Chipre: Resgatada e atacada. Quem está por trás?
por Pyotr Iskenderov
A decisão do Eurogrupo sobre a ajuda financeira a Chipre foi tomada no
último momentol, no fim do dia 25 de Março. Destinada a
resgatar Chipre, esta pode tornar-se uma mina de acção retardada
capaz de solapar todo o edifício da União Europeia. O Laiki Bank,
o segundo maior de Chipre, está a ser sacrificado. A decisão
é razão para um suspiro de alívio para aqueles cujas
contas não excediam os 100 mil euros. O caso é diferente para
aqueles cujas contas ultrapassavam esse montante, bem como para os accionistas e
possuidores de títulos do banco. Segundo algumas estimativas, as contas
podem minguar em 30-40%. Jeroen Dijsselbloem, o chefe do Eurogrupo de ministros
das Finanças, diz que a reestruturação da dívida
renderá 4,2 mil milhões, apenas um pouco menos do que a
tributação sobre o depósito total que foram planeado
antes. O
comissário europeu para a economia, Ollie Rehn, disse que é uma
decisão dura para o povo. Chipre obterá a primeira fatia de um
salvamento internacional de 10 mil milhões de euros só no
princípio de Maio. Isto significa que
a ameaça para o sistema financeiro de Chipre ainda é iminente;
uma reacção em cadeia pode propagar-se a outros estados da
Eurozona.
Pela segunda semana consecutiva as bolsas de acções mundiais
operam a olhar atrás para ver o que acontece em Chipre. O primeiro
choque, quando alguns índices baixaram para marcas nunca
alcançadas desde o Verão de 2012, está ultrapassado. Mas
ainda não é o ponto de retorno.
Khiem Do, chefe da estratégia asiática multi-activos do Baring
Asset Management Ltd., disse: "Não penso que o
selldown
[1]
sobre a questão de Chipre seja exagerado. Eles estão a jogar uma
negociação dura e isso torna os investidores nervosos".
Não é fácil precisar quem são os "eles"
que
jogam um jogo duro. A situação de Chipre é volátil,
diferentes interesses estão entrelaçados ali. Lars Seier
Christgensen, co-chefe executivo do banco dinamarquês Saxo Bank A/S,
dá os nomes aos bois. Segundo ele, "Isto é uma ruptura de
direitos de propriedade fundamentais, ditada a um pequeno país por
potências estrangeiras e deve fazer estremecer todo depositante
bancário da Europa. Embora os representantes na conferência de
imprensa do salvamento tentassem apresentar isto como um caso isolado,
não estavam desejosos de descartar medidas semelhantes alhures
nem isso teria importado muito pois a confiança de qualquer forma
desapareceu. Agora é difícil esperar qualquer espécie de
limitação a medidas que a Troika e a UE possam tomar quando a
crise realmente começar a morder". Ele considera que a
decisão
da UE pode fazer o dinheiro fugir dos países perturbados da Eurozona.
Não há dúvida, a liderança da União
Europeia a qual tomou a responsabilidade da administração
da
crise está no centro do escândalo em curso.
Suas actividades j´ foram duvidosas anteriormente. Por exemplo: nas
condições extremamente duras sobre cortes orçamentais na
Grécia, embora correspondessem ao programa de emergência
anti-crise que exigia aos estados membros que aprendessem a viver dentro dos
seus meios. O mesmo se aplica a outro estado membro perturbado Portugal.
A equipe de inspecção da Comissão Europeia, Banco Central
Europeu e Fundo Monetário Internacional confirmaram que Portugal falhou
no cumprimento dos parâmetros orçamentais requeridos. Contudo,
Bruxelas não exigiu que as suas contas bancárias fossem congeladas
ou que os seus depositantes fossem espremidos.
É um segredo aberto que a decisão do Eurogrupo resulta da
pressão da Alemanha.
Até o último momento, muitos em Bruxelas não tinham
conhecimento dos pormenores de pelo menos dois dos três projectos
de lei submetidos para consideração e destinados a apresentar uma
alternativa à tributação de depósitos. Desde o
primeiro momento Berlim insistiu em reduzir o sistema financeiro de Chipre e a
participação de credores no processo de
reestruturação dos bancos.
Há três actores, os quais têm especial interesse em
atiçar o pânico no mercado mundial de acções e de
divisas. Eles são o bem conhecido especulador em acções
George Soros, o Fundo Monetário Internacional e a Alemanha, o
país que se defronta com eleições gerais em
Setembro...
Primeiro acerca de Soros. O Quantum Group of Funds, hedge funds de propriedade
privada com base em Curaçao (Antilhas Holandesas) e Ilhas Cayman,
é notório por ser um especulador financeiro. Alguns relatos dizem
que na "quarta-feira negra", 16 de Setembro de 1992, Soros obteve um
lucro de mil milhões de dólares aproveitando a queda da libra
esterlina britânica. Ele disse que o seu êxito resultava da sua
teoria da reflexividade. Soros acredita que estas percepções
controlam tendências de preços, regulamentações
governamentais internas e mercados estrangeiros. As decisões são
tomadas com base em expectativas para o futuro, as expectativas são um
fenómeno fisiológico que pode ser influenciado.
Ataques de informação concertada contra uma divisa e
acções simultâneas de especuladores podem estilhaçar
mercados financeiros.
Ele dirigiu seus ataques de informação contra o euro nos
últimos meses. Por exemplo: de acordo com a sua previsão, a
Alemanha abandonaria a Eurozona, algo que coincide perfeitamente com as
crescentes contradições entre Berlim e as perturbadas
Grécia e Chipre. Peritos da Capital Economics pensam que as divisas da
Alemanha, França, Áustria e Holanda aparecerão de parte
alguma e ganharão força em um terço. Isto criará
uma oportunidade única para especulações financeiros de
muitos milhares de milhões. Jackson Wong, administrador de investimento
da Tanrich Securities, afirmou: "A situação de Chipre provou
um perfeito estremecimento sobre o sentimento global". É bom
apanhar peixe em águas lamacentas.
Outra questão é a Rússia e seus activos em Chipre. Como
reagiria a União Europeia se não fossem russos os activos que
constituem um terço dos títulos de Chipre, mas, digamos,
activos pertencentes à Alemanha ou à França? Por exemplo,
se estes últimos fossem depositados no Luxemburgo. Poderiam os europeus
adoptar decisões semelhantes se fosse o Luxemburgo ao invés de
Chipre?
O escândalo que está a crescer torna mais claro o papel
dúbio
do FMI. Sua directora administradora Christine Lagarde emite regularmente
previsões em pânico sobre a Eurozona, apesar de a
entidade por ela encabeçada ser para preservar a estabilidade
política e económica. Ela parece sugerir que melhores
resultados poderiam ser alcançados pela adopção de
esforços concertados conjuntos liderados pelo FMI, incluindo promover os
recursos do próprio Fundo. A propósito, exactamente no calor da
crise de Chipre as agências de aplicação da lei na sua
França nativa começaram a prestar atenção às
suas actividades. O seu apartamento em Paris foi revistado durante uma
investigação de possível excesso de autoridade em 2008.
Ela era ministra de Assuntos Económicos, Finanças e
Indústria naqueles dias. Agora, dizem os peritos, pode enfrentar
processo com acusações de desfalque e fraude.
Finalmente, a intensificação de actividades da Alemanha. Berlim
tem pressa de utilizar a situação de Chipre para os seus
próprios fins. A coligação da União
Democrática Cristã (CDU) e seu partido irmão a
União Social Cristã (CSU), liderada por Angela Merkel fez o seu
próprio plano de como resgatar Chipre.
Volker Kauder, presidente do grupo parlamentar CDU/CSU no Bundestag, e o seu
vice Michael Meister, dizem que Chipre deveria garantir sua
participação no processo de proporcionar estabilidade à
dívida do Estado de 6 mil milhões de euros.
Mas a coisa principal é: Chipre deveria remodelar sua estrutura
económica para servir interesses alemães.
Volker Kauder quer que Chipre reestruture seus bancos. Segundo ele, o sector
bancário do país é demasiado grande. Seu ponto de vista
é apoiado por Norbert Barthle, o perito em orçamento da
União Democrata Cristã, o qual diz não haver necessidade
de despejar água na areia.
Berlim não esconde as razões por trás do seu
comportamento na reestruturação dos bancos de Chipre. Quer
prejudicar a Grã-Bretanha e a Rússia, os países com
interesses financeiros no país. Isto não promete nada
de bom, só guerras financeiras na Europa...
26/Março/2013
[1] Selldown: liquidação de futuros, títulos ou
commodities, disparada ou em resultado de preços em queda.
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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