Os árabes e Israel
Maxime Rodinson (1915-2004)
foi um grande sábio. Historiador, linguista e orientalista, era um
homem de uma cultura prodigiosa. Falava árabe,
hebraico, turco, aramaico, gueza (etíope antigo) e muitas outras
línguas. São dele obras fundamentais para a
compreensão do mundo muçulmano e do Médio Oriente, como por
exemplo
Islam et capitalisme
(1966),
L'Islam: politique et croyance
,
La fascination de l'Islam
,
Israel, a Colonial-Settler State?
. A sua biografia de
Maomé
(1961) é até hoje considerada a melhor de todas as
que já se fizeram. Além de sábio, foi um homem que
interveio activamente nas causas progressistas nomeadamente na defesa
do povo palestino.
O ensaio aqui publicado já tem 40 anos, mas parece tão actual
como na data da sua publicação. A finura da sua
análise, que permite compreender as nuances dos aspectos
políticos, culturais e psicológicos das várias classes
sociais e das relações de poder, são típicos de
Rodinson. Poucos autores marxistas conseguem captar e transmitir
tais nuances sem perda de rigor.
Descrever a atitude dos árabes face ao problema que o Estado de Israel
lhes coloca é um empreendimento demasiado fácil ou demasiado
difícil. Demasiado fácil se nos limitarmos às
proclamações oficiais que se podem resumir em algumas palavras
sem cambiantes: hostilidade total, não reconhecimento absoluto da
existência factual desse Estado. Podemos, justamente, citar as recentes
declarações mais matizadas do presidente Habib Bourguiba. Ainda
assim, ele próprio se apressou a atenuar o impacto das
declarações e, oficialmente, em Israel, considerou-se que elas
não constituíam senão uma variante sem importância
das habituais teses árabes. Mas, por outro lado, se nos propusermos
analisar a atitude real dos árabes, nas suas múltiplas
variedades, chocamos com uma tarefa que me parece inelutável (porque a
posição oficial tem, pelo menos, essa atitude em grande conta e
de outro modo não poderia ser) mas também de uma enorme
complexidade. Quem são os árabes, afinal? É
necessário distinguir países, regiões, tipos de vida,
classes sociais. E acima de tudo, dever-se-á tentar discernir os
níveis do pensamento e da expressão. Os políticos
responsáveis, toda a gente sabe, não falam frequentemente como
pensam. Mas os cidadãos irresponsáveis, também eles, se
podem deixar levar por estados de exaltação extrema que
não correspondem ao seu modo de pensar em tempos de paz e de
segurança (particularmente nos países mediterrânicos), eles
podem mascarar as suas ideias por razões de medo do poder ou da
opinião, de respeito humano, de interesse ou de ambição,
eles podem passar de um entusiasmo belicoso a uma depressão resignada e
derrotista, e vice-versa. Dever-se-á, igualmente, distinguir o discurso
do pensamento íntimo e até subconsciente. E tudo isto evolui de
acordo com os tempos e as circunstâncias.
É por essa razão que o esboço que eu arrisco aqui recorre
obrigatoriamente, a partir daquilo que eu penso conhecer dos humanos e das suas
atitudes, a interpretações fundadas na intuição e
nessa imaginação sociológica, cujo carácter
insubstituível foi demonstrado por C. Wright Mills na abordagem dos
problemas humanos.
Tomemos como ponto de partida, aquele que é sem dúvida o mais
profundo e o mais geral sentimento subjacente, ao qual poucos árabes
podem escapar, mesmo quando o sublimam ou o ultrapassam, ou o contradizem: o
sentimento de uma imensa humilhação. A razão disso
é clara. Em 1948, as armadas árabes do Oriente sofreram uma
derrota amarga. Os árabes, não comprometidos imediatamente,
estavam solidários com a humilhação dos orientais, e com
razão, pois o mundo entendeu o sucedido como um sinal manifesto da
incapacidade político-militar dos árabes no seu conjunto.
Já não se tratava de uma derrota militar ocasional. A guerra da
Palestina não pode ser compreendida senão como o culminar de um
processo comprometido há mais de meio século; e para os
observadores exteriores, praticamente unânimes, durante toda a
extensão do conflito, os árabes não fizeram mais do que
coleccionar derrotas políticas até tornarem fatais, digamos
assim, a decisão de partilha da ONU em 1947, a guerra subsequente (o
recurso a esta guerra é em si uma derrota) e os seus resultados.
Sobretudo, esta humilhação é concebida no contexto de uma
humilhação mais geral, reforçada por desenvolvimentos que
a alimentam. Os árabes vêm sendo humilhados, desde há muito
tempo, em todos os planos. Eles pertencem a esse Terceiro Mundo que os europeus
consideraram, a partir do século XIX, como retrógrado, e em
estado de "colonisabilidade" ("
colonisabilité"
), como referiu o argelino Malek Bennabi, e que esses mesmos europeus chegaram
a colonizar, efectivamente. Disse-se e redisse-se o quanto essa
situação tinha sido particularmente insuportável para um
povo herdeiro de uma rica tradição cultural, que havia ele
próprio dominado os outros durante tanto tempo, que havia transmitido a
ideologia forjada no seu seio, a religião muçulmana, a tantos
outros povos, e que, cem vezes mais, possuía um sentimento de
superioridade. Os árabes sabem muito bem (pelo menos, os mais
lúcidos e os mais corajosos que o proclamam) que a
situação presente, juntamente com as disposições
agressivas do Ocidente, resulta de fragilidades internas reais
[1]
. A era colonial não terminou assim há tanto tempo, e a
independência reconquistada, em muitos lugares do mundo, não
apagou as lembranças de uma época tão próxima, nem
tão pouco impediu o ressentimento amargo provocado pela superioridade
técnica e económica do Ocidente facto que suscita
obviamente situações de subordinação no Oriente. O
Ocidente tem-se mostrado sempre preparado para reconquistar o terreno perdido,
seja pela via económica (e eis o tema mais debatido do neocolonialismo),
seja pela via militar, quando as circunstâncias o permitem, como parece
ter sido o caso do Suez. E por fim, restam os territórios irredentos:
a Arábia do Sul e precisamente Israel ao qual chamam oficialmente
"a Palestina ocupada". As fragilidades denunciadas subsistem em
grande parte e a consciência delas também.
Tudo, na maneira de compreender o problema por parte dos
não-árabes, contribui para exacerbar esse sentimento de
humilhação. Na Europa e na América, geralmente, e muitas
vezes também no Terceiro Mundo, os árabes apercebem-se que o
ponto de vista israelense é profundamente compreendido e aceite. Entre
os temas mais recorrentes da propaganda israelense, se encontramos
frequentemente algum cepticismo relacionado com os direitos históricos
dos judeus ao território palestino, outros temas já se tornaram,
por assim dizer, ideias feitas. Tomemos como exemplo, a ideia de que o
sofrimento extremo dos judeus lhes confere o direito irrecusável a um
Estado próprio situado onde eles muito bem entenderem. Por todo o lado,
os árabes chocam com a admiração pelos feitos do Estado
sionista, com a apologia das virtudes civis e militares, políticas e
económicas, culturais e sociais dos israelenses. Face a esta
conjuntura, os árabes têm a perfeita consciência de que a
sua propaganda é inadequada, que as suas explicações e
justificações parecem pouco convincentes, que os seus
esforços encontram no máximo uma cortesia indulgente. Um
palestino constata amargamente o sucesso obtido automaticamente, no seio dos
árabes, por uma posição ou por um livro ocidental
favorável às teses árabes, ainda que estas sejam
insuficientes ou censuráveis. É que "todos os que se
preocupam com a questão no Ocidente são partidários do
sionismo
Israel está habituado a encontrar partidários
entre historiadores e pensadores ocidentais e os árabes estão
habituados a encontrarem aí amigos fiéis do sionismo"
[2]
.
Em França, a direita apoia Israel e, entre os campeões da sua
causa, contam-se até mesmo anti-semitas dissimulados. A esquerda
está atormentada, dividida entre o seu anti-colonialismo, que
frequentemente tendeu a ser filo-árabe, e o seu anti-semitismo que lhe
parece tornar difícil uma adesão às teses árabes.
Os Estados Unidos asseguram formalmente a sua amizade para com os árabes
e o seu maná é distribuído pelos diversos Estados
árabes. Mas uma parte considerável dos recursos públicos e
privados de Israel vem de lá
[3]
, e nas situações de grande instabilidade, os árabes sabem
bem que Israel encontrará na maior potência do mundo um protector
eficaz. O anti-sionismo visceral intrínseco aos árabes coincidiu
com o anti-sionismo dogmático dos dirigentes soviéticos,
decorrente da sua ideologia e das bases da sua política interna. Mas,
nunca a URSS se alinhou às posições árabes, nem
declarou formalmente o Estado de Israel ilegítimo na sua essência.
A URSS tem mantido as suas relações oficiais com Israel e, por
vezes, ensaia alguns passos na direcção de uma
aproximação mais cordial. E ninguém esquece, apesar de
tudo o que se passou depois, que a URSS teve um papel crucial no reconhecimento
do Estado judeu, e que aviões checoslovacos contribuíram bastante
para a sua vitória. É verdade que a China, passado pouco tempo,
expressou o seu apoio total às reivindicações
árabes. Todavia, a China é um protector longínquo, pouco
eficaz no terreno, e para mais, comprometedor e até perigoso. Deixo de
lado países menores em que árabes e Israelenses se entregam a uma
luta de influência.
Grosso modo,
digamos que é raro que esses países apoiem absolutamente as
teses árabes. Ninguém sabe o que aconteceria se os árabes
adaptassem a doutrina de Hallstein e cortassem as relações com
todos os Estados que reconhecem Israel! Os Estados árabes preferem
não fazer a experiência e tudo parece dar-lhes razão.
Os governos deveriam ter em conta essa humilhação generalizada
entre as populações árabes, pois esse é o grande
sentimento, proveniente da situação concreta e subjacente a todas
as suas atitudes. No entanto, deverão ter também em
atenção, sentimentos igualmente provenientes de
situações que vêm contrabalançar essa
tendência profunda, e aqueles que a vêm acentuar.
O que a contrabalança de forma mais vigorosa é evidentemente o
apoliticismo, o "indiferentismo" político. Tal como noutros
lugares, muitas pessoas, nos países árabes não se
interessam pela política. No entanto, são menos numerosos do que
nas sociedades industriais, pois a evolução política
além parece mais directamente ligada ao futuro objectivo de cada um (o
que me parece coerente). Por outro lado, um apoliticismo habitual pode, em
tempo de crise, ser facilmente substituído por uma
participação apoiada nos valores preconizados pelo elemento
politizado da nação. E depois, os políticos têm
frequentemente má consciência. O ambiente geral inspira-lhes o
sentimento de que a atitude deles é falsa, inautêntica
(exactamente no sentido em que Sartre fala de judeus inautênticos),
sentem que
deveriam
ter uma opinião, e que essa opinião deveria ser a mesma que
é professada pela maioria da elite da sua nação. Eles
evitam (por essa razão e concerteza também em virtude dos perigos
objectivos aos quais eles se exporiam) declarar de modo demasiado
público a sua apatia relativamente aos valores exaltados de forma
tão recorrente.
Deve-se ainda falar, mais ou menos no mesmo sentido, do cepticismo disseminado
nestas sociedades no que concerne a política dos governantes e os seus
slogans. Durante milénios, estes povos foram habituados a serem
governados por pessoas de estatuto altamente superior ao seu, e muitas vezes
até por estrangeiros. O Egipto nunca viu, por assim dizer, um
verdadeiro egípcio no poder entre a queda do faraó Nectanebo II
(341 a.C.) e a revolução de 1952. O governo (
hokoûma
) é para eles uma espécie de mal necessário, do qual se
deve duvidar ao máximo e do qual convém estar afastado, tanto
quanto possível. Naturalmente, este estado de espírito
está em vias de perder a sua influência com o surgimento da vida
política moderna, e os seus partidos muitas vezes transbordantes de
jovens entusiasmados. Contudo, ele é ainda fortemente divulgado e
acentuado. Enquanto discípulo indirecto desses velhos sábios
orientais, La Fontaine escrevia: "O nosso inimigo é o nosso mestre
isto digo-vos eu em bom francês". Isto disse-se durante
séculos em bom egípcio antigo, em bom aramaico, e em bom
árabe.
Deste cepticismo resultava uma certa bonomia humana nas relações
políticas. Temos pouca consciência disso no Ocidente, em que a
atenção está principalmente virada para os excessos das
multidões em fúria. Essas são reacções de
tempos de crise, para as quais podemos facilmente encontrar equivalentes no
Ocidente, e para as quais, já meio século passado, o doutor
Gustave Le Bon achava necessário constituir uma teoria geral, a partir
dos exemplos ocidentais, que se revelou insustentável. Mas em tempo
normal, e em virtude do que tem vindo a ser dito, o homem comum, nos
países orientais, estabelece a distinção entre os
desígnios dos governantes, as opções políticas das
organizações, e a humanidade dos executantes, enviados muitas
vezes para fazer um trabalho que os repugna, ou mesmo que o façam com o
coração, porque se comprometeram num momento de entusiasmo, de
transporte ideológico durável, o seu carácter superficial
é conhecido, o seu eu profundo pode, a qualquer momento, aflorar na
sequência de uma derrota, que até pode ser pessoal. No Oriente,
tanto como no Ocidente impregnado da teoria da responsabilidade colectiva,
não se tem um homem por responsável pleno daquilo que os seus
dirigentes o mandam fazer, ou até mesmo daquilo que a
exaltação o pode levar a fazer. Daí resultam
fenómenos que surpreendem o observador ocidental, e que ele pode
interpretar mal, como as amizades inesperadas, as simpatias curiosas, os laivos
de compreensão fugitiva do outro.
Uma outra atitude, mais ou menos dissimulada, mas frequente, é a
admiração pelo adversário. Ela coincide com a
admiração (amarga, na maioria das vezes) dessa
civilização europeia da qual o Estado de Israel é a
emanação, a evidência emancipada em terras do Oriente, como
Herzl outrora tinha já desejado. Naturalmente, existe, de forma geral,
entre os árabes, o reconhecimento de poderes e de capacidades que lhes
faltam, e que eles juram que vão adquirir pela via da
retaliação. Essa imagem, entre os árabes, do "judeu
engenhoso e hábil ao ponto quase do sobre-humano", de Israel dotado
"de uma determinação obstinada, de uma energia e de uma
habilidade imensas, de uma dedicação unilateral na busca dos seus
objectivos"
[4]
não tornou senão os contactos mais difíceis, devido ao
medo constante de serem "enrolados". É fácil de
encontrar na literatura francesa do período entre 1872 e 1914, a
expressão de sentimentos análogos relativamente ao talento das
organizações alemãs, estranhamente permeada por
comentários de desprezo (tal como no Oriente árabe) por esse
rival e pela própria natureza da sua superioridade. Mas também
encontramos muitas vezes, antes de 1948, em todo o caso, uma
admiração de outro tipo, uma emulação suscitada
pelas conquistas dos colonos judeus na Palestina mandatária, um desejo
de seguir as suas doutrinas, que resultava por vezes numa
identificação com as suas causas. Encontrei alguns desses
admiradores, cujos sentimentos os levaram a uma atitude de
"colaboração" com as potências ocidentais, e mais
tarde com Israel. Ainda um outro tipo de atitude pode ser ilustrado pela
figura espantosa de Abdel Razak Abdel-Kader, descendente do grande emir
argelino, casado, salvo erro, com uma judia e trabalhador, durante algum tempo,
num
kibutz.
Abdel-Kader, inspirado pelas suas ideias comunistas, chegou a teorizar sobre
uma possível união revolucionária árabe-israelense,
e a constituir na Argélia uma curiosa organização de
resistência esquerdista, todavia microscópica e sem futuro
[5]
.
A admiração é ainda suscitada pelas obras materiais dos
judeus estabelecidos em solo palestino. Muitos invejam, também, as
instituições democráticas que a sua estrutura social e a
sua origem cultural, de carácter europeu, lhes proporcionaram. Muitos
viram aí, como A. Abdel-Kader, um fermento revolucionário para as
populações árabes ou, pelo menos, uma fonte de
influência benéfica num sentido liberal. A partir destes
elementos, muitas vezes se gera alguma confusão. Ninguém nega
que a influência e a emulação se verificam, mas que
daí decorra uma incitação à fraternidade ou
à aliança, isso já é uma visão fantasiada
das coisas. Israel continua a ser o inimigo. Nós podemo-nos inspirar
no inimigo
mas apenas para o combater melhor.
É necessário, também, observar que, naturalmente, as
atitudes variam de um país árabe para outro. O Levante
árabe sente-se intimamente implicado na crise palestiniana, o que
é perfeitamente natural: a Síria, o Líbano, a
Jordânia e, em menor grau, o Iraque formam juntamente com a Palestina
árabe uma espécie de unidade que só foi quebrada pelos
regulamentos resultantes da guerra de 1914-1918. A história destas
antigas províncias do Império otomano é, em boa medida,
uma história comum, mesmo após a sua separação
política. Foi aí que se forjou a ideologia do nacionalismo
árabe. O Egipto, praticamente separado do Império Otomano
há mais de um século e meio, está mais distante, possui um
sentimento de originalidade bastante claro, e foi atingido tardiamente pela
vaga do arabismo. Os povos dos outros países árabes, ainda mais
distantes, sentem-se menos envolvidos, excepto quando são tocados, em
virtude do sentimento de solidariedade árabe, de modo desigual, mais ou
menos profundamente, dependendo dos lugares e das camadas sociais, pelos
sentimentos que eu descrevi. Conseguimos ter alguma noção dessas
variações, pelo menos, no que toca ao Oriente. Os
inquéritos conduzidos pelos sociólogos da Columbia University, em
1950-1951, mostraram que 4% dos egípcios citava como principal
dificuldade, a ser enfrentada pela nação, o problema palestino,
contra 2,7% dos libaneses, 21% dos sírios, e 51% dos jordanos (entre
estes 65% dos refugiados originários do território do Estado de
Israel e 43% dos outros)
[6]
. O orientalista germano-americano, Ilse Lichtenstadter, passou cinco meses
numa aldeia egípcia no Sudoeste do Cairo em 1951, e ao interrogar os
habitantes (todos eles muito atentos à política internacional,
como acontece, aliás, a maior parte do tempo neste país) sobre a
sua atitude perante a guerra da Palestina, constatou que: "nenhum dos
numerosos homens com quem falou mostrou qualquer tipo de entusiasmo por essa
guerra; alguns puseram mesmo em dúvida o bom senso da
participação egípcia. Eles eram partidários da paz
e da cooperação entre Israel e o seu país. Apesar de
também serem árabes, não se sentiam solidários com
os outros árabes nessa questão, contudo tinham alguma simpatia
para com os refugiados. Esta atitude mostra claramente que eles são
egípcios pela sua lealdade nacional, e árabes apenas pela sua
tradição cultural"
[7]
.
Raramente encontraríamos a expressão de tais atitudes na
Síria, no Iraque e na Jordânia. Para mais, os acontecimentos
políticos subsequentes trouxeram modificações mais ou
menos importantes que se ficaram a dever a uma educação
política mais estimulada das populações, na opinião
de alguns, ou aos efeitos nefastos da propaganda oficial, segundo outros. Em
todo o caso, o que é certo é que elas variam, em contexto
idêntico, conforme a conjuntura política.
Se certos sentimentos difundidos vêm atenuar ou contrabalançar o
intenso sentimento subjacente de humilhação, outros, pelo
contrário, vêm reforçá-lo, exacerbá-lo.
Existem as sequelas da judeofobia medieval das comunidades muçulmana e
cristã um tema que não é novo, e que tem sido
desenvolvido diversas vezes. É, com efeito, um factor que deve ser
cuidadosamente avaliado: não se deve sobrestimá-lo, nem
subestimá-lo. Naturalmente, as teses podem ser alimentadas nas fontes
dogmáticas, tais como: a crucificação de Jesus, no caso
dos cristãos, e até de alguns muçulmanos; a
oposição dos judeus de Medina ao Profeta, com todas as
acusações corânicas que daí decorrem, no caso dos
muçulmanos. Mas, a sua força vem da situação
medieval em que se encontrava, ainda há pouco tempo, a sociedade
oriental. As comunidades religiosas, fechadas sobre si mesmas, assemelhavam-se
quase a pequenas nações: a devoção, a lealdade, a
subordinação eram dirigidas a elas e nunca ao Estado. Estas
comunidades gozavam de uma grande autonomia, regulavam elas mesmas a sua vida
interna e as suas instituições. O Estado apenas exigia delas o
imposto e o tributo. Poderíamos ainda compará-las com o sistema
otomano dos
millet,
que tem antecedentes distantes e que ainda se conserva em larga medida no
Líbano, e de certo modo, também um pouco em Israel. Entre estes
grupos confessionais estabeleciam-se, naturalmente, relações de
competição com as habituais consequências:
desconfiança, hostilidade mais ou menos acentuada conforme as
circunstâncias, por vezes, ódio e desprezo. A comunidade
privilegiada era certamente aquela que dispunha do Estado; a comunidade
muçulmana aceitava os outros e não procurava afastá-los de
modo nenhum, contudo acordava-lhes um estatuto inferior. Desta
situação resultava, logicamente, uma atitude de superioridade
desprezível à qual as comunidades inferiorizadas respondiam com
um ódio calculado.
Esta situação foi-se transformando, em certa medida, ao longo de
todo o século XIX e princípios do século XX,
principalmente no Próximo Oriente otomano, no Egipto e na Tunísia
(enquanto que em Marrocos, por exemplo, se conservava um carácter
marcadamente medieval, na Argélia estabeleciam-se relações
muito particulares, em consequência da profundidade da
colonização e da aplicação do decreto de
Crémieux). Era agora a vez destes países percorrerem o caminho
que a Europa tinha seguido um século ou dois antes, na
direcção de um Estado unificado, em que a religião se
tornou tendencialmente um assunto privado, em que a igualdade perante a lei era
proclamada. As comunidades cristãs e judaicas começavam a perder
as suas especificidades e as proclamações teóricas do
laicismo e da igualdade iam entrando lentamente nas suas práticas. Um
judeu egípcio, Jacques Sanua, teve um papel importante no movimento
nacionalista dos anos 1880-1910
[8]
. No jovem Parlamento turco de 1908, dois deputados judeus foram eleitos.
Naturalmente, as sequelas da situação anterior subsistiram, mas
apenas a título de vestígios em vias de extinção.
Todavia, durante esta fase, as particularidades remanescentes do sistema
oriental medieval transformaram-se em vantagens. As comunidades conservavam
esse estatuto de entidade colectiva (negada na Europa devido ao espírito
rousseauniano da Revolução francesa) que se ia tornando agora
igualitário. Os chefes de todas as comunidades tinham autoridade
reconhecida. Apenas para mencionar um detalhe, as regras de vida de cada
comunidade eram admitidas como sendo igualmente legítimas, e as grandes
festas de cada uma delas eram igualmente festejadas em vários Estados.
Esta situação veio a ser transformada, em parte, pela
declaração de Balfour e a sua promessa de um "home"
nacional judeu na Palestina, que os árabes entenderam como uma
orientação que levaria inevitavelmente à
alienação e à usurpação desse
território, apesar das negações oficiais a esse respeito.
Tudo se agravou, naturalmente, quando se aperceberam que os seus receios se
confirmavam na elaboração do programa de Biltmore (1942) pelos
próprios sionistas, na proclamação do Estado de Israel
(1948), e nos conflitos militares que se seguiram. A partir daqui, o estado de
guerra passou a dominar e os armistícios de 1949 não lhe puseram
um fim, como se sabe. Houve em toda a parte um extravasar deste
fenómeno a que eu chamei de racismo de guerra, e do qual praticamente
nenhum conflito internacional está isento. O inimigo israelense era
identificado com os judeus do mundo inteiro, o que não é de
estranhar, porque efectivamente os sionistas apresentavam-se como a
avant-garde
da totalidade do "povo judeu", tentavam mobilizar judeus em toda a
parte para defenderem a sua causa, e em parte conseguiam-no, não
cessavam de se gabar do apoio do "judaísmo" ou da
"judaícidade" ("
judaïcité
") mundial. Por outro lado, era fácil fundar estes sentimentos
novos sobre as sequelas da situação medieval de que
falámos há pouco. Por fim, é preciso ter em conta que,
durante o período compreendido sensivelmente entre 1933-1943, a
propaganda alemã tinha difundido os seus temas anti-britânicos e
denunciado a "plutodemocracia" ocidental servindo-se da hostilidade
árabe relativamente ao sionismo e disseminando a tese da
conspiração judia universal
[9]
explicação tentadora dos acontecimentos. No entanto, os
judeus dos países árabes só começaram a sofrer
seriamente as repercussões do conflito depois da guerra de 1948
[10]
.
A tudo isto juntavam-se ainda ressentimentos de ordem social e nacional, sendo
as comunidades judaicas vistas muitas vezes no Oriente (à
semelhança das comunidades cristãs em larga medida) como
representantes da elite da fortuna, apreciadora, em certa medida, do modo de
vida ocidental, ligada frequentemente e estreitamente pelos interesses e pela
cultura às potências colonizadoras.
Deste modo, o conflito palestino teve consequências no sentido do
desenvolvimento de uma judeofobia generalizada, à qual se chama
tão inexactamente, na Europa, de anti-semitismo. É
necessário, todavia, insistir no facto de que esses desenvolvimentos
são o subproduto de um conflito limitado no espaço e,
previsivelmente, no tempo. Esses desenvolvimentos não foram teorizados,
senão raramente, por grupos bastante restritos que elaboraram uma tese
geral explicando toda a evolução histórica através
da maldade de uma raça maldita, como foi o caso, em larga escala, no
Ocidente, a partir de 1880. Os políticos responsáveis, de modo
geral, fizeram questão de afirmar que o seu anti-sionismo não
significava um antijudaísmo generalizado e tentaram demonstrá-lo
através de gestos simbólicos
[11]
. Apesar de tudo, a judeofobia muçulmana nunca atingiu as
formulações excessivas que o R. P. Demann listava ainda há
pouco tempo e que ele denunciava nos catecismos cristãos mais utilizados
ainda actualmente. Em todo o caso, consequentemente, a atitude árabe
não se pode explicar através de um "anti-semitismo" de
princípio, teorizado, racial ou religioso, que seria a base dos
comportamentos actuais. Do mesmo modo que o anti-semitismo europeu
também não tem como fundamento
real
um mito, mas antes uma situação que engendrou esse mito.
Simplesmente essa situação não foi criada
pelos
judeus, mas contra os judeus. O mito organizava-se unicamente em torno da
significação de ofensas imaginárias, ou quando estas
tinham algum fundo de verdade, não provinham da vontade livre de grupos
judeus, mas da situação social em que eles tinham sido
forçosamente colocados (a prática da usura, por exemplo). Em
contrapartida, o anti-sionismo árabe desenvolve-se essencialmente a
partir de uma ofensa bastante real (mesmo que esta seja desculpada ou
justificada), de uma situação criada
pela
vontade livre de grupos judeus poderosos que se proclamavam representantes do
conjunto de todos judeus. Apenas essa ofensa real confere alguma
significação aos mitos anti-semitas por vezes avançados
para a explicar. Sem ela, esses mitos perdem toda a sua força.
É agora possível compreender melhor a atitude não das
massas, mas dos políticos.
Devemos distinguir de imediato duas categorias. Para começar, a dos
políticos não responsáveis: aqueles que dirigem os
partidos excluídos do poder, ou a eles aderem. Seguindo as leis bem
conhecidas da dinâmica dessas organizações, sabemos que
elas têm todo o interesse em insistir ao máximo nos sentimentos
incutidos nas massas, em afirmar a sua intransigência relativamente a
eles, em tentar mobilizar as massas com o intuito de as capitalizar. Estes
são factores permanentes de intransigência extremista.
Seria necessário um estudo detalhado, que não pode ser agora aqui
desenvolvido por mim, para mostrar como o tema da guerra contra Israel se
inseriu, e sob que formas, no programa e na acção desses diversos
grupos
[12]
. De forma breve, digamos simplesmente que os grupos ideológicos de
direita, insistindo, como é a sua tendência normal, numa unidade
nacional ou religiosa, acabaram por reduzir o conflito a uma pura luta nacional
(casualmente com manifestações de teor racista); enquanto que os
grupos de esquerda viram nesse conflito a manifestação local de
uma luta socionacional internacional, um aspecto do esforço geral do
imperialismo-colonialismo (
istî mâr
)
[13]
para explorar e dominar o Terceiro Mundo. Toda esta conjuntura tem,
evidentemente, os seus cambiantes. Por exemplo, numerosos elementos de direita
foram tentados, em virtude do seu realismo intrínseco, a negociar com os
factos consumados; e o ódio às tendências árabes
socializantes foi por vezes mais forte do que o ódio nacionalista, e
estranhas colusões se esboçaram na sombra. Mas, a violência
dos sentimentos populares subjacentes travaram a marcha nesse sentido.
À esquerda, os marxistas sentiam-se frequentemente bastante angustiados
pelas diversas reviravoltas da política soviética no que tocava
aos comunistas de estrita obediência
[14]
, pelo seu internacionalismo de princípio e pela prioridade que eles
acordavam às lutas sociais. A questão foi um verdadeiro
tormento, em particular, para os comunistas israelenses, judeus ou
árabes. E não cessou de o ser. No Líbano, por fim, onde
a luta inter-confessional está activa, os partidos cristãos
ficaram divididos entre o seu arabismo e as suas preocupações com
a política interna, situação que os levou a considerar
tentadora a constituição de um bastião
judeo-cristão do Levante, contra o qual as vagas ameaçadoras do
Islão se viriam quebrar.
Uma segunda categoria é, então, a dos políticos
responsáveis: os que estão no poder. Convém lembrar que
muitos deles foram recrutados entre os antigos irresponsáveis. Vimos
aqui ser reproduzida a velha dinâmica dos compromissos exigidos entre o
programa ideológico e as realidades que o poder revela. Nenhum governo
pode menosprezar impunemente as aspirações populares que
tentámos descrever acima. A promessa redobrada dos grupos
políticos que permaneceram irresponsáveis deve ser tomada em
séria consideração. Senão vejamos: as
circunstâncias políticas internacionais e a
repartição do poder militar travaram essa guerra de
retaliação que seria a conclusão lógica dos
sentimentos subjacentes das massas, que muitos dos grupos irresponsáveis
apaixonadamente reclamam para si.
O resultado normal dessas tendências opostas é o imobilismo. Se
não se pode fazer a guerra, também é muito difícil
fazer-se a paz. A partir de 1948, imediatamente depois da
cessação das hostilidades, o secretário-geral da Liga
Árabe, Abd ar-Rahman Azzâm, explicava a um jornalista:
"Nós possuímos uma arma secreta, da qual nós sabemos
servir-nos melhor do que de canhões e de metralhadoras, e essa arma
é o tempo. Enquanto não estabelecermos a paz com os sionistas, a
guerra não está acabada e enquanto a guerra não estiver
acabada não há vencedores nem vencidos"
[15]
.
Assim explica também, abertamente, um professor americano que, por essa
altura, desempenhou um papel diplomático: "sem directivas claras
provenientes de uma fonte única, porém com o consentimento e a
participação de muitos árabes, formou-se a política
do não reconhecimento e do boicote. Era uma maneira de manter a guerra
com Israel nas frentes em que os árabes ainda tinham recursos. Tal como
a recusa americana em reconhecer a China comunista, essa situação
exprimia a recusa moral da ideia de levar ajuda e reconforto ao inimigo. Com a
recusa do reconhecimento e com a interdição das
relações, esperava-se que os árabes pudessem impedir os
israelenses de consolidarem o seu Estado e de tomarem o seu lugar no seio da
comunidade internacional. Raciocinando a partir de um sentido profundo da
história, os árabes encontravam nas colónias dos Cruzados
em território árabe muitos paralelismos com Israel. Mesmo que
Israel não pudesse ser imediatamente esmagado, poderia chegar o dia em
que o apoio que o Ocidente lhe prestava enfraqueceria. E ao falharem na
afirmação de uma existência independente, os israelenses,
tal como os Cruzados, renunciariam e voltariam para o lugar de onde tinham
vindo"
[16]
.
Assim se compreendem as razões profundas dessa "dança de
guerra"
[17]
dançada em torno de Israel. Assim se compreende a ingenuidade da
indignação dos israelenses ou dos seus partidários,
imaginando os "bons árabes" cada um à sua maneira, e
descobrindo depois, subitamente, que aqueles que lhes haviam sido apresentados
como "moderados" são, no que toca ao não reconhecimento
de Israel e consequentemente, pelo menos teoricamente, no que toca à
guerra, a projecção ideal desse não reconhecimento, como
consequência aparentemente obrigatória do devir. Pois que o
projecto de guerra é com efeito a face "ideológica" do
não reconhecimento. Em contrapartida, também os árabes se
sentem chocados e indignados ao descobrirem que os israelenses
"moderados" ou "compreensivos" não querem pôr
em causa a existência independente de Israel nem tão pouco a
autonomia de decisão (nomeadamente em matéria militar) da
colectividade nacional formada pelos judeus estabelecidos em solo palestino.
Mais uma vez, é necessário ter em conta as diferenças ou
talvez os cambiantes da situação. Ninguém no Oriente
é capaz de identificar os sentimentos populares acima descritos. A
promessa redobrada dos governos dos diversos países árabes,
representado o programa dos partidos em luta no conjunto da região,
reduzem rapidamente à posição mínima comum todos
aqueles que parecem manifestar o mais pequeno desejo de se afastarem. O
statu quo
tem certamente as suas vantagens do ponto de vista da política interna
ao favorecer o apelo à União sagrada, ainda que seja falso ver
aí, como fazem tendencialmente os israelenses, a única ou mesmo a
principal causa da atitude árabe. Mas também têm os seus
inconvenientes. Os dirigentes conservadores realistas foram tentados por
esquemas de aproximação. Em determinados momentos, o mesmo se
passou com os socializantes. O receio de uma revolta do sentimento popular
mobilizado pelos rivais políticos impediu-os de irem mais longe nesse
sentido. Apenas Bourguiba, que conjugava um poder interior forte e uma
opinião menos sensibilizada para um problema que se lhe afigurava
já distante, pôde ir um pouco mais longe.
Será que o imobilismo vai continuar indefinidamente? Não
há certezas. O que é certo é a inflexibilidade das
atitudes públicas. Mas a pressão dos factos também
é forte. A abertura a negociações requer no
mínimo, do lado de Israel, se este não pretender apenas assistir
à capitulação do adversário, algumas
concessões territoriais ou algumas concessões sobre a
organização política do território
palestino-jordano. Do lado árabe, ela reclama o reconhecimento do
Estado de Israel, ou seja, a aceitação da derrota. Trata-se de
dois pré-requisitos inaceitáveis actualmente pela opinião
pública do adversário e, consequentemente, pelos dirigentes. E
se alguns cambiantes fossem adicionados? Se, de um lado, fosse reconhecido o
direito à existência da colectividade nacional israelense, com a
satisfação de concessões por parte desta; e se, do outro
lado, se admitisse que há um preço a pagar (que não poria
em causa a autonomia de decisão, mesmo militar, da nova
nação) para ganhar a aceitação dessa no
território onde ela se instalou, tal como no passado um preço
teve de ser pago aos antigos mestres, os britânicos? Alguns passos
tímidos recentes vão nesse sentido. O exemplo da
República da Irlanda, que acabou por reconhecer recentemente a
existência da Irlanda do Norte criada em condições
análogas às de Israel é encorajador. Todavia, a
evolução nesse sentido exige, pelo menos, um abandono das
ilusões. De lado algum, se de deve esperar uma conversão
súbita e gratuita do outro perante o olhar daquele que permanece, no
momento, o inimigo.
Notas
[1] Este assunto foi particularmente desenvolvido pelo historiador
libanês cristão Constantin ZURAYQ, num livro intitulado
significativamente
Ma'nà na-nakba
[A significação do desastre].
[2] NAJÎ' ALLOUSH,
Al-marîra ilà Falatîn
[Partida para a Palestina], Beyrouth, Dar at-talî'a, 1964, p. 62.
[3] Cf. por exemplo SITTON (S.),
Israel, immigration et croissance,
Paris, Cujas, 1963, pp. 282 sqq. 356-358.
[4] CREMEANS (C.D.),
Arabs and the world, Nasser's Arab nationalist policy,
New York, London, Praeger, 1963, p. 182. Aconselha-se a leitura da
notável descrição da "imagem árabe dos
Israelenses" (pp. 182-187), seguida da descrição da
"imagem israelense dos Árabes" (pp. 187-190) na obra deste
professor e diplomata americano.
[5] Cf. ABDEL-KADER (A.R.),
Le conflit judéo-arabe,
Paris, Maspéro, 1961 (Cahiers livres, 20-21). Eu fiz uma
crítica longa deste livro em
Vérité-Liberté
16-17, févr.-mars 1962, pp. 5-7. O homem é entrevistado, de
forma bastante divertida, em
La Terre retrouvée
du 1er avril 1966, pp. 1-2, e exaltado como "um verdadeiro comunista
árabe" (p. 8) por esse órgão, habitualmente, muito
pouco inclinado à esquerda.
[6] LERNER, (D.),
The passing of the traditional society, Modernizing the Middle East,
Glencoe (III.), the Free Press, 1958, p. 313.
[7] LICHTENSTADTER (I.), "An Arab Egyptian family".
Middle East Journal
6 (4), Autumn 1952, pp. 379-399; note-se que essa cidade é povoada por
Árabes de raiz, conscientes da sua origem (p. 398).
[8] Ver o artigo que lhe é consagrado por J.M. LANDU na
Encyclopédie de l'Islam,
2eme éd., Leyde, Brill; Paris, Besson, 1962, cf. t. I:
Abû Naddâra
[o homem dos óculos verdes], p. 146; a sua alcunha é o
título do diário satírico que ele publicou.
[9] Sem, contudo, se comprometer a fundo nas promessas aos árabes e
guardando durante muito tempo a ideia da complementaridade do objectivo
sionista com o seu: limpar a Alemanha de elementos "estrangeiros".
Cf. HIRSZOWICZ (L.), "Nazi Germany and the Palestine partition plan",
Middle Eastern Studies
1 (1), oct. 1964, pp. 40-65.
[10] Cf. por exemplo CHOURAQUI (A.),
L' Alliance israélite universelle e la renaissance juive contemporaine
(1860-1960),
Paris, Presses universitaires de France, 1965, pp. 331 sqq., 380 sqq.
[11] Não sem confusões. Cf. as oposições
árabes à adopção do esquema sobre os judeus, pelo
Concílio, acompanhadas de protestos em que se declaram isentos de
anti-semitismo. Todavia, a persistência israelense em identificar a causa
de Israel com a da "judaícidade" mundial só encoraja
essas confusões.
[12] Cf. por exemplo NAJÎ' ALLOUSH,
op. cit.,
pp. 89 sqq.
[13] A palavra árabe significa simultaneamente "colonialismo"
e "imperialismo", facto que não está isento de
consequências. O conceito marxista de imperialismo foi adoptado por todas
as tendências. Sobre essa diferença de interpretação
entre a direita e a esquerda, cf. os números dos inquéritos
sociológicos em LERNER (D.),
op. cit.,
p. 294.
[14] O discurso de Gromyko nas Nações Unidas, em 1947, apoiando a
solução da partilha da Palestina tendo como corolário a
criação de um Estado judeu, solução à qual
se opuseram fortemente os partidos comunistas do mundo árabe até
ao dia anterior, teve um efeito bastante semelhante ao provocado pelo pacto
germano-soviético em 1939 na Europa.
[15] BRETHOLZ (Wolfgang), Aufstand der Araber, München, Wien, Basel,
Verlag K. Desch, 1960, p. 215.
[16] CREMEANS (C.D.),
op. cit.,
p. 193.
[17] LERNER (D.),
op. cit.,
p. 9.
O original encontra-se na
Revue française de science politique,
1966, vol. 16, nº 4, pgs. 785-798. Tradução de Rita Maia.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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