Um conto de quatro previsões Hubbert, Deffeyes, Yergin & Jackson
Em 1956, M. King Hubbert, um geocientista bem conhecido, previu que a
produção de petróleo nos 48 estados dos EUA (todos eles,
excepto Alasca e Havaí) atingiria o pico e que começaria um
declínio irreversível entre 1966 e 1971. A
produção dos 48 estados atingiu o pico em 1970, 14 anos
após a previsão de Hubbert.
Num livro publicado em 2001, Kenneth Deffeyes, colaborador de M. King Hubbert,
previu que a produção mundial de petróleo atingiria o pico
entre 2004 e 2008. Posteriormente ele declarou que mais provavelmente o pico
seria no fim de 2005. Das duas medidas da produção mundial de
petróleo, [Bruto + Condensados] e [Bruto + Condensados + Líquidos
de Gás Natural (NGL's)], ambas estão baixas em
relação a Dezembro de 2005, segundo a US Energy Information
Administration (EIA). O total de líquidos, o qual é tudo o que
consta acima mais coisas tais como ganhos de refinaria, misturas
betume/água e etanol, estão ligeiramente acima de Dezembro de
2005.
Numa coluna publicada na revista
Forbes
de Novembro de 2004, Daniel Yergin, historiador e presidente co-fundador da
Cambridge Energy Research Association (CERA), em resposta a um pergunta
respeitante à futura produção mundial de petróleo e
aos seus preços, previu que a produção mundial do
óleo emergiria, conduzindo os preços abaixo dos US$ 38 por barril
em Novembro de 2005. De facto, os preços praticados do petróleo
foram 50% a 100% mais elevados do que o previsto índice de preços
a longo prazo de Yergin, pois a queda na produção do óleo
forçou os seus preços para a alta a fim de equalizar a oferta e a
procura.
Na semana passada, Peter Jackson, colaborador de Daniel Yergin, apresentou uma
crítica às teoria do Pico Petrolífero esboçadas por
Hubbert e Deffeyes e, tal como Yergin antes dele, previu a ascensão da
produção mundial de petróleo, sem que o mundo mostrasse
qualquer declínio real num período de tempo até 2040 ou
2050.
No passado, Hubbert estava correcto e Yergin estava errado. Agora, os seus
respectivos colaboradores estão a fazer previsões semelhantes,
utilizando métodos semelhantes.
Deffeyes utiliza um método que agora é habitualmente designado
como linearização de Hubbert (HL), o qual envolve a plotagem da
produção anual (P) dividida pela produção acumulada
até à data (Q) versus Q para estimar as Reservas
Recuperáveis Finais (Ultimate Recoverable Reserves, URR) para uma
região, o que Deffeys denomina Qt. As regiões, na ausência
de problemas políticos e/ou técnicos, tendem a atingir o pico e a
começar a declinar logo após alcançarem o ponto no qual
produziram 50% de Qt, ou seja, metade das suas reservas recuperáveis.
As seguintes regiões têm mostrado produção mais
baixa depois de cruzarem o ponto Qt dos 50%: Texas; 48 estados; total dos EUA
(após um pico secundário mais baixo a seguir ao início da
produção do North Slope no Alasca); Rússia, Mar do Norte;
Arábia Saudita; México e mais recentemente o mundo (excepto para
Total de Líquidos).
Eu deveria esclarecer que o método HL aplica-se à
produção de petróleo convencional, que eu defino como a
produção de petróleo que se moverá para a boca do
poço sem a aplicação de energia calorífica. As
duas maiores concentrações de reservas não convencionais
são as grandes reservas de betume no Canadá e na Venezuela.
Também há considerável investigação em
andamento sobre xistos oleosos, os quais são realmente depósitos
de querogênio, um antecessor do betume. A opinião de Deffeyes
é de que fontes não convencionais de petróleo mais
provavelmente servirão para tornar mais lento, mas não para
reverter o declínio na produção agregada mundial de
petróleo. Em qualquer caso, o ponto principal é que todas as
fontes não convencionais de petróleo são enormemente
dispendiosas, intensivas em energia e são [de desenvolvimento] muito
vagaroso para poder aumentar as taxas de produção.
Jackson está a asseverar que melhor tecnologia e a
exploração de fontes não convencionais de petróleo
(mais líquidos relacionados com o gás, os quais não
são aqui considerados) permitirão ao mundo ter várias
décadas de produção crescente ou, na pior das
hipóteses, constante
(flat).
Primeiro, considerem-se os 48 estados, onde a indústria tentou
virtualmente todas as inovações tecnológicas conhecidas, e
a produção caiu de modo bastante firme, agora mais de 50% desde o
pico em 1970.
O que dizer acerca das regiões desenvolvidas mais recentemente?
Será que desempenharam-se melhor do que os 48 estados? Vamos considerar
o Mar do Norte, o qual atingiu o pico em 1999 (bruto + condensados) e iniciou
um declínio muito rápido. É convincente que duas
região produtoras muitíssimo diferentes os 48 estados e o
Mar do Norte, com este último sendo desenvolvido com muito melhor
tecnologia do que os 48 estados tenham atingido o pico no mesmo ponto
dos 50%, em relação aos seus Qt estimados (tanto para o bruto
como para condensados).
A premissa básica do método HL é que a primeira metade da
produção de uma região é um bom previsor da segunda
metade da produção. "Khebab", um colaborador do blog
The Oil Drum
, demonstrou isto matematicamente. Ele tomou os dados da
produção apenas até os 50% da marca Qt para os 48 estados
e a Rússia (1970 e 1984 respectivamente) e previu o pós 50% da
produção acumulada Qt para as duas regiões, utilizando
mais uma vez apenas data de produção de 1970 a 1984 para gerar o
modelo. O pós 50% de produção acumulada Qt até
2004 para os 48 estados correspondeu a 99% do que o modelo HL previu, e o
pós 50% de produção acumulada Qt até 2004 para a
Rússia correspondeu a 95% do que previa o modelo HL.
Hoje, temos a mesma quantidade de dados de produção para o mundo
que resultou nas altamente precisas previsões pós 50% de
produção acumulada para os 48 estados e a Rússia.
Peter Jackson está a pedir-nos que acreditemos que vamos ver aquilo que
nunca foi visto antes a produção de petróleo
convencional a ascender durante décadas após o cruzamento da
marca Qt dos 50%. Esta previsão é especialmente notável
dada a quase certeza de que todos os quatro actuais campos petrolíferos
super-gigantes (que produzem um milhão ou mais de barris por dia)
estão em declínio, enquanto há apenas um novo campo
super-gigante em desenvolvimento, o problemático
Kashagan Field
que
não atingirá o pico de produção antes de 2020.
Em conclusão, segundo a EIA até Agosto de 2004 o mundo produziu
aproximadamente 100 milhões de barris a menos de bruto + condensados do
que se tivéssemos simplesmente mantido o nível de
produção de Dezembro de 2005. Isto é consistente com o
modelo Hubbert/Deffeyes. E não é consistente com o modelo
Yergin/Jackson. Os dados preliminares sugerem que Deffeyes está
correcto e Jackson está errado, mas ainda não podemos dizer com
certeza quem está correcto.
Sem considerar se o modelo de Hubbert/Deffeyes ou o de Yergin/Jackson é
correcto, precisamos começar tão logo quanto possível a
mudar fundamentalmente o modo como utilizamos a energia nos Estados Unidos.
Minha opinião pessoal é de que precisamos aplicar impostos sobre
o consumo de energia para financiar a Segurança Social/Medicare,
compensando com cortes ou eliminação do imposto sobre as folhas
de pagamentos.
[*]
Geólogo de petróleo independente em Dallas, Texas. Email:
westexas@aol.com
O original encontra-se em
Peak Oil Review
, nº 46, 20/Novembro/2006.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|