Marxismo, crise económica e luta dos povos
por Armando Hart Dávalos
[*]
Os indicadores mais recentes da economia norte-americana reflectem o
agravamento de problemas que desde há algum tempo preocupam economistas
e políticos por todo o mundo.
O enfraquecimento do dólar frente a outras moedas como o euro, o yen, a
crise no sector hipotecário e o aumento do preço do barril de
petróleo até ultrapassar limites históricos aumentaram as
previsões acerca de uma recessão nos Estados Unidos. Tornam-se
significativas as previsões de David Walker
[1]
, contabilista geral, quanto ao desequilíbrio fiscal alarmante que
poderá conduzir a uma explosão da dívida e as de Allan
Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, que situa as possibilidades de uma
recessão em mais de 50 por cento. Em reflexões recente do
Comandante em Chefe o fenómeno também foi abordado com
profundidade.
Para aqueles que decretaram a morte do marxismo, a entrada da economia
norte-americana na fase de recessão viria confirmar, com a teimosia dos
factos científicos, a validade das previsões de Marx quanto ao
carácter cíclico das crises no sistema capitalista. É
verdade que se acumularam experiências para modificar o ciclo e retardar
ou diminuir o efeito das crises económicas, mas a irresponsabilidade da
actual administração com a sua política guerreirista,
financiada com um dólar cada vez mais enfraquecido e sem apoio, tem
vindo a criar uma situação insustentável no futuro.
Insistiu-se, e com razão, em que a crise por si só não
significará o fim do capitalismo, que a economia norte-americana tem a
capacidade de ultrapassar a crise e que só a luta dos povos,
incluído naturalmente o norte-americano, poderá acabar com o
sistema de dominação imperialista.
Entretanto, uma crise de grandes proporções como aquela que
parece avizinhar-se traria mudanças inevitáveis na
política tanto interna como externa dos Estados Unidos e influiria
consideravelmente nos seus aliados imperialistas. Recordemos a crise de 1929,
os seus efeitos devastadores à escala mundial, e o surgimento na
política dos Estados Unidos de uma figura como Franklin Delano Roosevelt
e seu New Deal a fim de enfrentar os agudos problemas sociais agravados por
aquela crise.
Nessa altura, as pretensões hegemónicas e a política que
sustentam os sectores mais reaccionários dos Estados Unidos sofreriam um
golpe duro e seriam criadas condições para a sobrevivência
e desenvolvimento dos processos de mudanças em andamento na nossa
região.
Não se trata de modo algum de desejar a crise como remédio para
todos os males actuais pelos quais atravessa humanidade, porque estamos
conscientes dos efeitos negativos que ela teria para economia internacional,
mas sim de nos prepararmos e aproveitar as possibilidades que seriam abertas
com o enfraquecimento do poder hegemónico a fim de avançar na
reestruturação da actual ordem financeiro internacional baseada
no domínio do dólar, assegurar a multipolaridade o
equilíbrio do mundo defendido por
Martí
, e consolidar os
processos de integração na América Latina e no Caribe.
Há mais de uma década a revista
The New Yorker
publicou um artigo com o título "O regresso de Carlos Marx",
o qual sublinhava a vigência do seu pensamento na
explicação dos fenómenos da economia capitalista.
À par das suspeitas de crise económica está à vista
a fractura das bases éticas, políticas e jurídicas das
sociedades mais desenvolvidas do Ocidente, e em especial a norte-americana
actual, a qual constitui, como se sabe, o poder hegemónico do
capitalismo mundial.
Para os revolucionários, a via a seguir passa por situar a
justiça como categoria principal da cultura pois não há
sistema social que possa prevalecer sem um fundamento cultural. Não
é possível conceber a escravidão em Roma sem direito
romano e não pode haver socialismo se não formos capazes de
encontrar os vínculos que unem a ética, o direito e a
política prática na sua integridade cultural.
Agora, junto com o gigante de Trier
[2]
, regressam Bolívar, Martí, as personalidades eminentes e os
pensadores da Nossa América e regressa o Che, com a sua espada, para
assinalar-nos o caminho da independência total e definitiva dos nossos
povos.
04/Janeiro/2008
[1] Ver
http://www.gao.gov/cghome/d071189cg.pdf
[2] Cidade natal de Marx.
[*]
Ex-ministro da Cultura de Cuba. Ver
resumo biográfico
.
O original encontra-se em
http://www.cubarte.cult.cu/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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