Preços dos combustíveis em Portugal são superiores aos da UE
- em 2009 a diferença aumentou 88% na gasolina 95 e 28% no gasóleo
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Está-se a verificar em Portugal de novo uma escalada dos preços dos combustíveis. A justificação dada pelas petrolíferas, como é habitual, é o aumento do preço do barril do petróleo no mercado internacional. Mas se desagregarmos os aumentos concluímos que essa escalada está a ser determinada muito pela subida dos preços que revertem integralmente para as empresas, ou seja, dos preços sem impostos, que tem sido muito superior aos aumentos médios registados na UE. Segundo a Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, em apenas 4 meses (Dez2008-Abril2009) as petrolíferas conseguiram aumentar, em seu proveito, em 88% a diferença percentual que separava o preço sem impostos da gasolina 95 em Portugal do preço médio da UE. Assim em Dezembro de 2008, o preço da gasolina 95 sem impostos em Portugal era superior ao preço médio da UE em 3,4% mas, em Abril de 2009, essa diferença já tinha aumentado para 6,4% (Quadro I). Em relação ao preço do gasóleo, também em apenas 4 meses, as petrolíferas conseguiram aumentar, em seu proveito, em 28% a diferença entre o preço sem impostos em Portugal e o preço médio da União Europeia. Em Dezembro de 2008, o preço do gasóleo sem impostos em Portugal era superior ao preço médio da UE em 5,7% mas, em Abril de 2009, essa diferença já tinha aumentado para 7,3%.(Quadro II) Pelo contrário, se compararmos os preços de venda ao publico dos combustíveis, ou seja, os preços com impostos em Portugal e os preços médios da União Europeia, concluímos que a diferença percentual, contrariamente ao que sucedeu com os preços sem impostos, até diminuiu durante o mesmo período. Em Dezembro de 2008, o preço de venda ao publico da gasolina 95 em Portugal era superior ao preço médio da União Europeia em 15,8% e, em Abril de 2009, em 15,4% (Quadro I). Em relação ao preço do gasóleo, durante o mesmo período, a diferença (o preço em Portugal ser superior ao da União Europeia ) diminuiu de 5,1% para 4,3%. Portanto, a subida dos preços dos combustíveis está a ser determinada muito pelo aumento dos preços sem impostos, ou seja, dos que revertem integralmente para as empresas (Quadros I e II). De acordo com as Estatísticas Rápidas Março de 2009, pág. 14, da Direcção Geral da Energia do Ministério da Economia, entre a 1ª semana e a 9ª semana de 2009, o preço sem impostos da gasolina95 em Portugal aumentou 21,8%, enquanto o preço do barril de petróleo subiu 8% Resumindo, os dados da Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia revelam que, em 2009, o aumento dos preços sem impostos dos combustíveis em Portugal tem sido muito superior à subida verificada na maioria dos países da UE e, em particular, à subida registada nos preços médios da União Europeia (Gráfico 1), o que prova que a escalada dos preços dos combustíveis no nosso País não pode ser explicada apenas pelo aumento do preço do barril do petróleo no mercado internacional como pretendem fazer crer as petrolíferas. Esta escalada de preços que se está a verificar neste momento em Portugal tem também como causa a ausência de qualquer controlo dos preços dos combustíveis por parte quer da Autoridade da Concorrência (o seu último relatório sobre o mercado dos combustíveis [1] mostrou que esta chamada entidade de supervisão não está disposta a actuar, servindo apenas para justificar a actuação das petrolíferas, o que prova a sua total submissão aos interesses destas grandes empresas) quer do próprio governo que nada faz para defender os interesses dos consumidores, por um lado; e, por outro lado, essa escalada de preços resulta do aproveitamento, por parte das petrolíferas, dessa situação de total descontrolo para subir os preços muito mais em Portugal do que na UE multiplicando os lucros. O facto de os preços sem impostos dos combustíveis em Portugal serem superiores aos preços médios da União Europeia determina um custo extra para os consumidores portugueses, e um lucro extraordinário para as petrolíferas. Essa diferença (preços sem impostos em Portugal serem superiores ao preços médios da UE), na dimensão referida, deverá custar este ano aos consumidores portugueses mais 210,7 milhões de euros, o que significará um lucro extraordinário de igual montante para as empresas. E a situação actual deverá ser já mais gravosa para os consumidores portugueses de que a revelada pelos dados anteriores da Direcção Geral da Energia, pois a escalada dos preços a nível do consumidor continuou depois de Abril de 2009. Entre Abril de 2009, último mês em que aquela Direcção disponibilizou dados, e Junho de 2009,o preço de venda ao público da gasolina 95 subiu de 1,192/litro para 1,343/litro (+12,7%) e do gasóleo aumentou de 0,971 /litro para 1,06/litro (+9,2%). |
Nos últimos meses e mesmo nas últimas semanas tem-se verificado
em Portugal de novo uma escalada nos preços dos combustíveis. As
petrolíferas dão como justificação, como é
já habitual, o aumento do preço do barril de petróleo que
se tem verificado no mercado internacional. No entanto, se compararmos o
aumento dos preços em Portugal com o verificado, durante o mesmo
período, nos outros países da UE e, em particular, como o
preço médio da UE concluímos que a subida tem sido muito
maior em Portugal, tendo o preço médio no nosso País, que
já era superior ao da UE, aumentado ainda mais.
A DIFERENÇA DE PREÇOS ENTRE PORTUGAL E A UE AUMENTOU AINDA MAIS
EM 2009
Os dois quadros que a seguir se apresentam relativos à gasolina 95 e ao
gasóleo, construídos com dados publicados pela
Direcção Geral de Energia, provam precisamente isso.
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Finlândia | 0,356 | 1,181 | 0,391 | 1,222 | -4,4% | 2,9% | -4,9% | 2,5% |
Holanda | 0,367 | 1,263 | 0,394 | 1,303 | -1,6% | 10,1% | -4,0% | 9,3% |
PORTUGAL | 0,373 | 1,147 | 0,411 | 1,192 | 0,0% | 0,0% | 0,0% | 0,0% |
Malta | 0,645 | 1,238 | 0,494 | 1,060 | 72,9% | 7,9% | 20,3% | -11,1% |
Irlanda | 0,447 | 1,156 | 0,350 | 1,039 | 19,8% | 0,8% | -14,8% | -12,9% |
Itália | 0,377 | 1,130 | 0,428 | 1,190 | 1,2% | -1,5% | 4,1% | -0,2% |
Alemanha | 0,289 | 1,122 | 0,378 | 1,228 | -22,6% | -2,2% | -8,1% | 3,0% |
Bélgica | 0,379 | 1,167 | 0,400 | 1,212 | 1,7% | 1,8% | -2,6% | 1,6% |
França | 0,317 | 1,105 | 0,373 | 1,171 | -14,9% | -3,7% | -9,3% | -1,8% |
Dinamarca | 0,351 | 1,128 | 0,435 | 1,246 | -5,8% | -1,7% | 5,9% | 4,5% |
Reino Unido | 0,301 | 1,040 | 0,311 | 1,052 | -19,3% | -9,3% | -24,2% | -11,8% |
República Eslovaca | 0,360 | 1,039 | 0,364 | 1,045 | -3,4% | -9,4% | -11,4% | -12,3% |
República Checa | 0,333 | 0,942 | 0,380 | 0,980 | -10,6% | -17,9% | -7,4% | -17,9% |
Polónia | 0,343 | 0,934 | 0,348 | 0,876 | -7,9% | -18,6% | -15,3% | -26,6% |
Suécia | 0,276 | 0,972 | 0,354 | 1,078 | -26,1% | -15,3% | -13,8% | -9,6% |
Áustria | 0,300 | 0,942 | 0,344 | 0,994 | -19,6% | -17,8% | -16,3% | -16,6% |
Hungria | 0,356 | 0,911 | 0,388 | 0,897 | -4,4% | -20,6% | -5,6% | -24,8% |
Luxemburgo | 0,354 | 0,938 | 0,406 | 0,998 | -5,2% | -18,2% | -1,1% | -16,3% |
Grécia | 0,364 | 0,857 | 0,409 | 0,922 | -2,4% | -25,3% | -0,4% | -22,6% |
Espanha | 0,355 | 0,884 | 0,412 | 0,951 | -4,9% | -22,9% | 0,3% | -20,3% |
Eslovénia | 0,344 | 0,844 | 0,364 | 0,991 | -7,7% | -26,4% | -11,4% | -16,9% |
Estónia | 0,347 | 0,834 | 0,365 | 0,854 | -6,9% | -27,3% | -11,2% | -28,4% |
Letónia | 0,398 | 0,817 | 0,384 | 0,924 | 6,6% | -28,8% | -6,5% | -22,5% |
Chipre | 0,381 | 0,794 | 0,425 | 0,845 | 2,2% | -30,8% | 3,6% | -29,1% |
Roménia | 0,380 | 0,789 | 0,385 | 0,814 | 1,9% | -31,2% | -6,2% | -31,8% |
Lituânia | 0,338 | 0,780 | 0,378 | 0,967 | -9,5% | -32,0% | -7,9% | -18,9% |
Bulgária | 0,310 | 0,793 | 0,354 | 0,845 | -16,8% | -30,9% | -13,9% | -29,2% |
Média UE-27 | 0,361 | 0,991 | 0,386 | 1,033 | -3,2% | -13,6% | -6,0% | -13,4% |
PORTUGAL/EU-27 | +3,4% | +15,8% | +6,4% | +15,4% |
Se analisarmos os preços sem impostos, que são os que revertem
para as empresas, em Dezembro de 2008 e em Abril de 2009, a conclusão
que imediatamente se tira é que o preço em Portugal era superior
ao de 20 países dos 27 que constituem a UE em Dezembro de 2008, mas em
Abril de 2009, esse numero já tinha aumentado para 21 países,
existindo apenas 5 com preços superiores aos de Portugal. Mas o mais
grave e esclarecedor da ausência total de qualquer controlo das
actividades das petrolíferas no nosso País, é o facto de
que em apenas 4 meses elas conseguiram aumentar em 88%, em seu proveito, a
diferença percentual que separava o preço sem impostos da
gasolina 95 em Portugal do preço médio da UE. Efectivamente, em
Dezembro 2008, o preço sem impostos da gasolina em Portugal era superior
ao preço médio da UE em 3,4% mas, em Abril de 2009, essa
diferença já tinha aumentado para 6,4%. Tem interesse observar,
que durante o mesmo período, a diferença percentual dos
preços com impostos até baixou. Em Dezembro de 2008, o
preço de venda ao publico da gasolina 95 em Portugal era superior ao
preço médio da UE em 15,8% e, em Abril de 2009, em 15,4%.
Portanto, quem tem lucrado com o aumento de preços são
fundamentalmente as petrolíferas.
O gráfico seguinte construído com dados constantes das
Estatísticas Rápidas de Março de 2009 da
Direcção Geral da Energia, dá bem uma ideia da
diferença de preços que está a penalizar os consumidores
portugueses perante a passividade da chamada autoridade de supervisão e
do próprio governo, em particular do Ministério da Economia.
Situação semelhante se verificou em relação ao
preço do gasóleo como revelam também os dados da
Direcção Geral da Energia constantes do quadro seguinte.
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Finlândia | 0,512 | 1,027 | 0,447 | 0,949 | -2,3% | -3,6% | 0,6% | -2,3% |
Holanda | 0,474 | 1,054 | 0,392 | 0,959 | -9,4% | -1,1% | -11,8% | -1,3% |
PORTUGAL | 0,524 | 1,066 | 0,445 | 0,971 | 0,0% | 0,0% | 0,0% | 0,0% |
Malta | 0,710 | 1,230 | 0,473 | 0,950 | 35,6% | 15,4% | 6,3% | -2,1% |
Irlanda | 0,603 | 1,175 | 0,394 | 0,955 | 15,2% | 10,3% | -11,4% | -1,6% |
Itália | 0,503 | 1,112 | 0,449 | 1,046 | -3,9% | 4,3% | 1,0% | 7,8% |
Alemanha | 0,434 | 1,076 | 0,401 | 1,037 | -17,1% | 1,0% | -9,9% | 6,8% |
Bélgica | 0,509 | 1,000 | 0,426 | 0,943 | -2,9% | -6,2% | -4,2% | -2,9% |
França | 0,434 | 1,031 | 0,384 | 0,971 | -17,0% | -3,2% | -13,6% | 0,0% |
Dinamarca | 0,452 | 1,023 | 0,434 | 1,021 | -13,7% | -4,0% | -2,3% | 5,2% |
Reino Unido | 0,442 | 1,201 | 0,389 | 1,142 | -15,7% | 12,7% | -12,4% | 17,6% |
República Eslovaca | 0,516 | 1,185 | 0,402 | 1,052 | -1,5% | 11,2% | -9,5% | 8,3% |
República Checa | 0,486 | 1,037 | 0,433 | 0,958 | -7,2% | -2,7% | -2,6% | -1,3% |
Polónia | 0,475 | 0,937 | 0,394 | 0,793 | -9,3% | -12,1% | -11,4% | -18,3% |
Suécia | 0,428 | 1,029 | 0,399 | 0,998 | -18,2% | -3,5% | -10,3% | 2,8% |
Áustria | 0,446 | 0,999 | 0,399 | 0,942 | -14,9% | -6,3% | -10,2% | -3,0% |
Hungria | 0,510 | 1,011 | 0,433 | 0,876 | -2,7% | -5,1% | -2,6% | -9,8% |
Luxemburgo | 0,461 | 0,878 | 0,406 | 0,814 | -11,9% | -17,6% | -8,7% | -16,2% |
Grécia | 0,556 | 1,021 | 0,474 | 0,933 | 6,2% | -4,2% | 6,6% | -3,9% |
Espanha | 0,481 | 0,920 | 0,435 | 0,866 | -8,1% | -13,7% | -2,2% | -10,8% |
Eslovénia | 0,477 | 0,935 | 0,378 | 0,977 | -8,9% | -12,3% | -15,0% | 0,7% |
Estónia | 0,473 | 0,947 | 0,373 | 0,830 | -9,7% | -11,1% | -16,1% | -14,5% |
Letónia | 0,527 | 0,918 | 0,394 | 0,877 | 0,7% | -13,8% | -11,3% | -9,7% |
Chipre | 0,522 | 0,894 | 0,443 | 0,804 | -0,4% | -16,1% | -0,4% | -17,2% |
Roménia | 0,525 | 0,908 | 0,427 | 0,809 | 0,3% | -14,8% | -3,9% | -16,7% |
Lituânia | 0,467 | 0,874 | 0,393 | 0,861 | -10,9% | -18,0% | -11,6% | -11,4% |
Bulgária | 0,435 | 0,890 | 0,371 | 0,813 | -16,9% | -16,5% | -16,6% | -16,3% |
Média UE-27 | 0,496 | 1,014 | 0,414 | 0,931 | -5,4% | -4,9% | -6,8% | -4,1% |
Portugal / UE27 | +5,7% | +5,1% | +7,3% | +4,3% |
Portanto, também em relação ao gasóleo
em apenas quatro meses as petrolíferas conseguiram aumentar a
diferença de preço entre Portugal e a UE em mais 28%, em seu
proveito. Em Dezembro de 2008, o preço do gasóleo sem impostos em
Portugal era superior ao preço médio da UE em 5,7% mas, em Abril
de 2009, essa diferença já tinha aumentado para 7,3%. Durante o
mesmo período a diferença percentual dos preços com
impostos até baixou. Em Dezembro de 2008, o preço de venda ao
publico do gasóleo em Portugal era superior ao preço médio
da UE em 5,1%, e, em Abril de 2009, era já de 4,3%. É evidente
que as petrolíferas estão a conseguir reverter fundamentalmente
em seu benefício a subida que estão a impor nos preços dos
combustíveis em Portugal.
AS PETROLÍFERAS EM PORTUGAL VÃO TER UM LUCRO ANUAL EXTRA DE
210,7 MILHÕES EUROS ESTE ANO QUE RESULTARÁ DE VENDEREM OS
COMBUSTIVEIS A PREÇOS SUPERIORES À UE
Para se poder ficar com uma ideia da dimensão do lucro extra que
continuam a ter as petrolíferas em Portugal pelo facto de conseguirem
vender os combustíveis a um preço superior ao preço
médio da U.E., e de terem conseguido aumentar essa margem extra nos
primeiros quatro meses de 2009, é necessário multiplicar essa
diferença em euros pelo consumo de combustíveis em Portugal. O
quadro seguinte contém os resultados desses cálculos.
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(Diferença por litro entre o preço sem impostos em Portugal e o preço médio da UE) Euros/litro |
Litros |
Em euros |
Gasolina s/ chumbo 95
Gasóleo |
0,031 |
461.000.000 |
14.291.000 |
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Como revelam os dados do quadro, só pelo facto dos preços
praticados em Portugal pelas petrolíferas serem superiores aos
preços médios da União Europeia, e de terem aumentado essa
diferença em 2009 na dimensão que referimos, isso deverá
custar, este ano, aos consumidores portugueses mais 210,7 milhões de
euros, o que significará um lucro extraordinário para as
empresas de igual dimensão. Isto só é possível em
Portugal pelo facto de não existir qualquer controlo de preços no
nosso País devido à total passividade da chamada Autoridade da
Concorrência (o seu último relatório sobre o mercado dos
combustíveis comprova isso) e do próprio governo que nada fazem
para defender os consumidores. E a situação ainda deverá
ser mais grave no momento actual do que a revelada pelos dados da
Direcção Geral da Energia que utilizamos, pois a escalada dos
preços a nível do consumidor continuou depois do mês de
Abril de 2009 (durante Abril e Junho de 2009, o preço de venda ao
público da gasolina 95 aumentou 12,7% e o do gasóleo em 9,2%).