Campo de concentração da banca
por Valentin Katasonov
A notícia de que falo foi publicada em Maio nos media. Não se
trata de grande coisa à primeira vista, certamente não algo que
impressione. Mas o diabo está nos detalhes. Alguns acontecimentos
interessantes tiveram lugar na Escandinávia. O governo dinamarquês
propôs isentar certas lojas da obrigação de aceitar
pagamentos em papel-moeda
(cash)
num passo no sentido de deixar o país mais próximo de uma
economia "sem papel-moeda". Não será mais exigido que
negócios tais como comerciantes de vestuário, postos de gasolina
e restaurantes aceitem papel-moeda no próximo ano, declarou em 6 de Maio
o governo da Dinamarca. Isto faz parte de um pacote pré-eleitoral de
medidas para o crescimento económico destinadas a reduzir custos e
aumentar a produtividade dos negócios. Muitas lojas na Suécia
não aceitam papel-moeda mas apenas cartões de débito ou de
crédito. Agora um comprador com os bolsos cheios de papel-moeda
deixará uma loja sueca ou dinamarquesa de mãos vazias.
Não é segredo que em muitos países o papel-moeda
está a perder a sua função de meio de pagamento. O
papel-moeda representa apenas 10% das transacções em
países avançados e 15% dos negócios nos estados do mundo
em desenvolvimento
[1]
.
Bancos e governos promovem o processo. Em alguns estados activistas sociais
advogam a ideia de cancelar de todos pagamentos em papel-moeda.
Aqueles que
desejam que o papel-moeda se torne uma coisa do passado avançam com os
seguintes argumentos. Dizem eles que a transferência para pagamentos sem
papel-moeda afastará muitos males da sociedade, como por exemplo:
tráfico de droga, terrorismo, escravatura, corrupção, etc.
Na verdade, pagamentos em papel-moeda, ou dinheiro sujo, permitem a criminosos
esconderem sua identidade. É nisto que se baseia a "economia
cinzenta", ou a evasão fiscal. O papel-moeda é
excessivamente trabalhoso para emitir, fazer circular e liquidar. Custa 1% do
PIB fazer todas estas coisas. A ecologia sofre é produzida
dioxina tóxica quando o papel-moeda é queimado. A ausência
de pagamentos em papel-moeda beneficiará o povo. Suas mãos
não tocarão notas infectadas por micróbios, não
há risco de roubo ou assalto, as pessoas gastam menos tempos em lojas
a lista vai por aí afora...
Muitos países do Ocidente
adoptam leis para directa ou indirectamente afastarem o papel-moeda da
circulação. Eles impõem limites sobre pagamentos em
papel-moeda. Exemplo: a soma que alguém paga de uma vez na Espanha e em
França não pode exceder os 3000 euros. O governo francês
diz que planeia reduzi-la para 1000 euros, como na Itália. Todos os
pagamentos em papel-moeda são regulados pelo governo. Um cidadão
da França não pode gastar mais do que 3000 em papel-moeda durante
uma semana. Ninguém pode retirar mais do que 10 mil euros da conta
bancária sem atrair atenção especial de agências de
imposição da lei. Uma soma que exceda um milhar de euros
não pode ser convertida numa divisa estrangeira. Tais
transacções são estritamente regulamentadas pelo governo.
Isto é o exemplo da "democracia monetária" no
país que em 1789 declarou a liberdade um valor sagrado.
Os bancos
dão a sua contribuição ao processo. Alguns simplesmente
recusam-se a receber papel-moeda. Outros estabelecem altas comissões
para transferência de dinheiro. Exemplo: em Abril o Chase, o maior banco
nos EUA, e uma subsidiária do
JP Morgan Chase and Co.
, juntaram-se na guerra ao papel-moeda. A nova política restringe
tomadores de empréstimo de utilizarem papel-moeda para efectuar
pagamentos de cartões de crédito, hipotecas, linhas de
crédito e empréstimos para automóveis. O Chase vai mesmo
ao ponto de proibir a armazenagem de papel-moeda nos seus cofres. Numa carta
aos seus clientes datada de 1 de Abril de 2015 relativa ao seu "Acordo
actualizado para o aluguer de cofres" ("Updated Safe Deposit Box
Lease Agreement", num dos ítens destacados lê-se: "O
senhor concorda em não armazenar qualquer papel-moeda ou moedas
além daquelas consideradas ter um valor de colecção".
O Chase armazenará a sua arma, mas papel-moeda não, por favor!
O processo tem abrangido o transporte público. Uma pessoa que queira
pagar em papel-moeda um bilhete de autocarro já não o pode fazer.
A opção é comprar um bilhete de subscrição
periódica ou enviar uma mensagem SMS para pagar por uma viagem
única.
Na Alemanha, Peter Bofinger, economista conhecido, faz campanha
pela abolição do papel-moeda. Se a sociedade sem papel-moeda se
tornar uma realidade, os mercados para trabalho não declarado e drogas
poderiam ser secados. A ideia da sociedade sem papel-moeda é muito
popular na Suécia. Acredita-se ali que abolição do
papel-moeda seria uma contribuição para o êxito do combate
ao tráfico de droga, ao crime, ao terrorismo, etc. Bjorn Ulvaeus, o
líder da ABBA a banda que foi uma lenda da pop music nas
décadas de 1970-1980 é um ardente advogado da ideia. O
autor do êxito chamado Money, Money, Money anunciou dois anos
atrás que começava um combate contra o papel-moeda. Naquela
altura foi anunciado que não haveria bilhetes vendidos contra
papel-moeda no museu ABBA em Estocolmo. "Cartões
electrónicos e smartphones hoje e, talvez, inventem alguma outra coisa
amanhã".
Muitas coisas são inventadas hoje em dia. A
Suécia não fica para trás. Este é o país
mãe do sistema de pagamentos através da simples leitura
óptica
(scanning)
da palma da mão. Um estudante de engenharia na Universidade Lund, na
Suécia, fez isto acontecer constituindo a primeira companhia
conhecida do mundo, a Quixter ao instalar a técnica de
esquadrinhamento das nervuras em lojas e cafés. Ele não perdeu
tempo à espera.
Os pagamentos com papel-moeda estão a tornar-se
uma coisa rara em praticamente todos os países. Oitenta por cento das
transacções nos Estados Unidos são sem papel-moeda e o
mercado continua a livrar-se de dinheiro em papel e em moedas. O Payments
Council do Reino Unidos declarou recentemente que o número de
transacções sem papel-moeda excedera o número de
pagamentos em cash. A Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia
liberam o processo. Cartões de plástico já não
são mais a vanguarda dos meios de pagamento. Na Dinamarca, um em cada
três cidadãos utiliza um sistema de pagamento móvel. A
MobilePay app permite enviar e receber dinheiro via Iphone, Android e Windows
Phone. O serviço está aberto para clientes de bancos
dinamarqueses e não dinamarqueses. O utilizador transfere o dinheiro
seleccionando o número móvel da pessoa que deve receber o
dinheiro. Na Suécia o papel-moeda é utilizado para apenas 3% das
transacções
[2]
. Para comparação: este índice é três vezes
mais alto na Europa. O papel-moeda representa 7% das transacções
nos Estados Unidos. O campeão é a Coreia do Sul com 2% das
transacções em papel-moeda, segundo o World Payments Report. A
Suécia gosta de relembrar que o seu país inventou as notas. Em
1661 o Banco de Estocolmo sueco emitiu a primeira nota bancária para
compensar uma escassez de moedas de prata. Agora a Suécia aspira ser um
pioneiro europeu para finalmente abolir o papel-moeda.
Há razões
para acreditar que "os detentores do dinheiro" (banqueiros)
providenciam incentivos para acelerar o processo (enquanto fazem o melhor que
podem para esconder suas actividades). Por que precisam disto? Bem, talvez
persigam um certo número de objectivos.
Em primeiro lugar, desde a
década de 1970 as taxas de juro activas (créditos) e passivas
(depósitos) têm estado gradualmente a reduzir-se. Taxas de juro
negativas surgiram após a crise de 2007-2009. A tendência deixa o
povo sem estímulo para manter o dinheiro em bancos. O papel-moeda
torna-se preferível. Com transacções 100% livres de
papel-moeda os clientes nunca deixarão os bancos.
Em segundo lugar, o
dinheiro sem papel-moeda vem do ar. Os meios de pagamentos são o
dinheiro emitido pelos bancos centrais. Clientes utilizam dinheiro real para
depósitos junto a banqueiros tornando disponíveis algumas
unidades da divisa (para cada dólar, libra, etc) como créditos.
Isto é uma falsificação em grande escala que se tem
verificado desde o século XIX. Ela vem à superfície
só no momento de crises financeiras quando multidões de clientes
correm a pedir o seu dinheiro de volta e os bancos estão em apuros. Os
manuais de economias chamam a isto garantias bancárias incompletas.
Quanto menos papel-moeda estiver em circulação, mais vastas
oportunidades existem para fazer lucros a partir do ar.
Em terceiro lugar, os
possuidores do dinheiro (os principais bancos do mundo, acima de tudo os
accionistas do US
Federal Reserve System
) acreditam que o seu objectivo primário é alcançar o
poder mundial absoluto. A transferência para transacções
sem papel-moeda significa a construção do "campo de
concentração" global supervisionado pelos banqueiros. Os
detentores de contas sem papel-moeda terão seu comportamento e mesmo
pensamentos sob controle. Em caso de "desvios" as contas serão
bloqueadas. Na prática será uma sentença de morte. O mundo
100% sem papel-moeda tornar-se-á um campo de concentração
com prisioneiros remetidos para o outro mundo sem câmaras de gás e
sem execuções.
A estrada para inferno está pavimentada
com boas intenções, dizem. Vamos recordar o 11/Set. Foi uma
acção bem preparada encenada pelos detentores do dinheiro para
declarar uma guerra total contra terroristas. Hoje mesmo um cego pode ver que a
guerra contra o terror é utilizada para justificar os esforços de
Washington para desestabilizar a situação política em
diferentes partes do mundo ou, por outras palavras, para implementar a
política de caos administrado. A campanha destinada a comutar para
transacções sem papel-moeda faz parte do jogo.
O que denominei
campo de concentração dos bancos não é algo novo,
não há surpresa. Rudolf Hilferding escreveu a respeito há
cerca de um século. Era um economista marxista nascido na
Áustria, um político e teórico importante do Partido
Social-Democrata da Alemanha. Hilferding foi o primeiro a avançar a
teoria do capitalismo organizado, ou "capital financeiro", ou sistema
bancário concentrado. Ele saudou este sistema de totalitarismo. Rudolf
Hilferding acreditou que o capitalismo tradicional evoluiria para um sistema
que eliminaria guerras, crises e revoluções. Os bancos comerciais
seriam transformados em instituições para executar as
funções de manter registos e contabilidade. Esta
função é um imperativo para o funcionamento de campos de
concentração.
John Coleman, antigo operacional de
serviços especiais, continuou a discutir a questão no seu
Committee 300
(publicado pela primeira vez em 1991). Ele fala acerca de um grupo
todo-poderoso que não responde a ninguém excepto aos seus membros
que não conhecem fronteiras nacionais, está acima das leis de
todos os países. Ele realmente controla todo aspecto da política,
religião, comércio e indústria, banca, seguros,
mineração, comércio de droga, indústria
petrolífera. Coleman é menos optimista do que o socialista
austríaco do século XX. Segundo Coleman, a
eliminação de "povo extra" sobre o planeta é um
objectivo primário dos detentores do dinheiro. O campo de
concentração dirigido por banco pode ser um instrumento perfeito
para cumprir a missão.
Isto veio à minha mente quando estava a
ler as notícias acerca das recentes "inovações"
na Dinamarca e na Suécia.
PS: Chegaram mais notícias depois de
ter concluído este artigo. Martin Armstrong informou sobre preparativos
de uma reunião secreta em Londres entre representantes do Banco Central
Europeu, Federal Reserve System dos EUA e bancos centrais da
Suíça e Dinamarca com o objectivo de livrarem-se de qualquer
privacidade económica que permaneça ao acabar o papel-moeda.
Armstrong é conhecido no mundo dos peritos sobre economia e
finanças como um mestre em previsões (ele previu muitas crises,
incluindo o incumprimento da Rússia de 1998). Ele está bem
informado acerca das tendências no negócio bancário
[3]
. As agências de notícias mundiais fecharam os olhos e fizeram-se
de surdas acerca do evento planeado, comentado apenas por blogs.
[4]
A abolição do papel-moeda e a comutação para
transacções electrónica estarão no topo da agenda.
Não é a utilização de tecnologias
electrónicas que e importante, mas ao invés o facto de que
não haverá negócios anónimos. Armstrong apresenta
mesmo alguns pormenores sobre o suposto evento. Como ele afirma:
"Considero extremamente desconcertante que eu tenha sido o único a
informar que há uma reunião secreta em Londres onde Kenneth
Rogoff da Universidade de Harvard e Willem Butler, o economista chefe do
Citigroup, tratarão dos bancos centrais e advogarão a
eliminação de todo papel-moeda a entrar em vigor no dia em que
não se puder comprar ou vender qualquer coisa sem
aprovação governamental". Armstrong considerou a
reunião como mais um passo no caminho da eliminação das
liberdades restantes e do estabelecimento do totalitarismo económico.
Notas:
(1) Para comparação: o índice é 25% no caso
da Rússia. É mais alto em alguns outros estado. Na Arménia
ultrapassa os 40%.
(2)
politrussia.com
(3)
armstrongeconomics.com
(4) Paul Joseph Watson. Secret Meeting in London to "End Cash".
Central banks aim to institute "
governmental approval
" for all purchases and sales (May 27, 2015)
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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