A estratégia energética da Comissão Europeia
Tumultos não baixam preços
(Entrada no blog de Andris Pielbalgs, responsável pela DGTREN da UE, em 6
de Junho. Ênfases acrescentadas por mim)
Terça-feira passada fui testemunha de um episódio muito triste.
A polícia de tumultos belga empregou a força contra um grupo de
pescadores franceses e italianos que marchavam para a sede da UE a fim de
protestar violentamente contra os altos preços do combustível.
Ocorreu um choque de carros em consequência dos tumultos. A
frustração dos manifestantes é fácil de entender,
mas certamente manifestações e combates de rua não
são a resposta para este problema.
Os preços do petróleo estão altos e ficarão mais
altos.
Nenhuma manifestação pode mudar isto.
No passado, períodos de petróleo bruto relativamente caro foram
seguidos por períodos de petróleo barato devido a factores
temporários como a primeira Guerra do Golfo.
Actualmente, também, há factores temporários que
estão a influenciar os preços do petróleo, como o boom no
mercado de commodities,
a situação geopolítica em várias áreas
produtoras, o enfraquecimento do dólar ou a confusão nos mercados
financeiros.
Contudo, os impulsionadores reais da escalada do preço do
petróleo tem uma natureza estrutural.
Todos vocês conhecem a lei da oferta e da procura. Se a oferta
diminui, os preços aumentam. Se há um crescimento na procura,
há também um crescimento no preço. Se, ao mesmo tempo a
oferta diminui e a procura aumenta, então os preços disparam.
Isto é precisamente o que está a acontecer nos mercados de
petróleo.
No ano 2000 a China tinha 4 milhões de carros. Em 2005 já tinha
19 milhões.
Espera-se que em 2010 a frota chinesa de carros venha a ser de 55
milhões e 130 milhões em 2020.
A Índia está a seguir uma tendência semelhante, e as
economias dos Estados Unidos e da Europa continuam a devorar petróleo em
grandes quantidades. Cada vez mais pessoas competem por uma commodity cada vez
mais escassa. Todos nós sabemos que o petróleo acabará
algum dia. A data exacta certamente está em discussão, mas
há um facto que ninguém pode negar, extrair petróleo da
terra agora é muito mais difícil e caro do que costumava ser.
As fontes fáceis de petróleo já estão a ser
utilizada.
As companhias petrolíferas actualmente estão a explorar em
mares profundos ou em regiões congeladas e inacessíveis. As
incertezas geopolíticas reinam nas áreas produtoras de
petróleo, ao passo que há uma tendência crescente entre
países produtores para nacionalizar os seus recursos, ou tornar mais
difícil os investimentos estrangeiros. Há uma escassez crescente
de força de trabalho altamente qualificada e a exploração
e produção de petróleo está a tornar-se uma
actividade de alta tecnologia, extremamente cara.
Todos nós sabemos as consequências. O barril actualmente
está em torno dos US$130, 300% mais caros do que há apenas
três anos atrás. Peritos estão a falar acerca de
preços de US$200 por barril já no próximo ano. A estes
níveis, mesmo fontes de petróleo não convencionais, tais
como o bruto pesado (heavy crude) ou areias betuminosas, tornam-se atraentes
apesar da sua odiosa pegada de CO2 e do alto consumo de energia.
Então, qual é a solução? Bem, temos de nos mover
para longe do petróleo. Isto é o que a Política
Energética Europeia está prestes a fazer. Precisamos reduzir a
procura com mais transporte, indústria e habitação mais
eficiente.
Precisamos promover combustíveis alternativos, como
biocombustíveis, electricidade ou hidrogénio, precisamos mudar
para modos de transporte mais limpos e mais eficientes como comboio,
navegação marítima de proximidade, ou transporte
público.
E nesse meio tempo precisamos continuar nosso diálogo com produtores de
petróleo para encorajá-los a produzir mais e abastecer os
mercados melhor.
Em 24 de Junho irei encontrar-me com ministros dos países da OPEP para
discutir com eles esta questão.
A era do petróleo barato e facilmente disponível está
ultrapassada. Precisamos mover-nos para longe do ouro negro e incidir os
nossos esforços numa economia de baixo carbono. Quanto mais cedo
fizermos isso, tanto melhor.
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A minha resposta
Caro Andris,
Este texto é a mais assustadora e desordenada das confusões
o que
é um reflexo directo da política energética da UE.
Há alguns lampejos de luz solar, mas misturados com lixo absoluto.
Todas as vezes que inseri aqui um texto disse-lhe que estamos nas etapas
preliminares de uma enorme explosão da crise energética. É
uma pena que você tenha esperado até que o petróleo
atingisse os US$130 por barril e pelos tumultos dos pescadores franceses antes
de perceber que isto é realmente o caso. Naturalmente, se você e
a sua equipe estivessem aptos a fazer o seu trabalho, você seria capaz de
estudar os dados da oferta e procura publicados pela IEA, a EIA e a BP e
concluir antecipadamente que uma crise energética está em
andamento e por em acção estratégias efectivas para
mitigá-la. Mas não, a sua abordagem é reactiva, bem por
trás da curva, com foco errado e sem uma re-elaboração
substancial da política de energia da UE, ela está destinada a
fracassar. Os tumultos na Bélgica e na Ibéria são em
parte por culpa sua. Você é o comissário da UE para a
energia, e sonha com tubagens de CO2 enquanto a segurança
energética da UE vai por água abaixo.
É encorajador verificar que você finalmente entende que a procura
por petróleo, gás e carvão estão em ascensão
ao passo que a oferta de petróleo está pelo menos
estática. A procura em ascensão contra a oferta estática
é controlada pela escalada do preço, encorajando a
conservação e pondo os pobres europeus fora do mercado da
energia. Nesta altura você deveria entender que quando pessoas pobres
têm preços que as põem fora do mercado da energia eles
fazem tumultos.
A próxima coisa que você precisa perceber com urgência
é que a oferta de petróleo não permanecerá
estática por muito tempo.
Ela vai reduzir-se um dia, muito em breve
(2012 ± 3 anos)
. E nessa altura os problemas que estamos a experimentar
agora piorarão 100 vezes ou mais.
O que é que vai fazer quanto a isto?
A UE e a OCDE em geral não tem absolutamente nenhum controle sobre os
abastecimentos global de petróleo. A OPEP sim,
mas você tem de
entender que a OPEP já está a bombear o mais rapidamente
possível.
Os dados da IEA mostram que a sua capacidade de reserva está
próxima do zero. Assim, o único controle que a OPEP tem seria
reduzir a oferta a fim de conservar suas reservas minguantes para futuras
gerações.
Portanto, a única parte da equação que a UE pode controlar
é a procura. A UE precisa introduzir com alguma urgência medidas
para reduzir a procura por petróleo e gás natural
[NR 1]
. E aqui acredito que você dispõe de algumas boas medidas.
Precisamos de planos sólidos e urgentes para transformar radicalmente
nossos sistemas de transportes. Para ser directo, viagens aéreas
baratas para todos não serão parte deste futuro.
Navegação, canais e transito electrificado em massa e carros
eléctricos são o futuro. Precisamos alguém com
visão para estimular projectos pilotos
V2G
por toda a Europa.
A conservação da energia e a eficiência energética
devem ser as pedras angulares vitais da política de energia da UE.
Acredito que entenda isso, mas não parece entender o que significa
eficiência energética (portanto você conduz um dos carros
menos eficiente em energia alguma vez produzido). Produzir hidrogénio
usa mais energia do que a que pode ser recuperada. É um sumidouro de
energia, um desperdício de energia e um desperdício de tempo
(excepto alguns casos isolados especiais. O etanol consome quase tanta energia
quanto ele proporciona e cai na mesma categoria um desperdício de
tempo e de energia preciosa. Você está a converter Ouro
(gás natural) em Chumbo (etanol anedota emprestada de Matt
Simmons). Como um guia condutor, se o
EROEI
de um sistema produtor for menor do que 7, então deve ser ignorado.
Ele não produz energia líquida suficiente para fazer andar a
sociedade e assim perseguir as loucuras gémeas do
hidrogénio e do etanol não arrastará a Europa para fora do
abismo da energia líquida
Em suma, o que você fez com esta entrada no seu blog foi reempacotar toda
a errática política energética da UE que baseada sobre
alterações climáticas e redução das
emissões de CO2. Tentar agora vender este lixo como
solução para a crise de energia emergente é insultuoso.
A partir daqui há dois caminhos para a frente. Das duas uma:
você tem de admitir que a actual política energética
é uma confusão caótica, lacrimeja e começa tudo
outra vez mas isto precisa ser feito com urgência, numa
questão de meses. Ou então você deve demitir-se e
deixar alguma outra pessoa efectuar esta tarefa vital.
PS: Apoio totalmente o comentário aqui inserido se quiser
reduzir a procura de petróleo hoje precisamos de limites de velocidade
pan-europeus e legislação sobre [os carros] beberrões de
gasolina.
Deixemos que os bons engenheiros alemães voltem a sua
atenção para a eficiência ao invés da velocidade e
da potência.
[NR 1] Ao contrário do petróleo, o gás natural pode ter uma
origem não fóssil: pode-se produzir biometano (sem que haja
competição com produtos alimentares).
Portanto, os veículos a gás natural são também uma
alternativa eficaz e sustentável.
13/Junho/2008
[*]
Bachelor of Science, PhD, Editor de
The Oil Drum Europe
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O original encontra-se em
http://europe.theoildrum.com/node/4147
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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