"Estamos perante uma fraude imperdoável"
Senhor Presidente:
Fomos convocados para avaliar "os avanços conseguidos na
execução dos compromissos contraídos na
Declaração do Milénio" e os "decorrentes nas
grandes conferências e cimeiras das Nações Unidas",
mas esse objectivo foi completamente desvirtuado.
Eram 8 objectivos e 18 metas, em boa verdade modestos, que deveriam cumprir-se,
a maioria, em 2015. Baixar para metade a extrema pobreza e a fome,
alcançar a educação primária universal, promover a
igualdade da mulher, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde
materna, combater o HIV/SIDA e outras doenças transmissíveis,
garantir a sustentabilidade ambiental e desenvolver as alianças globais
para o desenvolvimento.
Muito pouco se fez para alcançar estas metas. Em várias delas
há um claro retrocesso.
Era isso que tínhamos que discutir, aqui e agora, para empreender as
acções enérgicas e urgentes que permitissem
avançar. Essa era a obrigação desta Cimeira.
Mas estamos perante uma fraude imperdoável. O objecto desta
reunião foi sequestrado através de tortuosas
manipulações. Os que se imaginam donos do planeta nem sequer
querem recordar aquelas promessas, que foram proclamadas com hipócrita
fanfarronice.
Pior ainda. Tratam de impor uma suposta reforma da ONU que apenas procura
dominar totalmente a Organização e convertê-la em
instrumento da sua ditadura global.
Pretendem fazer da guerra e do hegemonismo as normas que o mundo inteiro devia
acatar sem se rebelar. Pelo caminho, com o auxílio de dóceis
corifeus, reduzem a Carta a pó, pretendem reduzir o Secretariado a
servil ferramenta, insultam a Assembleia e o mundo que ela, e só ela,
representa.
Em nome de quê? De um poderio a que a sua ignorância impede de ver
os limites? De uma falsa oposição ao terrorismo, para massacrar
populações inteiras e levar a morte a milhares de jovens
norte-americanos? De uma política que, ao mesmo tempo, protege
cinicamente um terrorista convicto e confesso como Luís Posada Carrilles
e mantém na prisão, violando as suas próprias leis, Cinco
inocentes que castiga porque, eles sim, souberam combater o terrorismo?
A cobiça, o egoísmo, a irracionalidade levar-nos-ão
à hecatombe de que não se salvarão sequer os que se negam
a aceitar um mundo diferente, fruto da solidariedade e da justiça.
Um mundo sem fome, nem pobreza, que a todos dê saúde,
educação e dignidade, um mundo livre da opressão e da
discriminação, sem guerras nem bloqueios genocidas, no qual
desapareça a exploração dos mais débeis.
Ainda que os poderosos finjam não acreditar, os povos pobres têm
direito
ao desenvolvimento e continuarão a lutar por ele.
Continuarão a procurá-lo para além destas paredes, fora
desta sala. Contra o bloqueio, o fustigamento e as ameaças levanta-se a
Alternativa Bolivariana para as Américas, fruto da liderança
histórica do Presidente Hugo Chávez Frías, cujo discurso,
ontem, trouxe aqui a voz dos povos com a sua denúncia que apoiamos
plenamente. A Alternativa Bolivariana para as Américas é o
exemplo de solidariedade que a muitos devolve a esperança,
constrói a verdadeira integração e o desenvolvimento e
anuncia outro mundo melhor que saberemos conquistar. A ALBA avança a
partir do Sul.
Muito Obrigado
[*]
Presidente da Assembleia Nacional de Cuba. Discurso na 60ª Assembleia da
Organização das Nações Unidas
Tradução de José Paulo Gascão.
Este artigo encontra-se em
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