A curiosa carteira de investimentos do vice-presidente

Será que Cheney está a apostar no colapso económico?

por Mike Whitney [*]

Cheney. Não gostaria de saber onde Dick Cheney investe o seu dinheiro? Assim saberia se a sua afirmação de que "os défices não importam" é treta ou não.

Ora, acontece que a Kiplinger Magazine publicou um artigo com base na declaração de rendimentos de Cheney e, com convicção, descobriu que o Vice-Presidente mente ao povo americano pela enésima vez. Os défices são, de facto, importantes e Cheney investiu o seu dinheiro de acordo com esse princípio.

O artigo, com o título "Cheney aposta nas más notícias", relata como Cheney amealhou mais de US$ 25 milhões. Ainda que os números possam ser estimativas, já os investimentos não o são. Segundo Tom Blackburn do jornal Palm Beach Post, Cheney investiu fortemente num "fundo especializado em títulos municipais de curto prazo, um fundo de mercado financeiro livre de impostos e fundos de títulos protegidos contra a inflação. Os dois primeiros mantêm-se se as taxas de juro subirem conforme a inflação O terceiro está protegido contra a inflação."

Cheney investiu de US$ 10 a US$ 25 milhões (estimados) num fundo de títulos europeu o que indica que ele está a contar com uma constante desvalorização do dólar. Desta forma, enquanto a classe trabalhadora americana perde terreno relativamente à inflação e aos aumentos do custo da energia, Darth Cheney estará a aumentar a sua fortuna na "Velha Europa". Como Blackburn sabiamente ressalta «nem todas as 'más notícias' são más para todos».

Isto devia acabar, de uma vez por todas, com a ideia tola de que o "Plano Económico de Bush" não é mais do que um esquema para saquear os dinheiros públicos. Tudo se baseia em transferir a riqueza da nação de uma classe social para outra. Também é evidente que a dupla Bush-Cheney não poderia ter levado isto a cabo sem a aprovação tácita dos ladrões da Reserva Federal que arquitectaram este embuste das taxas de juro baixas para adormecer o povo americano enquanto lhes assaltam os bolsos.

Pessoas sensatas podem contestar que Bush esteja "intencionalmente" a tramar o dólar com os seus extravagantes cortes de impostos, mas como se explica a carteira de investimentos de Cheney?

Não se explica. E se há coisa que podemos afirmar com um grau de certeza metafísica, é que o sovina Cheney nunca jogaria o seu dinheiro num investimento que não fosse seguro. Se Cheney está a contar com o declínio do dólar e o aumento das taxas de juro, então, com certeza, é isso que vai acontecer.

A dupla Bush-Cheney já acumulou mais US$ 3 milhões de milhões (trillions) de dívidas em apenas 6 anos. A dívida nacional americana monta agora a US$ 8,4 milhões de milhões de dólares, enquanto que o défice comercial subiu exponencialmente para US$ 800 mil milhões, quase 7% do PIB.

Isto é loucura. Nenhum país, por mais poderoso que seja, consegue manter estes números estarrecedores. O país está penhorado até ao pescoço e tem de tomar empréstimos de US$ 2,5 mil milhões por dia só para se manter à tona de água. Actualmente, a Reserva Federal está a expandir a oferta monetária e a comprar de volta os seus próprios títulos (treasuries) para esconder a hemorragia dos olhos do público. É a loucura absoluta.

No mês passado o défice comercial atingiu os US$ 70 mil milhões. Mais grave é o facto de os bancos centrais estrangeiros terem apenas adquirido uns magros US$ 47 mil milhões em títulos americanos só para alimentar o nosso apetite devorador por tralha barata chinesa.

Façam as contas! Eles já não investem na América e estão a reduzir as suas pilhas de maços de dólares. Afundamo-nos rapidamente e Cheney e os seus amigos embarcam nos salva-vidas, enquanto o público se distrai com a legalização do casamento entre homossexuais e espectáculos de celebridades americanas.

O sector industrial americano tem sido esvaziado por empresas sem escrúpulos que abandonam o seu país em troca do dinheiro fácil na China ou no México. A borbulha económica do sector imobiliário no valor de US$ 3 milhões de milhões esvazia-se rapidamente enquanto o anémico dólar continua a afundar-se. Todos os sinais apontam para que a economia está a abrandar ao mesmo tempo que os preços da energia aumentam.

Isto é o começo da "estagflação": a temida combinação de uma economia estagnada com a inflação.

Será que os americanos acreditavam que iriam ser poupados do mesmo tipo de colonização económica que tem sido aplicado em todo o mundo desenvolvido com a designação de "neoliberalismo"?

Pois, pensem melhor. A economia americana entrou em queda livre e só há pára-quedas suficientes para Cheney e o seu bando.

O país já perdeu 3 milhões de postos de trabalho com o outsourcing desde que Bush assumiu a Presidência. Mais de 200 mil de deles correspondem a empregos técnicos especializados, de salários altos que são o apoio vital de qualquer economia.

Reparem na afirmação do Council of Foreign Relations (CFR) publicada na edição de Junho da revista Foreign Affairs, a Bíblia dos globalistas e plutocratas:

"Só entre 2000 e 2003, empresas estrangeiras construíram 60 MIL fábricas na China. Empresas europeias do sector químico, fabricantes de automóveis japoneses, conglomerados de empresas americanas constróem fábricas na China para abastecer o mercado de exportações em todo o mundo. Da mesma forma, bancos, seguradoras, firmas de assessoria e serviços e empresas de informática montam centros de investigação e desenvolvimento e de prestação de serviços na Índia para apoio a funcionários, clientes e à produção a nível mundial". ("The Globally Integrated Enterprise" – A Empresa Integrada num Mundo Globalizado" Samuel Palmisano, Foreign Affairs, pág. 130)

"60 mil fábricas" em três anos?!?

"Bancos, seguradoras, firmas de assessoria e serviços e empresas de informática"?

Nenhum emprego está a salvo. Elites americanas e magnatas do mundo empresarial atestam os barcos e navegam para paragens no estrangeiro. A única coisa que deixam atrás de si é uma dívida insuperável, a que as novas gerações ficarão para todo o sempre acorrentadas, e os instrumentos bem montados de um Estado-polícia moderno.

Bem-vindos ao campo de concentração do século XXI de Bush: um luxo terceiro mundista num cenário tipo Guantanamo.

Reparem bem na estratégia de investimento do Cheney; ela é o relato dessa história horrível. As taxas de juro sobem, a classe média afunda-se e o dólar está destinado a ir para o lixo. O país não está apenas oscilante à beira do precipício financeiro. Está a ser empurrado pela escumalha no poder e os seus sátrapas na Reserva Federal.

[*] O autor vive no estado de Washington, EUA. Contacto: fergiewhitney@msn.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney07052006.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
11/Jul/06