por Michel Chossudovsky
Os ataques terroristas de Mumbai faziam parte de uma operação
cuidadosamente planeada e coordenada que envolvia várias equipes de
pistoleiros experimentados e treinados.
A operação tem as impressões digitais de uma actividade
paramilitar de serviços de inteligência. Segundo um perito russo
em contra-terrorismo, os terroristas de Mumbai "utilizaram as mesmas
tácticas que militantes chechenos [treinados no Paquistão]
empregaram nos ataques ao Norte do Cáucaso em que cidades inteiras foram
aterrorizadas, com o apresamento de lares e hospitais". (
Russia Today,
27/Novembro/2008).
Os ataques de Mumbai são descritos como "o 11/Setembro da
Índia".
Eles foram executados simultaneamente em vários locais, a poucos minutos
uns dos outros.
O primeiro alvo foi o átrio principal da Estação
Ferroviária Chatrapati Shivaji de Mumbai, onde pistoleiros dispararam
indiscriminadamente sobre a multidão de passageiros. Os pistoleiros
"saíram a seguir da estação e penetraram em
edifícios vizinhos", incluindo o Hospital Cama".
Ataques de grupos separados de grupos de pistoleiros tiveram lugar em dois
hotéis de luxo de Mumbai o Oberoi-Trident e o Taj Mahal Palace,
localizado no centro da área turística, nas proximidades do
monumento "Gateway of India".
Os pistoleiros também abriram fogo sobre o Café Leopold, um
restaurante fino na área turística. O terceiro alvo foi o
Nariman House, um centro de negócios que aloja o Centro Judeu de Mumbai,
Chabad Lubavitch. Seis reféns, incluindo o rabi e sua esposa, foram
mortos.
O aeroporto interno em Santa Cruz, o Metro Adlabs com vários pisos e o
Estaleiro Mazgaon também foram alvejados.
"Os ataques verificaram-se nos lugares mais ocupados. Além de
hotéis e hospitais, os terroristas atacaram estações
ferroviárias, o Crawford Market, Wadi Bunder e a Auto-estrada Ocidental
próxima ao aeroporto. Foram atacados sete lugares com armas
automáticas e granadas. (
Times of India,
26/Novembro/2008),
Tropas indianas cercaram os hotéis. Foram enviados comandos das
Forças Especiais Indianas para enfrentar os terroristas. Testemunhas
nos hotéis disseram que os pistoleiros estavam a separar pessoas com
passaportes estado-unidenses e britânicos.
As baixas, segundo relatos, ultrapassam os 150 mortos. A maior parte deles
eram indianos, muitos dos quais morreram no ataque à
estação ferroviária de Chhatrapati Shivaji.
Pelo menos 22 estrangeiros foram mortos nos ataques. Catorze oficiais da
polícia, incluindo o chefe do esquadrão anti-terror, foram mortos
nos ataques.
Quem está por trás dos ataques?
Um grupo virtualmente desconhecido denominado "os Deccan Mujahideen"
declarou-se responsável pelos ataques, segundo relatos. O
Deccan Plateau
refere-se a uma região no centro Sul da Índia em grande
medida centrada no estado de Andhra Pradesh. Este grupo desconhecido já
foi classificado, sem provas, como pertencente à rede Al Qaeda de
organizações terroristas.
Relatos da polícia confirmam que nove "atacantes suspeitos"
foram presos e três deles, segundo fontes policiais não
confirmadas, confessaram pertencer à Lashkar-e-Taiba
[Lashkar-e-Tayyiba], uma organização separatista cachemira,
apoiada secretamente pela inteligência militar paquistanesa (ISI). Pelo
menos um dos presos, segundo os relatos, é um cidadão
britânica de descendência paquistanesa.
Em coro, tanto os media do ocidente como os indianos estão a apontar o
dedo para o Paquistão e o seu alegado apoio a organizações
terroristas islâmicas:
"Gurus da estratégia e analistas de segurança nos EUA e por
todo o mundo estão a examinar o papel do Paquistão no terrorismo
a seguir a mais um episódio de terror na Índia com os dedos a
apontarem para o seu malfadado vizinho.
Enquanto relatos iniciais da Índia sugerem que a carnificina de Mumbai
foi um ataque localizado de militantes descontentes na Índia devido ao
disfarce do "Deccan Mujahideen" que foi utilizado para afirmar
responsabilidade, a evidência mencionada pelo exército e peritos
de segurança indianos com base em interceptações de
telefones, natureza do armamento, modo de entrada através do marc, etc,
rapidamente voltou a atenção para o Paquistão".
(
Times of India,
27/Novembro/2008)
"Choque de civilizações"
Na Europa e na América do Norte, os ataques de Mumbai pelos
fundamentalistas islâmicos são percebidos como parte do
"Choque de civilizações", "o Islão
militante envolvido numa guerra contra a civilização".
A perda dramática de vidas resultante dos ataques contribuíram
inequivocamente para reforçar o sentimento anti-muçulmano por
todo o Mundo Ocidental.
Os contornos dos ataques de Mumbai estão a tornar-se claros. Os
terroristas tinham como objectivo a Índia, os EUA, a Grã-Bretanha
e o povo judeu. (
Market Watch, 28/Novembro/2008
)
Segundo os media, o inimigo é a Al Qaeda, o ilusório
"inimigo externo" que tem as suas bases operacionais nas áreas
tribais e na província da fronteira Noroeste do Paquistão. O
auto-proclamado mandato sagrado de Washington da "Guerra ao terrorismo
global" é capturar bin Laden e extirpar o fundamentalismo
islâmico.
O direito da América de intervir militarmente dentro do
Paquistão, violando a sua soberania, está portanto confirmado.
Bombardear aldeias nas áreas tribais do Noroeste do Paquistão
é parte de um "esforço humanitário", em resposta
à perda de vidas resultante dos ataques de Mumbai.
"Antes destes raids odiosos, as notícias do Sul da Ásia eram
encorajadoras. O problema central continuava a ser pacificar o
Afeganistão, onde os EUA e outras forças da NATO lutavam para
suprimir os Taliban e elementos da Al-Qaeda". (
Washington Post,
28/Novembro/2008)
"Washington, entretanto, quer a cooperação do
exército do paquistanês no combate ao terrorismo. Nas
últimas semanas, oficiais dos EUA no Afeganistão relataram
melhores resultados, creditando os paquistaneses por tomarem a ofensiva contra
os Taliban no território paquistanês".
A desinformação dos media
As redes de TV dos EUA cobriram amplamente os dramáticos acontecimentos
em Mumbai. Os ataques serviram para desencadear uma atmosfera de medo e
intimidação por toda a América.
Dizem que os ataques de Mumbai estão intimamente relacionados com os do
11/Setembro. Declarações oficiais dos EUA e relatos dos media
descreveram os ataques de Mumbai como parte de um processo mais vasto,
incluindo a possibilidade de um ataque terrorista patrocinado pela Al Qaeda a
território dos EUA.
O vice-presidente eleito, Joe Biden, durante a campanha eleitoral advertira a
América com a previsão de que "
as pessoas que... nos atacaram no 11/Set
reagruparam-se nas montanhas entre o Afeganistão e o
Paquistão e estão a tramar novos ataques" (ênfase
acrescentada).
Trata-se das mesmas pessoas que estavam por trás dos ataques terroristas
em Mumbai. Trata-se também das mesmas pessoas que estão a
planear atacar a América.
Logo a seguir aos ataques de Mumbai, o mayor de Nova York, Michael Bloomberg,
colocou o sistema do metro da Cidade de Nova York "em alerta
máximo" com base num "
relatório não comprovado
de terrorismo potencial aqui em Nova York. Este relatório levou o
Departamento de Polícia de Nova York a adoptar medidas de
precaução para proteger o nosso sistema de trânsito, e
faremos sempre o que for preciso para manter a nossa cidade segura" disse
Bloomberg numa declaração" (McClatchy-Tribune Business News,
28/Novembro/2008, ênfase acrescentada).
Isto aconteceu apenas um dia antes dos ataques de Mumbai, "o FBI e
Department of Homeland Security (DHS) advertiram que há uma
'possível mas não confirmada' ameaça da Al-Qaeda
contra o sistema de transportes de Nova York". (Ibid)
"Quando os ataques em Mumbai foram executados, as autoridades dos EUA
emitiram uma advertência de que a Al Qaeda pode ter discutido
recentemente efectuar ataques ao sistema do metro de Nova York. Uma
advertência vaga, certamente. 'Não temos pormenores
específicos para confirmar que esta conspiração se tenha
desenvolvido para além do planeamento aspiracional, mas estamos a emitir
esta advertência com a preocupação de que um tal ataque
pudesse possivelmente ser efectuado durante o período de férias
vindouro', disseram o FBI e o Department of Homeland Security". (
Chicago Tribune,
29/Novembro/2008)
A inteligência militar do Paquistão é o Cavalo de
Tróia dos EUA
Os media apontam, em coro, para o envolvimento da inteligência militar do
Paquistão, o Inter Services Intelligence (ISI), mas não dizem que
o ISI opera sempre em estreita ligação com a CIA.
Os media estado-unidenses servem permanentemente os interesses do aparelho de
inteligência dos EUA. As implicações dos seus relatos
distorcidos são que:
1- Os terroristas são ligadas a Al Qaeda. Os ataques de Mumbai
são uma operação "patrocinada pelo Estado" que
envolve o ISI do Paquistão.
2- Os pistoleiros de Mumbai têm laços com grupos terroristas em
áreas tribais do Paquistão e na Província da Fronteira
Noroeste.
3- O contínuo bombardeamento das áreas tribais pela US Air Force,
violando a soberania do Paquistão, é consequentemente justificado
como parte da "Guerra global ao terrorismo".
O ISI é o Cavalo de Tróia dos EUA, um procurador
(proxy)
de facto da CIA. A inteligência paquistanesa tem trabalhado, desde o
princípio da década de 1980, em estreita ligação
com os seus congéneres da inteligência dos EUA e da
Grã-Bretanha.
Se o ISI esteve envolvido numa grande operação encoberta contra a
Índia, a CIA teria conhecimento prévio quanto à natureza
precisa e o cronograma da operação. O ISI não actua sem o
consentimento da sua congénere de inteligência dos EUA.
Além disso, a inteligência dos EUA é bem conhecida por ter
apoiado a Al Qaeda desde o princípio da guerra soviética no
Afeganistão e durante a era pós Guerra Fria. (Para mais
pormenores ver Michel Chossudovsky,
Al Qaeda and the War on Terrorism
, Global Research, 20/Janeiro/2008)
Os campos de treino da guerrilha patrocinados pela CIA foram estabelecidos no
Paquistão para adestrar os Mujahideen. Historicamente, a
inteligência dos EUA tem apoiado a Al Qaeda, utilizando o ISI do
Paquistão como um intermediário.
"Com a CIA a apoiar e a canalizar quantidades maciças de ajuda
militar dos EUA, o ISI paquistanês desenvolveu-se numa "estrutura
paralela que exerce enorme poder sobre todos os aspectos do governo".
(Dipankar Banerjee, "Possible Connection of ISI With Drug Industry",
India Abroad,
02/Dezembro/1994).
Na sequência do 11/Set, o ISI do Paquistão desempenhou um papel
chave na invasão do Afeganistão em Outubro de 2001, em estreita
ligação com o alto comando militar dos EUA e da NATO.
Ironicamente, em Outubro de 2001, tanto a imprensa estado-unidense como a
indiana publicaram relatos citando fontes do FBI e da inteligência a
sugerir que o ISI estava a proporcionar apoio aos alegados terroristas do
11/Set. (Ver Michel Chossudovsky,
Cover-up or Complicity of the Bush Administration, The Role of Pakistan's Military Intelligence (ISI) in the September 11 Attacks
, Global Research, 02/Novembro/2001)
Chefe dos espiões paquistaneses nomeado pela CIA
Historicamente, a CIA tem desempenhado um papel não oficial na
nomeação do director do Inter Services Intelligence (ISI) do
Paquistão.
Em Setembro, Washington pressionou Islamabad, utilizando a "guerra ao
terrorismo" como pretexto para despedir o chefe do ISI, o general de
quatro estrelas Nadeem Taj.
"Washington está a exercer intensa pressão sobre o
Paquistão para remover o patrão do ISI Nadeem Taj e dois dos seus
vices devido à alegada "dupla negociação" da
agência com os militantes. (
Daily Times
, 30/Setembro/2008)
O presidente Asif Ali Zardari teve reuniões em Nova York no fim de
Setembro com o director da CIA Michael Hayden (
The Australian
, 29/Setembro/2008). Uns poucos dias depois, um novo chefe do ISI aprovado
pelos EUA, o general de quatro estrelas Ahmed Shuja Pasha, foi nomeado pelo
chefe do
exército, general Kayani, de acordo com o interesse de Washington.
Nesse aspecto, as pressões exercidas pela administração
Bush contribuíram para bloquear uma iniciativa parlamentar efectuada
pelo PPP governamental no sentido de colocar os serviços de
inteligência do país (ISI) sob a autoridade civil, nomeadamente
sob a tutela do Ministério do Interior.
Os EUA violam a soberania territorial do Paquistão
Os EUA actualmente estão a violar a soberania territorial do
Paquistão através do bombardeamento rotineiro de aldeias nas
áreas tribais e na Província da Fronteira Noroeste. Estas
operações são executadas utilizando a "guerra ao
terrorismo" como pretexto. Enquanto o governo paquistanês tem
"oficialmente" acusado os EUA de efectuarem bombardeamentos
aéreos no seu território, os militares paquistaneses tem
"não oficialmente" endossado os ataques aéreos.
Nesse aspecto, a oportuna nomeação do Lt. General Ahmed Shuja
Pasha para o leme do ISI foi destinada a assegurar continuidade nas
operações estado-unidenses de "contra-terrorismo" no
Paquistão. Antes da sua nomeação como chefe do ISI, o Lt.
Gen. Ahmed Shuja Pasha era responsável, em estreita
colaboração com os EUA e a NATO, por executar ataques destinados
alegadamente contra os Taliban e a Al Qaeda pelos militares paquistaneses nas
Áreas Tribais Administradas Federalmente (FATA) e na Província da
Fronteira Noroeste (NWFP).
Após a sua nomeação, o Lt. Gen. Ahmed Shuja Pasha
implementou uma grande troca de pessoal dentro do Inter-Services Intelligence
(ISI), substituindo vários dos comandantes regionais do ISI. (
Daily Times
, 30/Setembro/2008). No fim de Outubro, ele estava em Washington, na sede
da CIA em Langley e no Pentágono, para encontrar-se com os seus colegas
militares e da inteligência dos EUA.
"O Paquistão está a queixar-se publicamente acerca dos
ataques aéreos dos EUA. Mas o novo chefe de inteligência do
país, Lt. Gen. Ahmed Shuja Pasha, visitou Washington na semana passada
para conversações com militares de topo e chefes de espionagem
dos EUA, e
todos pareciam sair a sorrir
". (
David Ignatius, A Quiet Deal With Pakistan, Washington Post,04/Novembro/2008
, ênfase acrescentada).
A temporização dos ataques de Mumbai
Os ataques aéreos dos EUA às Áreas Tribais, que resultaram
em incontáveis mortes civis, criaram uma onda de sentimento anti-EUA por
todo o Paquistão. Além disso, eles também serviram, nos
meses que antecederam os ataques de Mumbai, para promover uma renovada
atmosfera de cooperação entre a Índia e o Paquistão.
Enquanto as relações EUA-Paquistão estão num
momento baixo, havia esforços significativos, nos últimos meses,
da parte dos governos de Islamabad e de Delhi, para promover
relações bilaterais.
Cerca de uma semana antes dos ataques, o presidente do Paquistão, Asif
Ali Zardari, "encorajou a abrir a questão da Cachemira ao debate
público na Índia e no Paquistão e deixar o povo decidir o
futuro do IHK". Ele também apelou a "elevar as
relações bilaterais a um novo nível" bem como a
forjar uma união económica entre os dois países.
Dividir e dominar
Que interesses são servidos por estes ataques?
Washington tenciona utilizar os ataques de Mumbai para:
1) Promover divisões entre o Paquistão e a Índia e travar
o processo de cooperação bilateral e comércio entre os
dois países;
2) Promover divisões internas sociais, étnicas e sectárias
tanto na Índia como no Paquistão;
3) Justificar acções militares dos EUA dentro do
Paquistão, incluindo a matança de civis que viola a soberania
territorial do país;
4) Proporcionar uma justificação para estender a "guerra ao
terrorismo" dos EUA ao sub-continente indiano e ao Sudeste Asiático.
Em 2006 o Pentágono advertiu que "um outro ataque [grande 11/Set
tipo terrorista] poderia criar tanto uma justificação como uma
oportunidade que hoje está a faltar para retaliar contra alguns alvos
conhecidos" (Declaração de oficial do Pentágono,
publicado no
Washington Post,
23/Abril/2006). No actual contexto, os ataques
de Mumbai são considerados "uma justificação"
para ir atrás de "alvos conhecidos" nas áreas tribais
do Noroeste do Paquistão.
O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, declarou que
"forças externas" executaram os ataques, aludindo ao
possível papel do Paquistão. Os relatos dos media também
apontam nessa direcção, sugerindo que o governo paquistanês
está por trás dos ataques:
Responsáveis e juristas dos EUA abstiveram-se de nomear o
Paquistão, mas a sua condenação do "terrorismo
islâmico" deixa pouca margem para dúvida sobre onde
estão as suas ansiedades.
...
O que aumentou a força das acusações mais recentes
contra Islamabad foi a própria avaliação da
administração Bush transpirada para os media dos EUA
que a agência de inteligência ISI do Paquistão estava
ligada ao bombardeamento da Embaixada da Índia em Cabul algumas semanas
antes que matou aproximadamente 60 pessoas incluindo um muito admirado
diplomata indiano e um respeitado oficial superior da defesa. (
Times of India,
27/Novembro/2008)
Os ataques desencadearam um sentimento anti-paquistanês na Índia
Os ataques serviram para promover o sentimento anti-paquistanês dentro da
Índia bem como divisões sectárias entre hindus e
muçulmanos.
A revista
Time
destacou claramente o papel insidioso da "poderosa
organização Inter Services Intelligenca muitas vezes
acusada de orquestrar ataques terroristas à Índia", sem
reconhecer que o novo chefe do ISI foi nomeado por ordem de Washington. (
Time online
).
A
Time
sugere, sem provas, que os arquitectos mais prováveis dos ataques
são vários grupos islâmicos paquistaneses patrocinados
incluindo Lashkar-e-Taiba (Exército dos puros), "o qual faz parte
do 'bloco al-Qaeda'", Jaish-e-Mohammed, uma organização
separatista cachemira pertencente a Al Qaeda a qual declarou-se
responsável pelos ataques terroristas de Dezembro de 2001 ao parlamento
em Delhi, e Movimento de Estudantes Islâmicos da Índia (SIMI).
(Ibid)
Tanto o Lashkar-e-Taiba como o Jaish-e-Mohammed são conhecidos por serem
apoidos pelo ISI.
A diplomacia móvel Islamabad-Delhi
O presidente paquistanês Asif Ali Zardari assinalou que o seu governo
colaboraria plenamente com as autoridades indianas.
O recém eleito governo civil do Paquistão foi deixado de lado
pelos seus próprios serviços de inteligência, os quais
permanecem sob a jurisdição do alto comando militar.
O Partido do Povo do Paquistão, sob a direcção do
primeiro-ministro Yousaf Raza Gilni, não tem controle sobre o aparelho
de militar e de inteligência, o qual continua a manter um relacionamento
estreito com os seus congéneres dos EUA.
Neste contexto, o presidente Asif Ali Zardari parece estar a jogar de ambos os
lados: conivência com o aparelho militar e de inteligência,
diálogo com Washington e retórica para com o primeiro-ministro
Gilani e a Assembleia Nacional.
Em 28 de Novembro, dois dias após os ataques de Mumbai, Islamabad
anunciou que o recém nomeado chefe do ISI, Lt. Gen. Ahmed Shuja Pasha,
seria despachado para Delhi para consultas com os seus colegas indianos
incluindo o Conselheiro de Segurança Nacional M. K. Narayanan e os
chefes da agência de inteligência externa da Índia, o
Research and Analysis Wing (RAW) e o Intelligence Bureau, responsável
pela inteligência interna. O RAW e o ISI do Paquistão são
conhecidos por terem estado a travar uma guerra encoberta um contra o outro
durante mais de trinta anos.
[1]
No dia seguinte (29 de Novembro), Islamabad cancelou a visita do chefe do ISI
Lt. Gen. Shuja Pasha à Índia, depois de o ministro do Exterior
indiano, Pranab Mukherjee, utilizar "um tom muito agressivo com
responsáveis paquistaneses numa conversação
telefónica após os ataques de Mumbai". (
Press Trust of India
, 29/Novembro/2008 citando Geo News Pakistan).
Situação tensa. Deterioração das
relações Índia-Paquistão
Os ataques de Mumbai já criaram uma situação extremamente
tensa, a qual serve amplamente os interesses geopolíticos dos EUA na
região.
Islamabad está a contemplar a relocalização de uns 100 mil
militares da fronteira paquistanesa-afegã para a fronteira indiana,
"se houve uma escalada na tensão com a Índia, a qual aludiu
ao envolvimento de elementos paquistaneses na carnificina de Mumbai".
(Pakistan news source citado por PTI, op cit).
"Estas fontes disseram que o comando da NATO e dos EUA considerou que o
Paquistão não seria capaz de concentrar-se na guerra ao terror e
contra militantes em torno da fronteira do Afeganistão pois defender as
suas fronteiras com a Índia era muito mais importante", (Ibid, Geo
News citando o respeitado jornalista paquistanês Hamid Mir).
Interferência dos EUA na direcção da
investigação da polícia indiana
Também é significativa a imediata interferência de
Washington na condução da investigação da
polícia indiana. The Times of India destaca uma
"cooperação de inteligência sem precedentes envolvendo
agências de investigação e equipamentos de espionagem da
Índia, Estados Unidos, Reino Unido e Israel".
Tanto o FBI como o serviço secreto britânico MI6 têm
escritórios de ligação em Delhi. O FBI despachou oficiais
de polícia, contra-terrorismo e perícia forense para Mumbai
"para investigar ataques que agora incluem vítimas
americanas..." Peritos da Metropolitan Police de Londres também
foram despachados para Mumbai:
"A hipótese de trabalho do governo dos EUA de que os grupos
militantes paquistaneses Lashkar-e-Taiba e Jaish-e-Mohammed são
suspeitos nos ataques foram incluídas quando as autoridades indianas
começaram a sua investigação, disse o oficial. Os dois
grupos militantes da Cachemira têm laços com a al Qaeda".
(Wall Street Journal, 28/Novembro/2008)
O papel do contra-terrorismo e oficiais de polícia dos EUA, Reino Unido
e Israel é essencialmente manipular os resultados da
investigação da polícia indiana.
Vale a pena notar entretanto que o governo de Delhi recusou o pedido de Israel
para enviar uma unidade de forças militares especiais para assistir os
comandos indianos na libertação de reféns judeus mantidos
dentro do Chabad Jewish Center de Mumbai (PTI, 28/Novembro/2008).
Bali 2002 versus Mumbai 2008
O ataque terrorista de Mumbai guarda alguma semelhança com os ataques de
2002 em Bali. Em ambos os casos foram alvejados turistas ocidentais. O
sítio turístico de Kuta na ilha de Bali foi objecto de dois
ataques separados, os quais alvejaram principalmente turistas australianos.
(Ibid)
Os alegados terroristas dos bombardeamentos de Bali em 2002 foram executados, a
seguir a um prolongado período de julgamento, há umas poucas
semanas atrás, em 9 de Novembro de 2008. (Michel Chossudovsky,
Miscarriage of Justice: Who was behind the October 2002 Bali bombings?
Global
Research, 13/Novembro/2009). Os arquitectos políticos dos ataques de
2002 em Bali nunca foram levados a julgamento.
Um relatório de Novembro de 2002 proveniente de altos escalões da
Indonésia apontava para o envolvimento tanto do chefe da
inteligência indonésia, general A. M. Hendropriyono, como da CIA.
As ligações da Jemaah Islamiyah (JI) à agência de
inteligência indonésia (BIN) nunca foram levantadas na
investigação oficial do governo indonésio o qual
foi guiado nos bastidores pela inteligência australiana e pela CIA.
Além disso, logo após o bombardeamento, o primeiro-ministro
australiano John Howard "admitiu que autoridades australianas foram
advertidas acerca de possíveis ataques em Bali para preferiram
não emitir uma advertência". (Christchurch Press,
22/Novembro/2002).
Em relação aos bombardeamentos de Bali em 2002, as
declarações de dois antigos presidentes da Indonésia foram
despreocupadamente ignoradas durante o julgamento, ambas as quais apontavam
para a cumplicidade dos militares e da polícia indonésia. Em
2002, a presidenta Megawati Sukarnoputri acusou os EUA de envolvimento nos
ataques. Em 2005, numa entrevista em Outubro à TV SBS da
Austrália, o antigo presidente Wahid Abdurrahman declarou que os
militares e a polícia indonésias desempenharam um papel
cúmplice no bombardeamento de Bali em 2002. (citado em
Miscarriage of Justice: Who was behind the October 2002 Bali bombings?
, op cit)
30/Novembro/2008
[1]
Nos últimos meses, o chefe da inteligência externa da
Índia (RAW), Ashok Chaturvedi, tornou-se um alvo político. O
primeiro-ministro Manmohan Singh pretende despedi-lo e substituí-lo por
um indivíduo mais aceitável. Não está claro se
Chaturvedi será envolvido na investigação da
inteligência e da polícia.
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=11217
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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