Duas cartas pela paz na Colômbia

Carta dirigida ao Secretariado das FARC, por membros da sociedade civil colombiana

Quadro de Botero. Bogotá DC, 11 de Setembro de 2008

Senhores membros do Secretariado:

A solução da crise múltipla que aflige a sociedade e o Estado colombianos exige uma ponderada reflexão assim como a participação dos distintos sectores sonantes na sociedade civil e dos actores envolvidos no conflito interno armado, social e político que pesa sobre o país, com o objectivo de evitar a sua institucionalização e de propiciar a construção de uma democracia plena de justiça social e paz, em que todos coexistamos.

Em virtude de tal, a nossa aspiração é trabalhar para desbloquear os caminhos que conduzam à concretização de um Acordo Humanitário que permita a libertação de sequestrados e prisioneiros em poder da revolta armada das FARC e, a seu tempo, a libertação dos presos desta guerrilha sobre a jurisdição do Estado.

Entendemos que uma alternativa diferente da do entendimento político para celebrar tal Acordo Humanitário e facilitar a saída negociada do conflito acarretaria o sofrimento de importantes sectores da população, perigo iminente para a vida dos cativos na selva, a degradação do conflito e o estímulo à militarização e autoritarismo, debilitando a instituição do processo político nacional.

O escalar do confronto transbordou a geografia nacional, entrando nos territórios de países irmãos com feitos de violência institucional que põe em dificuldades as relações diplomáticas do nosso país.

Não obstante, temos a certeza que os presidentes e chefes de Estados de povos irmãos no nosso hemisfério e dos denominados países amigos europeus reunir-se-ão de maneira solidária, de modo a apoiar os processos de diálogo que propomos!

Pelas razões citadas e com a vontade de começar imediatamente a procura de soluções a favor da paz na Colômbia e o sossego dos seres humanos afectados pelo conflito, cordialmente vos convidamos a desenvolver um diálogo público através de um intercâmbio formal no qual vocês, nós e em geral a sociedade colombiana, possamos identificar os elementos que permitam definir uma agenda que esclareça os caminhos nos quais seria possível atingir um entendimento, avançando com o ambicionado acordo humanitário.

Consideramos que já existe uma apreciável corrente de opinião que favorece a promoção de agentes contrários à solução armada e que está em condições de colocá-los em jogo para gerar uma discussão democrática sobre os temas da paz e da guerra na Colômbia, com o fim de propiciar a convivência pacífica dentro de uma nova ética social.

Esperamos atentamente a vossa resposta:

Piedad Córdoba Ruíz, Medófilo Medina, Fabio Morón Díaz, José Gregorio Hernández, Víctor Manuel Moncayo, Alfredo Beltrán Sierra, Jaime Angulo Bossa, Consuelo González de Perdomo, Luís Eladio Pérez, Orlando Beltrán Cuellar, Alfredo Molano B, Javier Darío Restrepo, Daniel Samper Pizano, María Teresa Herrán, Gustavo Álvarez Gardeazábal, Alberto Rojas Puyo, Francisco Leal Buitrago, Hernando Gómez Buendía, Iván Cepeda Castro, Raúl Alameda O, Florence Thomas, Alpher Rojas Carvajal, Felipe de Brigard, Rocío Londoño Botero, León Valencia A, Jorge Enrique Botero, Consuelo Ahumada, Marleny Orjuela, Fabiola Perdomo E, Deyanira Ortiz Cuenca, Martha Arango de Lizcano, Claudia Rujeles Flórez, Ángela de Pérez, Yolanda Polanco P, Marc Chernick, Gabriel Izquierdo S.J., Gloria Cuartas, Fernán González S.J., José Gutiérrez, Juanita Barreto G, Padre Henry Ramírez Soler CMF, Juan Sebastián Lozada P, Álvaro Camacho Guisado, Apolinar Díaz-Callejas, Lisandro Duque Naranjo, Alberto Cienfuegos, Ricardo Bonilla G, Leopoldo Múnera Ruíz, Renán Vega Cantor, Ciro Quiroz, Carlos Lozano Guillen, Jairo Maya Betancur, Ricardo García Duarte, Jorge Gantiva S, Carlos Villalba Bustillo, Constanza Vieira, Gloria Polanco, Apecidez Álviz F, Carlos A. Rodríguez Díaz, Venus Albeiro Díaz, Andrés Felipe Villamizar, Arlen B. Tickner, Santiago García, Pepe Sánchez, Patricia Ariza, Carlos Álvarez Núñez, Víctor Gaviria, Jennifer Steffens, Bruno Díaz, Zulia Mena, Gustavo Duncan, Lilia Solano, Julio Silva Colmenares, Oscar Mejía Quintana, Arturo Escobar, Rafael Ballén, William García Rodríguez, César Augusto Ayala Diago, Carlos Medina Gallego, Diego Otero Prada, Rubén Darío Flórez, Darío Villamizar H, Luís Fernando Medina, Santiago Araoz F., Fabián Acosta, Alonso Ojeda Awad, Jimmy Viera, Efraín Viveros, Mauricio Rojas Rodríguez, Eduardo Gómez, Carlos Villamil Chaux, Fernando Estrada G, Moritz Akerman, Ricardo Montenegro V, Santiago Vásquez L, Enrique Santos Molano, Libardo Sarmiento Anzola, Hollman Morris, Reinaldo Ramírez García, Jairo E. Gómez, Daniel Libreros C, Jaime Caicedo T, Héctor Moreno Galviz, Mauricio Archila Neira, Dora Lucy Arias, Luís Alberto Ávila A, Olga Amparo Sánchez, Norma Enríquez R, Orsinia Polanco, Caterina Heyck, Guillermo Silva, Luís Enrique Escobar, Eduardo López Hooker, Eduardo Carreño, Alexandra Bermúdez, Pilar Rueda, Fernando Arellano, Gabriel Awad, Cristo Rafael García Tapias, Alfonso Santos C, Jorge Lara Bonilla, Miguel Eduardo Cárdenas, Andrés A. Vásquez, Jaime Calderón Herrera, Álvaro Bejarano, Álvaro Delgado, Álvaro Villarraga, Armando Palau, Juan de Dios Alfonso, Darío Morón Díaz, Carlos Rosero, María Eugenia Liévano, Hernando Rosillo Torrente, Gonzalo Uribe Aristizabal, Edgar Martínez C, Esperanza Márquez M, Dídima Rico Chavarro, Danilo Rueda R, Eduardo Franco Isaza, Evelio Ramírez, Carlos Torres Corredor, Fructuoso Arias, Gabriel García B, Gabriel Ruiz O, Germán Arias Ospina, Gustavo Puyo A, Gustavo García, Hernán Cortez A, Ivón González, Jaime Pulido Sierra, Jaime Vasco A, Juanita Bazán A, Luís Eduardo Salcedo, Luís Jairo Ramírez H, Mario Santana, René Antonio Florez C, Sara Leukos, Víctor José Pardo, Francisco de Roux, Gustavo Gallón, Pierre Giloes.



Carta das FARC aos colombianos partidários da solução política dos problemas da guerra e da paz

Respeitados Compatriotas:

Com satisfação recebemos a vossa missiva de Setembro que convida a explorar colectivamente caminhos para a paz afastados do actual rumo governamental da guerra perpétua, que significa persistir no impossível que é haver uma solução militar para problemas políticos, económicos e sociais que se encontram na base do cruel conflito que aflige o país.

Saudamos o florescimento de uma corrente de opinião que se afasta do falso triunfalismo e dos parâmetros da solução militar para os grandes problemas nacionais. Não duvidamos do êxito da sua gestão porque coincide com o sentimento e a ânsia de paz das maiorias.

Esta carta é já o começo do Intercâmbio epistolar que nos propõem para discutir em torno da saída política do conflito, o câmbio humanitário e a paz. Participaremos apresentando-nos ao povo num diálogo com amplitude e franqueza, sem dogmatismos, sem sectarismos e sem desqualificações sobre os temas que sugiram. É necessário esforçarmo-nos para procurar a vinculação ao processo da maior quantidade possível de organizações políticas e sociais e de pessoas independentes.

A nossa disposição de explorar as possibilidades em direcção à permuta humanitária e a paz com justiça social, que é o hoje o clamor e a necessidade mais urgente de toda a nação, continua invariável. A libertação unilateral de seis ex-congressistas no passado recente, entregues ao Presidente Hugo Chávez e à senadora Piedad Córdoba procurava criar condições e ambiente propício à troca de prisioneiros em poder das partes em conflito. Este feito é um testemunho de confiança da nossa vontade política.

Muito respeitosamente sugerimos, para reforçar este novo empreendimento, ter em conta a manifesta disposição da grande maioria dos Presidentes latino-americanos para contribuir com os seus esforços no processo de intercâmbio humanitário e paz.

A grande bandeira da paz com justiça social deverá voar definitivamente, livre, sobre os céus da Colômbia. A guerra eterna contra o povo que nos querem impor para perpetuar a injustiça não pode ser o destino da nossa pátria.

Recebam as nossas cordiais saudações

Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 16 de Outubro de 2008

O original encontra-se em http://anncol.eu/ . Traduzido por João Camargo.

Estas cartas encontram-se em http://resistir.info/ .

30/Out/08