por Tyler Durden
Nem mesmo nós antecipámos esta "consequência
inesperada" resultante da multa de muitos milhares de milhões de
dólares que os EUA aplicaram ao Banque Nationale de Paris (BNP).
Há poucos momentos, numa extensa entrevista dada à revista
francesa Investir, nada menos que o governador do Banco Nacional da
França, Christian Noyer, que também é membro do conselho
governador do BCE, disse esta coisa espantosa no fim da entrevista. A
Bloomberg
relata assim:
Noyer: O caso BNP estimulará a "diversificação"
em relação ao dólar
P. Será que o papel do dólar como divisa internacional cria risco
sistémico?
Noyer: Para além deste caso [do BNP],
riscos legais acrescidos com a aplicação das regras
estado-unidenses a todas as transacções em dólar por todo
o mundo estimularão uma diversificação em
relação ao dólar.
O BNP Paribas foi a ocasião para muitos observadores recordarem que tem
havido um certo número de sanções e que certamente haveria
outras no futuro.
Um movimento para diversificar as divisas utilizadas no comércio
internacional é inevitável. O comércio entre a Europa e a
China não precisa utilizar o dólar e pode ser efectuado e pago
plenamente em euros ou renminbi.
Caminhar em direcção a um mundo multipolar é a
política monetária natural, uma vez que há vários
grandes e poderosos conjuntos económicos e monetários.
A China decidiu desenvolver o renminbi como divisa de pagamento
(settlement currency)
. O Banco da França estava por trás do popular swap BCE-PBOC
[People's Bank of China]
e nós acabámos de concluir um memorando sobre a
criação de um sistema offshore de compensação
(clearing)
do renminbi em Paris. Temos neste campo uma cooperação muito
forte com o PBOC. Mas estas mudanças levam tempo.
Não devemos esquecer que passaram-se décadas, depois de os EUA
tornarem-se a maior economia do mundo, até o dólar substituir a
libra britânica como primeira divisa internacional.
Mas o fenómeno de regras dos EUA a expandirem-se para todas as
transacções denominadas em US dólares em todo o mundo tem
um efeito acelerador.
Por outras palavras, o governador do banco central francês e membro do
BCE, Christian Noyer, acaba de emitir uma ameaça directa à divisa
de reserva do mundo (por agora), o US dólar.
Pondo todo este episódio no contexto: numa tentativa de punir a
França por prosseguir com a entrega à Rússia do navio de
guerra anfíbio Mistral, os EUA "punem" o BNP com uma
fracassada tentativa de chantagem (recorde-se que,
como revelou Putin
, a [não] penalização do BNP foi utilizada como uma
cenoura para
desincentivar a França de concluir a transacção do
Mistral: tivesse François Hollande anulado o negócio, o BNP
provavelmente seria golpeado com uma multa muito mais baixa, se é que
alguma). A referida tentativa de chantagem saiu horrivelmente pela culatra, o
governador do banco central francês deixa claro que não só
o status do US dólar como divisa de reserva não é
sacrossanto como "o mundo" agora procurará activamente evitar
transacções em US dólar a fim de escapar do
tentáculo global da "pax americana".
E a maior ironia de tudo isto é que ao "punir" a França
por negociar com a Rússia, o país central da aliança
euro-asiática com a China,
os EUA simplesmente aceleraram a gravitação da França (e
de toda a Europa) precisamente rumo à Eurásia, rumo a uma
multi-polaridade que se afasta da nota verde (é triste para os crentes
fanáticos de um mundo com divisa baseada dos Direitos Especiais de
Saque).
Ou como se mostra visualmente: