Esta crise exprime os limites históricos do capitalismo
por François Chesnais
Os resultados da sondagem são importantes. À vista do que se
passou nos últimos dez dias, a percentagem de respostas que traduzem um
desafio para com o capitalismo ou a vontade de dele sair talvez fosse ainda
mais elevada. Ali sem dúvida entraram vários elementos: uma
grande indignação quanto à facilidade com a qual os
governo encontram somas imensas para ajudar os bancos, uma grande
preocupação para os próximos meses quanto aos
despedimentos que prosseguem e o recomeço de uma reflexão sobre a
natureza do capitalismo e a necessidade de não aceitar que este sistema
seja "o horizonte inultrapassável da humanidade".
Como responder a isto? Há que começar por esta última
dimensão. Toda crise muito grande, e entrámos numa crise desta
ordem, exprime "os limites históricos do capitalismo".
É aí que os assalariados, cuja maioria não leu Marx, tomam
consciência. Os limites estão contidos nas relações
sociais de produção fundadas na propriedade privada dos meios de
produção e na valorização do capital-dinheiro.
Devido a estas relações, o movimento de valorização
do capital e da sua reprodução infindável são o
motor e a finalidade da produção. No sistema capitalista,
recorda Marx, "a produção é uma
produção para o capital" e não para a maioria da
sociedade, pois "a conservação e a valorização
do capital-valor repousam sobre a expropriação e o empobrecimento
dos produtores".
A superprodução de mercadorias, enquanto milhões de
pessoas estão na pobreza mesmo nos países mais ricos, é
uma decorrência deste facto, que ainda se agravou no quadro da
liberalização e da mundialização do capital
efectuadas desde há quarenta anos. A queda do investimento, bem como a
baixa da taxa, mas também da massa dos lucros apesar da
super-exploração dos assalariados, vão a par com a
insuficiência de poder de compra popular. Foi daí que vieram as
crises que marcaram a história do capitalismo. Aquela que
começou em Agosto de 2007 e que, desde meados de Setembro, experimenta
uma fase de agravamento agudo, será tanto mais forte porque explode
depois de capacidades de produção imensas, inconsideradas, terem
sido criadas na Ásia (a Coreia já não pode mais fazer
funcionar plenamente as suas) e depois de os Estados Unidos tem recorrido
à criação, numa escala que se demonstra demencial, de
meios de crédito para estender artificialmente a procura, por meio dos
cartões de crédito e da extensão do crédito
hipotecário que o capital teria desejado, tal como as guerras de G.W.
Bush, "sem limites".
A tomada de consciência da gravidade das questões
ecológicas é também uma das causas desta
renovação da reflexão crítica sobre a natureza do
capitalismo. Lançado num processo de valorização sem fim,
de produção pela produção, o capital é
devorador de recursos não ou muito lentamente renováveis,
destruidor do ambiente, e, tomado como um todo, perfeitamente incapaz de por em
acção as medidas necessárias à
amenização do aquecimento climático
[1]
. Os assalariados e os jovens sentem que vivem uma crise sistémica,
na qual a crise financeira é simplesmente o primeiro episódio e
certamente não o aspecto mais importante.
Como se poderia responder a isso? Actuando de modo, para seguir Marx mais uma
vez, a que os meios de produção se tornem "meios para dar
forma ao processo da vida em benefício da sociedade dos
produtores". Isto implica uma mudança na propriedade dos meios de
produção, mas sobretudo algo de bem mais importante, a saber: que
os assalariados se tornem, de modo organizado e com plena consciência,
"produtores associados". Ele já estão devido à
divisão do trabalho entre indústrias e no interior mesmo de cada
local de produção, mas eles não estão para si
mesmos, eles estão para o capital, que toma incessantemente
decisões que os afectam (ver os despedimentos de Sandouville).
Tornando-se "produtores associados" no sentido pleno da
expressão, os trabalhadores poderiam estabelecer, como diz Marx,
"racionalidade e controlar seus intercâmbios de matérias com
a natureza"; poderiam organizar a economia e toda a vida social "nas
condições mais dignas e mais conformes à natureza
humana".
NACIONALIZAÇÃO INTEGRAL DO SISTEMA BANCÁRIO
O desafio da crise, que não está senão no seu
princípio, é o domínio sobre os meios que servem para
produzir as riquezas, portanto sobre as decisões respeitantes ao que
deve ser produzido, para quem e como. Existem reivindicações e
formas de acção susceptíveis de abrir o caminho para uma
saída social positiva. Os governos vêm em socorro dos bancos
pondo à sua disposição fundos empenhados sobre os impostos
futuros. Num número crescente de casos, eles são obrigados a
recapitalizá-los adquirindo uma parte do seu capital. O termo
"nacionalização" foi utilizado. Ele é
totalmente abusivo. Os governos correm em socorro do capital financeiro num
jogo em que a socialização das perdas segue-se a uma fase sem
precedentes de privatização dos lucros. A primeira
reivindicação colectiva imediata é a da
nacionalização integral do sistema bancário. O controle
do financiamento do investimento permitiria aos assalariados da Europa dar uma
resposta simultânea ao emprego e às necessidades sociais, por
programas pan-europeus de desenvolvimento dos serviços públicos,
das energias renováveis, dos novos materiais de
construção. O assalariados podem lutar por estes objectivos em
França e encorajar os dos outros países da Europa a fazerem o
mesmo.
Para além dos discursos políticos calmantes, todos os
comissários europeus, todos os grandes banqueiros, têm sido
perfeitamente claros. Trata-se de permitir ao sistema que continuem tal qual
ele é. O núcleo duro do neoliberalismo (a livre
circulação dos capitais, a colocação dos
trabalhadores em concorrência generalizada mediante a
deslocalização da produção e a
sub-contratação, a privatização e a
mercantilização dos serviços colectivos) não deve
ser atingido. É este o sentido da mensagem do patrão da Renault.
Uma outra reivindicação conjunta é portanto a da
proibição dos despedimentos e a travagem completa de todas as
medidas em curso para o desmantelamento da saúde,
destruição dos Correios efectuada dia após dia antes da
privatização propriamente dita, etc, etc. Aqui as
reivindicações podem ser apoiadas por acções de
auto-defesa dos assalariados e dos cidadãos, tanto nos locais de
trabalho como nas localidades, nos hospitais, transportes, escolas e
colégios. Por trás dos belos discursos dos responsáveis
políticos está o objectivo de fazer com que os assalariados
suportem o peso da crise, tanto pelo desemprego como pelos impostos.
Não há senão a luta dos trabalhadores para que seja
possível dar um basta e começa a concretizar a ideia de que
"o capitalismo não ganhou", que ele pode combatido enquanto
tal.
NT:
[1] Um falso problema. O autor foi influenciado pela propaganda
aquecimentista do IPCC e pela desinformação jornalística.
Não há aquecimento global e, mais provavelmente, o mundo
está a entrar numa fase de
arrefecimento
global. Ver artigo do grande climatologista
Marcel Leroux
. Ver também o blog
Mitos climáticos
.
O original encontra-se em
http://www.france.attac.org/spip.php?article9195
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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