Como o plano de reforma financeira protege o status quo
A rendição (mais recente) de Obama à Wall Street
1. Captura do regulador. A preparar o terreno para futuros ideólogos do "livre mercado" estilo Alan Greenspan
2. Fracasso em dar eficácia significativa à redução da fraude
3. Fracasso em reverter a orientação pró credor das leis da bancarrota
4. Fracasso em re-introduzir o Glass Steagall ou outros limites a prestamistas "demasiado grandes para falir"
5. Fracasso em impedir credit default swaps e outras apostas do "casino capitalista"
6. Fracasso em reformar o sistema fiscal que distorceu o sistema financeiro para promover a dívida predatória extractiva, não o crédito produtivo-industrial
Movimentando-se nos corredores à procura do apoio republicano e
sem dúvida por futuras contribuições do sector financeiro
para campanhas, o pres. Obama está a transmutar-se num Joe Lieberman
[NR1]
. Há também um toque de Boris Yeltsin no seu patrocínio de
uma "reforma" financeira odiosamente semelhante àquela que o
conselheiro Larry Summers defendeu na Rússia ceder o poder
governamental a uma elite banqueira. A proposta Financial Regulatory Reform
promove o "produto" da Wall Street, a criação de
dívida, a expensas da economia no seu todo e deixa chefes financeiros
continuarem a auto-regular a indústria da dívida e a
manter incólumes todos os seus ganhos da década passada com
empréstimos fraudulentos.
Confrontando as ruínas de uma crise da dívida pior do que
qualquer outra desde a Grande Depressão, o sr. Obama conseguiu o que
nenhum republicano poderia ter conseguido: salvar a política
pró-credor da administrador Bush que promoveu a Economia da Bolha.
"A maior parte da comunidade lobby do sector financeiro está feliz
com o que emergiu", resumiu o
Financial Times.
Um porta-voz do Financial Services Forum, uma importante
organização de lobbying da Wall Street, considerou as propostas
"cuidadosas e equilibras".
[1]
Com tais endossos, as vítimas de empréstimos predatórios
têm boas razões para se preocuparem. O plano Obama é
simplesmente o oposto da reforma do sistema financeiro de acordo com as linhas
que democratas progressistas e outros críticos defenderam.
Os seis defeitos mais fatais do plano são evidentes no seu
preâmbulo, o qual apresenta um falso diagnóstico do problema
financeiro de um modo que branqueia a Wall Street (em contraste com o lindo
discurso populista de Obama na televisão em que fazia a crítica
verbal à "cultura da irresponsabilidade"). Um
diagnóstico falso deve conduzir a curas erradas. Aqui, invariavelmente,
está um beneficiário financeiro que ganha com os pontos cegos num
pacote legal de "reforma".
1. Captura do regulador. A preparar o terreno para futuros ideólogos do
"livre mercado" estilo Alan Greenspan
O mais sério problema é a "captura regulatória":
o controle do processo público regulatório pelos interesses
especiais que estão a ser regulados. O discurso do sr. Obama a
introduzir a sua reforma era sem rodeios no reconhecimento de que "algumas
companhias iam ao regulador da sua escolha... Eis porque, como parte destas
reformas, desmantelaremos o Office of Thrift Supervision [OTS] e fecharemos
alçapões que permitiram a importantes instituições
escolher entre as regras bancárias. Ofereceremos apenas um alvará
bancário federal, regulado por um supervisor federal fortalecido".
Foi o OTS, afinal de contas, que a AIG e o Washington Mutual escolheram como
seu regulador, tal como o fez a GE Capital. O mais incompetente, o mais
ideologicamente oposto à regulação séria, a sua
ideia de um "mercado livre" na prática era de um mercado livre
para prestamistas infestados de fraudes subprime fazerem o que quisessem.
Alguém poderia fazer a lista de agências de
não-aplicação a Securities and Exchange Commission
(SEC) não respondendo a advertências cerca de Bernie Madoff, e a
mais desregulatória agência de todas: o Federal Reserve sob o
Mestre-da-bolha Alan Greenspan. Tradicionalmente, o Fed tem actuado como lobby
para o sistema da banca comercial e na verdade para a Wall Street como um todo.
(As suas acções pertencem a bancos comerciais membros do seu
sistema.) A recusa do Fed a intervir para travar a bolha das hipotecas
subprime, os empréstimos fraudulentos e outros elementos da
presidência Greenspan não dão muita confiança em que
ele tomará acções que venham a interferir com a feitura de
dinheiro da Wall Street a expensas do resto da economia. Mesmo hoje, o Fed
está a bloquear o Congresso ao recusar-se a revelar pormenores da sua
dádiva de US$2 milhões de milhões de "dinheiro por
lixo" ("cash for trash") a instituições
favorecidas da Wall Street.
Supõe-se que o papel do Tesouro seja representar o interesse
público. Infelizmente, nomear secretários do Tesouro vindos das
fileiras da administração da Wall Street ou dar à
Wall Street o poder de veto sobre o nomeado subverte esta missão.
Além do que se supõe ser o sistema regulatório de
verificações e equilíbrios público-privados, a
simples táctica de subfinanciar o sistema de justiça criminal, o
FBI, promotores públicos estaduais e locais ou bloqueá-los
activamente, como fez George Bush deixa a economia sem
protecção adequada contra fraude financeira e crédito
predatório. Colocar os responsáveis do comité financeiro
do Congresso à venda para os maiores contribuidores de campanha coroa o
processo de transformar democracia económica em oligarquia.
Uma regulação significativa deveria começar com a premissa
de que o direitos de os bancos criarem crédito a partir do ar
(realmente, a partir de toques no teclado de um computador, desde que os
banqueiros possam achar tomadores de empréstimos para assinarem
títulos de dívida) é um serviço público. O
sr. Obama e o seu secretário do Tesouro não concordam. Eles
tratam a criação de crédito como um monopólio
privado da Wall Street, a ser regulamentado mais nominalmente do que na
prática. O resultado é uma dádiva thatcheriana a o sector
bancário e como observou Tim Geithner, instituições
da Wall Street de toda espécie, desde casas corretoras a prestamistas de
automóveis e lojas de retalho agora estão a declarar-se
"bancos" a fim de obter doações do governo para
qualquer um de quem sejam credoras (mas nada para os seus devedores). Isto faz
parte da Nova Guerra de Classe que a administração Bush-Obama tem
patrocinado para polarizar a economia entre credores e devedores.
O meio politicamente astuto de desregulamentar um serviço público
especialmente no rastro de uma crise financeira que tem grande parte da
população armada é chorar lágrimas de
crocodilo sobre a "cultura de irresponsabilidade" da Wall Street,
como fez Obama na quarta-feira, e então afirmar que está a
"centralizar" a regulamentação para torná-la
mais forte ao invés de mais fraca. Se você quiser bloquear a
futura regulamentação, você naturalmente promete que o seu
acto proporcionará maior supervisão pública. O sr. Obama
designou o Federal Reserve para este papel. Mas isto foi precisamente o que
exacerbou a Bolha Greenspan.
A trama da desregulamentação-pela-centralização
atingiu o pico quando o pres. George W. Bush utilzou-a para anular tentativas
de procuradores-gerais do estado para processar a Countrywide Financial,
Washington Mutual, Citibank e outros vigaristas financeiros como empresas
criminosas por fazerem fraudulentos empréstimos hipotecários
subprime. O ardil que o sr. Bush utilizou para bloquear os seus processos
judiciais foi uma obscura regra em letras pequenas do National Bank Act de 1864
que dava a Washington o poder de anular estados locais que efectuam
acusações criminais. A motivação para esta lei da
Guerra Civil era bastante clara: Os governos locais e seus tribunais tendiam a
ser venais e corruptos. Washington afirmava assim a sua supervisão de
modo a processar bancos não regulamentados
("wildcat banking")
numa era em que os banqueiros emitiam as suas próprias notas
bancárias, muitas das quais valiam muito menos do que o seu valor facial
quando os seus possuidores tentavam gastá-las.
O pres. Bush ressuscitou esta lei, impedindo onze procuradores-gerais de estado
de processarem fraudes financeiras. Retirando o assunto das suas mãos,
ele remeteu as queixas ao regulador bancário nacional em Washington
que se recusou a processar, afirmando que a fraude fazia parte do
maravilhoso livre mercado americano. Isto custou à economia dos mais de
um milhão de milhões
(trillion)
de dólares até agora. Washington preferiu deixar os bancos
fazerem os seus empréstimos fraudulentos e a seguir pagar-lhes em pleno
(juntamente com as companhias financeiras que eles vitimizaram, mas não
naturalmente os devedores pessoais) pelos seus maus empréstimos
incumpridos, a fim de "salvar o sistema".
A reforma do sr. Obama não propõe rejeitar ou qualificar esta
cláusula do National Bank Act de modo a permitir que qualquer promotor
possa processar (mas não para permitir processos de fraude financeira
serem bloqueados). Atribuir poder regulador ao Fed tem o potencial para anular
qualquer processo sério de fraude. Isto é o mercado livre estilo
Robert Rubin e Larry Summers livre para as finanças
criminalizadas prosseguirem sem restrições. E se o sr. Summers
tornar-se o próximo presidente do Fed ... bem, você pode imaginar
para onde levará no espectro
regulação/desregulação entre credores e devedores!
2- Fracasso em dar eficácia significativa à redução
da fraude
As regulações sadias contra a fraude estão nos livros,
muitos deles da época do New Deal. Mas quando a Economia da Bolha
assistiu a níveis de fraude financeira sem precedentes desde a
década de 1920, os responsáveis que quiseram impedir abusos
depararam-se com os seus departamentos sub-financiados. A proposta do sr. Obama
falha na correcção deste problema. "Há ...
milhões de americanos que assinaram contratos que nem sempre entendiam
proposto por prestamistas que nem sempre lhes contavam a verdade",
reconheceu ele a 17 de Junho ao apresentar o seu plano. O sr. Obama prometeu
"a fiscalização será a regra, não a
excepção". Mas onde está o financiamento para a
divisão de fraude criminal do FBI? Onde está a
protecção efectiva do consumir em relação a
companhias de seguros que não pagam, a empreiteiros vigaristas e
companhias hipotecárias utilizando avaliadores de propriedade, advogados
e agências de cobranças, ou a corretores que empacotam hipotecas
lixo em títulos lixo? Eles obtiveram uma fortuna nos últimos anos
e podem mantê-la para si próprios e até fazerem uma
nova matança. Aparentemente será feito tão pouco à
fraude financeira quanto foi feito ao torturados de Guantanamo e os
figurões que perdoaram as suas acções.
Tem sido dada muita atenção à Consumer Financial Products
Agency, cujo papel foi em grande medida definido por Elizabeth Warren da
Harvard Law School. O seu principal objectivo é aplicar as leis da
verdade na concessão de empréstimos
(truth-in-lending)
às companhias de cartões de crédito e aos prestamistas
hipotecários. (Será que estas leis já não estavam
nos livros?) Isto é progresso, mas certamente é necessário
muito mais. Um modo de tornar as taxas dos cartões de crédito
mais económicas seria o governo proporcionar o seu próprio
serviço rival. Afinal de contas, os cartões de crédito
tornaram-se uma importante forma de pagamento nos dias de hoje. Não
será o pagamento electrónico realmente um serviço
público? A diferenças é que ao contrário das
empresas de electricidade e gás ou as ferrovias, não há
regulação para manter as comissões em linha com os custos
básicos economicamente necessários para o emissor do
cartão. É bom ouvir que alguém finalmente será
capaz de ler claramente quanto está a ser explorado. Mas por que
não parar a exploração?
Os republicanos podem simplesmente tornar a Consumer Financial Products Agency
apenas "consultiva", sem poder regulatório real. Assim, mesmo
que o Congresso não mate a proposta, o sr. Obama não tem de se
preocupar demasiado acerca de ofensas ao seu eleitorado doador número
um. A regulação séria sobre a Wall Street terá
quase o mesmo efeito do gabinete "responsabilidade social"
corporativa ao qual as companhias remetem os empregados no seu despedimento.
Nas audiências no Senado em 18 de Junho, o senador Robert Menendez de
Nova Jersey perguntou ao sr. Geithner "se o conselho que observaria os
reguladores financeiros teriam qualquer poder para fazer alguma outra coisa
além de recomendações. O sr. Geithner [disse] que pode
não existir o equilíbrio exactamente correcto, mas ele não
queria que o conselho tivesse a autoridade para unilateralmente forçar
mudanças nos reguladores que examina".
Para realmente proteger consumidores, por que não reagir às
práticas extorsivas do cartão de crédito reintroduzindo
leis anti-usura? As companhias evadiram-se a elas inicialmente incorporando-se
em estados com leis "corrida para a base". Se Washington pode
ultrapassar promotores estaduais para impedir a punição de fraude
financeira, por que não pode ultrapassar tais tramas da indústria
da usura? Eis onde leis federais centralizadas realmente deveriam contar para
alguma coisa.
3. Fracasso em reverter a orientação pró credor das leis
da bancarrota
O plano Obama permite à Wall Street manter-se a vender o seu produto
dívida, crescendo a taxas exponenciais como se as
finanças fossem uma "indústria" como a manufactura.
(Neste espírito, o Dow Jones Industrial Average agora contém as
principais firmas do sector financeiro, embora tenha desistido do Citicorp
quando as suas acções caíram abaixo de US$1, a mais baixa
taxa de retorno aceitável). A realidade é que o favoritismo
fiscal para as finanças e a alavancagem de dívida é em
grande medida responsável pela des-industrialização da
economia. Cada vez mais rendimento está a ser desviada da compra de bens
e serviços a fim de pagar prestamistas por dívidas incorridas no
passado. O que é necessário para libertar economias de tais
dívidas é revogar a reversão pró credor que o
Congresso aprovou em 2005 em resposta ao lobbying da indústria de
cartões de crédito e bancária. Tornando mais
difícil aos devedores pessoais irem à bancarrota, esta lei
impediu os tribunais de reduzirem dívida de acordo com a capacidade da
população para pagar.
O plano de Obama falha na rectificação do assunto. Ele trata a
questão dos "serviços" financeiros em isolamento do
problema da dívida da economia e do bem estar económico geral. A
responsável do Federal Deposit Insurance Company (FDIC), Sheila Bair,
propôs limitar o juro hipotecário a 32 por cento do rendimento da
família devedora. A alternativa é os arrestos de casas
continuarem, expropriando compradores muito recentes e também
proprietários que tomaram emprestado contra as suas casas a fim de
liquidar a sua dívida com cartão de crédito de juros mais
elevados ou simplesmente manterem padrões de vida que os cheques de
pagamento já não cobrem.
Desde os tempos coloniais, o estado de Nova York teve a Lei de
Transferência Fraudulenta
(Fraudulent Conveyance Law)
em vigor. Esta sábia legislação declara que se um banco
faz um empréstimo a um tomador sem saber como o devedor pode
razoavelmente cumprir os termos do empréstimo com o seu rendimento
normal, o empréstimo é considerado fraudulento e portanto fica
sem efeito
(null and void).
4. Fracasso em re-introduzir o Glass Steagall ou outros limites a prestamistas
"demasiado grandes para falir"
Ao apresentar o seu programa, o sr. Obama deturpou uma causa importante da
Economia da Bolha. Tudo parecia ser causada pela força impessoal da
tecnologia "Um regime regulatório", afirmou ele,
"articulado basicamente na esteira de uma crise económica do
século XX a Grande Depressão foi sobrepujado pela
velocidade, âmbito e refinamento de uma economia global do século
XXI". Não exactamente. O coroamento do New Deal de Franklin Dellano
Roosevelt foi o Glass-Steagall Act que separava banca comercial de banca de
investimentos. Isto impediu o conflito financeiro de interesses entre servir
clientes em bancos de retalho e especulação
(profiteering)
de bancos de investimento.
Uma consequência do Glass-Steagal foi tornar ilegal a fusão entre
o Citibank e a Travelers Insurance. Para salvar os responsáveis do
Citibank de sofrerem as consequências de infringir a lei e no
processo abrir a portar ao movimento conglomerado que deitou abaixo a economia
o presidente Clinton aceitou o conselho do srs. Summers e Greenspan e em
1999 assinou a lei de revogação do Glass-Steagall. Foi permitido
aos bancos comprarem companhias de seguros, imobiliárias, corretoras de
acções e firmas legais para empacotar hipotecas lixo
transformando-as em apodrecidas collateralized deb obligations (CDOs),
cobri-las com apólices de seguro-lixo escritas pela AIG e outras
companhias que cobravam comissões para prometer pagar dinheiro que
não tinham, e que acabaram salvas com milhões de milhões
de dólares de dinheiro do "contribuinte" na forma da permuta
"dinheiro por lixo" do Federal Reserve e do Tesouro.
5. Fracasso em impedir credit default swaps e outras apostas do "casino
capitalista"
Sob a supervisão do sr. Summers no tempo dos Clintos, a palavra
"reforma" veio a significar o que significou na Rússia, onde
ele teve liberdade de acção na década de 1990: uma
dádiva de activos públicos a iniciados financeiros. Nos Estados
Unidos isto envolveu a remoção das verdadeiras reformas postas em
vigor desde a Era Progressiva até o New Deal. Dentre as desculpas
citadas está a necessidade de libertar a
"inovação". Mas a inovação financeira
não é como aquela da indústria manufactureira. Ao
invés de elevar a produtividade para produzir mais com menos trabalho (e
portanto preços em queda), a inovação financeira objectiva
extrair mais dos devedores e da administração do dinheiro de
clientes e fundos. Sob a livre competição, por exemplo, a moderna
tecnologia electrónica permite aos bancos compensarem cheques num
único dia. Mas a "engenharia financeira" anda de mãos
dadas com a engenharia política, permitindo ao monopólio
bancário aderir aos prazos do velho correio a cavalo e manter o
dinheiro dos depositantes como que a "flutuar", isto é, como
um empréstimo livre de juros.
A principal façanha da engenharia financeira foi criar derivativos
matematicamente opacos. Como observou um especulador como George Soros:
"Os engenheiros financeiros afirmaram que estavam a reduzir riscos
através da diversificação geográfica: de facto
estavam a aumentá-los ao criar um problema de agência. Os agentes
estavam mais interessados em maximizar o rendimento da comissão do que
em proteger os interesses dos possuidores de títulos. ... Derivativos
feitos sob encomenda somente servem para melhorar a margem de lucro dos
engenheiros financeiros que os concebem". A única cura é
banir os credit default swaps totalmente. Mas eles tornaram-se o principal
centro de lucro da Wall Street. A reforma do sr. Obama não interfere com
essa vaca leiteira.
Tal como a "tecnologia" da avaliação de crédito,
a moderna pesquisa na web deveria permitir a qualquer credor ou comprador
infeliz de hipotecas bancárias empacotadas verificar on-line o
preço estimado de qualquer casa ou edifício ou qualquer
relatório de pontuação de crédito sobre
indivíduos. Os bancos não têm interesse em fazê-lo
pois isto interfere com os seus logros. "Vimos um sistema que permitia aos
prestamistas lucro proporcionando empréstimos a tomadores que nunca
pagariam", explicou o sr. Obama, "porque o prestamista descarregava o
empréstimo, e as consequência, para alguém diferente".
Grande parte da irresponsabilidade financeira institucionalizada de hoje
provém do facto de os bancos actuais não deterem mais as
hipotecas que originaram. Ao invés disso, eles "descarregam"
os seus empréstimos e dão bónus a responsáveis com
base no seu volume de empréstimo sem qualquer consideração
pela qualidade do mesmo ou a realidade. Isto costumava ser chamado fraude, e
ser processado.
Os sr. Obama propõe que os originadores de empréstimos mantenham
um sinal de 5 por cento na sua própria contabilidade. Os críticos
destacam que isto dificilmente deterá práticas de hipoteca-lixo e
sugerem que a proporção requerida seja pelo menos duplicada,
juntamente com o bloqueio de veículos fora do balanço,
especialmente em centros bancários offshore de supervisão zero
para evitar o fisco. Em vista da condenação quase universal desta
prática, o passos delicados do sr. Obama sugerem que o plano foi
formulado tendo em vista "Quão pouco teremos nós de ceder
à raiva popular e do Congresso com o salvamento de milhões e
milhões de dólares que demos a vigaristas financeiros?"
6. Fracasso em reformar o sistema fiscal que distorceu o sistema financeiro
para promover a dívida predatória extractiva, não o
crédito produtivo-industrial
O "produto" que a "indústria" bancária vende
é dívida empréstimos que, sob as
circunstâncias financeiras de hoje e o favoritismo fiscal para a Wall
Street, são concedidos de um modo cujo principal efeito é inchar
preços de activos, não financiar a formação de
capital tangível. A elevação de preços de
habitação e propriedade comercial, acções e
títulos é tomada como justificação para ainda mais
empréstimos, apoiados por colaterais cujo preço está em
aumento. Ao carregar a economia a jusante com dívida, esta aparente
"criação de riqueza" torna-se um círculo
vicioso, aumentando os custos financeiros da economia.
O plano de "reforma" do sr. Obama procura sustentar esta
dinâmica, não revertê-la. O plano não reconheceu o
relacionamento simbiótico entre política fiscal e política
financeira. Cortar impostos sobre a propriedade deixa mais renda
imobiliária, renda de monopólio e ganhos "gratuitos"
nos preços dos activos a serem empenhados junto aos bancos para
empréstimos ainda maiores empenhados para pagar mais juro sobre a
dívida em ascensão aceite para comprar activos sendo inchados
pela bolha do crédito.
O resultante "empreendimento" financeiro é diferente da
inovação industrial. Ele consiste em grande medida em capturar
legisladores fiscais do Congresso de modo a que redijam com letras pequenas
"alçapões" e mais isenções fiscais
deslumbrantes que comutem o fardo fiscal para o trabalho produtivo e a
indústria. Aqui está a essência da democracia do dinheiro
em troca de serviços
("pay to play")
de hoje. A financiarização da economia por este meio anda de
mãos dadas com a des-industrialização.
O mais regressivo dos impostos é a retenção sobre
salário do FICA (Federal Insurances Contributions Act) para a
Segurança Social e o Medicare. Só salários abaixo de cerca
de US$102 mil estão sujeitos a este imposto, não os de
rendimentos mais altos. E os especuladores da Wall Street pagam apenas uma taxa
baixa sobre os "ganhos de capital" do seu comércio. Ao comutar
o fardo fiscal para dentro da economia "real", este imposto polariza
o rendimento e a riqueza no topo da pirâmide económica enquanto
aumenta o custo de vida (impostos são um custo, afinal de contas). Isto
esmaga os orçamentos das famílias e contrai os gastos sobre bens
e serviços. E como resultado do subsídio fiscal por alavancagem
da dívida, o fluxo de caixa industrial é desviado para pagar
juros e dividendos ao invés de ser reinvestido em novos meios de
produção e ser passível de imposto sobre o rendimento.
Mais empréstimo bancário isto é, mais dívida
é o centro do problema económico de hoje, não a
solução. O capitalismo financeiro está a enfraquecer o
capitalismo industrial, substituindo a produção de bens e
serviços pela extracção predatória de renda e juro
através de "portagens" económicas, desde
parquímetros em Chicago a estradas em Nova Jersey. Os estados e as
localidades estão a enfrentar perdas fiscais, obrigando-os a liquidar as
suas estradas, parquímetros e empresas públicas junto a
compradores que erguem portagens caras e extraem ainda mais rendimentos da
economia "real" em contracção. A economia está a
rumar para a escravidão pela dívida
(debt peonage)
quando polariza entre o patronato rico e uma força de trabalho reduzida
ao relacionamento de dependência patrão-cliente.
Precisaremos nós recomeçar tudo outra vez para uma
reestruturação financeira significativa?
O problema financeiro da América exige portanto soluções
mais profundas do que aquelas que têm sido discutidas até agora.
Paul Krugman queixou-se na sua coluna no
New York Times
acerca de duas lacunas óbvias no plano Obama. "Para estar à
altura da sua própria análise, a administração
Obama precisa actuar mais duramente sobre as agências de
classificação e, ainda mais importante, tornar-se muito mais
específica acerca da correcção do modo como os banqueiros
são pagos". As agências de classificação de
títulos certamente têm um conflito de interesses inerentes ao
serem pagas pelos seus clientes para apresentarem exames habitualmente
uma maravilhosa classificação AAA de títulos lixo.
Mas por trás deste problema jaz outro muito mais profundo, de modo que
é compreensível que o sr. Geithner, quando perguntado
quinta-feira acerca da melhor regulação das agências de
classificação no seu testemunho no Senado, tenha dito que isso
teria de aguardar por outro momento. Como explicou o sr. Obama: "estamos a
propor um conjunto de reformas para exigir aos reguladores que olhem não
só para a segurança e estabilidade de instituições
individuais como também pela primeira vez para a
estabilidade do sistema como um todo.
Mas isto é exactamente o que não está a ser feito. O plano
silencia quando chega aos relatados 25 por cento do imobiliário dos EUA
afundados num estado de situação líquida negativa e o 1/8
já em atraso a caminhar para arrestos quando a dívida
hipotecária ligada a ele excede o seu (cadente) preço de mercado.
O imobiliário comercial parece ser o próximo grande sector a
ruir. O serviço da dívida enquanto isso está a acumular-se
a partir dos gastos do consumidor com bens e serviços, contraindo o
mercado interno e agravando o desemprego.
A economia precisa de um Franklin Dellano Roosevelt, mas tem o seu oposto. O
sr. Obama prometeu mudança, mas está a defender o status quo.
Será o seu papel histórico o de ter feito uma tentativa condenada
de sustentar o crescimento dos encargos gerais de dívida da
América? Desgastar as verificações da Era Progressiva
sobre a dinâmica financeira foi a tendência política e
económica dos últimos trinta anos. É a ideia do
conselheiro Summers de "reforma", a qual ele e os seus bandos
neoliberais impuseram à Rússia nos meados da década de
1990, favorecendo uma cleptocracia e impondo pobreza à
população como um todo, desnudando o capital industrial.
A "reforma" financeira do sr. Obama objectiva sustentar o capitalismo
de casino ao rejeitar um século de valiosa legislação
fiscal e financeira progressista. Após o seu discurso a Média
Industrial Dow Jones subiu na quinta-feira, principalmente porque a maior parte
dos "industriais" são agora companhias financeiras,
reflectindo o grau em que a engenharia financeira substituiu a engenharia
industrial.
Os bancos queixar-se-ão do plano Obama (realmente o Plano Paulson) para
centralizar a regulação financeira numa Reserva Federal
fortalecida. Mas naturalmente isso é exactamente onde eles querem
acabar, sob um presidente acomodatício (o próprio sr. Summers?)
nomeado sob o conselho e consentimento da Wall Street. "Nascido e criado
no seu quintal", vociferou B'rer Rabbit
[NR2]
triunfantemente depois de ser expulso dali. A salvo de futuros Eliot Spitzers!
[NR3]
22/Junho/2009
Notas
1. Edward Luce, "White paper sets out skilful compromises,"
Financial Times,
June 18, 2009.
NR1. Joe Lieberman: político reaccionário dos EUA. Foi candidato
à vice-presidência em 2000, na lista encabeçada por Al Gore.
NR2. B'rer Rabbit: personagem folclórica dos EUA que Walt Disney
aproveitou em filmes de animação.
NR3: Eliot Spitzers: governador de Nova York demitido em 2008 na
sequência de um escândalo com prostitutas.
[*]
Antigo economista da Wall Street especializado em balança de pagamentos
e imobiliário no Chase Manhattan Bank (agora JPMorgan Chase & Co.),
Arthur Anderson, e posteriormente no Hudson Institute (nenhum parentesco). Em
1990 ajudou a estabelecer o primeiro fundo de dívida soberana do mundo
para a Scudder Stevens & Clark. Foi Conselheiro Económico Chefe de
Dennis Kucinich
na última campanha primária presidencial dos democratas, e
aconselhou
os governos americano, canadiano, mexicano e lituano, bem como o United
Nations Institute for Training and Research (UNITAR). Professor
Investigador Emérito da Universidade do Missouri Kansas City
(UMKC), autor de muitos livros, incluindo
Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance
. Email:
mh@michael-hudson.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/hudson06222009.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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