Não gostaria de saber onde Dick Cheney investe o seu dinheiro? Assim
saberia se a sua afirmação de que "os défices
não importam" é treta ou não.
Ora, acontece que a
Kiplinger Magazine
publicou um artigo com base na declaração de rendimentos de
Cheney e, com convicção, descobriu que o Vice-Presidente mente ao
povo americano pela enésima vez. Os défices são, de facto,
importantes e Cheney investiu o seu dinheiro de acordo com esse
princípio.
O artigo, com o título "Cheney aposta nas más
notícias", relata como Cheney amealhou mais de US$ 25
milhões. Ainda que os números possam ser estimativas, já
os investimentos não o são. Segundo Tom Blackburn do jornal Palm
Beach Post, Cheney investiu fortemente num "fundo especializado em
títulos municipais de curto prazo, um fundo de mercado financeiro livre
de impostos e fundos de títulos protegidos contra a
inflação. Os dois primeiros mantêm-se se as taxas de juro
subirem conforme a inflação O terceiro está protegido
contra a inflação."
Cheney investiu de US$ 10 a US$ 25 milhões (estimados) num fundo de
títulos europeu o que indica que ele está a contar com uma
constante desvalorização do dólar. Desta forma, enquanto a
classe trabalhadora americana perde terreno relativamente à
inflação e aos aumentos do custo da energia, Darth Cheney
estará a aumentar a sua fortuna na "Velha Europa". Como
Blackburn sabiamente ressalta «nem todas as 'más notícias'
são más para todos».
Isto devia acabar, de uma vez por todas, com a ideia tola de que o "Plano
Económico de Bush" não é mais do que um esquema para
saquear os dinheiros públicos. Tudo se baseia em transferir a riqueza da
nação de uma classe social para outra. Também é
evidente que a dupla Bush-Cheney não poderia ter levado isto a cabo sem
a aprovação tácita dos ladrões da Reserva Federal
que arquitectaram este embuste das taxas de juro baixas para adormecer o povo
americano enquanto lhes assaltam os bolsos.
Pessoas sensatas podem contestar que Bush esteja "intencionalmente" a
tramar o dólar com os seus extravagantes cortes de impostos, mas como se
explica a carteira de investimentos de Cheney?
Não se explica. E se há coisa que podemos afirmar com um grau de
certeza metafísica, é que o sovina Cheney nunca jogaria o seu
dinheiro num investimento que não fosse seguro. Se Cheney está a
contar com o declínio do dólar e o aumento das taxas de juro,
então, com certeza, é isso que vai acontecer.
A dupla Bush-Cheney já acumulou mais US$ 3 milhões de
milhões
(trillions)
de dívidas em apenas 6 anos. A dívida nacional americana monta
agora a US$ 8,4 milhões de milhões de dólares, enquanto
que o défice comercial subiu exponencialmente para US$ 800 mil
milhões, quase 7% do PIB.
Isto é loucura. Nenhum país, por mais poderoso que seja, consegue
manter estes números estarrecedores. O país está
penhorado até ao pescoço e tem de tomar empréstimos de US$
2,5 mil milhões por dia só para se manter à tona de
água. Actualmente, a Reserva Federal está a expandir a oferta
monetária e a comprar de volta os seus próprios títulos
(treasuries)
para esconder a hemorragia dos olhos do público. É a loucura
absoluta.
No mês passado o défice comercial atingiu os US$ 70 mil
milhões. Mais grave é o facto de os bancos centrais estrangeiros
terem apenas adquirido uns magros US$ 47 mil milhões em títulos
americanos só para alimentar o nosso apetite devorador por tralha barata
chinesa.
Façam as contas! Eles já não investem na América e
estão a reduzir as suas pilhas de maços de dólares.
Afundamo-nos rapidamente e Cheney e os seus amigos embarcam nos salva-vidas,
enquanto o público se distrai com a legalização do
casamento entre homossexuais e espectáculos de celebridades americanas.
O sector industrial americano tem sido esvaziado por empresas sem
escrúpulos que abandonam o seu país em troca do dinheiro
fácil na China ou no México. A borbulha económica do
sector imobiliário no valor de US$ 3 milhões de milhões
esvazia-se rapidamente enquanto o anémico dólar continua a
afundar-se. Todos os sinais apontam para que a economia está a abrandar
ao mesmo tempo que os preços da energia aumentam.
Isto é o começo da "estagflação": a
temida combinação de uma economia estagnada com a
inflação.
Será que os americanos acreditavam que iriam ser poupados do mesmo tipo
de colonização económica que tem sido aplicado em todo o
mundo desenvolvido com a designação de "neoliberalismo"?
Pois, pensem melhor. A economia americana entrou em queda livre e só
há pára-quedas suficientes para Cheney e o seu bando.
O país já perdeu 3 milhões de postos de trabalho com o
outsourcing
desde que Bush assumiu a Presidência. Mais de 200 mil de deles
correspondem a empregos técnicos especializados, de salários
altos que são o apoio vital de qualquer economia.
Reparem na afirmação do
Council of Foreign Relations (CFR)
publicada na edição de Junho da revista
Foreign Affairs,
a Bíblia dos globalistas e plutocratas:
"Só entre 2000 e 2003, empresas estrangeiras construíram 60
MIL fábricas na China. Empresas europeias do sector químico,
fabricantes de automóveis japoneses, conglomerados de empresas
americanas constróem fábricas na China para abastecer o mercado
de exportações em todo o mundo. Da mesma forma, bancos,
seguradoras, firmas de assessoria e serviços e empresas de
informática montam centros de investigação e
desenvolvimento e de prestação de serviços na Índia
para apoio a funcionários, clientes e à produção a
nível mundial". ("The Globally Integrated Enterprise"
A Empresa Integrada num Mundo Globalizado" Samuel Palmisano,
Foreign Affairs,
pág. 130)
"60 mil fábricas" em três anos?!?
"Bancos, seguradoras, firmas de assessoria e serviços e empresas de
informática"?
Nenhum emprego está a salvo. Elites americanas e magnatas do mundo
empresarial atestam os barcos e navegam para paragens no estrangeiro. A
única coisa que deixam atrás de si é uma dívida
insuperável, a que as novas gerações ficarão para
todo o sempre acorrentadas, e os instrumentos bem montados de um
Estado-polícia moderno.
Bem-vindos ao
campo de concentração
do século XXI de Bush: um luxo terceiro mundista num cenário
tipo Guantanamo.
Reparem bem na estratégia de investimento do Cheney; ela é o
relato dessa história horrível. As taxas de juro sobem, a classe
média afunda-se e o dólar está destinado a ir para o lixo.
O país não está apenas oscilante à beira do
precipício financeiro. Está a ser empurrado pela escumalha no
poder e os seus sátrapas na Reserva Federal.
[*]
O autor vive no estado de Washington, EUA. Contacto:
fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/whitney07052006.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.