Editores pró-Israel até mesmo na Al-Jazeera!
Acerca da influência sionista na Al-Jazeera International e na
Al-Jazeera/English.net.
Por outras palavras: "Matam os palestinos e matam a notícia da matança".
Quando a televisão pan-árabe por satélite da Al-Jazeera,
com sede no Qatar, anunciou dois anos atrás planos para lançar a
Al-Jazeera International (AJI), em inglês, muitas pessoas por todo o
mundo esperaram que o novo canal por satélite proporcionaria uma
alternativa genuína aos notoriamente enviesados media ocidentais, os
quais muitas vezes operam sob uma certa influência sionista.
O novo canal, cujo lançamento foi adiado várias vezes por muitas
razões, proporcionará tanto a perspectiva regional como global
para uma audiência potencial de centenas de milhões de falantes do
inglês.
O AJI é o primeiro canal de notícias do mundo em língua
inglesa a ter sede no Médio Oriente, com a gestão do
noticiário a rodar em torno de centro de difusão em Atenas, Doha,
Londres, Washington DC e Kuala Lumpur.
O AJI já atraiu um certo número de notáveis no mundo da
TV, incluindo pessoas como Sir David Frost e Riz Khan.
Contudo, parece que o desapontamento pode estar à espera de muitos
daqueles que esperavam um canal mundial de TV que fosse razoável e
objectivo e especialmente livre da habitual visão do mundo
anglo-americano (e israelense).
De facto, há ominosos sinais a mostrar que simpatizantes
pró-israelenses, alguns deles com antecedentes na BBC, já
estão a tentar controlar as políticas editoriais do novo canal,
sempre sob o pretexto do profissionalismo e dos padrões
jornalísticos.
Este redactor, que tem estado a trabalhar para a aljazeera.net/English (a qual
foi agora incorporada à AJI) descobriu por acaso esforços de
alguns editores superiores ocidentais do AJI para minimizar e evitar tanto
quanto possível a publicação de artigos, especialmente
notícias e histórias de reportagem, que retratassem Israel sob
luz negativa e expusessem as práticas da ocupação
israelense contra o povo palestino.
Esta tendência tornou-se bastante evidente ultimamente. O
Aljazeera.net/English, por exemplo, deixou de relatar importantes
notícias de Israel tais como a admissão por um oficial militar de
Israel de que a Força Aérea Israelense despejara mais de um
milhão de micro-bombas de fragmentação
(cluster bomblets)
sobre o Líbano durante a recente guerra com o Hezbollah.
Analogamente, uma matéria que citava Eifi Eitam, chefe de um partido
israelense de extrema direita, a apelar à expulsão dos palestinos
dos territórios ocupados, foi relegada sem ir ao ar, mesmo depois de a
AJI ser notificada do assunto.
Há dúzias, se não centenas, de exemplos semelhantes, todos
a mostrarem que a AJI está ao par e deliberadamente evita a cobertura
séria das dificuldades palestinas, especialmente e sua
secção de reportagem na qual abundam toda espécie de
notícias a cobrir vários, incluindo bizarros, assuntos e
acontecimentos.
No princípio deste ano, um dos editores pró-israelense
desdenhosamente rejeitou uma reportagem de sentido humano sobre uma estudante
palestina da Universidade Al-Najah, em Nablus, que perdeu o seu olho direito
devido a uma bala de borracha israelense durante o seu trajecto do campus para
casa.
O editor senior, Vince Ryan, argumentou que o assunto não era uma
prioridade e que posteriormente a aljazeera.net/English prepararia uma
cobertura mais abrangente de casos semelhantes. A promessa da cobertura,
naturalmente, nunca foi concretizada.
Finalmente, graças a intensa argumentação deste redactor,
o artigo, um dos melhores que já escrevi, foi publicado (ver
"Rubber Bullets Menace West Bank, aljazeera.net/English") [a
versão original e a versão mais forte da reportagem de Khalid
estão publicadas
aqui
].
Ryan aparentemente nunca perdoou a minha "audácia" como
evidencia o seu comportamento posterior. Na terceira semana de Junho deste
ano, submeti um artigo sobre crianças palestinas e menores mortos pelo
exército israelense e grupos para-militares de colonos judeus. O artigo
estava baseado em informação estatística divulgada pelo
Ministério da Saúde palestino.
Entretanto, ao invés de me agradecer pelo artigo, Ryan, mal viu o
artigo, e sem lhe dar um segundo pensamento, escreveu-me que eu estava a mentir
e que a informação contida no artigo era falsa. O seu tom
vingativo e nervoso era contundente e o volume de voz também.
Incapaz de argumentar com o homem, que a propósito nunca aceitou nem
mesmo uma única proposta para um artigo de reportagem que ele
considerasse como "anti-israelense" (propus-lhe numerosas ideias de
notícias e peças de reportagem), voltei-me para Russel Merryman,
Editor Chefe para a Web e serviços nos Novos Media na AJI, que é
provavelmente o mais pró-israelense operacional na AJI de hoje.
Contudo, ao invés de tratar o assunto profissionalmente, Merryman
lançou uma arenga contra mim, acusando-me de falta de profissionalismo e
de violar a ética profissional da al-Jazeera.
Ele argumentou que empregar termos tais como "mártires", mesmo
entre aspas, era não profissional (a maior parte dos media árabes
empregam a palavra em relação aos palestinos mortos pelo
exército israelense). É este mesmo homem que prontamente publica
citações de porta-vozes do exército israelense e de
líderes judeus caluniando os palestinos como "terroristas,
assassinos e criminosos".
Descobrindo que não tinha justificações contra mim,
Merryman recorreu a tácticas diversionistas, acusando-me de criar
confusão e agitação na aljazeera.net (a partir da
Cisjordania as autoridades israelense de ocupação
proibiram-me mesmo de sair da Cisjordania). E após uma breve troca de
emails ele disse-me que eu estava despedido.
Já escrevi mais de 300 peças para a aljazeera.net/English,
provavelmente mais do que qualquer outra pessoa, e nunca realmente encontrei
qualquer problema com os anteriores editores da aljazeera.net. Na verdade, o
próprio Merryman, quando começou a trabalhar com a aljazeera.net
em 2005, louvou o meu profissionalismo e experiência como jornalista.
Não sei com certeza porque Merryman comportou-se desse modo. É
muito possível que ele tenha sido pressionado ou seduzido por algum dos
seus amigos sionistas a garantir que artigos "anti-israelenses"
seriam rejeitados.
Mas tenho as minhas suspeitas, as quais estou certo de que serão
justificadas um dia.
Pode ser que ele quisesse fazer da cobertura AJI do conflito
palestino-israelense uma cópia a papel químico daquela da BBC
onde passou vários anos como produtor, apresentador e editor de
notícias.
Isto na verdade seria um desastre total. Foi devido à cobertura da BBC
da ocupação israelense da Palestina, pelo menos em parte, que a
maioria dos jovens britânicos chega a pensar que os palestinos eram
"os colonos" e que os judeus eram as vítimas da
"violência colonizadora palestina", como foi revelado num
inquérito britânico de opinião uns poucos anos
atrás. Sim, naturalmente, é importante ser neutro e imparcial
quando se cobrem conflitos internacionais. Mas é ainda mais importante
ser honesto quando se trata de conflitos assimétricos onde um lado
é ocupado e oprimido e o outro é o ocupante e opressor.
Finalmente, embora algo tardiamente, a administração da
Al-Jazeera tornou-se consciente (não sei em que medida) do silencioso
mas real lobby pro-israelense que estava a montar-se de modo tranquilo e firme
dentro da AJI.
Esta montagem tinha duas manifestações principais: neutralizar
correspondentes palestinos de Israel e dos territórios palestinos
ocupados e a confiança intensa nos relatos da agência de
notícias americana, a Associated Press, encarada por muitos como
agência de notícias de Israel.
É desnecessário dizer que os relatos desta agência, cujos
gabinetes em Jerusalém são dotados de pessoal extremamente
pro-israelense, judeus americanos fanáticos, nunca perde uma
oportunidade de recordar aos leitores que o Hamas foi uma
organização palestina e que os combatentes da resistência
palestina eram realmente terroristas. A AP nunca recorda a máxima
eterna que o terrorista de alguém é o combatente da liberdade de
outro e que o próprio Israel também é encarado por
centenas de milhões de pessoas em todo o mundo como um estado terrorista
por excelência.
Procurando rectificar a situação antes de ser demasiado tarde,
administradores de topo da Al-Jazeera nomearam Ibrahim Hilal, um jornalista
egípcio capaz, para garantir que a AJI não se afastasse demasiado
das políticas do canal mãe em língua árabe.
Hilal, sob instruções do administrador-geral da Al-Jazeera,
Waddah Khanfar, pediu a Merryman para reinstalar-me como correspondente na
Palestina. Merryman cumpriu, mas a contra-gosto.
Em 18 de Julho Merryman enviou-me uma mensagem concisa e condescendente a
exigir que eu lhe pedisse desculpas (não sei do que) e a advertir que o
meu desempenho seria monitorado com atenção. Ele disse que me
encarregaria de escrever algumas peças, mas que ele e apenas ele
decidiria quando e como. Na realidade ele nunca me pediu para escrever uma
única peça, apesar das numerosas notícias dignas de nota
que se verificam na Palestina.
Propus-lhe que eu preparasse algumas reportagens sobre a situação
em Gaza, a luta pelo poder entre o Hamas e o Fatah e como Israel estava a
impedir palestinos de terem acesso a alimentos e trabalho.
Ele nem mesmo respondeu a estas mensagens.
Na semana passada Merryman decidiu mudar todas as regras que regem as
políticas editoriais do aljazeera.net/English. As novas regras garantem
que "estórias indesejáveis", como reportagens que
expõem a brutalidade e o racismo israelense contra os palestinos ou
aquelas que retratam Israel como uma entidade assemelhada aos nazis, não
teriam abrigo no aljazeera.net.
Merryman de facto já pôs esta política em prática.
Durante os últimos três ou quatro meses nem uma única
reportagem acerca da perseguição israelense aos palestinos, a
qual ultimamente assumiu proporções quase genocidas, apareceu no
sítio web em inglês da Al-Jazeera. Isto acontece enquanto no
sítio abunda toda espécie de reportagens acerca das
vítimas do Katrina e assuntos estranhos semelhantes.
Merryman afirma que recebeu autorização plena do director geral
da Al-Jazeera, Waddah Khanfar, garantindo-lhe autoridade plena para decidir o
que é publicado no sítio web em inglês da Al-Jazeera.
Tenho tentado comunicar minhas preocupações acerca desta grave
tendência que agora permeia por toda a AJI a responsáveis de topo
da Al-Jazeera, alguns dos quais manifestaram abertamente sua
frustração e exasperação quanto a isso.
Um responsável deu-me a entender que "Merryman vê com
absoluto desprezo o modo como o canal em árabe é dirigido".
Um outro disse-me que "este homem e os seus amigos querem tornar a
Al-Jazeera numa outra Fox News ou mesmo num outro
Jerusalem Post
". Este último é o principal jornal em inglês da
extrema direita de Israel, que muitos liberais consideram como um porta-voz dos
colonos judeus.
Estou certo de que este artigo assinará o meu afastamento da Al-Jazeera.
Contudo, estou disposto a sacrificar os meus próprios interesses
pessoais e a perder o grosso dos meus rendimentos na esperança de que os
responsáveis da Al-Jazeera, particularmente o presidente Hamad bin
Thamer al-Thani e o Director Administrador Waddah Khanfar venham a abrir os
seus olhos e a garantir que a Al-Jazeera International não se torne uma
nova arma nas mãos dos inimigos dos árabes e dos
muçulmanos.
Pelo amor de Deus, não os deixem sequestrar a Al-Jazeera sob o disfarce
da ética jornalística.
15/Setembro/2006
[*]
Jornalista palestino.
O original encontra-se em
umkahlil.blogspot.com/2006/09/pro-israeli-editors-seek-to-influence.html
e em
http://www.uruknet.org.uk/?p=m26723&hd=0&size=1&l=e
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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