uma óptima selecção dos alvos, com dano colateral
mínimo, e reduzida probabilidade de escalado do conflito."
(
Doctrine for Joint Nuclear Operations
p. JP 3-12-13)
A nova doutrina nuclear inverte conceitos e realidades. Não só
nega os impactos devastadores das armas nucleares, como declara, violentamente,
que as armas nucleares são "seguras" e que o seu uso no campo
de batalha garantirá um "dano colateral mínimo e
reduzirá a probabilidade de uma escalada". A questão da
precipitação radioactiva é muito pouco reconhecida no que
diz respeito às armas nucleares tácticas. Estas
orientações que descrevem as armas nucleares como sendo
"seguras para os civis" constituem um consenso entre os militares, o
qual é então introduzido nos manuais militares, dando um
"sinal verde" aos comandantes geográficos no teatro de guerra.
Acções "defensivas e "ofensivas"
Enquanto a Revisão de Postura Nuclear 2001 (
2001 Nuclear Posture Review
) fixa as condições para o uso antecipativo
(preemptive)
de armas nucleares no Médio Oriente, especificamente contra o
Irão, a
Doutrina para Operações Nucleares Conjuntas
(DJNO) dá um passo mais adiante, confundindo as diferenças
existentes
entre acções militares "defensivas" e
"ofensivas":
"A nova tríade oferece uma combinação entre
capacidades estratégicas ofensivas e defensivas,
que incluem
capacidade de ataque nuclear e não-nuclear, defesas activas e passivas,
e uma sólida infra-estruturas de investigação,
desenvolvimento, e industrial,
capaz de desenvolver, construir, e manter sistemas de forças ofensivas e
defensivas...
" (Ibíd.) (conceitos chave em itálico)
Porém, a nova doutrina nuclear vai para além de actos
antecipativos de "autodefesa", reclamando uma
"acção antecipada" usando armas nucleares contra um
"inimigo pária" que supostamente planeia desenvolver ADM num
futuro indefinido:
Um plano de segurança responsável
exige uma preparação adequada às ameaças realmente
possíveis, embora talvez improváveis no presente momento.
As lições da história militar continuam a ser claras:
os conflitos imprevisíveis e irracionais acontecem. As forças
militares têm de se preparar para avaliar o armamento e as capacidades
existentes ou que venham a existir a curto prazo,
mesmo que não se esteja perante um provável cenário de uma
guerra a acontecer no imediato. Por forma a impedir ao máximo o uso de
ADM, é essencial que as forças dos EUA estejam preparadas para
usar armas nucleares de uma forma efectiva, e estas forças dos EUA
estão determinadas a utilizar armas nucleares se necessário for
para prevenir ou retaliar o uso de ADM.
(Ibíd., p. III-1, itálicos do autor)
As armas nucleares serviriam para impedir um programa não existente de
ADM (por exemplo do Irão) antes do seu desenvolvimento. Esta
formulação retorcida vai para além das premissas da
Revisão de Postura Nuclear 2001 e do NPSD 17, a qual declara que os EUA
podem retaliar com armas nucleares se forem atacados com ADM:
"Os Estados Unidos tornarão claro que se reservam o direito de
responder com força esmagadora incluindo potencialmente armas
nucleares ao uso de [armas de destruição maciça]
contra os Estados Unidos, contra as nossas forças no estrangeiro, e
contra os nossos amigos e aliados."... (NSPD 17)
"Integração" dos planos de armas nucleares e
convencionais
A
Doutrina para Operações Nucleares Conjuntas
(DJNO)
esboça os procedimentos que regulamentam o uso de armas nucleares e a
natureza da relação entre operações de guerra
nucleares e convencionais.
A DJNO declara que o:
" o uso de armas nucleares num teatro de [guerra]
requer que os planos nucleares e convencionais sejam integrados na maior
extensão possível"
(DJNO, p. 47, para mais detalhes consulte
"Nuclear War against Iran", Janeiro de 2006 de Michel Chossudovsky
, itálicos do autor)
As implicações desta "integração"
são de longo alcance porque uma vez que a decisão seja tomada
pelo Comandante em Chefe, isto é, o Presidente dos Estados Unidos,
lançar uma operação militar conjunta convencional e
nuclear, leva a que exista o risco de que armas tácticas nucleares
possam ser usadas sem a subsequente aprovação presidencial.
Nestes termos, a execução dos procedimentos que se encontrem sob
a jurisdição dos comandantes em zona de guerra quem têm
armas nucleares à sua responsabilidade, são descritos como
"flexíveis e permitem modificações perante a
situação":
"Os comandantes geográficos de combatentes são
responsáveis
pela definição dos objectivos do teatro de
operações e pelo desenvolvimento dos planos nucleares
requeridos para suportar aqueles objectivos, incluindo a selecção
dos alvos. Quando assumida, o CDRUSSTRATCOM, actuando como apoio do comandante
em zona de guerra, providencia planos de suporte detalhados para ajustar a
planificação requerida. Todo o planeamento da acção
nuclear no teatro de operações, segue o prescrito nos
procedimentos do Sistema de Execução e da
Planificação da Execução Conjunta (Joint Operation
Planning and Execution System) para formular e implementar uma efectiva
resposta dentro do prazo permitido pela crise.
Desde que não existam opções para os cenários em
presença, os comandantes em zona de guerra deverão ter a
capacidade para elaborar um plano de acção para a crise e
executar esses planos. O plano de acção para a crise fornece a
capacidade de desenvolver novas opções, ou modificar as
opções existentes, quando as actuais se revelem limitadas ou
quando as principais opções de resposta forem inadequadas.
...O comando, o controlo, e a coordenação devem ser
suficientemente flexíveis para permitir ao comandante do combatente
geográfico atingir objectivos em tempo hábil tais como
plataformas móveis de lançamento de mísseis"
(DJNO)
. (itálicos do autor)
Operações nucleares em teatro de guerra (Theater Nuclear
Operations, TNO)
Enquanto a aprovação presidencial é formalmente requerida
para lançar uma guerra nuclear, os comandantes de combatentes
geográficos responsáveis pelas Operações em Teatro
Nuclear (Theater Nuclear Operations, TNO) teriam mandato não só
para implementar como para formular decisões de comando relativas a
armas nucleares.
(DJNO)
.
Já não estamos a lidar com "o risco" associado a
"um lançamento nuclear acidental ou inadvertido" como
esboçado pelo anterior secretário da Defesa
Robert S. McNamara
,
mas sim com um processo de tomada de decisão militar que dá aos
comandantes militares, do Comandante em Chefe até os comandantes
geográficos, poderes discricionários para a
utilização de armas nucleares tácticas.
Além disso, como estas armas nucleares tácticas
"menores" foram "reclassificadas" pelo Pentágono e
consideradas "seguras para a população de civil
envolvente", e portanto "minimizam o risco de danos colaterais",
passa a não existir qualquer restrição absoluta que
impeça o seu uso. (ver Michel Chossudovsky,
"The Dangers of a Middle East Nuclear War"
,
Global Research,
Fevereiro de 2006).
Uma vez tomada umaa decisão de lançar uma operação
militar (por exemplo, ataques aéreos sobre o Irão), os
comandantes em zona de guerra têm um certo grau de liberdade. O que isto
significa na prática é que, uma vez tomada a decisão
presidencial, o USSTRATCOM em ligação com comandantes em zona de
guerra pode decidir o alvo e o tipo de armamento a ser utilizado. É
considerado agora que armas nucleares tácticas armazenadas são
uma parte integrante do arsenal de campo de batalha. Por outras palavras, as
armas nucleares tornaram-se "parte da caixa de ferramentas", a ser
usada em teatros de guerra convencionais.
Ataques aéreos planeados contra o Irão
Um plano operacional para empreender ataques aéreos ao Irão
está em "em estado de prontidão" desde Junho de 2005. O
hardware militar essencial para empreender esta operação foi
instalado. (para mais pormenores ver
"Nuclear War against Iran", Michel Chossudovsky
, Janeiro/2006).
O vice-presidente Dick Cheney ordenou que o USSTRATCOM traçasse um
"plano de contingência" que "incluísse uma ampla
operação aérea contra o Irão empregando armas
convencionais e nucleares tácticas". (Philip Giraldi,
Attack on Iran: Pre-emptive Nuclear War
, The American Conservative, 02/Agosto/2005).
O USSTRATCOM teria a responsabilidade de vigiar e coordenar tanto o
desenvolvimento como o lançamento da operação militar.
(para pormenores,
Michel Chossudovsky, Nuclear War against Iran
,
Janeiro/2006).
Em Janeiro de 2005 foi implementada uma mudança significativa no mandato
do USSTRATCOM. O USSTRATCOM foi identificado como "líder do comando
em zona de guerra para integração e sincronização
dos grandes esforços do Departamento de Defesa no combate às
armas de destruição maciça". Para implementar este
mandato foi criada uma nova unidade especial de comando intitulada Comando
Conjunto de Componentes Funcionais para Ataque Espacial e Global, (
Joint Functional Component Command Space and Global Strike
- JFCCSGS)
Supervisionado pelo USSTRATCOM, o JFCCSGS seria responsável pelo
lançamento de operações militares que "utilizem armas
nucleares ou convencionais" conforme a nova doutrina nuclear da
administração Bush. As duas categorias de armas seriam integradas
numa "operação de ataque comum" sob um Comando e
Controlo unificado.
Segundo
Robert S. Norris e Hans M. Kristensen, no Bulletin of Atomic Scientists:
"O Departamento de Defesa está a actualizar o seu plano de ataque
nuclear de forma a reflectir a nova orientação presidencial, e
fazer uma transição do planeamento de guerra desde o anterior
peso-pesado Plano Operacional Integrado Único da Guerra Fria para uma
família de planos de ataque menores e mais flexíveis destinados a
derrotar os adversários de hoje. O novo plano de guerra
estratégico central é conhecido como OPLAN (Plano de
Operações) 8044.... Este plano revisto e pormenorizado,
disponibiliza opções mais flexíveis para encorajar
aliados, e dissuadir, intimidar, e se necessário, derrotar
adversários numa ampla gama de contingências....
Um membro da nova família é o CONPLAN 8022, plano idealizado para
o uso rápido de armamento nuclear, convencional, ou capacidades de
informação de guerra, para destruir, antecipadamente se
necessário, "objectivos temporalmente urgentes" em qualquer
lugar no mundo. O secretário da Defesa Donald Rumsfeld emitiu uma Ordem
Alerta no início de 2004 dirigida ao exército no sentido de
pôr o CONPLAN 8022 em acção. Como resultado, a
política antecipativa da administração Bush encontra-se
agora operacional em termos de bombardeiros de longo alcance, submarinos
estratégicos em patrulhas de dissuasão, e presumivelmente
mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs)".
A implementação operacional de um Ataque Global ficaria sob o
Concept Plan (CONPLAN) 8022, que consiste agora num "plano real que a
Marinha e a Força Aérea traduzem em "pacotes" de ataque
para os seus submarinos e bombardeiros", (
Japanese Economic Newswire,
30/Dezembro/2005. Para mais pormenores ver Michel Chossudovsky: "Nuclear
War against Iran", op. cit.).
O CONPLAN 8022 é "o plano global guarda-chuva para a espécie
de cenários estratégicos pre-planeados que envolvam armas
nucleares."
"Ele está especificamente focalizado nestes novos tipos de
ameaças o Irão, a Coreia do Norte proliferadores e
potenciais terroristas também", disse ele. "Não
há nada a dizer que eles não podem usar o CONPLAN 8022 em
cenários limitados, tanto contra a Rússia e como contra
objectivos chineses." (de acordo com Hans Kristensen do Projecto de
Informação Nuclear, citado em
Japanese Economic News Wire,
op. Cit)
Autorização de instalação de armas nucleares
O planeamento dos bombardeamentos aéreos do Irão teve inicio em
meados de 2004, de acordo com a formulação do CONPLAN 8022 no
inicio de 2004. Em Maio de 2004, foi emitida a Directiva Presidencial para a
Segurança Nacional
(National Security Presidential Directive-NSPD 35)
intitulada Autorização de Instalação de Armas
Nuclear.
O conteúdo deste documento altamente confidencial continua
cuidadosamente guardado como segredo de estado. Não houve qualquer
menção ao NSPD 35 nos media nem mesmo durante os debates no
Congresso. Enquanto o seu conteúdo permanece classificado, a
presunção é de que este NSPD 35 faz parte da
instalação de armas nucleares tácticas no teatro de guerra
do Médio Oriente conforme o CONPLAN 8022.
Neste contexto, um recente artigo de imprensa publicado em
Yeni Safak
(Turquia) sugere que os Estados Unidos estão actualmente:
"a instalar armas nucleares tácticas tipo B61 no sul do Iraque como
parte de um plano para atacar o Irão a partir desta zona, se e quando o
Irão responder a um ataque israelense às suas
instalações nucleares." (Ibrahim Karagul, "Os EUA
estão a instalar armas nucleares no Iraque contra o Irão",
Yeni Safak,
20/Dezembro/2005, citado pela BBC
Monitoring Europe
).
Esta instalação de armas nucleares no Iraque parece estar de
acordo com o
NSPD 35
.
O que o relatório de
Yenbi Safak
sugere é que aquelas armas convencionais seriam usadas em primeiro
lugar e, se o Irão retaliasse em resposta a ataques aéreos dos
EUA ou de Israel, poderiam então ser lançadas armas
tácticas termonucleares B61. Esta retaliação com
utilização de armas nucleares tácticas seria consistente
com os procedimentos contidos na Revisão de Postura Nuclear 2001 e NSPD
17 (ver acima).
O armazenamento de armas convencionais e nucleares por Israel
Israel faz parte da aliança militar e está destinado a ter um
papel importante nos ataques planeados contra o Irão. (para pormenores
ver Michel Chossudovsky:
"Nuclear War against Iran"
, Janeiro/2006).
Confirmado por vários artigos de imprensa, Israel recebeu, a partir de
Setembro de 2004 cerca de
500 bombas anti-bunker BLU 109
produzidas nos EUA (
WP,
6 de Janeiro de 2006). A primeira encomenda de BLU 109 [Bomb Live Unit] data
de Setembro de 2004. Em Abril de 2005, Washington confirmou que Israel iria
receber 100 das mais sofisticadas bombas anti-bunker GBU-28 produzidas pela
Lockheed Martin (Reuters, 26/Abril/2005). A GBU-28 é descrita como
"uma munição convencional de 5.000 libras (2268 kg) guiada a
laser que usa uma ogiva penetrante de 4.400 libras (1996 kg)". Foi usada
no teatro de guerra iraquiano:
O Pentágono [declarou] que... a venda a Israel de 500 ogivas de combate
de BLU-109, pretendeu "contribuir significativamente para os objectivos
estratégicos e tácticos dos EUA."
Montadas em bombas guiadas por satélite, as BLU-109 podem ser disparadas
de caças F-15 ou F-16, caças fabricados nos EUA e que fazem parte
do arsenal de Israel. Este ano Israel recebeu de Washington, o seu principal
aliado, o primeiro avião de uma frota de 102 F-16I de longo raio de
acção. "Israel fabrica muito provavelmente as suas
próprias bombas anti-bunker, mas não são tão
robustas como as BLUs de 2,000 libras (907 kg)", declarou Robert Hewson,
editor de
Jane's Air-Launched Weapons
. (
Reuters,
21/Setembro/2004)
O artigo não confirma se Israel armazenou e instalou a versão
termonuclear da bomba anti-bunker. Nem indica se as bombas anti-bunker
fabricadas pelos israelenses estão equipadas com ogivas nucleares.
Refere-se que este armazenamento de bombas anti-bunker ocorreu poucos meses
depois da disponibilização do
NPSD 35, Autorização de Instalação de Armas Nucleares
(Maio/2004).
Israel possui 100 a 200
ogivas nucleares estratégicas
. Em 2003,
Washington e Tel Aviv confirmaram que estavam a colaborar na
"instalação de mísseis de cruzeiro Harpoon fornecidos
pelos EUA armados com ogivas nucleares para a frota de submarinos classe
Dolphin de Israel".
(The Observer, 12/Outubro/003)
. Em desenvolvimentos mais recentes, que coincidem com a
preparação do ataque contra o Irão, Israel recebeu dois
novos submarinos de fabrico alemão "que poderiam lançar
mísseis de cruzeiro armados com ogivas nucleares para um "segundo
ataque" dissuasor (
Newsweek,
13/Fevereiro/2006. Veja também
Base de dados do CDI
).
As capacidades de armamento nuclear táctico de Israel não
são conhecidas
A participação de Israel nos ataques aéreos também
terá o efeito de uma bomba política em todo o Médio
Oriente. Contribuiria para uma escalada dos acontecimentos, com uma zona de
guerra que se poderia estender inicialmente ao Líbano e à
Síria. Toda a região oriental do mediterrâneo até
à Ásia central e a fronteira ocidental do Afeganistão
seria afectada.
O papel de Europa Ocidental
Vários países europeus ocidentais, oficialmente considerados como
"estados não-nucleares", possuem armas nucleares
tácticas fornecidas por Washington.
Os EUA forneceram umas 480 bombas termonucleares B61 a cinco países
não-nucleares da NATO: Bélgica, Alemanha, Itália,
Países Baixos e Turquia, e um país nuclear, o Reino Unido.
Normalmente desconsiderado pela organização de Controlo Nuclear
da ONU, baseada em Viena, os EUA têm contribuído activamente para
a proliferação de armas nucleares na Europa Ocidental.
Como parte deste armazenamento europeu, a Turquia como aliado dos EUA contra o
Irão ao lado de Israel, possui umas 90 B61 bombas termonucleares
anti-bunker na base aérea nuclear de Incirlik. (National Resources
Defense Council, Nuclear Weapons in Europe, Fevereiro/2005).
Em consistência com a política nuclear dos EUA, o armazenamento e
a instalação de bombas termonucleares B61 na Europa Ocidental
destina-se a serem utilizadas em objectivos localizados no Médio
Oriente. Além disso, conforme "os planos de ataque da NATO",
estas bombas anti-bunker B61 termonucleares (armazenadas por estados
"não-nucleares") poderiam ser lançadas "contra
objectivos localizados na Rússia ou em países do Médio
Oriente, tais como a Síria e o Irão" (citado em
National Resources Defense Council, Nuclear Weapons in Europe
, Fevereiro/2005).
Por outro lado, foi confirmado pelo (parcialmente) desclassificado documento
(divulgado no âmbito do US Freedom of Information Act):
"Em meados dos anos 90, foram feitos ajustes para permitir o uso de
forças nucleares norte-americanas na Europa, fora da área de
responsabilidade de Comando Europeu dos EUA (EUCOM). Como resultado destes
arranjos, o
EUCOM apoia agora as missões nucleares do CENTCOM no Médio
Oriente, incluindo, potencialmente, contra o Irão e a Síria".
(citado em:
http://www.nukestrat.com/us/afn/nato.html
).
Com a excepção do EUA, nenhuma outra potência nuclear
"tem armas nucleares destinadas a serem lançadas por países
não-nucleares" (National Resources Defense Council, op cit).
Enquanto estes "estados não-nucleares" acusam Teerão de
desenvolver armas nucleares, sem que disso tenham prova documental, são
eles próprios que têm capacidades de obter ogivas nucleares que
são apontadas para o Irão. Dizer que este é um caso claro
de "dois pesos duas medidas" utilizado pelo AIEA e a pela
"comunidade internacional", é uma declaração
insuficiente
(understatement).
Alemanha: De facto uma potência nuclear
Entre os cinco "estados não-nucleares" a "Alemanha
continua a ser o país mais nuclearizado, com três bases nucleares
(duas delas estão completamente operacionais), podendo armazenar
até 150 bombas [B61 anti-bunker] " (Ibid). De acordo com os
"planos de ataque da NATO" (mencionados acima) estas armas nucleares
tácticas também estão apontadas para o Médio
Oriente.
Não sendo a Alemanha oficialmente uma potência nuclear, produz no
entanto ogivas nucleares para a marinha francesa. Ela armazena ogivas nucleares
e tem a capacidade de fornecer armas nucleares. A
European Aeronautic Defense and Space Company (EADS)
, um empreendimento conjunto
franco-alemão-espanhol, controlado por Deutsche Aerospace e o poderoso
Grupo Daimler, é o segundo maior produtor militar da Europa, fornecendo
o míssil nuclear M51 da França.
A França endossa a doutrina nuclear antecipativa
Em Janeiro de 2006, o presidente francês Jacques Chirac anunciou uma
mudança importante na política nuclear da França.
Sem mencionar o Irão, Chirac anunciou que as armas nucleares da
França deveriam ser usadas na forma de "ataques mais
focalizados" contra países que estavam "a considerar" o
desenvolvimento de Armas de Destruição de Maciça (ADM).
Ele deu a entender também a possibilidade de poderem ser usadas armas
nucleares tácticas em teatros de guerra convencionais, muito na linha de
doutrina nuclear dos EUA e da NATO (ver
"Chirac shifts French doctrine for use of nuclear weapons"
,
Nucleonics Week,
26/Janeiro/2006).
O presidente francês parece ter abraçado a "guerra ao
terrorismo" patrocinada pelos EUA. Ele acabou por apresentar as armas
nucleares como um meio para construir um mundo mais seguro e para combater o
terrorismo:
Não significa que as armas nucleares venham a ser usadas contra
"terroristas fanáticos", não obstante "os
líderes dos estados que usem meios terroristas contra nós, como
também aqueles que considerarem usar, numa ou noutra forma, armas de
destruição maciça, tem que entender que se estão a
expor a uma firme e apropriada resposta do nosso lado...".(Ibid)
Embora Chirac não tenha feito qualquer referência ao uso
preventivo de armas nucleares, a sua declaração reproduz as
premissas da Revisão de Postura Nuclear 2001 da
administração Bush que reclama o uso de armas nucleares
tácticas contra ''estados párias" e
"organizações terroristas não-estatais".
Construindo um pretexto para um ataque nuclear preventivo
O pretexto para empreender uma guerra, essencialmente contra o Irão,
assenta em duas premissas fundamentais que fazem parte da doutrina de
Segurança Nacional da administração Bush.
1. A alegada posse de "armas destruição maciça
(ADM)" pelo Irão, mais especificamente o seu programa de
enriquecimento nuclear.
2. O alegado apoio a "terroristas islâmicos" pelo Irão.
Estas são as duas declarações interrelacionadas que
constituem uma parte integral da campanha de propaganda
desinformação dos media.
A declaração das "armas de destruição
maciça (ADM)" é utilizada para justificar a "guerra
antecipativa" contra os "estados patrocinadores do terrorismo",
isto é, países como o Irão e a Coreia Norte, que
supostamente possuem ADM. O Irão é identificado como um estado
patrocinador de "organizações terroristas
não-estatais". Estas por sua vez, possuem também ADM,
constituindo potencialmente uma ameaça nuclear. As
organizações terroristas não-estatais são
apresentadas como uma "potência nuclear".
"Os inimigos nesta [longa] guerra não são um exército
convencional tradicional, mas sim redes terroristas globais bastante dispersas,
que exploram o Islão para conseguir objectivos políticos
radicais. Estes inimigos têm o objectivo declarado de adquirir e usar
armas nucleares e biológicas para assassinar centenas de milhares de
americanos e outros cidadãos por todo o mundo". (2006
Quadrennial Defense Review
)
Em contraste, a Alemanha e Israel produzem e possuem ogivas nucleares e
não são considerados "potências nucleares".
Nos últimos meses, o pretexto para uma guerra, construído com
base nesta ligação entre o terrorismo islâmico e as ADM,
tem sido destacado "ad nauseam", diariamente, nos media ocidentais.
Numa exposição destinada à Comissão do Senado para
o Orçamento, a secretária de Estado Condoleezza Rice acusou o
Irão e a Síria de desestabilizarem o Médio Oriente e darem
apoio a grupos islâmicos militantes. Ela definiu o Irão como
"o banqueiro central do terrorismo", não obstante o facto
amplamente documentado de que a Al Qaeda foi apoiada e financiada no seu
início nos anos 80 por mais ninguém senão a CIA. (ver
Michel Chossudovsky,
Who is Osama bin Laden
, Global Research 2001)
"Não é apenas o programa nuclear do Irão, mas
também o seu apoio ao terrorismo em todo o mundo. Eles são com
efeito, o banqueiro central para o terrorismo". (declaração
na Comissão do Senado para o Orçamento, 16/Fevereiro/2006)
"O segundo 11/Setembro": o "Plano de Contingência"
de Cheney
Enquanto a "ameaça" das alegadas ADM do Irão é
inscrita para debate no Conselho Segurança da ONU, informa-se que o
vice-presidente Dick Cheney deu instruções ao USSTRATCOM para
preparar um plano de contingência a ser utilizado no caso de se verificar
novo ataque terrorista do tipo 11/Setembro nos Estados Unidos". Este
"plano de contingência" para atacar o Irão utiliza o
pretexto de um "segundo 11/Setembro", que contudo ainda não
aconteceu, para preparar uma importante operação militar contra o
aquele país.
O "plano de contingência", que se caracteriza como um
fortalecimento militar na antecipação de possíveis ataques
aéreos contra o Irão, está em "estado de
prontidão".
O que é diabólico é que a justificação para
travar uma guerra contra o Irão assenta no envolvimento daquele
país num ataque terrorista à América, o qual ainda
não aconteceu:
O plano inclui um ataque aéreo de grandes proporções
contra o Irão, empregando armas nucleares tácticas e
convencionais. Existem mais de 450 objectivos estratégicos principais
no Irão, incluindo numerosos locais suspeitos de desenvolvimento de
programas de armas nucleares. Muitos dos objectivos estão fortemente
protegidos ou estão localizados em instalações
subterrâneas e não podem ser atingidas por armas convencionais,
daí a opção nuclear. Tal como no caso de Iraque, a
resposta não está condicionada ao facto de o Irão estar
envolvido directamente em actos de terrorismo dirigidos contra os Estados
Unidos. De acordo com informações, vários oficiais de
alta patente da Força Aérea, envolvidos no planeamento,
estão horrorizados com as implicações daquilo que
estão a fazer que o Irão tem vindo a ser definido para um
ataque nuclear não provocado mas nenhum deles está
preparado para prejudicar a sua carreira colocando objecções.
(Philip Giraldi,
Attack on Iran: Pre-emptive Nuclear War, The American Conservative
, 02/Agosto/2005)
Será legitimo entender que os planeadores militares dos EUA estão
no limbo à espera de um segundo 11/Setembro a fim de lançar uma
operação militar dirigida contra o Irão, o qual
está actualmente num "estado de prontidão"?
O proposto "plano de contingência" de Cheney não se
concentra na prevenção de um segundo 11/Setembro. O plano Cheney
baseia-se na presunção de que o Irão estaria por
trás de um segundo 11/Setembro e de que bombardeamentos punitivos seriam
imediatamente activados, antes mesmo de se iniciar uma
investigação, muito na linha do aconteceu com os ataques contra o
Afeganistão em Outubro de 2001, alegadamente em represália pelo
papel do governo Taliban no apoio aos terroristas do 11/Setembro. Vale a pena
notar que o bombardeamento e a invasão do Afeganistão haviam sido
planeados bem antes do 11/Setembro. Tal como Michael Keefer destaca num
incisivo artigo de revista:
Num nível mais profundo, isto implica que 'ataque terroristas tipo
11/Setembro' são reconhecidos pelo gabinete de Cheney e pelo
Pentágono como meios apropriados para legitimar guerras de
agressão contra qualquer país seleccionado para esse tratamento
pelo regime e pelo seu sistema corporativo de
propaganda-amplificação....
(Keefer, Fevereiro/2006)
Keefer conclui que "um ataque ao Irão, o qual presumivelmente
envolveria o uso de um número significativo de bombas nucleares
penetrantes extremamente "sujas", poderia muito bem ser fabricado
para se seguir a um ataque com bombas sujas nos Estados Unidos, o qual seria
descrito nos media como tendo sido executado por agentes iranianos"
(Keefer, Fevereiro/2006)
A batalha pelo petróleo
As companhias de petróleo anglo-americanas estão inequivocamente
por trás do "plano de contingência" de Cheney para
travar a guerra contra o Irão. A guerra destina-se a exercer controlo
territorial e corporativo sobre as reservas de petróleo e de gás,
assim como sobre as rotas dos pipelines.
Há continuidade nos planos de guerra dos EUA para o Médio
Oriente, desde os democratas aos republicanos. As características
essenciais de discurso neoconservador já estavam estabelecidas na
administração Clinton. A estratégia do Comando Central dos
EUA (US Central Command's - USCENTCOM) em meados dos anos 90, foi orientada
para assegurar, do ponto de vista económico e militar, o controlo do
petróleo do Médio Oriente.
"Os amplos interesses e objectivos para a segurança nacional
interna expressos na Estratégia de Segurança Nacional do
Presidente (President's National Security Strategy - NSS) e na
Estratégia Militar Nacional do Presidente (Chairman's National Military
Strategy (NMS), concorrem para o estabelecimento do teatro estratégico
do Comando Central dos Estados Unidos (United States Central Command -
USCENTCOM). O NSS está dirigido para a implementação de
uma estratégia de
contenção dual dos estados párias Iraque e Irão
tanto quanto esses estados representarem uma ameaça aos interesses dos
EUA, aos outros estados da região, e aos seus próprios
cidadãos.
A contenção dual é estabelecida para manter o
equilíbrio de forças na região sem depender do Iraque ou
do Irão.
O teatro estratégico do USCENTCOM é baseado no interesse e
focalizado na ameaça. O compromisso proposto pelos EUA, tendo em conta a
NSS, é proteger o interesse vital dos Estados Unidos na região,
isto é, garantir um ininterrupto e seguro acesso ao petróleo do
Golfo pelos EUA e seus aliados.
(USCENTCOM,
http://www.milnet.com/milnet/pentagon/centcom/chap1/stratgic.htm#USPolicy
, itálcos do autor)
O Irão possui 10 por cento das reservas mundiais de petróleo e de
gás. Os EUA são a primeira e a principal potência militar e
nuclear do mundo, mas possuem menos de 3 por cento das reservas mundiais de
petróleo e de gás.
Por outro lado, os países habitados por muçulmanos, inclusive o
Médio Oriente, norte de África, a Ásia central, oeste e
África central, Malásia, Indonésia e Brunei, possuem
aproximadamente 80 por cento das reservas mundiais de petróleo e de
gás.
A "guerra contra o terrorismo" e a campanha de ódio dirigida
contra os muçulmanos, que ganhou ímpeto nos últimos meses,
reforça a ideia de que existe uma relação directa dessas
campanhas com a "guerra por petróleo no Médio Oriente".
Qual a melhor forma de conquistar estas vastas reservas de petróleo
localizadas em países habitados por muçulmanos? Construir um
consenso político contra os países muçulmanos,
classificando-os como "incivilizados", denegrir a sua cultura e a sua
religião, implementar o perfilamento étnico contra os
muçulmanos nos países ocidentais, promover o ódio e o
racismo contra os habitantes dos países produtores de petróleo.
Dizem que os valores de Islão estão vinculados ao
"terrorismo islâmico". Os governos ocidentais agora acusam o
Irão de "exportar o terrorismo para o Ocidente" nas palavras
do primeiro-ministro Tony Blair:
"Há um vírus de extremismo que provém do cocktail de
fanatismo religioso e de repressão política no Médio
Oriente que está agora a ser exportado para o resto do mundo".
"Só garantiremos o nosso futuro se tratarmos de cada aspecto deste
problema. A nossa segurança futura depende de estabilizar aquela
região". "Nunca se pode dizer nunca em qualquer destas
situações". (citado no
The Mirror,
07/Fevereiro/2006)
Os muçulmanos são demonizados, identificados despreocupadamente
como "terroristas islâmicos", os quais são também
descritos como constituindo uma ameaça nuclear. Por sua vez, os
terroristas são apoiados pelo Irão, uma república
islâmica que ameaça o mundo civilizado com armas nucleares mortais
(as quais ele não possui). Em contraste, as armas nucleares
humanitárias da América "serão precisas, seguras e
fiáveis".
O mundo está numa encruzilhada crítica
Não é o Irão que é uma ameaça para
segurança global, mas sim os Estados Unidos da América e Israel.
Em recentes desenvolvimentos, governos europeus ocidentais incluindo os
estados denominados "não-nucleares" que possuem armas
nucleares juntaram-se ao vagão da banda. A Europa Ocidental e os
estados membros da Aliança Atlântica (a NATO) endossaram a
iniciativa militar conduzida pelos EUA contra o Irão.
Os planeados ataques aéreos do Pentágono ao Irão envolvem
"cenários" que utilizam tanto armas nucleares como
convencionais. Mesmo que não implicasse a utilização de
armas nucleares, o perigo potencial de um holocausto nuclear no Médio
Oriente deve, no entanto, ser considerado muito seriamente. Isto deve
tornar-se um ponto central do movimento anti-guerra, particularmente nos
Estados Unidos, Europa Ocidental, Israel e Turquia.
Também se deveria entender que a China e a Rússia são
(não oficialmente) aliados do Irão, fornecendo-lhe equipamento
militar avançado e um refinado sistema de defesa míssil.
É improvável que a China e a Rússia assumam uma
posição passiva, se ou quando os bombardeamentos aéreos
forem executados.
A nova doutrina nuclear antecipativa defende a
"integração" das operações
"defensivas" e "ofensivas". Além disso, a importante
distinção entre armas convencionais e nucleares foi
diluída.
Do ponto de vista militar, os EUA e os seus parceiros de
coligação, inclusive Israel e Turquia, estão "num
estado de prontidão."
Através da desinformação dos media, o objectivo é
galvanizar a opinião pública ocidental em defesa de uma guerra
conduzida pelos EUA contra o Irão como retaliação ao seu
desafio à comunidade internacional.
A propaganda de guerra consiste na "fabricação de um
inimigo" enquanto veicula a ilusão de que o mundo ocidental
está sob o ataque de terroristas islâmicos, os quais são
directamente apoiados pelo governo de Teerão.
"Tornar o mundo mais seguro", "prevenir a
proliferação de dispositivos nucleares sujos por
terroristas", "implementar acções punitivas contra o
Irão para assegurar a paz", "combater a
proliferação nuclear pelos estados párias"...
Com apoio dos media ocidentais, foi instalada uma atmosfera generalizada de
racismo e xenofobia contra os muçulmanos, particularmente na Europa
Ocidental, o que proporciona uma falsa legitimidade à agenda de guerra
dos EUA. Esta é apresentada como uma "guerra justa". A teoria
da "guerra justa" serve para camuflar a natureza dos planos de guerra
dos EUA, dando uma face humana aos invasores.
O que se pode fazer?
O movimento anti-guerra está, em muitos aspectos, dividido e mal
informado acerca da natureza da agenda militar dos EUA. Várias
organizações não-governamentais culparam o Irão,
por não cumprir com as "exigências razoáveis" da
"comunidade internacional". Estas mesmas organizações,
que estão comprometidas com a paz mundial, tendem a subestimar as
implicações do proposto bombardeamento americano ao Irão.
Reverter esta tendência exige uma campanha maciça com uma vasta
rede a fim de informar os povos de todas as terras, no país e no
estrangeiro, em bairros, locais de trabalho, paróquias, escolas,
universidades, municipalidades, acerca dos perigos de uma guerra patrocinada
pelos EUA que contempla a utilização de armas nucleares. A
mensagem deveria ser estrondosa e clara:
O Irão não é ameaça.
Mesmo sem a utilização de armas nucleares, os bombardeamentos
aéreos propostos poderiam resultar numa escalada, conduzindo finalmente
a uma guerra que pode abranger grande parte do Médio Oriente.
O debate e a discussão também devem ter lugar dentro da
comunidade militar e de inteligência, nomeadamente acerca da
utilização de armas nucleares tácticas, nos corredores do
congresso dos EUA, em municipalidades e a todos os níveis do governo.
Em última análise, a legitimidade dos actores políticos e
militares em altos cargos deve ser desafiada.
Os media corporativos têm igualmente uma forte responsabilidade pelo
encobrimento dos crimes de guerra patrocinados pelos EUA. Devem por isso ser
vigorosamente desafiados pela cobertura enviesada que têm feito da guerra
do Médio Oriente.
No ano passado Washington travou um "braço de ferro
diplomático" a fim de recrutar países para apoio da sua
agenda militar. É essencial que, ao nível diplomático,
países do Médio Oriente, da Ásia, África e
América Latina tenham uma posição firme contra a agenda
militar dos EUA.
Condoleezza Rice viajou pelo Médio Oriente, "exprimindo
preocupação sobre o programa nuclear do Irão",
procurando o apoio inequívoco dos governos da região contra
Teerão. Enquanto isso, a administração Bush
disponibilizava fundos para apoio de grupos de dissidentes iranianos dentro do
Irão.
O que devemos fazer
é romper com a conspiração do silêncio,
denunciar as mentiras e distorções dos media, enfrentar a
natureza criminosa da administração dos EUA e dos governos que a
apoiam, a sua agenda militar assim como a sua chamada "Agenda de
Segurança Interna" que já estabeleceu os contornos de um
estado policial.
O Mundo está na encruzilhada da crise mais séria da
história moderna. Os EUA embarcaram numa aventura militar, "uma
longa guerra" que ameaça o futuro de humanidade.
É essencial trazer o projecto bélico dos EUA para o primeiro
plano do debate político, particularmente na América do Norte e
na Europa Ocidental. Os líderes políticos e militares que se
opõem à guerra terão de adoptar uma posição
firme, no interior das suas respectivas instituições. Os
cidadãos devem adoptar, individual e colectivamente, uma
posição contra a guerra.
Anexo A
Os cinco tipos básicos de planos militares dos EUA:
Plano de campanha (Campaign Plan, CAMPLAN): Plano para uma série de operações
militares relacionadas
destinadas a cumprir um objectivo estratégico ou operacional num dado tempo e
espçao (exemplo: o plano
de campanha para o Iraque, incorporando um certo número de planos específicos
subordinados).
Plano de operações (Operations Plan, OPLAN): Um plano completo exigido quando
há interesse nacional
irrefutável, quando existe uma ameaça específica e/ou quando a natureza da
contingência exige planeamento
pormenorizado (exemplo: Coreia do Norte). Os OPLANs contem todos os anexos
formatados (ver abaixo), e
Time Phased Force and Deployment Data (TPFDD), uma base de dados contendo as
unidades a serem
instaladas, a sequência da sua instalação, as datas de movimento de forças,
pessoal, logística e
exigências de transporte. Um OPLAN podem ser usado como base para o
desenvolvimento de uma Ordem de operações (Operations Order, OPORD).
Plano de operações apenas em forma de conceito (Operations Plan in Concept Form
Only, CONPLAN):
Um plano de operações num formato abreviado preparado para contingências de
interêsse nacional menos
urgentes do que para os OPLANs e para ameaças não especificadas. Um CONPLAN
exige expansão ou
alteração para ser convertido em OPLAN ou OPORD. Isto normalmente inclui uma
declaração do Conceito
Estratégico e anexos A-D e K (ver abaixo). CONPLANs que têm TPFDDs
habitualmente são desenvolvidos devido a acordos ou tratados internacionais.
Planos funcionais (Functional plans, FUNCPLAN): Um plano de operações que
envolve a condução de operações militares em tempo de paz ou ambiente não
hostil (exemplo: ajuda
em desastres, assistência humanitária, operações anti-droga ou de manutenção da
paz).
Planos de cooperação de segurança em teatro e de compromisso em teatro (Theater
Security Cooperation and Theater Engagement Plans, TSCPs e TEPs): Planos de
dia-a-dia para ajustar as condições iniciais à futura
acção militar em termos de capacidades multinacionais, acesso militar
americano, inter-operabilidade de coligação, e inteligência.
Fonte:
Supplement to Code Names: Deciphering U.S. Military Plans, Programs, and Operations in the 9/11 World , by William Arkin
(Copyright William Arkin, 2005)
ANEXO B
Cronologia do desenvolvimento da doutrina militar americana (2002-2006)
Fonte:
The Nuclear Information Project
(copyright Nuclear Information Project,
clique aqui para ver a cronologia completa em pormenori
)
|
[*]
Autor do
bestseller
internacional
A Globalização da Pobreza
, publicado em português e mais dez idiomas. É professor
de economia na Universidade de Ottawa, director do
Center for Research on Globalization
e colaborador da Enciclopédia Britanica. O seu livro mais recente
é
America's "War on Terrorism"
, Global Research, 2005.
A parte 1 deste texto foi publicado num artigo separado:
Os perigos de uma guerra nuclear no Médio Oriente
A nova doutrina do Pentágono: As mini-bombas nucleares são
"seguras para a população civil envolvente"
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/
. Tradução de MJS.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.