O
Financial Times
e o "auto-confesso mentor do 11/Set"
Nos últimos dias há uma evidência crescente do
avanço do totalitarismo entre os políticos e os media "de
referência". Todo o mundo ocidental, conduzido pelos Estados
Unidos, abraçou um regime georgiano que invadiu a Ossétia do Sul
demolindo totalmente a sua capital com 50 mil habitantes, assassinou 1500
homens, mulheres e crianças e dúzias de russos das forças
de manutenção da paz. Os EUA mobilizaram uma armada naval e
aérea junto à costa iraniana, preparados para aniquilar um
país de 70 milhões de pessoas. O
New York Times
publicou um ensaio de um eminente historiador israelense que advoga a
incineração nuclear do Irão. Todos os mass media
principais montaram uma campanha de propaganda sistemática contra a
China, apoiando todos os grupos terroristas e separatistas e estimulando a
opinião pública para o lançamento de uma Nova Guerra Fria.
Há pouca dúvida de que esta nova onda de agressão
imperial e retórica belicosa é destinada a desviar o
descontentamento interno e distrair a opinião pública do
aprofundamento da crise económica.
O
Financial Times (FT),
outrora a voz liberal e esclarecida da elite financeira (em contraste com o
Wall Street Journal,
agressivamente neo-conservador) rendeu-se à tentação
totalitária-militarista. O artigo do suplemento de fim de semana, de
16-17/Agosto/2008 "A cara do 11/Set" (
"The Face of 9/11"
)
adopta a confissão forçada de um suspeito do 11 de
Setembro extorquida através de cinco ano de tortura odiosa nas masmorras
de prisões secretas. Para fazer a sua argumentação, o FT
publicou uma foto ampliada de meia página divulgada antes pelo antigo
director da CIA George Tenet, a qual apresenta um prisioneiro desgrenhado,
confuso, peludo como um macaco. O texto do escritor, um tal Demetri
Sevastopulo, confessa isto: O FT admite ser um veículo de propaganda
para um programa da CIA destinado a desacreditar o suspeito enquanto este
aguarda julgamento com base em confissões obtidas através da
tortura.
Desde o começo até o fim, o artigo declara categoricamente que o
acusado, Khaled Sheikh Mohammed, é o "auto-confesso mentor
(mastermind)
dos ataques do 11 de Setembro nos EUA". A primeira metade do artigo
é cheia de trivialidades, destinadas a proporcionar um sentimento de
interesse humano para com o tribunal e o procedimentos judiciais uma
mistura bizarra que discute desde o nariz de Khaled até a
dimensão da sala do tribunal.
O ponto central de partida para a convicção do FT quanto ao
suspeito é a confissão de Khaled, seu "desejo de
martírio", sua compreensão da sua própria defesa e
sua recitação do Corão. A peça crucial do processo
do governo é a confissão de Khaled. Todas as outras
"evidências" eram circunstanciais, por rumores e com base em
inferências decorrentes do comparecimento de Khaled a reuniões no
estrangeiro.
A principal fonte informação do FT, um informante anónimo
"familiar com o programa de interrogatórios da CIA", declara
categoricamente dois factos cruciais: (1) Quão pouco a CIA sabia acerca
dele
antes da sua prisão
(ênfase minha) e (2) que Khaled resistiu mais do que os outros.
Por outras palavras, a única evidência real da CIA foi
extraída pela tortura (a CIA admitiu ter efectuado o "water
boarding" uma técnica de tortura infame que leva quase
à morte for afogamento). O facto de que Khaled negou reiteradamente as
acusações e de que ele só confessou após cinco anos
de tortura em prisões secreta torna todo o processo um caso de estudo em
jurisprudência totalitária. Tendo sido sujeitos a torturas
indizíveis por investigadores judiciais estado-unidenses, enfrentando
acusações baseadas numa confissão extraída
através da tortura, não é de admirar que Khaled tenha
recusado um advogado militar nomeado pelo tribunal um advogado que faz
parte de um sistema de prisões secretas, torturas e julgamentos
espectáculo. Ao invés de retratar Khaled como um fanático
à procura de martírio por rejeitar um advogado, devemos
reconhecer que ele está no seu perfeito juízo para pelo menos
preservar o limitado espaço e tempo que lhe é concedido a fim de
declarar as suas crenças e mencionar a sua disposição para
morrer por aquelas crenças. Confissões extraídas
através de tortura não têm validade em qualquer tribunal,
especialmente após cinco ano de confinamento solitário. Aquilo
que o FT denomina "o super-terrorista" com base no seu declarado
"desejo de martírio" é a admissão de um
indivíduo que sofreu para além da resistência humana e
vê a morte como um fim para a sua horrível existência
sub-humana.
A adopção pelo FT da prova coagida da CIA e dos militares, e
portanto da sua utilização da tortura, coloca-o directamente no
campo do estado totalitário. A viragem à direita do FT espelha a
viragem europeia rumo à confrontação militar dos EUA com a
Rússia, e o fortalecimento
(buid-up)
militar na Polónia,
República Checa, Kosovo, Iraque e Geórgia. Ao legitimar a
tortura, o FT abriu a porta para tornar práticas judiciais
totalitárias, detenções arbitrárias, prisões
secretas, confinamento solitário prolongado, julgamentos
espectáculo e estórias de encobrimento uma parte normal da vida
política ocidental. O refinado fascismo britânico não
é menos feio do que a sua enfurecida versão estado-unidense.
27/Agosto/2008
[*]
Autor de
Globalization Unmasked: Imperialism in the 21st Century
. Seu último livro é
Zionism, Militarism and the Decline of US Power
. Contacto:
jpetras@binghamton.edu
.
O original encontra-se em
www.dissidentvoice.org
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|