Primavera de 2012. Merkel e Sarkozy correm de cimeira em cimeira, a fim de
salvar o euro. A imprensa amarela enlameia o povo da Grécia. A luta
sobre uma solução para a crise está a intensificar-se
dramaticamente: no princípio de 2012, uma aliança
autoritária-neoliberal de grupos de lobbys de negócios, a
indústria financeira, a Comissão da UE, o governo alemão e
outros países exportadores esperam acelerar o Tratado Fiscal que acabou
de ser concluído em Bruxelas junto aos parlamentos nacionais. O Tratado
Fiscal prescreve uma política anti-social de cortes e inclui penalidades
para países que se opuserem a esta política. Portanto o Tratado
Fiscal restringe a auto-determinação democrática ainda
mais. É o clímax momentâneo de uma tendência
autoritária na Europa.
Estamos fartos destas políticas anti-sociais e anti-democráticas,
e da campanha de difamação racista contra o povo da
Grécia. Deveríamos, ao contrário falar acerca das
consequências desumanas destas políticas. Deveríamos falar
acerca da viragem autoritária da Europa e dos baixos salários
alemães como uma causa da crise. Deveríamos falar acerca das
fortunas intactas dos poucos e dos sofrimentos dos muitos. Deveríamos
falar acerca da nossa admiração pela resistência e
solidariedade entre o povo grego. Vamos exigir o que deveríamos ter sem
precisar dizer: democracia real e uma vida boa com dignidade para todos
na Europa e alhures.
A crise na Europa é só o topo de um iceberg. Por baixo jaz uma
profunda crise estrutural do capitalismo. Demasiado capital está a
perseguir lucros. Mas os retornos sobre o investimento são baixos:
há demasiada competição e salários demasiado
baixos. O crescimento financiado pela dívida e as bolhas especulativas
apenas adiaram o estalar da grande crise. Agora a aliança
autoritária-neoliberal está a advogar um mais-do-mesmo
radicalizado: socializar as perdas da especulação
através de um serviço à dívida permanente por parte
dos assalariados. Eles querem aumentar retornos sobre o investimento por
meio de empregos precários, cortes em salários e pensões,
reduções do estado previdência e
privatizações. As consequências são drásticas
e o que está a acontecer na Grécia paira sobre o resto da Europa:
desemprego em massa, empobrecimento de vastas faixas da
população, colapso de sistemas de saúde, aumentos de
doenças mentais e um declínio da expectativa de vida.
Medidas como esta só podem se executadas por meios autoritários.
O golpe de Pinochet no Chile em 1973, os programas do FMI em estados africanos
no anos 80 e a transformação da Europa do Leste no
princípio dos anos 90 são os precursores históricos do
Tratado Fiscal & Co.: "terapias de choque". Princípios
democráticos e sociais que foram conquistados por lutas com muitas
vítimas serão eliminados a grande velocidade pelo Tratado Fiscal,
a fim de assegurar que dívidas sejam servidas e que taxas de lucro
aumentem. Na Itália e na Grécia, governos não eleitos de
tecnocratas estão a utilizar cassetetes, gás lacrimogéneo
e canhões de água para impor os cortes ditados pelos grupos de
"peritos" em Bruxelas, Frankfurt e Berlim. O Tratado Fiscal e o
conjunto de decretos sobre "governação
económica" dão cada vez mais poder a organismos tais como a
Comissão da UE, o Tribunal Europeu de Justiça e o Banco Central
Europeu, os quais actuam para além de controles democráticos.
Para impedir a tomada de decisões contrárias à ortodoxia
neoliberal, o Tratado Fiscal perfidamente fortalece a ditadura dos mercados
financeiros através de multas a serem pagas à UE.
Tal como na Grande Depressão da década de 1930, forças
chauvinistas e fascistas estão a ganhar influência, na Hungria,
Áustria, Finlândia e alhures. Cego às lições
da história, o governo alemão, com a sua política de
austeridade inflexível, está a adoptar soluções
reaccionários para a crise cada vez mais provável.
Por todo o mundo, os povos estão a combater estas políticas,
desde a Praça Syntagma em Atenas, até a Praça Tahrir no
Cairo, a Puerta del Sol em Madrid e o Zucotti Park em Nova York. Os movimentos
de refugiados e trabalhadores migrantes através das fronteiras externas
da Europa fazem parte destas lutas por uma vida razoável. Estas lutas
devem ser executadas por cima das fronteiras em nos centros da aliança
autoritária-neoliberal, em Paris, Bruxelas, Frankfurt e Berlim.
Portanto, apelamos aos povos para aderir aos protestos que vem aí,
incluindo o Dia Europeu de Acção em 31 de Março, o Dia
Global de Acção em 12 de Maio e a
mobilização internacional em Frankfurt am Main de 17 a 19 de Maio
. Apoiamos uma solução alternativa para a crise:
-
não ratificação do Tratado Fiscal e abandono do conjunto
de leis da UE sobre "Governação económica";
-
cancelamento de dívidas públicas, introdução de
controles sobre fluxos de capitais e conversão de bancos em fornecedores
de serviços públicos;
-
redistribuição da riqueza social de cima para baixo
através de um novo sistema fiscal;
-
expansão da infraestrutura social e começo da
transformação da economia com um programa de investimento social
e ambiental;
-
redução das horas de trabalho;
-
democratizar a política e a economia radicalmente a todos os
níveis;
-
acabar com a política racista da Fortaleza Europa
autorizações de residência e estatuto legal para todos.
Dizemos não à UE autoritária e neoliberal dos poucos e
apelamos a uma UE democrática, social e ecológica dos muitos!
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Iniciativa da
Assoziation für kritische Gesellschaftsforschung
Ver também:
Acção colectiva contra o Mecanismo Europeu de Estabilidade, o novo ditador europeu
"Ignorem os títulos. Não há aumento do fundo de resgate para 700 mil milhões de euros"
, de Wolfgang Münchau
O original encontra-se em
http://no-fiscal-treaty.org/
Este documento encontra-se em
http://resistir.info/
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