A tendência à estagnação no capitalismo maduro
por
Monthly Review
Durante o período que vai da década de 1970 à de 1990, a
Monthly Review,
sob a direcção de Harry Magdoff e Paul Sweezy, manteve-se
à parte na sua análise da tendência para a
estagnação económica no capitalismo avançado e na
sua visão de que a diminuição do crescimento
económico nos anos 70 era uma manifestação desta
tendência secular. A explosão financeira que também emergiu
nestes anos era encarada como uma tentativa por parte do sistema para protelar
a estagnação através da expansão do crédito
e da dívida, mas ao custo do aumento da fragilidade financeira.
Economistas de esquerda mais jovens, que haviam principiado os seus estudos na
próspera década de 1960, muitas vezes tinham dificuldade em
apreciar a importância deste argumento, o qual parecia ir contra a sua
própria experiência anterior e as crenças em vigor na
profissão económica e de ser um regresso à
década de 1930. Em consequência, por vezes eles exprimiam
preocupações de que a MR estava a tornar-se repetitiva, mesmo
obsessiva, a concentrar-se sobre a estagnação (reforçada
pela financiarização) como "a tendência normal"
do capitalismo monopolista. Quando tais preocupações e as suas
ramificações para a revista foram levantadas numa reunião
da MR no fim da década de 1980, Sweezy (lembra-se um de nós)
simplesmente sorriu e disse de forma bem-humorada: "Então teremos
de repetir isso ainda mais. Em breve eles descobrirão que é
adequado".
Mas, apesar da suprema confiança dos editores da MR de que a
experiência histórica acabaria, por fim, por ultrapassar
crenças arraigadas, e não obstante um declínio na
tendência de crescimento económico nas economias capitalistas
maduras que até agora perdurou quatro décadas, a
consideração séria do problema da estagnação
foi muito lenta a emergir, mesmo à esquerda. A principal razão
para isto é, sem dúvida, a contínua explosão
financeira durante todo este período, a qual levantou a economia
através de bolhas sucessivas. Os lucros subiram (juntamente com a
dívida) mesmo quando a produção arrefecia. A profundidade
do problema era portanto oculta à maior parte dos analistas
económicos que não olhavam para além dos resultados
financeiros nos balanços das corporações. Envolvidos na
efervescência financeira e confiando nos seus próprios modelos
abstractos, os economistas ortodoxos eram impermeáveis às
fraquezas estruturais da "economia real" subjacente. No fim da
década de 1990 e princípio da de 2000 eles chegaram mesmo a falar
mais uma vez tal como haviam feito no fim da de 1960 e no fim da de 1980
do fim do ciclo de negócios.
A Grande Crise Financeira, contudo, teve o efeito de desmantelar todas estas
ilusões. Numa entrevista à National Public Radio a 3 de Julho,
Lakshman Achuthan, director do Economic Cycle Research Institute, declarou o
facto óbvio (embora raramente reconhecido fora das páginas desta
revista) que os Estados Unidos e outras economias capitalista estiveram a
desacelerar durante décadas. "Desde a década de 1970",
observou, "o ritmo de expansão económica dos EUA esteve
sempre a descer, tornando-se cada vez mais fraco. E a última
expansão foi a mais fraca desde a II Guerra Mundial sob qualquer
aspecto". Representando um ponto de vista mais ortodoxo, a revista
Economist
de 24 de Junho levantou o espectro de "um longo período de
estagnação" na Europa e nos Estados Unidos semelhante ao do
Japão a partir do princípio da década de 1990.
Paul Krugman chegou a argumentar na sua coluna no
New York Times
de 27 de Junho que a economia está nas "primeiras etapas" de
uma "Terceira Depressão" (as duas primeiras foram a chamada
"Longa Depressão" a seguir ao Pânico de 1873 e a Grande
Depressão da década de 1930). A recuperação
económica que começou "possivelmente ... no último
Verão" nos Estados Unidos, destacou Krugman, não podia ser
mais encarada como o sinal do fim desta Terceira Depressão do que
"a melhoria nos negócios que começou em 1933" foi
"o fim da Grande Depressão". Mais exactamente, o problema real
era o de uma baixa contínua do crescimento económico, com a
economia cada vez mais presa numa "armadilha deflacionária".
Para o analista económico Robert Kuttner, a escrever no
Huffington Post
de 21 de Junho, as actuais condições de alto desemprego e
procura declinante apontam para nada menos do que "uma Grande
Estagnação".
Certamente não queremos exagerar a extensão em que observadores
económicos da corrente dominante chegaram neste momento a apreciar o
problema da estagnação ou a reconhecer a sua
relação com a financiarização da economia. Os
comentários acima mencionados representam vislumbres de entendimento. A
dramática reconsideração necessária quanto a isto
ainda está incipiente. A raiz do problema no processo de
acumulação do capital monopolista-financeiro maduro é
escassamente reconhecida no âmbito da teoria neoclássica
dominante, cuja totalidade do aparelho conceptual a inibe de tratar tais
questões.
Mas a história está a ensinar as suas próprias
lições e elas não podem ser negadas. Na estimativa de
Achuthan, a actual recuperação que começou um ano
atrás já está a perder força antes de ter ganho
impulso: "Juntamente com a economia estado-unidense, a economia global em
termos de taxas de crescimento está a retrair-se. E estamos a fazer de
um modo razoavelmente sincronizado. Quase todo país do mundo está
em vias de ver as suas taxas de crescimento começarem a desandar".
"Se isto é correcto, como parece provável, então a
estagnação económica tornar-se-á um assunto de
investigação crescente no próximo ano.
Para aqueles que estão a abordar esta questão pela primeira vez,
a melhor introdução, bem como as análises mais coerente do
problema total, acreditamos, pode ser encontrada em
Monopoly Capital
[1]
de Paul Baran e Paul Sweezy (1966) além do trabalho conjunto de Magdoff
e Sweezy em cinco livros que representam um comentário
contínuo sobre o desenvolvimento da tendência estagnacionista (e
das bolhas financeiras a que deram lugar):
The Dynamics of U.S. Capitalism
(1972),
The End of Prosperity
(1977),
The Deepening Crisis of U.S. Capitalism
(1981),
Stagnation and the Financial Crisis
(1987), e
The Irreversible Crisis
(1988). Uma tentativa de actualizar a história até à
crise actual pode ser encontrada em
The Great Financial Crisis
(2009), de John Bellamy Foster e Fred Magdoff. Uma análise mais
acessível da presente crise pode ser encontrada em
The ABCs da Economic Crisis
(2009), de Fred Magdoff e Michael Yates. Estão todos disponíveis
na
Monthly Review Press
.
[1] Ed. em português:
Capitalismo monopolista,
Zahar, Rio de Janeiro, 1966.
O original encontra-se em
http://monthlyreview.org/nfte100901.php
. Tradução de JF.
Este editorial encontra-se em
http://resistir.info/
.
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