A mãe de todas as crises de energia
Os leitores de
Power
enfrentam hoje problemas graves no negócio do fornecimento de
electricidade. Mas dentro em breve um problema muito maior explodirá no
palco: o pico da produção mundial de petróleo. Tem
havido previsões de peritos acerca do pico desde que o primeiro furo nos
EUA, em 1859, começou a produzir, e muitas previsões de pico
posteriores demonstraram-se incorrectas.
Reservas de petróleo mergulham
Mas o petróleo é um recurso finito e em esgotamento
rápido. Não há dúvida de que a
produção mundial de petróleo atingirá o pico em
algum momento no tempo. Em 2005, a Real Academia de Ciências da
Suécia notou que 54 dos 65 mais importantes países produtores de
petróleo do mundo haviam ultrapassado o pico da produção e
estavam em declínio. A academia também também observou
que a taxa de acréscimo de novas reservas em todo o mundo era de menos
de um terço da taxa de consumo mundial. Outros acreditam num
rácio muito mais elevado.
O momento da máxima produção mundial de petróleo
é incerto, em grande parte devido a dados fracos e enviesados, de modo
que as previsões têm variado amplamente. Recentemente, um certo
número de profissionais altamente qualificados concluíram que o
mundo parece estar num planalto
(plateau)
na produção de petróleo, com declínios em vias de
acontecer no futuro próximo. Incluídos neste grupo estão
homens da indústria como Henry Groppe, T. Boone Pickens e Matt Simmons.
Ken Deffeyes, geólogo aposentado de Princeton, acredita que o pico
começou no fim de 2005. O competente e franco Sadad al Husseni,
vice-presidente aposentado da Saudi Aramco, recentemente teve a coragem de
declarar a mesma coisa. O seu conhecimento de base pode ser melhor do que o de
qualquer outro homem do petróleo.
Por que está questão está a voar abaixo do radar
público? Parcialmente é porque muitos economistas acreditam que
quanto mais aumenta o preço de uma mercadoria, mais oferta
chegará ao mercado. Aquela teoria funcionou para minerais. Mas a
geologia do petróleo é diferente de uma forma fundamental.
Além disso, a experiência dos últimos cinco anos contradiz
a doutrina económica
O silêncio da indústria
Optimistas influentes, incluindo a ExxonMobil, Cambridge Energy Research
Associates, e a Energy Information Administration do Departamento de Energia,
asseguram-nos que não há motivo para preocupação
imediata. Uma grande companhia de petróleo tem problemas muitos
sérios em falar acerca do pico petrolífero, porque em
simultâneo teria de esboçar um novo plano de negócios a fim
de evitar uma queda das suas acções no mercado. No entanto, de
maneira cautelosa, as principais empresas petrolíferas advertiram
das sérias perturbações que estão a fermentar num
recente estudo do National Petroleum Council.
Durante décadas a produção mundial de petróleo tem
crescido ao ritmo do crescimento do PIB mundial. O petróleo é o
sangue vital das sociedades modernas; os produtos petrolíferos
alimentam quase tudo o que se movimenta. Pense-se na dificuldade em construir
nova infraestrutura de energia eléctrica sem a disponibilidade imediata
de combustíveis líquidos, quem dirá a preços muito
mais elevados do que os de hoje.
Minha análise recente do problema "Mitigation of Maximum
World Oil Production: Shortage Scenarios" (a ser publicado em Energy
Policy,
Elsevier) considerou um programa de choque à escala mundial em
eficiência de combustíveis líquidos e
substituição de líquidos a partir do carvão, areias
petrolíferas, xisto e gás natural. Ele conclui que, após
20 anos de esforços, uns 25 a 35 milhões de barris de
poupanças e líquidos substitutos podem conseguir-se. Mas se a
produção mundial de petróleo declina à taxa de uns
modestos 2% ao ano, o mundo ainda faltaria ao mundo dezenas de milhões
de barris de petróleo por dia. Se, como acreditam alguns, se
verificasse uma taxa de declínio de 5% ao ano, seria provável uma
devastação económica ainda mais severa. E o que se passa
se exportadores de petróleo decidirem reter o desenvolvimento da sua
oferta de petróleo de acordo com o seu próprio interesse nacional?
Quando se aproximas o pico, os preços de combustíveis
líquidos e a volatilidade dos mesmos aumentará dramaticamente.
É o que está a acontecer agora. Contudo, como pode haver outras
explicações para as actuais circunstâncias, elas por si
mesmas não constituem um indicador confiável. Nós
provavelmente só reconheceremos o instante do pico no espelho retrovisor.
Enfrentar a mudança inevitável
Lidar com um pico na produção mundial de petróleo
será extremamente complexo, envolverá milhões de
milhões de dólares e exigirá décadas de
esforços intensos sob as melhores das condições.
Um quadro para o planeamento da amenização da escassez de
petróleo foi desenvolvido e apresentado recentemente no relatório
Hirsch. Para estimar os impactos económicos potenciais, o
relacionamento potencial entre a percentagem de declínio na oferta
mundial de petróleo e a percentagem de declínio no PIB mundial
foi estimada ser aproximadamente 1:1, o que significa que um declínio de
1% na produção mundial de petróleo criaria uma
redução de 1% no PIB mundial. Mesmo reconhecendo o facto de que
a precisão é impossível em tais matérias, é
preocupante contemplar o impacto da escassez mundial de petróleo a
crescer a 2% a 5% ao ano ao longo de um longo período.
Há tecnologias prontas para amenizar o pico petrolífero, tais
como a liquefacção do carvão, a recuperação
melhorada
(enhanced)
de petróleo, e a de gás-para-líquidos, para mencionar
umas poucas. Elas serão necessárias porque as frotas de
veículos e maquinaria movidos a combustíveis líquidos por
todo o mundo têm vidas úteis que se medem em décadas, e
elas não podem ser substituídas rapidamente mesmo sob a melhor
das condições. Primeiro, o público terá de
tornar-se consciente do problema; segundo, teremos de substituir nosso actual
e excessivamente complicado método de tomada de decisão em
todo o mundo; e terceiro, grandes compromissos terão de ser feitos e
seguidos. As tarefas pela frente serão dantescas; também
haverá notáveis oportunidades de contribuir e lucrar.
[*]
Conselheiro de energia do Management Information Services Inc. Dirigiu o
programa de fusão do Departamento de Energia dos EUA, chefiou o gabinete
de Washington do Electric Power Research Institute e foi presidente do
departamento de energia e sistemas ambientais da Academia Nacional.
O original encontra-se em
www.powermag.com/powerweb/archive_article.asp?a=152-DEPT_Comm&y=2007&m=december
.
Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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