por Jaime Cienfuegos
"O destino do exército é guarnecer a fronteira.
Deus nos preserve de que volte as suas armas contra os cidadãos!"
Simón Bolívar (25/Maio/1826)
Um dia depois de ser efectuado o debate no Senado sobre os falsos atentados
terroristas orquestrados por membros das Forças Armadas em
Bogotá, e que custaram a vida de vítimas inocentes, a
Procuradoria assinalou que havia indícios suficientes para abrir
investigação formal contra 6 militares de alta patente, entre
outros o director da Central de Inteligência Conjunta e o comandante de
um batalhão de infantaria.
A CRISE DAS FORÇAS MILITARES COLOMBIANAS
Durante o debate no Congresso, o Fiscal Geral da Nação, Mario
Iguarán, e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos contradizendo
declarações por eles feitas duas semanas antes afirmaram
que não existem evidências suficientes para investigar os
oficiais, desmentindo, de passagem, o comandante do Exército, general
Mario Montoya, o qual num comunicado lido em conferência de imprensa
aceitou a participação de oficiais da instituição
militar nos acontecimentos.
À investigação foi ligada "Jessica", como
co-autora dos falsos atentados e a quem se quer apresentar como uma combatente
desmobilizada das nossas fileiras. Mas como esclareceu um comunicado recente
do comando conjunto Adán Izquierdo da nossa organização,
trata-se uma falsidade total pois a referida mulher jamais foi miliciana e
menos ainda guerrilheira.
O que não é falso, e sim pelo contrário um segredo
público, é a reiterada participação das
Forças Armadas em inumeráveis casos de corrupção,
violação de direitos humanos, torturas a cidadãos,
desaparecimentos forçados, assassinatos de camponeses inermes que a
seguir fazem passar por guerrilheiros mortos em combate, extorsões
contínuas, vínculos estreitos com o narcotráfico e
promoção do paramilitarismo.
Os conhecidos casos de Jamundí e Guaitarilla; a
sodomização de 21 soldados em Piedras (Tolima); o assassinato de
30 civis apresentados a seguir como guerrilheiros pela IV Brigada de
Medellín; o crime contra dois sindicalistas em Arauca; o assassinato
de seis civis numa operação, supostamente anti-sequestro,
realizada pelo Gaula em Barranquilla, constituem apenas uma pequena amostra da
podridão que corrói as fileiras das Forças Militares.
MAÇÃS PODRES?: QUANDO A PODRIDÃO CORRÓI O
CORPO
Os apologistas da "seguridad democrática" não
poucos deles disfarçados de "reconhecidos analistas
políticos" perante a contundência das evidências
preferiram desmentir os factos, desenvolvendo a tese esboçada pelo
actual ministro da Defesa, de que poderia tratar-se de "casos
isolados" ou "maçãs podres" que empanam o bom nome
da instituição castrense.
A tese das "maçãs podres", que em certa altura
também foi apresentada pela administração do presidente
Bush para justificar os aberrantes vexames e torturas a que foram submetidos os
prisioneiros na prisão de Abu Ghraib, não constitui senão
um sofisma para ocultar a verdadeira natureza repressiva das Forças
Militares americanas, cuja actuação foi legalizada através
da "lei contra o terror", aprovada recentemente no Congresso dos EUA.
E não se pode esquecer que o imperialismo norte-americano exerceu um
forte controle sobre as Forças Armadas latino-americanas no que se
refere à instrução, treinamento, fornecimento de armas,
logística e influência ideológica. Este foi o papel que
cumpriu, durante décadas, a "Escola das Américas" no
Panamá, onde se formaram os oficiais de alta patente dos nossos
exércitos.
Alimentados pela "Doutrina da segurança nacional", hoje
transformada em "luta antiterrorista", os militares do Continente
cometeram os mais horrendos crimes de guerra como o assassinato dos
jesuítas na UCA, o homicídio do arcebispo salvadorenho Oscar
Romero, o desaparecimento forçado de milhares de opositores no Cone Sul,
o roubo de bebés a detidos, as torturas nos campos de
concentração argentinos, numa lista de ignomínias que se
torna interminável.
As forças militares colombianas fizeram
"contribuições" sem par para a lista destes
repudiáveis actos terroristas. Por isso, é importante deixar
claro que não há nada de novo nestes factos que o povo colombiano
condena, salvo a circunstância de que as denúncias se hajam
filtrado à luz pública, em consequência das profundas
contradições que hoje vivem em seu seio as Forças
Militares e de Polícia, e das pressões que a partir de diferentes
sectores da opinião pública se vêm exercendo para que estes
factos sejam investigados.
A SOLUÇÃO ESTÁ NA RAIZ
Mas a responsabilidade destes actos criminosos não pode ser limitada
unicamente aos oficiais envolvidos nestes factos, uma vez que também
é responsável o Chefe constitucional das Forças Militares,
o Presidente Uribe, não só pelas políticas de
pressão contra os militares como também pelo exemplo de
narco-paramilitar, corrupto e mentiroso amparado pelos gringos e pela
ultradireita liberal conservadora. A solução está na raiz.
Na nossa Oitava Conferência, celebrada em Abril de 1993 em La Uribe
(Meta), convencidos da necessidade de uma solução política
ao conflito social e armado que vive o país, propusemos a todos os
colombianos que anseiam por uma pátria amável, em desenvolvimento
e em paz a "Plataforma de um Governo de Reconstrução e
Reconciliação Nacional", para trabalhar pela
formação de um governo nacional, pluralista, patriótico e
democrático.
Nesta Plataforma assinalámos que a doutrina militar e de Defesa Nacional
do Estado será Bolivariana. As Forças Armadas serão a
garantia da nossa soberania nacional, respeitosas dos Direitos Humanos e
terão uma dimensão e um orçamento conforme um país
que não está em guerra com os seus vizinhos. A Polícia
Nacional voltará a ser dependente do Ministério do Interior e
reestruturada para que cumpra a sua função preventiva, moralizada
e educada no respeito dos Direitos Humanos.
Neste sentido, reivindicamos o Legado do Libertador, que no seu Discurso no
Congresso Constituinte da Bolívia, em 25 de Maio de 1826, advertia que
"O destino do exército é guarnecer a fronteira. Deus nos
preserve de que volte as suas armas contra os cidadãos!"
O original encontra-se em
http://www.farcep.org/?node=2,2380,1
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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