União Europeia nauseabunda e asquerosa
Governos europeus investem no tráfico de refugiados
Aqueles que se proclamam faróis dos direitos humanos financiam
terrorismos com o dinheiro dos contribuintes e varrem o problema dos refugiados
para debaixo do tapete, tratando-os como lixo.
Não é oficial, porém é uma verdade comprovada:
governos europeus financiam redes de traficantes no Norte de África para
tentarem impedir que os refugiados cheguem às costas europeias.
A muitos poderá parecer indigno que damas e cavalheiros tão
apessoados, fluentes como ninguém na homilia dos direitos humanos,
assertivos sem rival no discurso da guerra contra o terrorismo, sejam capazes
de untar as mãos de senhores da guerra, da tortura e do terror com o
dinheiro dos contribuintes. Eles lá sabem por que o fazem, dirão
alguns; pois bem, também nos convém apurar o que eles fazem, para
melhor os conhecermos para lá da farpela e do verbo.
Há poucas semanas, o governo italiano, tão democrático que
até veste as cores do Partido Democrático, um braço
político da NATO situado "à esquerda" no
"arco da governação", enviou dois credenciados
espiões para negociar com os cappos da família mafiosa Dabashi,
que têm quartel-general em Sebrata, no território que outrora se
designou Líbia e hoje é considerado um
"Estado-falhado", melhor dizendo, um não-Estado.
Situação que resulta da operação devastadora
conduzida por uma aliança militar não disfarçada entre a
NATO e grupos terroristas ditos "islâmicos" das linhagens Daesh
e Al-Qaida.
A família Dabashi é um exemplo de empreendedorismo orientado pelo
mais elevado sentido da modernidade, extraindo proveitos múltiplos e
gordos do caos implantado no território da antiga nação,
que chegou a ser uma das mais prósperas de África.
Dois irmãos repartem a chefia do clã: um comanda a milícia
Al-Ammu, ou Brigada do Mártir Annas al-Dabashi, constituída por
cinco centenas de mercenários e parcialmente financiada pelo
Ministério da Defesa de um governo sediado em Tripoli, o de Fayez
al-Sarraj, reconhecido pela ONU e dito de "união nacional".
Existem pelo menos outros dois governos na antiga Líbia, enovelados
entre centenas de milícias, grupos terroristas, gangues mafiosos, bandos
de mercenários, traficantes multifacetados e empresas privadas de
segurança. O outro irmão Dabashi chefia a Brigada 48, esta
financiada pelo Ministério do Interior do mesmo governo.
As duas organizações mafiosas Dabashi obtêm as suas
receitas mais compensadoras através do tráfico de refugiados.
Administram campos de concentração para encafuar milhares de
seres humanos que fogem das guerras fomentadas pela NATO e seus principais
Estados membros no Médio Oriente, Eurásia e África, ora
alegando combater ora apoiando grupos terroristas; nesses campos
ditos "de acolhimento", a tortura, os abusos sexuais e as
privações de necessidades mínimas como
alimentação, saúde e higiene fazem parte do quotidiano e
são métodos corriqueiros para extorquir os bens aos fugitivos
como pagamento de viagens em embarcações que mal navegam com
destino mais do que duvidoso às costas mediterrânicas europeias.
"Foi com estes empresários, expoentes de um neo-humanismo cada vez
mais na moda, que os dois agentes secretos enviados de Roma se sentaram para
negociar, e ao que parece com êxito."
Os irmãos Dabashi administram ainda outro proveitoso ramo de
negócio: a segurança do tráfico de petróleo nos
campos de Mellitah, a oeste de Sebrata, que reverte em favor do governo de
Al-Sarraj e, principalmente, da grande companhia petrolífera italiana
ENI.
Foi com estes empresários, expoentes de um neo-humanismo cada vez mais
na moda, que os dois agentes secretos enviados de Roma se sentaram para
negociar, e ao que parece com êxito.
Os números de refugiados chegados às ilhas italianas estão
a diminuir drasticamente, tal como já acontece nas ilhas gregas, aqui
como resultado do negócio engendrado pelas mentes austeritárias
da União Europeia com o tão democrático governo
fundamentalista islâmico de Erdogan na Turquia. Um acordo com um
patrocinador do terrorismo, membro estratégico da NATO, que custa
três mil milhões de euros anuais aos contribuintes europeus.
Roma nega que tal trato tenha sido concebido e desmente até o envio dos
seus espiões a Sebrata. Porém, o porta-voz da milícia
Al-Ammu, Bashir Ibrahim, escolheu outra estratégia de
comunicação. Existe "um acordo verbal entre o governo de
al-Sarraj e Itália" para travar o embarque de
refugiados, "em troca de equipamentos, barcos e
salários", explicou.
Bashir não teve papas na língua: "os nossos esforços
durarão o tempo que o dinheiro durar; se a ajuda parar a nossa
brigada não terá meios para continuar a fazer o trabalho e
retomará o tráfico de migrantes".
Aqui chegados, temos em confronto a versão de Roma, negando o acordo, e
a dos mafiosos, pormenorizando o seu conteúdo.
Para desempatar, usemos o presidente francês e eminência do jet set
Emmanuel Macron cuja perda de popularidade consegue ser ainda mais veloz
e a pique do que as de Sarkozy e Hollande.
Em recente cimeira sobre os refugiados realizada no Eliseu, com presença
de França, Alemanha, Espanha, Itália, Chade, Níger e o
governo Al-Sarraj, o presidente francês não conteve o entusiasmo e
desnudou a estratégia de Roma. "O que foi feito entre a
Líbia e Itália", descaiu-se Macron, "é um
exemplo perfeito do caminho que devemos tomar".
Na verdade, esse é o caminho assumido não só pela
Itália mas também pela União Europeia, conforme
decisões tomadas na Estónia e que se transformaram em mais um
assalto aos bolsos dos contribuintes europeus, uma humilhação
às vítimas da austeridade e um desrespeito xenófobo e
cruel pelos refugiados.
Bruxelas disponibiliza pelo menos 200 milhões de euros para
reforço das guardas costeiras existentes no território da
Líbia, além do envio de material, embarcações e
navios de guerra próprios decisões todas elas orientadas
por um objectivo único: impedir a chegada de refugiados à Europa,
independentemente do seu destino às mãos dos traficantes ou das
autoridades dos países para onde forem reenviados, mesmo que isso viole
disposições do direito internacional.
O uso do plural guardas costeiras não é um engano.
No não-Estado da Líbia existe uma cumplicidade instalada entre os
vários serviços de suposta vigilância da costa e o universo
de milícias, gangues, seitas fundamentalistas e bandos de
mercenários que se digladiam em todo o território, conforme
reconhece um relatório divulgado pelo Conselho de Segurança da
ONU em 1 de Junho deste ano. "Os contrabandistas, mas também os
serviços de combate à imigração ilegal e as guardas
costeiras estão directamente implicados em violações
graves dos direitos humanos", lê-se no relatório com 305
páginas.
É a ordem natural das coisas ali deixada pela NATO. Pelo que se torna
impossível destrinçar como funciona o quê neste ambiente
nauseabundo onde confluem o tráfico de seres humanos, o crime organizado
nas suas múltiplas facetas, o terror fundamentalista, o funcionamento
corrupto e telecomandado das guardas costeiras.
"O tráfico de migrantes e de outras pessoas faz parte dos mesmos
circuitos de outros tráficos, designadamente os tráficos de
armas, de droga, de ouro", lê-se no relatório do Conselho de
Segurança; rol de tráficos ao qual pode acrescentar-se, sem erro,
o de petróleo. É, pois, para este magma formado por terrorismo,
guerra, corrupção, tortura e morte que a União Europeia
remete os seus milhões e envia os seus meios para "resolver o
problema dos refugiados".
Olhemos para o caso dos irmãos Kochlaf, usado no documento da ONU como
exemplo ilustrativo da mixórdia apodrecida em que se transformou a
Líbia. Tal como os irmãos Dabashi, Mohamed e Walid Kochlaf
comandam uma milícia, baptizada Nasr; são traficantes de
refugiados, chefiam as forças de segurança dos campos
petrolíferos de Zauia e dirigem operações de compra de
combustíveis para contrabandistas.
Este sistema empresarial está interligado com as actividades do
comandante da guarda costeira predominante em Zauia, Abd al-Rahman Milad,
aliás Bija, cuja nomeação decorreu de um empenho
influente, e convincente, dos irmãos Kochlaf e respectiva
milícia, bastante activa no sector costeiro delimitado por Zauia, Zuara
e Sebrata.
"As redes criminosas fornecem informações aos
guardas-costeiros para impedirem os gangues rivais de terem êxito nas
suas operações de contrabando; os guardas-costeiros estão
mergulhados igualmente no tráfico de migrantes", explica o
relatório do Conselho de Segurança.
"Se chegam agora menos refugiados às costas europeias isso
significa que há governos da União a financiarem a ditadura
islâmica de Erdogan na Turquia e a garantirem o enriquecimento de redes
terroristas (...)"
Bija e os irmãos Kochlaf são um exemplo desta
coordenação criminosa corriqueira que está na origem das
constantes guerras entre milícias envolvidas no tráfico humano e
de que as principais vítimas são, mais uma vez, os refugiados,
frequentemente obrigados a regressar a terra já depois de iniciada a
viagem.
Suspender a travessia e a fuga para a Europa dos que buscam a
sobrevivência implica a alternativa inevitável do regresso aos
campos de concentração das milícias, onde são alvos
de novas manobras de extorsão se procurarem outras oportunidades de
embarque; ou então vêem-se obrigados a desempenhar trabalho
escravo nos campos petrolíferos, por conta das máfias e sem
qualquer retribuição; podem ainda ser repatriados, com os
inevitáveis riscos que tal decisão acarreta.
Governos europeus esfregam as mãos de satisfação e
ufanam-se com o facto de este ano ter diminuído, e muito, o
número de refugiados chegados à Europa, sem que haja
alteração das situações dramáticas das quais
fogem. Estamos a salvar vidas, mentem os tecnocratas de Bruxelas, Roma e Paris;
ou de Berlim, onde parece já ter sido preenchida a quota de
mão-de-obra sem direitos reclamada pela confederação
patronal quando explodiu o drama dos desembarques massivos nas costas da Europa.
As proclamações de êxito no combate europeu à
"crise dos refugiados" são uma fraude reles e desumana.
Se chegam agora menos refugiados às costas europeias isso significa que
há governos da União a financiarem a ditadura islâmica de
Erdogan na Turquia e a garantirem o enriquecimento de redes terroristas,
mafiosas e negreiras concentradas nos territórios onde eles
próprios são responsáveis pelo caos existente.
Se chegam agora menos refugiados às costas europeias tal não
significa que essas pessoas estejam sãs e salvas. O mais certo é
serem submetidas a tortura, violações e outras sevícias,
penarem com trabalho escravo ou sujeitarem-se a outras rotas tanto ou mais
perigosas e letais do que a mediterrânica.
Governos europeus, faróis dos direitos humanos, financiam terrorismos
com o dinheiro dos contribuintes e varrem o problema dos refugiados para
debaixo do tapete, tratando-os como lixo. É a demonstração
mais rasteira de xenofobia, de cruel discriminação, de
agressão aos mais elementares direitos humanos.
Julgando que assim salvam as aparências, pregando eficácia e
escondendo os métodos terroristas por que enveredaram, esses governantes
da "nossa Europa" e da "nossa NATO" são mais
criminosos do que os fora-de-lei que ajudaram a criar e agora financiam.
Entretanto, dissertam de cátedra sobre o Estado de direito.
06/Setembro/2017
[*]
Jornalista.
O original encontra-se em
www.abrilabril.pt/governos-europeus-investem-no-trafico-de-refugiados
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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