"Mas isso é disparatado!"
por Georges Galloway
entrevistado pela Sky News
[*]
Jornalista:
O homem que temos hoje connosco não tem por hábito guardar as
suas opiniões para si próprio. Opôs-se com
determinação à invasão do Iraque e actualmente
defende que o ataque do Hezbollah contra Israel se justifica; o deputado do
Respect (um partido político) de Bethnal Green (Londres) está
connosco no nosso estúdio no centro de Londres. Boa noite
ou
aliás, bom dia Sr. Galloway. Como é que justifica o seu apoio ao
Hezbollah e ao seu líder, Cheikh Hassan Nasrallah?
Deputado Galloway:
Que disparate! Que absurdo! Que maneira tão estúpida de expor o
assunto e que pergunta tão falsa e idiota! Há 24 anos, no dia do
nascimento da minha filha acabo de celebrar o seu 24º
aniversário corria eu para o hospital (para a ver nascer) por
entre uma enorme manifestação em Londres contra a invasão
e a ocupação israelense do Líbano. Israel invadiu e ocupou
o Líbano durante toda a vida da minha filha de 24 anos. O Hezbollah faz
parte da resistência nacional do Líbano e tenta expulsar
tendo afastado com sucesso a maioria dos israelenses das suas terras em 2000
Israel do resto das suas terras e resgatar milhares de prisioneiros
libaneses que foram sequestrados por Israel nos termos da sua
ocupação ilegal do Líbano. É Israel que ocupa o
Líbano, é Israel que ataca o Líbano, não é o
Líbano que ataca Israel. Vocês acabam de passar uma reportagem em
que 10 soldados se apressam a invadir o Líbano e pedem-nos para chorar o
resultado da operação, como se se tratasse de um crime de guerra
(NdT: os soldados israelenses são mortos). Israel está a invadir
o Líbano e matou 30 vezes mais civis libaneses
Jornalista:
(tentando interrompê-lo) Você acaba de identificar
Deputado Galloway:
(tomando de novo a palavra com vigor)
que não foram mortos em
Israel. Parece-me que deveria ser você a justificar o preconceito
evidente que está escrito em todas as linhas do seu rosto e inscrito em
todas as nuances da sua voz e que obstrui todas as perguntas que faz.
Jornalista:
Você tocou na questão essencial, não é assim?
Quando diz que o Hezbollah foi criado nos anos 80 para se livrar dos soldados
israelenses que estavam presentes no solo libanês, e como disse agora
(NdT: ela faz questão de realçar) isso foi feito, também,
já em 2000
Deputado Galloway:
Não, isso não foi feito
Jornalista:
(interrompendo)
Então, isso foi um fracasso
Deputado Galloway:
Não, isso não foi feito, e esse é um aspecto essencial
que vocês escondem aos vossos telespectadores. Israel foi obrigado a
deixar uma grande parte do Sul do Líbano em 2000, mas continua a ocupar
parte do Líbano desde 2000
Jornalista:
(interrompendo)
O objecto de uma recente resolução da ONU
são terras de cultivo
Deputado Galloway:
(continuando)
Milhares de prisioneiros foram sequestrados por Israel, e o
Hezbollah, bem como o Governo libanês querem que eles sejam
libertados
Jornalista:
(interrompendo)
Falei há instantes com o porta-voz do ministro
dos Negócios Estrangeiros israelense e ele disse que três
libaneses foram capturados, talvez você prefira este termo, e
que serão levados perante um juiz num tribunal.
Deputado Galloway:
Por favor! Tente fazer a sua memória recuar além de 4 semanas!
Eu estou-lhe a falar de milhares de prisioneiros sequestrados durante os 18 anos de
ocupação ilegal do Sul do Líbano por Israel. São
esses prisioneiros que devem ser libertados em troca dos soldados israelenses
que foram capturados no início desta nova etapa da crise.
Jornalista:
Posso questioná-lo sobre uma reportagem que saiu no
Sunday Telegraph
em que se afirma que o Irão deu ao Hezbollah mísseis de longo
alcance capazes de atingir qualquer parte de Israel? O Irão, que segundo
esse deputado iraniano, ajudou a fundar o Hezbollah
esse deputado disse
ainda que o Irão deu autorização à
organização para atingir Tel-Aviv
Acha que pode culpar
Israel por querer destruir esses mísseis?
Deputado Galloway:
Mas é incrível! Isso é completamente absurdo! Os Estados
Unidos deram a Israel mísseis que podem atingir, não apenas
qualquer cidade do Líbano, mas sim qualquer cidade em todo o mundo
árabe incluindo o Irão. Por que razão terão os
Estados Unidos direito de dar mísseis de longo alcance, incluindo
centenas de cabeças nucleares, a Israel, e o Irão não pode
ser autorizado a fornecer mísseis?
Jornalista:
(interrompendo)
Porque os estão a dar a uma
organização terrorista!
Deputado Galloway:
Mas ela não é uma organização terrorista, a
não ser na visão da SKY (News), do
The Times,
do
The Sun
(ele é interrompido)
Jornalista:
Não, não, isso não é assim
Desculpe, mas vou
ter de o interromper Sr. Galloway
Deputado Galloway:
(ele continua)
do
The News of the World
de Rupert Murdoch. O Hezbollah não é uma
organização terrorista, é Israel que é um Estado
terrorista!
Jornalista:
É uma organização terrorista, sim. Mas aqueles que
são terroristas para uns, são combatentes da liberdade para
outros
isso já sabe! Aos olhos da maior parte das pessoas, eles
são considerados terroristas
Deputado Galloway:
Não. Eles não são!
Jornalista:
Eles tinham escolha, não é assim? Diga-se a verdade, eles tinham
opção, tal como o IRA, de fazer política
Deputado Galloway:
Não, não, não, isso não tem nada a ver com o IRA!
Escute Ana, você tem razão, você tem razão
Jornalista:
(interrompendo-o) O que eu estou a dizer é que eles tinham uma
opção: fazer política, eles já têm dois
ministros no Governo
Deputado Galloway:
Não vamos mais discutir este assunto! Ana, você tem razão,
aquele que é um terrorista para uns, é um combatente da paz para
outros
No entanto, não tem razão quando diz que aos olhos
da maior parte das pessoas, o Hezbollah é terrorista. Aos olhos da maior
parte das pessoas, Israel é um Estado terrorista, e é isso que
você não consegue compreender
e que está na origem do
vosso preconceito urdido em todas as vossas reportagens e em todas as perguntas
que me fez nesta entrevista.
Jornalista:
Posso lhe fazer uma pergunta?
Eu fazia alusão ao IRA e ao
Sinn Fein que decidiram abraçar a política; o Hezbollah tinha a
oportunidade de abraçar a política, eles já têm dois
ministros no Governo, muito bem vistos no Sul
Deputado Galloway:
(ele interrompe-a) Mas o que é que está a dizer? Eles já
fazem parte da política! São pessoas do Sul do Líbano
Jornalista:
Era o que eu estava a dizer
Escute-me! Eu dizia que eles já
têm dois ministros no Governo. Por que razão é que eles
capturaram e mataram dois soldados israelenses na fronteira? Certamente isso
representa um fracasso na ambição que eles têm de se
tornarem uma força política no interior do Líbano
democrático
Deputado Galloway:
Porque Israel ocupa o país deles e detém milhares dos seus
compatriotas, como reféns sequestrados, nos seus calabouços.
É muito simples de compreender, a não ser que pense
através de um relógio que remonta a apenas quatro semanas
Se você soubesse, e você já é suficientemente
crescida para estar mais bem informada, que as origens destes conflitos
não remontam a quatro semanas, nem a quatro anos, nem a catorze anos,
mas a vários decénios. Vocês querem que as pessoas
acreditem que a crise se iniciou quando o relógio começou a
trabalhar na SKY News
Jornalista:
Não, não é assim
Deputado Galloway:
Felizmente, os libaneses estão mais bem informados.
Jornalista:
Queria fazer-lhe uma última pergunta. Acha que as quatro semanas, como
referiu, os 26 dias do conflito, retardaram as ambições do
Hezbollah
Deputado Galloway:
(Galloway sorri) O Hezbollah está prestes a ganhar a guerra!
Jornalista:
Deixe-me terminar, deixe-me terminar, deixa-me terminar, ou não?
Há um grande número de soldados irsraelenses na fronteira, e eles
(o Hezbollah) pretendem ser uma boa organização política
para construir um governo libanês democrático com uma (
) que
deixou igualmente um estado independente, isso também perpetrou as
agressões
Deputado Galloway:
Que pergunta idiota! Como você é tola! O Hezbollah está
prestes a ganhar a guerra! Pode ver isso na segunda metade do ecrã!
Jornalista:
Essa não é a minha pergunta!
Deputado Galloway :
O Hezbollah é hoje mais popular no Líbano entre os
cristãos, os sunitas, os xiitas, entre todos os árabes, entre
todos os muçulmanos, como nunca foi antes! Foi Israel que perdeu a
guerra, e com ele, Bush e Blair, por terem organizado esta guerra
politicamente. Eles perderam do ponto de vista político. Esta é
uma derrota para Bush, para Blair e para Israel, só você é
que não vê isso!
Jornalista:
Deixe-me retomar a minha pergunta de há pouco
não acha que
é um fracasso, dado que o Hezbollah foi criado para retirar os soldados
israelenses do território libanês, que agora ele tenha mais
soldados israelenses no território libanês do que há vinte
dias atrás?
Deputado Galloway:
Em todo o caso, parece-me que eles estão a receber uma boa
sova sagrada na outra parte do ecrã que estou a
ver. Talvez você não consiga ver, mas eu estou a ver que eles
estão a ser bem fustigados nesta guerra
Se isso é uma
vitória, não sei o que se pareceria com uma derrota
A
verdade é que este conflito se vai perpetuar. As
resoluções das Nações Unidas não
regulamentam nada. Não dão nada ao Líbano, não
dão nada aos prisioneiros das masmorras israelenses, e como um
dos meus pares já chamou a atenção, Israel acaba de
capturar ainda mais personalidades políticas palestinianas: ministros,
deputados e milhares de outros continuam retidos nos calabouços
israelenses, e esta guerra vai continuar até que se chegue a um acordo,
e esse acordo significa a retirada de Israel de todos os territórios
usurpados que ele ocupa actualmente desde a guerra de 1967, a
libertação de todos os prisioneiros políticos, bem como um
Estado palestiniano tendo por capital Jerusalém Este. Não
há justiça, não há paz! Não ficará
sem trabalho tão de pressa, enquanto jornalista, em Jerusalém,
acredite!
Jornalista :
Como de costume, o Sr. Galloway provocou uma enorme reacção via
e-mail, tanto a favor como contra si. Vamos acabar por aqui, mas devo dizer-lhe
que muitas pessoas acharam as suas declarações chocantes, pois
encontram-se ainda a enterrar os seus mortos, ouviram-no dizer que isto era uma
boa fustigação sagrada
Deputado Galloway:
Vocês estão-se nas tintas! Vocês querem lá saber
disso! Vocês não sabem nada das famílias palestinas.
Vocês nem sequer sabem que elas existem! Dê-me um único nome
de um único membro daquela família de sete pessoas que foram
massacradas na praia de Gaza por um navio de guerra israelense! Vocês nem
os nomes delas sabem, mas sabem perfeitamente todos os nomes de cada soldado
israelense que foi feito prisioneiro durante este conflito, porque acreditam,
consciente ou inconscientemente, que o sangue israelense é mais
importante do que o sangue dos libaneses ou dos palestinianos. É essa a
verdade, mas o discernimento dos vossos telespectadores já o sabe.
06/Agosto/2006
[*]
O vídeo encontra-se em
http://www.youtube.com/watch?v=-brkmfrxrQY
A transcrição em francês encontra-se em
www.convergencedescauses.com/
Tradução de Rita Maia.
Esta entrevista encontra-se em
http://resistir.info/
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