A sangrenta estrada para Damasco:
A guerra da tripla aliança contra um Estado soberano
Há uma clara e esmagadora evidência de que o levantamento para o
derrube do presidente Assad, da Síria, é uma violenta tomada de
poder conduzida por combatentes apoiados no estrangeiro que mataram e feriram
milhares de soldados, polícias e civis partidários do governo
sírio, bem como a sua oposição pacífica.
A indignação expressa por políticos no Ocidente, em
estados do golfo e nos mass media acerca da "matança de
pacíficos cidadãos sírios a protestarem contra a
injustiça" é cinicamente concebida para encobrir
informações documentadas da tomada violenta de bairros, aldeias e
cidades por bandos armados, brandindo metralhadoras e colocando bombas nas
estradas.
O assalto à Síria é apoiado por fundos, armas e treino
estrangeiro. Devido à falta de apoio interno, contudo, para ter
êxito, será necessária intervenção militar
directa estrangeira. Por esta razão foi montada uma enorme campanha de
propaganda e diplomática para demonizar o legítimo governo
sírio. O objectivo é impor um regime fantoche e fortalecer o
controle imperial do Ocidente no Médio Oriente. No curto prazo, isto
destina-se a isolar o Irão como preparativo para um ataque militar de
Israel e dos EUA e, no longo prazo, eliminar outro regime laico independente
amigo da China e da Rússia.
A fim de mobilizar apoio mundial a esta tomada de poder financiada pelo
Ocidente, Israel e Estados do Golfo, vários truques de propaganda tem
sido utilizados para justificar mais uma flagrante violação da
soberania de um país após a destruição com
êxito dos governos laicos do Iraque e da Líbia.
O contexto mais amplo: Agressão em série
A actual campanha ocidental contra o regime independente de Assad na
Síria faz parte de uma série de ataques contra movimentos
pró democracia e regimes independentes que vão desde a
África do Norte até o Golfo Pérsico. A resposta
imperial-militarista ao movimento egípcio para a democracia que derrubou
a ditadura Mubarak foi apoiar a tomada de poder da junta militar e a campanha
assassina para prender, torturas e assassinar mais de 10 mil manifestantes
pró democracia.
Confrontado com movimentos democráticos de massa semelhantes no mundo
árabe, ditadores autocrático do Golfo apoiados pelo Ocidente
esmagaram seus respectivos levantamentos no Bahrain, Yemen e Arábia
Saudita. Os assaltos estenderam-se ao governo laico da Líbia onde
potências da NATO lançaram um bombardeamento maciço por ar
e mar a fim de apoiar bandos armados de mercenários, destruindo assim a
economia e a sociedade civil da Líbia. O desencadeamento de
gangster-mercenários armados levou à devastação da
vida urbana na Líbia, assim como das regiões rurais. As
potências da NATO eliminaram o regime laico do coronel Kadafi, que foi
assassinado e mutilado pelos seus mercenários. A NATO superintendeu a
mutilação, aprisionamento, tortura e eliminação de
dezenas de milhares de apoiantes civis de Kadafi, assim como
funcionários do governo. A NATO apoiou o regime fantoche quando ele
iniciou um massacre sangrento de cidadãos líbios descendentes de
africanos sub-saharianos bem como imigrantes africanos sub-saharianos
grupos que beneficiaram de generosos programas sociais de Kadafi. A
política imperial de arruinar e dominar na Líbia serve como
"modelo" para a Síria: Criar as condições para
um levantamento em massa conduzido por fundamentalistas muçulmanos,
financiados e treinados por mercenários ocidentais e de estados do golfo.
A estrada sangrenta de Damasco para Teerão
Segundo o Departamento de Estado, "A estrada para Teerão passa
através de Damasco": O objectivo estratégico da NATO
é destruir o principal aliado do Irão no Médio Oriente;
para as monarquias absolutistas do Golfo o objectivo é substituir uma
republica laica por uma ditadura vassalo teocrática; para o governo
turco o objectivo é promover um regime cordato aos ditames da
versão de Ancara do capitalismo islâmico; para a Al Qaeda e os
seus aliados fundamentalistas Salafi e Wahabi, um regime teocrático
sunita, limpo de sírios laicos,
alevis
e cristãos servirá como trampolim para projectar poder no mundo
islâmico; e para Israel uma Síria divida ensopada em sangue
assegurará a sua hegemonia regional. Não foi sem uma
antevisão profética que o senador estado-unidense Joseph
Lieberman, um uber-sionista, dias após o ataque da "Al Qaeda"
de 11 de Setembro de 2001, pediu: "Primeiro devemos atacar o Irão,
Iraque e Síria" antes mesmo de considerar os autores reais do feito.
As forças anti-sírias armadas reflectem uma variedade de
perspectivas políticas conflitantes unidas apenas pelo seu ódio
comum ao regime nacionalista independente e leito que tem governado a complexa
e multi-étnica sociedade síria desde há décadas. A
guerra contra a Síria é a plataforma de lançamento de uma
nova ressurgência do militarismo ocidental a estender-se desde a
África do Norte até o Golfo Pérsico, sustentado por uma
campanha de propaganda sistemática que proclama a missão
democrática, humanitária e "civilizadora" da NATO em
prol do povo sírio.
A estrada para Damasco está pavimentada com mentiras
Uma análise objectiva da composição política e
social dos combatentes armados na Síria refuta qualquer
afirmação de que o levantamento é feito em busca da
democracia para o povo daquele país. Combatentes fundamentalistas
autoritários formam a espinha dorsal do levantamento. Os Estados do
Golfo que financiam estes bandidos brutais são eles próprios
monarquias absolutistas. O Ocidente, depois de ter impingido um brutal regime
gangster sobre o povo da Líbia, não pode apregoar
"intervenção humanitária".
Os grupos armados infiltram cidades e utilizam centros populosos como escudos a
partir dos quis lançam seus ataques à forças do governo.
No processo eles expulsam milhares de cidadãos dos seus lares, lojas e
escritórios os quais utilizam como postos avançados. A
destruição do bairro de Baba Amr em Homs é um caso
clássico de gangs armadas a utilizarem civis como escudos e como
matéria de propaganda na demonização do governo.
Estes mercenários armados não têm credibilidade nacional
junto à massa do povo sírio. Uma das suas principais centrais de
propaganda está localizada no coração de Londres, o
chamado "Syrian Human Rights Observatory" onde, em
coordenação estreita com a inteligência britânica,
despejam chocantes estórias de atrocidades para estimular sentimentos a
favor de uma intervenção da NATO. Os reis e emires dos Estados do
Golfo financiam estes combatentes. A Turquia proporciona bases militares e
controla o fluxo transfronteiriço de armas e os movimentos dos
líderes do chamado "Free Syrian Army". Os EUA, França e
Inglaterra proporcionam as armas , o treino e a cobertura diplomática,
jihadistas-fundamentalistas estrangeiros, incluindo combatentes Al Qaeda da
Líbia, Iraque e Afeganistão, entraram no conflito. Isto
não é "guerra civil". Isto é um conflito
internacional contrapondo uma perversa tripla aliança de imperialistas
da NATO, déspotas de Estados do Golfo e fundamentalistas
muçulmanos contra um regime nacionalista independente e laico. A origem
estrangeira das armas, maquinaria de propaganda e combatentes
mercenários revela o sinistro carácter imperial e
"multi-nacional" do conflito. Em última análise o
violento levantamento contra o estado sírio representa uma
sistemática campanha imperialista para derrubar um aliado do
Irão, Rússia e China, mesmo ao custo de destruir a economia e a
sociedade civil síria, de fragmentar o país e desencadear
duradouras guerras sectárias de extermínio contra os Alevi e
minorias cristãs, bem como apoiantes laicos do governo.
As matanças e a fuga em massa de refugiados não é o
resultado de violência gratuita cometida por um estado sírio
sedento de sangue. As milícias apoiadas pelo ocidente capturaram bairros
pela força das armas, destruíram oleodutos, sabotaram transportes
e bombardearam edifícios do governo. No decorrer dos seus ataques eles
interromperam serviços básicos críticos para o povo
sírio incluindo educação, acesso a cuidados
médicos, segurança, água, electricidade e transporte.
Assim, eles arcam com a maior parte da responsabilidade por este "desastre
humanitário" (do qual seus aliados imperiais e responsáveis
da ONU culpam as forças armadas e de segurança sírias). As
forças de segurança sírias estão a combater para
preservar a independência nacional de um estado laico, ao passo que a
oposição armada comete violências por conta dos mestres
estrangeiros que lhes pagam em Washington, Riyadh, Tel Aviv, Ancara e
Londres.
Conclusões
O referendo do regime Assad no mês passado atraiu milhões de
eleitores sírios em desafio às ameaças imperialistas
ocidentais e aos apelos terroristas a um boicote. Isto indica claramente que
uma maioria de sírios prefere uma solução pacífica,
negociada, e rejeita a violência mercenária. O Syrian National
Council apoiado pelo ocidente e o "Free Syrian Army" armado pelos
turcos e Estados do Golfo rejeitaram categoricamente apelos russos e chineses
para um diálogo aberto e negociações, os quais foram
aceites pelo regime Assad. A NATO e as ditaduras dos Estados do Golfo
estão a pressionar seus apaniguados a tentarem uma "mudança
de regime" violenta, uma política que já provocou a morte de
milhares de sírios. As sanções económicas
estado-unidenses e europeias são concebidas para arruinar a economia
síria, na expectativa de que a privação aguda
conduzirá uma população empobrecida para os braços
dos seus violentos apaniguados. Numa repetição do cenário
líbio, a NATO propõe "libertar" o povo sírio
através da destruição da sua economia, sociedade civil e
estado laico.
Uma vitória militar ocidental na Síria simplesmente
alimentará a fúria crescente do militarismo. Encorajará o
Ocidente, Ryiadh e Israel a provocarem uma nova guerra civil no Líbano.
Depois de demolir a Síria, o eixo Washington-UE-Riyadh-Tel Aviv
mover-se-á para uma confrontação muito mais sangrenta com
o Irão.
A horrenda destruição do Iraque, seguida pelo colapso da
Líbia do pós guerra, proporciona um terrífico modelo do
que está reservado para o povo da Síria. Um colapso precipitado
dos seus padrões de vida, a fragmentação do seu
país, limpeza étnica, dominação de gangs
sectárias e fundamentalistas e insegurança total quanto à
vida e propriedade.
Assim como a "esquerda" e "progressistas" declararam o
brutal ataque à Líbia ser a "luta revolucionária de
democratas insurgentes" e a seguir afastou-se, lavando as mãos da
sangrenta consequência de violência étnica contra
líbios negros, eles agora repetem os mesmos apelos à
intervenção militar contra a Síria. Os mesmo liberais,
progressistas, socialistas e marxistas que estão a apelar ao Ocidente
para intervir na "crise humanitária" da Síria a partir
dos seus cafés e gabinetes em Manhattan e Paris, perderão todo
interesse na orgia sangrenta dos seus mercenários vitoriosos depois de
Damasco, Alepo e outras cidades sírias terem sido bombardeadas pela NATO
até à submissão.
03/Março/2012
Ver também:
USAF Strategic Studies Group: Special Operations Forces Are "Already on the Ground," Training the "Free Syrian Army"
, "Global Intelligence Files" da WikiLeaks, Email-ID 1671459 de
07/Dez/2011
Síria: até onde o mundo se deixará enganar?
SANA News Agency
[*]
O seu livro mais recente é
The Arab Revolt and the Imperialist Counterattack
(Clarity Press:Atlanta2012) 2ª edição.
O original encontra-se em
http://petras.lahaine.org/?p=1891
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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