O petróleo ferve
por Anwaar Hussain
As forças navais da América continuam a navegar no Golfo
Pérsico, junto às águas iranianas. O supremo comandante
das forças armadas dos EUA disse recentemente que as ameaças do
Sr. Ahmadinejad, particularmente em relação a Israel, tinham de
ser "enfrentadas"
("dealt with").
Ele disse ao jornal alemão Bild am Sonntag que se o Sr. Ahmadinejad
estava pronto a destruir um país (Israel), "então
também estaria pronto a destruir outros". O presidente Bush
acrescentou: "Isto é uma ameaça que precisa ser
enfrentada".
Serão realmente as fortes declarações do presidente
iraniano em relação a Israel a causa desta ominosa
proclamação do presidente americano? Ou terão sido as
ambições nucleares do Irão que as provocaram? Ou
será que a fervura do petróleo está finalmente a atingir o
seu ponto crítico global de temperatura?
A resposta mais provável está em acontecimentos que provavelmente
vão ocorrer no futuro muito próximo numa pequena ilha iraniana
com o nome de Kish.
ACERCA DE KISH
Esta bela ilha iraniana com feitio oval no Golfo Pérsico tem
aproximadamente 260 quilómetros quadrados de área e está
localizada a apenas 18 km da costa sul da República Islâmica.
Devido à sua beleza, desde tempos antigos Kish ficou conhecida como a
Pérola do Golfo Pérsico.
No ano 325 AC, Alexandre o Grande designou um dos seus comandantes navais, com
o nome de Niarkus, para efectuar uma viagem expedicionária no Mar de
Oman e no Golfo Pérsico. Os escritos de Niarkus indicam que visitou
Araracta no século IV AC. Araracta é um dos antigos nome da
actual Ilha de Kish.
Kish tem uma longa história, com cerca de 3000 anos. Foi chamada sob
vários nomes, tais como Kamtina, Arakia, Arakata e Ghiss ao longo do
tempo. Além de Niarkus, dois outros grandes viajantes dos seus tempos,
Marco Polo e Ibn Batuta, escreveram também acerca da beleza da ilha.
No ano 2006, Kish está prestes a reentrar na história com um
estilo mais grave. Dentro de uns poucos dias, a primeira Bolsa Iraniana do
Petróleo passará a existir sobre esta ilha.
A pergunta é: por que este aparentemente inócua iniciativa
iraniana em busca dos seus legítimos interesses nacionais podem parecer
tão ameaçadora para alguns ocidentais, particularmente nos EUA?
SAÚDE FINANCEIRA DOS EUA
Para responder a esta questão, vamos primeiro olhar para a actual
saúde financeira dos EUA. Aqui estão os pontos principais:
Os EUA, já o maior devedor internacional do mundo, com US$ 5,7
milhões de milhões
(trillion)
acumulados em défices comerciais de mercadorias, explodiram os
défices do comércio internacional para novos récordes pois
dependem cada vez mais da produção e poupanças dos outros
ao invés da suas próprias (ver International Trade Report ).
Com uma dívida total de US$ 44 milhões de milhões, a
ascender rapidamente, os EUA têm agora o mais elevado rácio de
dívida da história, que se traduz em US$ 147.312 por homem,
mulher e criança ou US$ 589.248 por família de quatro
membros, US$ 44.312 mais de dívida por família do que no ano
passado.
No último ano a dívida aumentou US$ 3,5 milhões de
milhões, cinco vezes mais do que o PIB. A dívida familiar subiu
12%.
O nível de endividamento dos EUA está a aumentar a um ritmo
alarmante de 80 milhões de dólares por hora. Para sustentar esta
tendência americana, a disposição do mundo para absorver
rapidamente os dólares sem valor dos EUA está a tornar-se uma
questão chave. A China e o Japão por exemplo, os dois principais
possuidores da dívida dos EUA, que em conjunto possuem US$ 1,7
milhão de milhões acumulados em títulos e divisas dos EUA,
já estão a mover-se firmemente para longe do dólar e em
direcção ao euro.
O relatório da saúde financeira da América, para dizer o
mínimo, é amargo e as perspectivas de futuro sombrias.
Actualmente há apenas duas bolsas para comerciar petróleo no
mundo. Uma é o chamado New York Mercantile Exchange (NYMEX) e a outra o
International Petroleum Exchange (IPE). O petróleo continua a ser a
principal mercadoria em ambas as bolsas.
O NYMEX, junto com a sua subsidiária New York Commodities Exchange
(COMEX), é a maior bolsa de futuros do mundo e localiza-se em Nova York.
Em conjunto elas manuseiam a compra e venda de milhares de milhões de
dólares de valor em produtos energéticos, metais e todo um
conjunto de outras
commodities.
É desnecessário dizer que todas as transações
são efectuadas em dólares americanos e que os preços
cotados para estes negócios na bolsa são a base para os
preços que o povo paga por estes artigos por todo o mundo.
O IPE, com base em Londres, é a outra maior bolsa do mundo de futuros em
energia e opções de compra. O petróleo Brent é uma
referência mundial para preços de petróleo. Esta bolsa,
além disso, manuseia contratos de futuros e opções de
gasóleo, gás natural e electricidade.
Em linguagem mais simples, estas duas instituições actualmente
asseguram que o mundo permaneça inundado com dólares americanos.
Suas localizações também não são uma
alusão fraca aos nomes dos dois principais parceiros da
coligação que atacou e ocupou o Iraque.
Embora desde 1971 o valor do dólar americano não tenha estado
abertamente ligado a qualquer mercadoria, ele permaneceu de facto ligado ao
petróleo do Médio Oriente depois de os EUA garantirem o arranjo
do petróleo por dólar com a Arábia Saudita em troca do
apoio à Casa dos Saud. Desde então, contudo, o dólar
americano continuou a perder valor e agora vale uns meros 10% daquilo que valia
há quarenta anos atrás.
Com a chegada em cena do euro, a hegemonia do dólar americano
começou a esvanecer-se a um ritmo ainda maior. O euro começou a
atrair muitos países vendedores de petróleo. Em 2000, por
exemplo, o Iraque converteu todas as suas transações em euros.
Para obstruir esta tendência e enviar uma gelada advertência a
outros potenciais amantes do euro, o Iraque foi atacado e ocupado pelos guardas
do dólar imediatamente após. Quando os EUA tomaram o comando do
Iraque em 2003, uma das primeiras coisas que fizeram foi retornar as vendas do
petróleo do euro para o dólar americano.
Da mesma forma, em 2001 o embaixador da Venezuela na Rússia falou-lhes
da comutação para euros em todas as suas vendas de
petróleo. Dentro de uma no houve uma tentativa de golpe contra o
democraticamente eleito Hugo Chavez, confirmadamente com a assistência da
CIA. Desde então Chavez passou a ser chamado de um Hitler e um ditador
e o seu nome foi promovido na lista dos mais procurados dos EUA, imediatamente
abaixo de Ahmadinejad, do Irão.
Agora vamos ao pecado capital do Irão. Desde o princípio de 2003
o Irão tem exigido euros em pagamentos de exportações para
a Ásia e a Europa, embora os preços ainda sejam expressos em
dólares americanos. Agora o Irão está a planear abrir uma
bolsa de mercadorias, a Iranian Oil Bourse, para a finalidade única de
comerciar petróleo, produtos petroquímicos e gás em
várias divisas não-dólar, primariamente o euro. Quando
tiver êxito, isto estabeleceria um mecanismo de fixação de
preços baseado no euro para o comércio de petróleo. Isto
romperia, com o tempo, o controle total do NYMEX e do IPE sobre os mercados
financeiros mundiais, remetendo o dólar americano para um
cemitério. A economia americana seria um acompanhamento infortunado.
Imaginar que os banqueiros americanos e britânicos, os principais
aproveitadores da guerra, estejam inconscientes do destino a que o dólar
se aproxima é esperar que um pedaço de gelo sobreviva no inferno.
Para manter-nos cegos acerca da instabilidade que se aproxima do dólar
americano eles já efectuaram a sua primeira acção. O
Federal Reserve dos Estados Unidos, a partir de 23 de Março de 2006,
parou de relatar os dados da oferta de moeda M3 do dólar americano (M3
é a quantidade moeda disponível dentro da economia para a compra
de bens e serviços).
Alguém poderá admirar-se, portanto, de que o principal porta-voz
dos banqueiros, o presidente dos Estados Unidos, diga que o Irão
"é uma ameaça que precisa ser enfrentada"?
Kish está a uma distância aérea de 1052 km de
Teerão, mais de 10.000 km de Washington DC e aproximadamente à
metade daquela distância de Londres. Assim, a menos que se faça
alguma coisa acerca disto, Kish está agora a um passo de se tornar a
anfitriã de uma instituição que pode principiar a
dissolução final do Império.
O original encontra-se em
http://malakandsky.blogspot.com/2006/05/oil-boil.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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