2008
Fase de pleno impacto global da Muito Grande Depressão dos EUA
Há um ano atrás, LEAP/E2020 anunciava que 2007 assinalaria a
entrada dos Estados Unidos naquilo que a nossa equipe denominou "a Muito
Grande Depressão dos EUA". Na época, o espírito
dominante era em grande medida eufórico. A palavra "subprime"
era desconhecida do grande público e os peritos estimavam que a crise
imobiliária americana ficaria sem consequências para o resto da
economia americana (eles recusavam-se a simplesmente imaginar que ela pudesse
ter um impacto global).
No decorrer do ano 2007 os factos, entretanto, demonstraram amplamente que uma
crise sistémica global estava em vias de deitar abaixo todos os
fundamentos
sobre os quais repousa a economia mundial desde 1945. E, tal como descrito no
GEAB Nº 17
em Setembro de 2007, as sete sequências da fase impacto
da crise sistémica global vão atingir simultaneamente o seu pico
no decorrer do ano 2008.
Um dos aspectos, e ao mesmo tempo um dos catalisadores, desta crise
sistémica global é a entrada dos Estados Unidos em 2007 numa
crise sócio-económica sem precedentes
[1]
, afectando duramente as famílias
[2]
devido à explosão da bolha imobiliária e à sua
insolvência crescente bem como os operadores financeiros devido ao facto
da evaporação pura e simples do valor de várias centenas
de milhares de milhões de activos em US dólar.
A estas duas categorias de actores americanos, 2008 vai acrescentar as empresas
que vão ser submetidas ao garrote, entre o "esmagamento do
crédito"
("credit crunch")
e o colapso do consumo das famílias, bem como o conjunto das
instituições públicas cujos rendimentos fiscais entram em
colapso. Em particular, daqui até o Verão de 2008, a crise
financeira iniciada pelos empréstimos imobiliários americanos
"subprime" vai transformar-se numa crise de muito maior amplitude com
a implosão do mercado dos Credit Default Swaps (CDS). Isto
assinalará um novo ponto de inflexão da fase de impacto da crise
sistémica global (ver desenvolvimentos na sequência deste
comunicado e no conjunto do GEAB Nº 21, por assinatura).
Ásia, Europa e países emergentes em 2008 Impacto directo
mas contrastado da Muito Grande Depressão dos EUA: Recessão,
estagflação e tomada de controle de estabelecimentos financeiros
ocidentais
Paralelamente a este mergulho dos Estados Unidos na Muito Grande
Depressão vai haver um impacto directo, uma grande chicotada, na
economia mundial:
- a zona Euro entrará num período de estagflação
quando o resto da UE (Reino Unido à cabeça) for aspirado num
processo recessionista. A Dinamarca (e provavelmente dentro em breve a
Suécia) está em vias de preparar a sua entrada na zona Euro como
indicou seu primeiro-ministro Fog Rasmussen
[3]
, o qual ressuscitou a ideia de
um referendo sobre o Euro. Estes dois países sabem que a Eurozona
não colocará dificuldades à sua entrada (por tratado, a
Suécia já deveria de facto estar na zona Euro pois o país
comprometeu-se a aderir à zona Euro num certo momento)
[4]
.
Este súbito amor escandinavo pela moeda única não resulta
de uma conversão recente aos méritos da integração
europeia, mas antes a uma tomada de consciência da importância das
turbulências monetárias, financeiras e económicas em
desenvolvimento que se arriscam a ser fatais às economias de pequeno
porte não protegidas pela integração completa a conjuntos
mais vastos.
A Leste da UE assiste-se igualmente a tentativas de revisão em baixa dos
prazos necessários à entrada na Eurolândia. Contudo, os
diferenciais de situação económica ainda são muito
importantes para realmente permitir a estes países ficarem ao abrigo
quando a tempestade irromper com plena força em 2008 (aliás,
mesmo a Dinamarca e a Suécia estão em atraso em
relação aos acontecimentos).
No entanto, a zona Euro não oferecerá perspectivas muitos
estimulantes no ano a vir, com um crescimento em torno dos 1%. Mas em
relação ao resto do mundo, ela será de muito longe a zona
menos afectada pelo impacto da crise. Os riscos de divergência interna
das economias da zona Euro são certamente reais, e a equipe LEAP/E2020
teve oportunidade de desenvolver suas antecipações sobre o
assunto nos números recente do GEAB, mas o sentimento dominante hoje na
zona Euro é sobretudo conservar uma divisa que parece proteger
eficazmente os europeus que a utilizam das turbulências externas.
Isto imporá ao Banco Central Europeu (BCE) e à Eurozona que
encontrem meios de cooperação mais eficazes para integres as
expectativas das opiniões públicas e das diferentes economias.
Constata-se aliás que os discursos políticos contra o BCE (em
particular de Nicolas Sarkozy) foram postos em hibernação nestes
últimos meses. E como a Alemanha vai começar a ser igualmente
afectada pela taxa EUR/USD (que vai ultrapassar proximamente os 1,50 para se
dirigir rumo aos 1,70 daqui até ao fim de 2008), é o conjunto dos
actores do jogo monetário e económico europeu que estará
prestes a evoluir. Segundo o LEAP/E2020 isto tomará nomeadamente a
forma de um aumento de 2% a 3% do tecto aceitável de
inflação para o BCE, dando de facto uma muito grande
flexibilidade à fixação das taxas de juro pelo Banco
Central Europeu.
15/Janeiro/2008
Notas:
(1) Ou mais exactamente "com um precedente" ao qual doravante a maior
parte dos peritos e dos media especializados fazem muitas vezes
referência, a saber, a crise de 1929 e a Grande Depressão que se
seguiu no decorrer dos anos 1930. Quanto a isto, a equipe do LEAP/E2020
mostrou, no números anteriores do GEAB, que a presente crise é
contudo muito mais grave que aquela de 1929.
(2) Se alguns ainda duvidam da recessão nos Estados Unidos, nós
os convidamos para um exercício muito simples: escrever a
expressão "
december sales down
" no Google e constatar a lista
impressionante de empresas de todos os sectores (venda a retalho,
automóveis, electrónica, mobiliário, ...) que tiveram
quedas de vendas em Dezembro de 2007, período habitualmente
lucrativo devido às festas de fim de ano.
(3) Fonte :
Financial Times
, 22/11/2007
(4) Fonte :
Commission européenne
, DG Affaires économiques et financières
[*]
Global Europe Anticipation Bulletin.
O original encontra-se em
http://www.leap2020.eu/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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