Num repentino ataque de miopia, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou projecto de lei que promove um plano americano para travar guerra biológica contra a Colômbia e outros países onde sejam produzidos narcóticos ilícitos. Se for aprovado pelo Senado americano, o projecto de lei (HR 2829) exigirá do czar americano da droga que formule rapidamente um plano para testes de campo de armas biológicas destinadas a erradicar plantações ilícitas.

A Convenção das Armas Biológicas (Biological Weapons Convention, BWC) proíbe toda a guerra biológica. A BWC não tem isenções — nem para a Guerra da Droga nem para o Congresso americano. O projecto americano de erradicação viola portanto o Artigo I da BWC, o qual proíbe desenvolvimento e armazenagem de armas biológicas.

O Sunshine Project apelará à BWC para impedir a violação do tratado por parte dos Estados Unidos. Em Abril, o Sunshine Project distribuirá o dossier Agent Green aos governos que comparecerão à reunião preparatória da próxima 6ª Conferência de Revisão da BWC. Se o projecto de lei americano for transformado em lei, o Sunhsine Project pressionará por acção multilateral na própria 6ª Conferência de Revisão da BWC, quando esta se reunir em Novembro.

A oposição da América do Sul, o objectivo primário do plano, amplia o espectro político. Quando confrontado pela primeira vez com a pressão americana pela bioguerra, em 1999-2000, o governo colombiano decidiu contra o teste e a utilização de agentes biológicos para erradicar plantações ilícitas. Outros países andinos também se opõem ao plano, assim como muitas ONGs ambientais e pacifistas. Da mesma forma, também os povos indígenas que plantam coca para finalidades culturais não relacionadas com o comércio de droga, um grupo que inclui Evo Morales, o recém-eleito presidente da Bolívia.

Falando ao diário colombiano El Tiempo na segunda-feira, o antigo presidente colombiano Andrés Pastraña, agora embaixador de Bogotá em Washington, reiterou enfaticamente a oposição da Colômbia a este plano, declarando ao jornal: "Durante o meu governo nos opusemos. E a posição da Colômbia, agora sob o presidente Álvaro Uribe, não foi alterada".

Os principais agentes de armas biológicas que estão a ser considerados pelos EUA são estirpes (strains) do fungo Fusarium oxysporum que ataca a coca e outras plantações ilícitas. Com sérios riscos ambientais e para a saúde humana, o F. oxysporum foi alcunhado "Agente Verde" pelos opositores da sociedade civil, que o comparam ao desfolhante Agente Laranja utilizado pelos EUA no Vietnam. Na concepção americana, enormes quantidades de Fusarium formulado especialmente seriam espalhadas a partir de grande aviões militares a fim de alvejar grandes porções da Colômbia e, potencialmente, outros países.

O projecto HR 2829 não menciona especificamente a Colômbia ou o Fusarium, embora especifique que o plano de teste seria destinado a uma "nação grande produtora de droga". Isto abre a possibilidade de que os testes possam ser efectuados alhures, tais como países da Ásia Central, onde os EUA tem apoiado o desenvolvimento de armas biológicas para utilização contra a papoula do ópio. Considerando os últimos acontecimentos, contudo, a linguagem do projecto de lei é interpretada generalizadamente como referindo-se à Colômbia.

O Sunshine Project tem a esperança de que o Senado dos EUA entenderá este erro chocante e de que a proposta seja escorraçada de qualquer projecto de lei relacionado que a considere. Com o medo americano de um ataque com armas biológicas e com gastos em biodefesa a níveis sem precedentes, é difícil encarar uma política americana mais insensata do que testar armas biológicas em campo e procurar perpetrar um ataque biológico a outros países.