Carta ao Presidente Lula
Paris, 18 de Março de 2007
Senhor Presidente:
Como amigos da esquerda popular brasileira e latino-americana, somos
constrangidos a vos exprimir nossa dolorosa incompreensão quanto
à maneira como as autoridades e a polícia
brasileira acabam de colaborar com a polícia francesa do fascizante
Sarkozy e com a polícia italiana de Prodi, para prender, tendo em vista
a extradição, o escritor ítalo-francês
Cesare Battisti.
Vós não podeis ignorar que este escritor, que nunca fez
mistério do seu militantismo de extrema esquerda nos anos 70, foi
condenado na Itália por uma justiça parcial com base numa
declaração suspeita de um "arrependido" que sem provas
acusou-o de assassínio, coisa que ninguém nunca provou e que
Battisti sempre negou.
Com outros militantes italianos de extrema esquerda, Battisti refugiou-se em
França nos anos 70/80, e François Mitterrand aceitou então
recebe-lo oficialmente em França para ajudar a vizinha Itália a
por fim às sequelas dos "anos de chumbo" (estes foram
desencadeados menos pela loucura de alguns pseudo-comunistas que ignoraram os
ensinamentos de Lenine sobre a
luta de massa,
mas sobretudo
pela NATO, pela CIA e pela extrema direita italiana,
instigadores da "estratégia da tensão" que visava
impedir o PC Italiano de conquistar democraticamente o poder. Jamais os
terroristas de direita, autores dos atentados de massa de Bolonha, foram
punidos pela "justiça" italiana!).
Tão pouco podeis ignorar, Senhor Presidente, que praticamente toda a
esquerda francesa opôs-se à extradição de Battisti,
uma extradição que significa da parte de Sarkozy renegar a
palavra de Mitterrand, ou seja, da França.
Ignorais que o fascizante governo italiano de S. Berlusconi, de Gianfranco Fini
(presidente do partido "pós-fascista" italiano e instigador de
violências policiais assassinas contra os manifestantes
alter-mundialistas de Génova) e Umberto Bossi, o presidente racista da
Liga Lombarda, relançaram a caça aos expatriados italianos de
extrema esquerda
por motivos de política interna e na perspectiva de criminalizar o
conjunto dos partidos comunistas europeus, assimilando-os a
organizações criminosas ou terroristas?
O número 2 do partido pós-fascista de Fini, Aliança
nacional, acaba aliás de reclamar "a interdição de
todos os PC na Europa"! Esta resistente "anti-terrorista"
chama-se
Alessandra Mussolini. E é este Fini que acaba de
prefaciar a tradução italiana do último livro de Sarkozy,
Témoignage
!
Senhor Presidente, vós que fostes reprimido pela direita enquanto
sindicalista, ajudaríeis por desconhecimento a ultra-direita europeia a
federar-se mundializando a repressão?
Talvez ignoreis também que
o sr. Nicolas Sarkozy, o actual todo poderoso ministro do Interior
francês, que vos pediu para seguir Battisti, é o líder
francês da direita mais fascizante e a mais ultra que o nosso país
sofreu desde 1940.
Este personagem impulsiona em França uma política
ultra-repressiva e ultra-patronal, encarniça-se contra os movimento
operário, os jovens e os trabalhadores imigrados, sonha abertamente em
europeizar e mundializar a caça às feiticeiras contra a esquerda
e os comunistas. E tudo isto
em uníssono com a União Europeia, que encoraja actualmente uma
campanha macartista à escala continental
(os partidos comunistas são reprimidos ou proibidos num número
crescente de países europeus).
Será admissível que o líder histórica do Partido
dos trabalhadores brasileiros se preste, sem dúvida por desconhecimento,
a esta mundialização da caça aos "vermelhos"
encorajada pelos neoconservadores norte-americanos?
Mas podeis ignorar que a França está em campanha eleitoral e que
a prisão de Battisti é antes de tudo um golpe
mediático-eleitoral cujo fim é promover o CANDIDATO Sarkozy, este
personagem perigoso para a França, a democracia e a paz?
Sarkozy prevalecer-se-á desta prisão para por em destaque suas
"boas relações" com a "esquerda"
internacional, no caso convosco mesmo
para melhor atacar a esquerda
francesa e europeia! Na realidade,
neste assunto, Sarkozy cinicamente instrumentalizou o Brasil
para a sua campanha:
ele vai poder abandonar (por estes dias) o Ministério da Polícia
com um golpe de efeito!
As relações franco-brasileiras merecem certamente algo melhor
do que esta operação que empana a imagem de "Lula"
junto aos progressistas e aos trabalhadores franceses e italianos.
O Brasil novo que vós desejais tem tudo a perder ao ajudar a
reacção francesa, europeia e norte-americana (Sarkozy é um
incondicional de Bush) a reforçar-se à escala planetária,
para acabar por fim com TODA a esquerda mundial e europeia inclusive,
cedo ou tarde, com a esquerda que se reclama reformista.
Eis porque nós vos pedimos para não extraditar Cesare Battisti e
para pô-lo em liberdade sob a protecção da justiça
brasileira até que ele possa retornar livremente à França,
onde estava a ponto de adquirir a nacionalidade, quando o nosso país, em
plena deriva reaccionária tal como toda a União Europeia,
reencontrar os valores de progresso que fizeram seu renome passado.
Pois, como disse o nosso filósofo francês Augusto Comte e como o
proclama a divisa do Brasil, a "ordem" sem o progresso não
serve senão a tirania.
Com as nossas respeitosas saudações internacionalistas,
anti-facistas e anti-imperialistas.
Pelo
Pôle de Renaissance Communiste en France
:
Georges Hage, deputado comunista do Norte, decano da
Assembleia Nacional francêsa
Jean-Pierre Hemmen e Léon Landini, presidentes
nacionais
Georges Gastaud, secretário nacional
Daniel Antonini, secretário internacional,
Alexis Lacroix, secretário da Jeunesse pour la
Renaissance Communiste en
France
Mais esclarecimentos acerca de Cesare Battisti em
http://www.legrandsoir.info/article.php3?id_article=4847
Esta carta encontra-se em
http://resistir.info/
.
|