Com Uribe não haverá intercâmbio humanitário
por FARC-EP
O principal obstáculo enfrentado pelo Acordo Humanitário é
a ausência de vontade política do actual Presidente da
Colômbia. Não é um segredo que durante mais de três
anos Uribe apostou tudo no resgate militar dos prisioneiros, e nesta tentativa
utilizou todo o poder bélico do Estado e os milhares de milhões
de dólares dados pelo governo dos Estados Unidos, sem resultados
favoráveis. Foi precisamente a sua insensatez que forçou o
lamentável desenlace das montanhas de Urrao, onde morreram o governador
de Antioquia e o ex-ministro da Defesa Echeverri Mejía, entre outros.
Verificamos que no seu afã de explorar eleitoralmente uma iniciativa dos
países facilitadores do acordo de troca, que ainda não conhecemos,
lançou no despenhadeiro todo um esforço diplomático. Ao
mesmo tempo que lamentamos esta atitude precipitada e ligeira do Presidente,
reconhecemos os bons ofícios dos governos da França,
Suíça e Espanha. O problema de Uribe candidato é que
pretende "empalhar" todo o mundo com sofismas e falsas humildades.
Afirmar, como o fez em Vista Hermosa, que os cultivos ilegais da Macarena
pertencem às FARC e declarar a guerra à população
civil através dos media é um acto reprovável que
se destina só a distrair a atenção do país quanto ao
estrondoso fracasso da sua política de
Seguridad Democrática,
com
inocultáveis propósitos eleitoreiros.
Estamos há anos à procura de um acordo humanitário de
troca para que os cativos em poder das partes saiam dos cárceres e das
montanhas e se reencontrem com os seus, mas nem em Pastraña nem em Uribe
encontrámos reciprocidade. Nenhum gesto conseguimos arrancar do governo
quando, por vontade própria, libertámos mais de 300 militares e
polícias, prisioneiros de guerra. O senhor Uribe, apesar dos resultados
melancólicos do Plano Patriota, parece continuar obstinado no resgate a
sangue e fogo. Dirige-se às FARC como se se tratasse de uma guerrilha
derrotada, interpõe abismos desqualificando o adversário e
atravessa escolhos insalváveis como a extradição de
Simón e Sonia para os Estados Unidos.
Está claro que com Uribe não haverá intercâmbio
humanitário. O país necessita um Presidente com vontade
política, não só para a troca como para pactuar com a
insurgência e com a participação do povo a
solução do conflito na base de mudanças estruturais no
social, económico, político e outras ordens, em benefício
das maiorias.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 29 de Dezembro de 2005
Saudação das FARC-EP no ano de 2006
Ano novo 2006, saudação das FARC-EP: paremos o pêndulo,
mudemos o rumo do país! Saudamos o povo colombiano pelo ano novo. Na
nossa tradição são dias em que costumamos fazer
recapitulações, projecções e propósitos. Ao
terminar o ano 2005, a fractura social colombiana é mais profunda apesar
dos esforços por maquilhar a crise, ao pretender-se inutilmente
disfarçar biscate como "emprego", o lucro dos banqueiros como
"bonança generalizada", a genuflexão perante os gringos
como "colaboração", a violência terrorista do
Estado como "segurança para todos", a impunidade em favor do
vicariato narco paramilitar como "reconciliação", ou o
corrupto e ardiloso processo que aprovou a reeleição como se
fosse "uma mudança democrática dos costumes políticos
no país".
Mas o balanço do ano 2005 brinda-nos conclusões não
só destes 12 meses como do período já gasto pelo regime de
Uribe, e sobre vários dos governos oligárquicos anteriores.
Há rumos e políticas continuístas que fazem crise. As
estratégias deste e dos anteriores governos, sustentadas basicamente
sobre o pressuposto de garantir os mais altos lucros ao capital financeiro
nacional e internacional, a grandes proprietários e
latifundiários a custa do bem estar da maioria dos colombianos,
são o caldo de cultivo de maiores e mais dramáticas
confrontações no futuro imediato.
A generalização da guerra fratricida que sacode o país, a
multiplicação dos combates apesar das fabulosas quantidades de
dinheiro investidas no mal chamado "Plano Patriota", o número
de vítimas fatais que cresce com o correr dos dias, não se podem
ocultar com o enterro clandestino de soldados e polícias, nem com a
manipulação da imprensa.
Todos queremos, ou dizemos, procurar a paz. Mas o país foi mantido
enganado, a partir do poder, com esse pêndulo terrível que devemos
parar e descartar: a oligarquia e seus meios criadores de
"opinião" oscilam entre a "pax romana", produto da
guerra total, e a paz dialogada, produto de uma mesa de rendição
incondicional da insurgência, sem tocar seus privilégios, nem as
causas estruturais económicas, sociais e políticas geradoras do
conflito. Isso não funciona com a insurgência autêntica e
enraizada no seu povo. São fórmulas esgotadas por um fascismo
cínico cujo único objectivo foi desmobilizar e conter as lutas
populares mais combativas. Com o povo, o seu feitiço logo
deixará de funcionar.
O ano 2006 anuncia-se intenso em lutas sociais e políticas, pois a
recusa dos postulados do TLC é muito ampla, o fracasso da guerra
uribista e das amanhadas eleições presidenciais
continuarão a polarizar os colombianos entre as poderosas minorias que
respaldam a reeleição com a sua violenta estratégia
neoliberal como bandeira e as imensas maiorias como vítimas das
políticas oficiais. A perspectiva política e eleitoral do ano
que principia obriga os colombianos a escolher: ou manter o rumo actual rumo
às trevas do fascismo e a devastação, ou buscar a alvorada
da reconciliação e da reconstrução nacional. Por
isso pensamos que se a maioria quisesse que estancasse definitivamente o
intercâmbio humanitário, que se descartasse a busca da
solução política, que se aprofundasse a crise social, que
continuem a vender o património público e a dignidade aos
pedaços, que aumentem os impostos e reduzam-se as pensões, que
continuem a fumigar, que continuem as detenções maciças
para o pobres e a segurança para os passeantes ricos; se o povo
quisesse tudo isto, votaria pela reeleição do ditador civil de
turno que é isto o que augura e promete.
Nossos votos para o ano novo são pela unidade de todas as forças
que se opõem à reeleição e à
estratégia de guerra total que esta implica, na base de priorizar a
saída política para o conflito social e armado, no entendimento
de que a paz da Colômbia vamos construí-la cimentando-a sobre a
justiça social, sólidos princípios de soberania, costumes
transparentes e includentes e no respeito integral aos direitos humanos por
parte do Estado.
Nossos votos são pela unidade das lutas populares latino-americanas,
sempre guiadas pelo farol bolivariano de constituir-nos numa grande
nação.
Saudamos todos os colombianos que crêem e lutam por uma nova
Colômbia, pujante, orgulhosamente soberana, democráticas e justa
na distribuição das suas possibilidades.
Saudamos todos os presos políticos e prisioneiros de guerra,
encabeçados por Simón Trinidade e Sonia, que nos cárceres
do império dão lições de dignidade aos que
crêem que o dinheiro e a traição estão acima das
convicções revolucionárias. Para mudar o rumo e
reconciliar a família colombiana, exortamos o povo a que lute; à
oligarquia, sensatez. A todos, feliz 2006.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Exército do Povo.
Montanhas da Colômbia, Dezembro/2005 -Janeiro/2006
Estes documentos encontram-se em
http://resistir.info/
.
|