Quatro anos de governo de Sócrates na economia
RESUMO DESTE ESTUDO
Uma das mensagens que Sócrates e todo o governo têm procurado
fazer passar, é que o País estava a recuperar, mas que a crise
financeira internacional, de que ele não tem culpa, veio estragar tudo.
Isso não é verdade pois o agravamento da situação
é também anterior à crise.
No período de 2005-2008 com Sócrates, o crescimento
económico em Portugal foi, em média, igual a menos de metade da
média da União Europeia, pois em quatro anos Portugal cresceu apenas
4,8% enquanto a UE27 aumentou 9,8%. Como consequência o PIB por habitante
SPA, ou seja, anulado da diferença de preços, cresceu em Portugal
apenas 2.500 euros, enquanto subiu em média na UE27 mais de 3.300 euros.
Portugal durante este período afastou-se em todos os anos, em termos
económicos, ainda mais da União Europeia.
Mas mesmo crescendo pouco, uma parcela cada vez maior da riqueza criada foi
transferida para o estrangeiro, ficando no País para investimento e para
melhorar as condições de vida dos portugueses cada vez menos. Em
2004, foram transferidos para o estrangeiro, sob a forma fundamentalmente de
juros e de dividendos, 25.943 milhões de euros, ou seja, 18% da riqueza
criada nesse ano em Portugal (PIB). Depois de três anos de governo de
Sócrates, ou seja, em 2007, e antes da crise se declarar com
força, foram já transferidos 33.398 milhões de euros, isto
é, 20,5% do PIB. Dividindo este último valor pela
população empregada nesse ano obtém-se 6.460 euros por
empregado, o que representa mais 27,5% do que em 2004.
Entre 2005 e 2008, o saldo negativo da Balança Corrente, ou seja, das
nossas contas com o exterior, aumentou 33%. No conjunto dos quatro anos, o saldo
negativo acumulado atingiu 64.081 milhões de euros. Em 2008, ele
corresponderá a 11% do PIB, quando em 2005 era 9,5% do PIB. Esta
variação negativa do saldo da Balança Corrente é
também um indicador importante da crescente falta de competitividade da
economia portuguesa. E apesar do défice das contas externas do
País ser superior em cerca de 5 vezes ao défice
orçamental, este governo apenas se preocupa e fala do défice
orçamental ignorando o défice das contas externas do País
cujas consequências no desenvolvimento futuro do País serão
certamente muito graves.
Em 2005 a divida líquida do País ao estrangeiro atingia 93.510 milhões de
euros e, em 2007, já era de 146.592 milhões de euros, ou seja,
mais 56,8%. No mesmo período, o PIB cresceu apenas 12,9%. Como
consequência a divida externa aumentou, entre 2004 e 2007, de 64,8% do
PIB para 90% do PIB. Em todos os anos de governo de Sócrates a divida
externa cresceu de uma forma rápida, e não apenas depois de se
ter declarado a crise financeira internacional.
Entre 2004 e 2007, a divida das famílias aumentou 30,5%, pois passou de
112.198 milhões de euros para 146.393 milhões de euros, enquanto
as remunerações dos trabalhadores, sem incluir
contribuições para a Segurança Social, subiram apenas
10,9%, ou seja, praticamente um terço da subida verificada no
endividamento das famílias. Em 2007, a divida média por
família era já de 40.665 euros quando em 2004 era de 31.100 euros
por família.
Em relação às empresas o endividamento foi também
rápido e crescente nos anos de governo de Sócrates. Entre 2004 e
2007, passou de 139.804 milhões de euros para 185.728 milhões de
euros, ou seja, aumentou 32,8%, com o consequente disparar dos encargos
financeiros.
É evidente que Portugal se encontra, como consequência
também da politica que tem sido seguida, numa situação
extremamente fragilizada para enfrentar a grave crise actual. A politica errada
seguida por este governo que definiu como objectivo central da sua politica a
redução do défice orçamental subordinando a isso
tudo, está-se a revelar um erro estratégico que o País e
os portugueses têm pago e vão continuar a pagar caro. Qualquer
economista sabe que a chamada "consolidação
orçamental" nunca deverá ser feita em período de
crise. Em período de crise, como aquele que Portugal vive há mais
de quatro anos, era fundamental uma forte intervenção do Estado para
dinamizar a economia e defender o tecido social. Recentemente, o premio Nobel
da Economia e o novo presidente dos Estados Unidos vieram afirmar que mais
importante que a redução do défice é dinamizar a
economia. O governo de Sócrates nunca compreendeu isso, tendo sempre
seguido o caminho contrário. Mesmo o OE2009 é dominado pela
obsessão do défice, já que fixa um défice de 2,2%.
O próprio ministro das Finanças, em declarações
feitas na Assembleia da República, pôs em causa a possibilidade
disso ser cumprido, mas Sócrates, desdizendo-o, veio logo afirmar que
não via nada para aquele valor de défice não ser cumprido.
Sócrates, com a ignorância e insensibilidade como trata os
problemas económicos e sociais também, perante os dados do INE
que revelavam um aumento do desemprego, declarou aos órgão de
informação que era uma "Boa Noticia". Será que o
1º ministro pensa o mesmo em relação aos dados sobre a
economia?
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Uma das mensagens que o governo tem procurado fazer passar, e que certamente se
vai acentuar com o agravamento da crise e a proximidade de
eleições, é que o País estava a recuperar mas que a
crise externa, que ninguém esperava e de que o governo não tem
culpa, veio estragar tudo. Ora isso não corresponde à verdade
pois mesmo antes da crise se ter declarado de forma mais visível o
agravamento dos problemas no campo da economia era já evidente, como
mostraremos utilizando para isso apenas dados oficiais. Para além disso,
o governo manteve-se sempre cego e surdo perante os sinais claros da crise e
face a advertências que muitos economistas faziam, incluindo nós
próprios, ouvindo apenas os neoliberais defensores da
consolidação orçamental a todo o custo
CRESCIMENTO ECONÓMICO ANÉMICO INFERIOR A MENOS DE METADE DA
UNIÃO EUROPEIA
O quadro seguinte, construído com dados publicados pelo Eurostat, mostra
o fraco desempenho da economia portuguesa nos anos de governo de
Sócrates, que se torna mais evidente quando se compara com a
média comunitária.
No período de 2005-2008 de governo de Sócrates, o crescimento
económico em Portugal foi, em média, em todos os anos menos de
metade da média da União Europeia. No período 2005-2008, o
PIB português cresceu 4,8% e o da UE27 9,8%.. Como consequência o
PIB por habitante SPA, ou seja, anulado da diferença de preços,
cresceu em Portugal apenas 2.500 euros, enquanto subiu em média na UE27
mais 3.300 euros. Como é evidente, Portugal durante este período
afastou-se, em termos económicos, e em todos os anos ainda mais da
União Europeia.
E para 2009, a previsão do Eurostat, é que esse afastamento
continue pois o crescimento previsto para o próximo ano para Portugal
é de apenas 0,1%, enquanto para a média de UE27 a subida
é de 0,2%.
UMA PARTE CRESCENTE DA RIQUEZA CRIADA NO PAÍS É TRANSFERIDA PARA
O EXTERIOR
Mas mesmo a riqueza criada resultante daquele reduzido crescimento não
fica, na sua totalidade, no País. Como o quadro seguinte,
construído com dados do Eurostat e do Banco de Portugal, revela uma
parcela crescente dessa riqueza está a ser transferida para o
estrangeiro.
Em 2004, foram transferidos para o estrangeiro, sob a forma fundamentalmente de
juros e de dividendos, 25.943 milhões de euros, ou seja, 18% da riqueza
criada nesse ano em Portugal (PIB). Depois de três anos de governo de
Sócrates, ou seja, em 2007, foram transferidos 33.398 milhões de
euros, isto é, 20,5% do PIB. Dividindo este último valor pela
população empregada nesse ano 5.169.700
obtém-se 6.460 euros mais 27,6% do que em 2004. É este o valor
médio da riqueza anual criada por empregado em Portugal que é
transferido para o estrangeiro.
É evidente, que transferindo-se cada vez mais riqueza para o
estrangeiro, menos fica no País para melhorar as condições
de vida dos portugueses e para investir. É esta também uma das
consequências da politica que tem sido seguida, que não se
verificou apenas em 2008, mas em todos os anos de governo de Sócrates.
DÉFICE EXTERNO CINCO VEZES SUPERIOR AO DÉFICE ORÇAMENTAL
Uma das razões desta transferência crescente de riqueza para o
exterior, resulta do elevado saldo negativo das contas externas portuguesas que
é revelado pela Balança Corrente. O quadro seguinte,
construído com dados do Banco de Portugal, mostra a crescente
degradação das nossas contas externas.
Entre 2005 e 2008, o saldo negativo da Balança Corrente, que engloba a
quase totalidade das relações comerciais e outras com o exterior,
aumentou 33%, somando, para os 3 anos um saldo negativo de 64.081
milhões de euros. Em percentagem do PIB, este saldo negativo
atingirá, em 2008, cerca de 11%, portanto mais 15,% do que em 2005, que
foi de 9,5%. Esta variação negativa do saldo da Balança
Corrente é também um indicador importante da crescente falta de
competitividade da economia portuguesa.
É revelador da incapacidade deste governo para compreender e resolver os
problemas do País, a forma pouca responsável como trata esta
questão, pois apesar deste défice ser quase cinco vezes superior
ao défice orçamental e de maior gravidade, ele não tem
merecido atenção e referência por parte do governo. E como
se mostrou este défice não se limitou ao ano de 2008,
período em que a crise se acentuou.
O ENDIVIDAMENTO EXTERNO CRESCEU EM TODOS OS ANOS DO GOVERNO DE SÓCRATES
O saldo negativo crescente das nossas contas externas tem determinado o aumento
rápido do endividamento do País. É o que revela o quadro
seguinte construído com dados do Banco de Portugal.
Em 2005 a divida externa líquida do País atingia 93.510
milhões de
euros e, em 2007, já era de 146.592 milhões de euros, ou seja,
mais 56,8%. No mesmo período, o PIB cresceu apenas 12,9%. Como
consequência, entre 2004 e 2007 a divida externa líquida aumentou
de 64,8% para 90% do PIB. Portanto, em todos os anos de governo de
Sócrates a divida externa cresceu de uma forma rápida, e
não apenas depois de se ter declarado a crise financeira internacional.
AUMENTO RÁPIDO DA DÍVIDA DAS EMPRESAS E DAS FAMÍLIAS
Durante os quatro anos de governo de Sócrates registou-se também um
rápido endividamento das empresas e das famílias portuguesas como
revela o quadro seguinte construído com dados do Banco de Portugal
Entre 2004 e 2007, as dividas das famílias aumentaram 30,5%, pois passou
de 112.198 milhões de euros 146.393 milhões de euros, enquanto as
remunerações dos trabalhadores, sem incluir as
contribuições para a Segurança Social, subiram apenas
10,9%, ou seja, praticamente um terço da subida verificada na divida das
familias .
Em relação às empresas o endividamento foi também
rápido e crescente nos anos de governo de Sócrates. Entre 2004 e
2007, passou de 139.804 milhões de euros para 185.728 milhões de
euros, ou seja, aumentou 32,8%, com o consequente disparo dos encargos com a
divida.
POLÍTICA SEGUIDA FRAGILIZOU MAIS O PAÍS NÃO O PREPARANDO
PARA A CRISE ACTUAL
É evidente que Portugal encontra-se, como consequência
também da politica seguida por este governo, numa situação
extremamente fragilizada para enfrentar a grave crise actual. A análise
anterior feita com base em dados oficiais mostrou que a politica seguida, em
que a obsessão de reduzir o défice foi o principal, para
não dizer mesmo, o único objectivo, subordinando a essa
obsessão tudo o resto e, de uma forma particular, a politica
económica, agravou a situação económica herdada,
fragilizando ainda mais a economia portuguesa, as empresas e as
famílias, e não as preparando para enfrentar uma crise como a
actual.
A redução continuada do investimento público (entre 2005 e
2009, o investimento previsto no PIDDAC diminuiu, mesmo em valores nominais, em
31%); nos anos 2007 e 2008 apenas foram utilizadas (despesa validada) cerca de
5% das verbas do QREN disponibilizadas pela União Europeia para estes
dois anos, associada à contracção imposta nas restantes
despesas públicas e a outras medidas, como a chamada "reforma da
Administração Pública" etc., bem como à total
passividade face a problemas graves, de que é exemplo o crescente
défice das nossas contas externas; tudo isto, reduziu o investimento
necessário para modernizar o País tendo desorganizado e
fragilizado o Estado, e contribuiu para aumentar o endividamento do
País, das famílias e das empresas, debilitando-as e tornando a
estas mais difícil a tarefa de enfrentar uma crise como a actual.
A redução do défice orçamental feita erradamente
em pró-ciclo (numa altura em que o País precisava mais da
intervenção do Estado para dinamizar a economia, ela foi reduzida
para assim se reduzir o défice) e numa altura em que Portugal procurava
sair de uma grave crise, está a custar e vai continuar a custar caro ao
País e aos portugueses. Ela poderá pôr em causa mesmo os
resultados obtidos no campo orçamental, pois a crise e a
situação do País, das famílias e das empresas vai
exigir ao Estado uma forte intervenção, naturalmente com custos
muito mais elevados (recorde-se os 24.000 milhões de euros para a banca,
os mais 1.000 milhões de euros que vão custar a
nacionalização de um banco, o BPN) se a politica seguida nestes
últimos anos tivesse sido outra, e tivesse contribuído para
robustecer o tecido económico e social do País.
Infelizmente Sócrates recusa-se a reconhecer o erro estratégico
que cometeu, subestimando a economia, e não consegue ainda perceber essa
verdade que a evolução da realidade torna cada vez mais evidente.
O próprio ministro das Finanças, na reunião realizada na
Assembleia da República em 20/11/2008, para debater o OE2009 afirmou
textualmente que as "colunas em que assentava o cenário
macroeconómico utilizado na construção do OE2009 estavam a
abanar" e, consequentemente (acrescentamos nós), está a
abanar todo o OE2009. Só Sócrates, com a ignorância com que
fala de problemas económicos, é que parece que ainda não
compreendeu isso, continuando a afirmar que o défice de 2,2% é
para cumprir.
22/Novembro/2008
Economista,
edr@mail.telepac.pt
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