Porque a imprensa americana silencia os avisos de
Brzezinski sobre a guerra contra o Irão?
Os principais jornais nacionais e os noticiários mais difundidos nem
sequer noticiaram o testemunho impressionante de quinta-feira do antigo
conselheiro de segurança nacional Zbigniew Brzezinski perante a
Comissão de Relações Externas do Senado.
Brzezinski, conselheiro de segurança nacional do Presidente Jimmy
Carter, é uma das figuras de maior relevo no seio da elite da
política externa americana. Fez uma crítica demolidora à
guerra do Iraque e avisou que a política da administração
Bush estava a dirigir-se inevitavelmente para um confronto militar com o
Irão que poderá ter consequências desastrosas para o
imperialismo americano.
Do maior significado e preocupante foi a insinuação de Brzezinski
de que a administração Bush podia fabricar um pretexto para
justificar um ataque militar ao Irão. Apresentando o que chamou de
"cenário plausível para uma colisão militar com o
Iraque", Brzezinski expôs a seguinte série de acontecimentos:
"a incapacidade de o Iraque atingir os objectivos propostos, seguida por
acusações de que esse fracasso é da responsabilidade do
Irão, e depois por qualquer
provocação no Iraque ou qualquer acto terrorista nos EUA
atribuído ao Irão,
culminando numa acção militar americana 'defensiva' contra o
Irão
" [ênfase nosso].
Brzezinski foi pois de opinião que um ataque militar americano ao
Irão será uma acção agressiva, apresentada como se
fosse uma resposta a alegadas provocações iranianas, e esteve
perto de sugerir, sem o afirmar contudo explicitamente, que a Casa Branca era
capaz de fabricar ou permitir um ataque terrorista dentro dos Estados Unidos
para provocar um
casus belli
para a guerra.
É óbvio que um testemunho destes, numa audiência
pública do Congresso, dado por alguém com décadas de
experiência no interior da política externa americana e com as
ligações mais estreitas aos aparelhos militar e de
informações, não só merece ser publicado, mas
revela-se da maior e mais grave importância. Qualquer jornal de
notícias ou noticiário televisivo consciencioso devia considerar
ser sua obrigação informar o público de tal
evolução.
No entanto nem o
New York Times
nem o
Washington Post
publicaram mais do que uma breve notícia sobre o testemunho de
Brzezinski nas suas edições de sexta-feira. Nem o
USA Today
ou o
Wall Street Journal.
Claro que todas estas publicações têm agências bem
fornecidas de pessoal em Washington e cobrem regularmente as audiências
do Congresso em especial as que tratam de questões
políticas tão escaldantes como é a guerra no Iraque.
Não há uma explicação inocente para a
decisão de suprimir esta notícia. O
Washington Post
na quinta-feira publicou uma página inteira a duas colunas e a foto da
presença de Henry Kissinger no dia anterior perante a mesma
comissão do Senado. O antigo secretário de estado de Richard
Nixon prestou um testemunho que genericamente apoiava a política de
guerra da administração Bush.
Mais ainda, a edição do Post na internet trazia um relato da
Associated Press sobre a presença de Brzezinski. Esse artigo introduzia
alterações subtis mas significativas ao cenário
especulativo de Brzezinski quanto à via para a guerra com o Irão
que tinham por efeito diminuir a agudeza e a insistência da
crítica de Brzezinski à administração Bush. Omitia
a insinuação de que um ataque terrorista no interior dos EU podia
vir a ser a justificação para a guerra, e retirava as aspas da
referência de Brzezinski a uma guerra "defensiva" contra o
Irão.
O World Socialist Web Site telefonou na sexta-feira ao
New York Times,
ao
Washington Post,
ao
Wall Street Journal
e ao
USA Today
para pedir explicações pela ausência do relato do
testemunho de Brzezinski. Nenhum destes jornais respondeu às nossas
chamadas.
Quanto aos noticiários da televisão, o "News Hour with Jim
Lehrer" no PBS mostrou as imagens de Brzezinski a expor o seu
cenário de guerra perante a comissão do Senado, sem fazer
quaisquer comentários. O "NBC Nightly News" ignorou totalmente
a notícia.
A supressão desta crítica incriminatória da guerra do
Iraque, dos métodos conspiratórios da administração
Bush e do seu impulso para uma guerra ainda mais alargada no Médio
Oriente é mais uma demonstração do carácter
corrupto e reaccionário dos
mass media
americanos. Indica que os media institucionais se preparam de novo, tal como
na corrida para a invasão do Iraque, a servir de caixa de
ressonância para a propaganda da guerra e para as mentiras da
administração.
O original encontra-se em
http://www.wsws.org/articles/2007/feb2007/brze-f03.shtml
Tradução de Margarida Ferreira
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|