Mais de 300 mil trabalhadores de todo o país em Lisboa contra
desigualdades
Não à exploração, às desigualdades e ao
empobrecimento
Outra política é possível e necessária

Camaradas,
O Terreiro do Paço é Terreiro do Povo, é Terreiro de Luta,
de indignação, de protesto, mas também de esperança
e confiança, de todos aqueles que acreditam que com a luta é
possível um país com futuro, onde os direitos dos trabalhadores,
dos jovens, dos desempregados e dos reformados sejam respeitados e valorizados.
A política de austeridade que nos está a ser imposta pelo
FMI/UE/BCE e pelo Governo PSD/CDS-PP, não só não resolve
os nossos problemas, como está a encaminhar o país para o
precipício económico e social.
Qualquer que seja o parâmetro usado, o balanço não pode
deixar de ser outro, de programa em programa, de austeridade em austeridade, os
sacrifícios sucedem-se sem fim à vista, o país definha
economicamente e a pobreza alastra.
Na próxima semana anuncia-se uma nova visita dos senhores da troika. Os
representantes da ingerência externa vêm a Portugal para fazer uma
avaliação da implementação do memorando de
entendimento e do impacto que está a ter para o seu negócio
especulativo. Mas antes que cheguem, aproveitamos a oportunidade para fazer a
avaliação daqueles que sofrem todos os dias as
consequências desta política de desastre nacional.
Por isso, dizemos que este memorando é bom:
-
É bom para os credores, que num empréstimo de 78 mil
milhões de euros, cobram 35 mil milhões de euros de juros;
-
É bom para a troika, que só em comissões por estas
avaliações cobra 655M;
-
É bom para os bancos, que têm à sua
disposição 12 mil milhões de euros para o que der e vier e
transferiram para o Estado os fundos de pensões, em
condições que se podem tornar numa bomba relógio em termos
de sustentabilidade financeira da Segurança Social;
-
É bom para os grandes accionistas da EDP, PT e GALP, a quem foi
oferecido a participação especial que o Estado detinha nestas
empresas (Golden Share);
-
É bom para o Grande Patronato, a quem querem oferecer despedimentos mais
fáceis e baratos, a desregulação dos horários de
trabalho e a redução dos salários dos trabalhadores;
-
É bom para os detentores das grandes cadeias de
distribuição que continuam a asfixiar os preços na
produção e a colocar as suas sedes fiscais em paraísos
fiscais para não pagar impostos;
-
é bom para os 10% mais ricos, que têm um rendimento 10,3 vezes
superior aos 10% mais pobres e cuja diferença está a aumentar,
como conclui um estudo recente da própria Comissão Europeia.
Mas, se as medidas do memorando são boas para o capital, são
más para os trabalhadores, os jovens, os desempregados e os reformados e
pensionistas:
-
Que continuam a ser confrontados com a redução brutal do poder de
compra;
-
São más para os 2,7 milhões de portugueses que
estão em risco de pobreza ou de exclusão social e, apesar disso,
o Governo teima em reduzir ainda mais os apoios sociais;
-
São más para meio milhão de trabalhadores com emprego que
vivem abaixo do limiar da pobreza, o que mostra bem a dimensão dos
salários de miséria que se praticam em Portugal;
-
São más para os mais de 41% dos desempregados que vivem abaixo do
limiar da pobreza;
Mas são más, também, para o país:
-
Porque promovem a recessão económica, deixando o país numa
situação cada vez mais debilitada;
-
Porque a criação de riqueza caiu para níveis inferiores a
2001;
-
Porque é responsável pelo encerramento de inúmeras
empresas e a destruição massiva de postos de trabalho;
-
Porque a dívida pública, só no último ano, aumentou
19 pontos percentuais, atingindo os 110% do PIB e não pára de
crescer. Este é o maior aumento dos países da U.E., logo
atrás da Grécia;
Quando o Primeiro-Ministro diz que o programa da troika é para cumprir,
"custe o que custar", respondemos que o que importa é saber
quem vai pagar! Quanto pagam os que arrecadam dezenas de milhões de
euros de lucros por ano? Quanto pagam os que desviam para os paraísos
fiscais a suas sedes e os seus lucros para fugir aos impostos? Quanto pagam os
que transaccionaram 326 mil milhões de euros na Bolsa no espaço
de 2,5 anos? O que é feito para combater a fraude e evasão fiscal
e a economia paralela que atinge cerca de 40 mil milhões de euros ao
ano?
Estas são as questões de fundo que importa discutir e resolver e
que até hoje o Governo "foge como o diabo da cruz" para
não responder. Uma avaliação objectiva só pode
concluir que este "Memorando", sendo bom para os agiotas,
especuladores e as grandes potências, é um programa de
agressão aos trabalhadores, ao povo e aos interesses nacionais.
Os pacotes sucessivos de austeridade e sacrifícios não criam
riqueza.
O país precisa que lhe tirem a corda da garganta para poder respirar,
viver, trabalhar, criar riqueza, melhorar as condições de vida
dos trabalhadores e das famílias, desenvolver o país e cumprir
com os seus compromissos.
Mas tem de o fazer enquanto é tempo e sem subserviências.
Por isso que exigimos a renegociação da dívida, em
prazos, montantes e juros, mas também a alteração de
políticas tendo como prioridade o crescimento económico, o
emprego e a salvaguarda do interesse nacional!
Camaradas:
O recente acordo de concertação social constitui uma das maiores
fraudes do século!
É um "Acordo" que desregulamenta a legislação
laboral, precariza o emprego, reduz os salários e desvaloriza o
trabalho.
Os trabalhadores não são objectos descartáveis nem podem
ser tratados como mercadorias transaccionáveis. São homens e
mulheres que exigem ser tratados com respeito e não abdicam de lutar
pela defesa da sua dignidade!
Portugal precisa de uma economia assente em
trabalho
com direitos, trabalho
qualificado, empregos estáveis e salários justos. Não o
afirmamos somente como central sindical que defende antes de tudo o trabalho.
Dizemo-lo também porque corresponde às necessidades do
país.
Por isso estamos juntos nesta batalha contra os despedimentos mais
fáceis e mais baratos, contra o redução nas
prestações sociais para os desempregados, contra a
flexibilização dos horários e o corte dos salários,
contra o trabalho gratuito que resulta da retirada de 7 dias de férias e
feriados por ano, contra a destruição da
contratação colectiva e a sua substituição pela
relação individual de trabalho.
Este é o
Pacote da Exploração
do grande patronato que
depois de o considerar "bom", agora assume que tem de se ir mais
longe. Para isso já fala de novo na redução TSU para as
entidades patronais. Sempre numa lógica de chantagem para, a pretexto da
crise, ir tão longe quanto possível no acerto de contas com os
direitos dos trabalhadores.
Também por isso, juntos teremos de continuar a combater as
pretensões patronais e a transposição do
"Acordo" para Projecto-lei que entretanto o Governo apresentou ontem
na Assembleia da República.
A hora é de mobilização geral, de esclarecimento, de
acção e luta em todos os locais de trabalho, contra estas medidas
de retrocesso social e civilizacional.
O Acordo não é lei e tem de ser combatido com todas as nossas
forças.
Este é o momento certo para confrontar os deputados de cada um dos
Distritos com estas malfeitorias contra quem trabalha. Mais do que defenderem
os interesses estritamente partidários, o que se exige é que os
deputados eleitos respeitem a vontade do povo, rejeitando o Pacote da
Exploração.
E quanto ao Sr. Presidente da República, que considerou como
esplêndido o dito "Acordo", di-lo porque sabe que este
não lhe é aplicável. Porque se o fosse neste momento
estava a tentar encontrar uma alternativa, como fez recentemente quando optou
pelos 10 mil euros de reformas em vez dos 6.500 de vencimento,
atribuído às funções que desempenha!
Camaradas,
A luta foi determinante para defender e conquistar direitos. A luta
será determinante para obstaculizar aquela que é a maior ofensiva
desencadeada contra os direitos dos trabalhadores.
Esta é uma política desastrosa no plano laboral, social,
económico e financeiro. A austeridade está a conduzir a
sacrifícios inúteis.
Face ao drama do desemprego, que afecta 1 em cada 4 jovens, o Governo diz aos
jovens que emigrem.
Não está em causa a opção individual da
saída do país. Mas o que não aceitamos é a ordem de
expulsão decretada publicamente pelo Primeiro-Ministro.
Não aceitamos que neguem aos jovens, aos nossos filhos, o direito
Constitucional ao trabalho com direitos e o direito de trabalhar e ser feliz em
Portugal.
Não aceitamos que se desperdice o investimento que o Estado e as
famílias fizeram na formação da mais qualificada
geração que o país alguma vez teve à sua
disposição, para ser rentabilizada por outros!
Não camaradas, este não pode ser o caminho.
Como não é o da capitulação face aos mercados.
Quanto mais o Governo se subjuga, mais a chantagem cresce. É uma
falácia a tese de que com mais austeridade, com mais
exploração, com menos crescimento os mercados vão acalmar!
Quando em Março de 2010 foi aprovado o PEC I, os juros eram de 4% nos
empréstimos a 10 anos. Hoje ultrapassam os 13%, um aumento de 200%. Na
prática, estamos perante um processo de agiotagem puro e duro em que,
quanto mais pagamos, mais devemos, logo, menos soberania temos.
Para alterar esta situação são necessárias outras
políticas. É preciso aumentar os salários, as
pensões e os apoios aos desempregados e às famílias.
No mês passado, o FMI e a OCDE previram uma recessão na zona do
euro, a qual agravará a nossa situação económica
porque vai afectar as exportações. Mas em vez de medidas de
estímulo à economia mas o que se fez foi o contrário. O
Primeiro-Ministro veio dizer que não precisávamos de mais apoios.
O seu objectivo não é o estímulo da economia mas
reforçar a exploração com a
desregulamentação do mercado de trabalho.
O FMI vai mais longe, insiste na necessidade de crescimento, e responsabiliza
as políticas europeias. Mas o mesmo FMI é responsável,
tanto como as autoridades europeias e o BCE, pela aplicação de
programas de austeridade ruinosos que estão a destruir a Grécia
como estão a destruir o tecido económico e social do nosso
país.
Outra falácia é a da eliminação das "gorduras
do Estado". Mas os cortes nas prestações sociais, os
aumentos nas taxas moderadoras e a redução dos serviços
públicos, aquilo que representa é a diminuição do
Estado Social.
A tese que suporta o ataque ao Estado Social, às Conquistas de Abril,
defende que não é sustentável o nível de direitos
sociais e civilizacionais da generalidade da população,
escondendo que foram estes, que foi Abril e o Estado Social, que abriu as
portas a um Portugal mais moderno e de progresso.
Que foi Abril que inverteu os vergonhosos valores que colocavam Portugal como
um dos países onde mais crianças morriam antes do primeiro ano e
menos população tinha acesso a cuidados de saúde.
Que foi Abril que tirou do analfabetismo uma vastíssima camada da
população e massificou o acesso à formação
superior.
Que foi Abril que garantiu a protecção social ou o direito a
férias pagas à generalidade dos trabalhadores.
E que foi a partir destas conquistas que se edificou o Portugal do
pós-fascismo, um país que era subdesenvolvido economicamente e
atrasado socialmente e, apesar de muito do potencial de desenvolvimento ter
sido cerceado, conheceu importantes avanços no campo social e
económico.
A falácia desta tese de que direitos sociais são inimigos
do desenvolvimento económico - esconde a sua verdadeira
motivação, a de que direitos sociais são inimigos dos
privilégios do grande capital, que vê precisamente nas
áreas da saúde, educação e segurança social
importantes fontes de rendimento e chorudos negócios.
Camaradas:
A CGTP-IN não desiste do país,
temos propostas, há
alternativa!
O papel dos sindicatos numa altura em que as conquistas de Abril estão
em perigo tem de ser claro, coerente, prepositivo e de defesa objectiva dos
direitos dos trabalhadores. Esta é também uma forma de lutar pela
defesa da liberdade e da democracia.
Sabemos que cada direito inscrito na nossa Constituição foi
produto da luta, da mobilização, da reivindicação e
da unidade na acção em cada local trabalho e em cada bairro.
Sabemos que nenhum direito nos foi outorgado pela boa vontade do Grande
Patronato, ou dos Governos da política de direita.
Sabemos o que custa manter postos de trabalho e fazer valer direitos. O
exemplo dos trabalhadores da Cerâmica Valadares, da EMEF, dos Estaleiros
Navais de Viana do Castelo, da Carris, STCP, Jado Ibéria, Metropolitano
de Lisboa, Transtejo, Soflusa, CP, Refer, CP Carga e muitas outras, dizem-nos
que vale a pena lutar!
E neste tempo, que até a mais valiosa conquista de Abril, a democracia,
todos os dias é amputada, com ingerências e condicionamentos
externos que impõem políticas anti-sociais e
anti-económicas, neste tempo em que as contradições do
capitalismo se agudizam em que os detentores do poder não hesitam em
radicalizar políticas, impor a violência da pobreza e dos
salários de miséria, do desemprego e desprotecção
salarial, da negação do direito à saúde e ao
ensino, neste tempo, mais do que nunca, os sindicatos têm de ser firmes
para defender os direitos dos trabalhadores, os direitos dos jovens, o futuro
do país.
Tal como há 41 anos, em plena época do fascismo, quando a
Intersindical emergiu nos locais de trabalho, por força e vontade dos
trabalhadores, também agora reiteramos o compromisso de prosseguir e
intensificar a luta, numa ampla unidade na acção, pela
exigência do aprofundamento da democracia, da defesa da soberania
nacional e do progresso económico e social. Não camaradas,
não viramos as costas às dificuldades, enfrentamo-las! Resistindo
e lutando pelo fim da exploração do homem pelo homem.
É por isso que vamos lutar pelo trabalho com direitos. Não
é com precariedade que o país se vai desenvolver. A precariedade
é inimiga de uma economia desenvolvida, não potencia as
qualificações nem incorporação de mais valor na
produção; afasta os mais qualificados do país, hipoteca o
futuro das jovens gerações. A um posto de trabalho permanente,
tem de corresponder um vínculo efectivo
Vamos lutar contra a tentativa de desregulação do trabalho e de
aumentar ainda mais o horário de trabalho, para nos por a trabalhar mais
e pagar ainda menos. Em Portugal trabalha-se mais que na média da U.E.,
trabalhamos mais 30 horas por mês que na Holanda e mais 14 que na
Alemanha. Não é a trabalhar mais que se produz mais ou se
dinamiza o mercado de trabalho.
Vamos lutar contra a facilitação dos despedimentos. Não
é com a promoção e aliciamento do despedimento que se
combate o desemprego!
Vamos lutar por uma política de rendimentos que dignifique o trabalho e
possibilite que os trabalhadores e suas famílias vejam melhoradas as
suas condições de vida. Os salários têm de ser
aumentados e o Salário Mínimo Nacional tem de ser actualizado
urgentemente. Segundo a Carta Social Europeia, que o Estado português
assinou, o SMN deveria ser de 603, em 2010.
Vamos lutar por uma política que aposte no sector produtivo,
alicerçado no valor acrescentado, numa dinâmica articulada com o
aumento do poder de compra dos salários e das pensões, que
permita o escoamento da produção para, com mais
produção, criamos mais emprego e assim potenciamos o crescimento
económico!
Vamos lutar pelos serviços públicos, universais e gratuitos.
A educação e a qualificação da força de
trabalho é um elemento fundamental ao desenvolvimento do país. O
Governo faz passar a ideia que há qualificados a mais, quando o que
existe é emprego a menos.
A saúde é um direito, não é um negócio. A
política do Governo neste sector representa um enorme retrocesso e uma
machadada na Constituição!
A segurança social que, com todas as limitações e
amputações, permite que de 43% de população pobre
antes da intervenção do Estado, passemos para uns, ainda assim
vergonhosos, 18%, tem de ser incrementada e valorizada e não mitigada,
reservando ao assistencialismo e caridade um papel que é do Estado!
Vamos lutar pelo direito á mobilidade contra o verdadeiro atentado que
está incluído no plano do Governo de reestruturação
para o sector dos transportes. Se se concretizar, ficaremos com mais
desemprego, com menos transportes, mais caros e de pior qualidade.
Vamos lutar contra o processo de privatizações que visa entregar
a preço de saldo as principais e mais rentáveis empresas do
Estado e exigir que o Estado reforce a sua posição nas empresas
estratégicas para o país.
Vamos lutar no presente pelo futuro de Portugal, pelo crescimento
económico, pela reindustrialização do país, pela
independência alimentar, pelo trabalho com direitos e pela soberania e o
progresso económico e social.
Vamos participar na Jornada de luta, promovida pela CES, no dia 29 Fevereiro,
contra a austeridade, a exploração e a pobreza emprego,
salários, direitos, serviços públicos.
11/Fevereiro/2012
[*]
Secretário-Geral da CGTP-IN
Ver também:
Resolução aprovada
O original encontra-se em
http://www.cgtp.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=2454&Itemid=1
Este discurso encontra-se em
http://resistir.info/
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