Crise financeira no Dubai: Rumo a um cenário de pesadelo?
por Mike Whitney
O incumprimento verificado no Dubai não é o princípio do
Colapso Financeiro Nº2. Não veja dominós aqui. Sim, ele
levanta questões graves acerca da ameaça da dívida que
paira sobre economias emergentes particularmente a Europa do Leste. Mas
isto não é um "incumprimento soberano" no sentido
estrito, nem há qualquer grande contágio de risco. O Abu Dhabi
rico em petróleo está carregado de activos líquidos,
possivelmente tanto quanto US$800 mil milhões. Eles poderiam liquidar a
miserável dívida de US$60 mil milhões do Dubai num piscar
de olhos. Mas o Abu Dhabi quer dar ao seu perdulário irmão mais
jovem um sinal para acordar forçando o Dubai a reestruturar a sua
dívida. Isto significa que bancos, possuidores de títulos e
empreiteiros terão de se encolher, o que não é
surpreendente dada a condição abissal do mercado
imobiliário comercial.
Os proprietários do Dubai World foram apanhados na mesma vertiginosa
farra da construção comercial alimentada pela dívida que
varreu os Estados Unidos. O problema tem a ver com padrões de
empréstimo laxistas e baixas taxas de juro. Agora a procura caiu um
precipício e o crédito está a ficar mais apertado. O Dubai
World não pode rolar a sua dívida ou cumprir as suas
obrigações. Isto é o que tipicamente acontece quando
estouram bolhas de crédito.
Na quinta-feira, analistas do Bank of America emitiram uma
declaração: "Ninguém pode descartar como um
risco final a possibilidade de que isto escalasse num grande problema de
incumprimento soberano, o qual então repercutiria por todo o globo nos
mercados emergentes do mesmo modo que o da Argentina no princípio de
2000 ou a Rússia no fim dos anos 1990".
Isto é asneira. Não haverá incumprimento soberano. O Abu
Dhabi não vai remeter os mercados globais para um mergulho vertical a
fim de poupar uns poucos milhares de milhões de dólares. O Bank
of America está a soprar fumaça. O petróleo já
deslizou US$3 por barril desde que a crise começou. Provavelmente
haverá uma tentativa de resolução quando os mercados
abrirem segunda-feira. Isto não significa que não haja
importantes lições a serem retiradas desta mais recente
calamidade financeira. Há.
Primeiro, ela ilustra que a crise financeira não está
ultrapassada famílias, negócios e países ainda
estão a desalavancar. Este processo em andamento reduzirá gastos
e aumentará incumprimentos, bancarrotas e arrestos. Garantias
governamentais e programas de estímulo não reverterão as
tendências prevalecentes. Mais incidentes como o do Dubai World seriam
expectáveis. Estes "eventos do crédito"
perturbarão a recuperação e estimularão maior
aversão ao risco, a qual pressionará acções para a
baixa.
Amab Das, do RGE Monitor, resume isto assim: "Somos obrigados a ver um
aumento da aversão ao risco. A situação do Dubai significa
que embora os principais bancos centrais de todo o mundo tenham estabilizado o
sistema financeiro, eles não podem fazer com que todos os excessos
simplesmente desapareçam. Ainda temos de resolver aquelas tensões
dos balanços. A recuperação prossegue, mas ainda há
desafios significativos pela frente". (Bloomberg News)
Segundo, quando estes incidentes se verificam, provavelmente há um
considerável dano colateral decorrente de apólices de seguro
não regulamentadas
(credit default swaps)
dos que subscreveram os títulos. Estes derivativos CDS não
são vendidos numa bolsa pública de modo que ninguém sabe
quem os possui, em que quantidade, ou se o emissor tem suficientes reservas de
capital para liquidar as exigências. Deveríamos esperar uma
repetição da AIG múltiplas vezes novamente (embora mais
pequenas) até que o sistema esteja regulado ou os CDS estejam proibidos.
O resultado final é que a actual arquitectura financeira não
é concebida para funcionar; é concebida para tornar um punhado de
especuladores muito rico. Estes especuladores possuem o Congresso, a Casa
Branca e os media financeiros, razão pela qual não tem havido
mudança significativa nas regulamentações.
O Dubai não é a Argentina. Haverá uma
resolução e os empreiteiros serão pagos, embora não
"plenamente". Haverá perdas, grandes perdas. Mas não
contágio.
A notícia da "paralização" dos pagamentos do
Dubai enervou os mercados globais, onde a confiança do investidor
já é diminuta. O dólar e o yen fortaleceram-se os
Títulos do Tesouro dos EUA subiram. A "fuga para a
segurança" está a tornar duplamente difícil para o
Fed reflacionar preços de activos. Eventos de crédito como o do
Dubai tornam nervosos os investidores e eles escoiceiam. Isso estende a queda e
aprofunda a recessão.
Se a crise do Dubai se arrastar, o dólar ficará mais forte e o
florescente
carry trade
será esmagado. Isso significa que os bancos no limite da capacidade (o
quais investiram pesadamente em posições de alto risco)
ficarão esmagados mais uma vez. Este é o cenário de
pesadelo.
O Fed tem amparado ao colo o sistema financeiro e proporcionou
garantias ilimitadas sobre milhões de milhões
(trillions)
de dólares de colaterais comprometidos. Mas isso pode não ser
suficiente.
28/Novembro/2009
O original encontra-se em
http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=16310
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|