A escadaria e o Estado de Direito fascista
Ontem não se falava de outra coisa: as forças de segurança
haviam subido a escadaria da Assembleia da República! E diziam-se os
maiores disparates que imaginar se possa! Até o ministro da
Administração Interna os disse a propósito da
demissão do Director Nacional da PSP.
Objectivamente a subida da escadaria foi um acto simbólico em toda a sua
plenitude. Um acto simbólico num Estado de Direito cada vez menos de
Direito e mais fascista. Simbólico, porque foi a ameaça de que a
segunda corporação com mais força no país a
primeira é as Forças Armadas pode rebelar-se contra o
Estado e tomar posições de dimensão e consequências
inesperadas e incontroladas. Simbólico, porque foi o aviso ao Poder que
não conte com a conivência das forças de segurança
para reprimir os justos anseios da Nação. Simbólico,
porque, ao cederem, os polícias que montaram a segurança,
deixaram claro que não querem lutas fratricidas
É bom
não esquecer que muitos dos presentes na manifestação
estavam, de certeza, armados, pois para isso tem legalmente
autorização. Uma resistência por parte da polícia de
choque poderia gerar um confronto de dimensões mais largas e mais graves
do que o simples subir a escadaria em sinal de aviso. E mais simbolismo poderia
encontrar!
A inveja e a estupidez fizeram que logo um dos organizadores das
manifestações Que se Lixe a Troika homem sem
preparação política, como demonstrou viesse
reivindicar direito igual para a sua organização!
É uma reivindicação própria de quem não
percebe nada de nada e que teve acolhimento e foi secundarizada por certo
órgãos de comunicação social e certos jornalistas
que têm da democracia a mais primária noção que
é possível imaginar. Democracia é mais do que anarquia!
É mais do que igualdade! É a percepção das
diferenças e a igualdade na diferença! É a oportunidade
para poder ser diferente com legitimidade! E, queira-se ou não, as
forças de segurança, bem como as Forças Armadas,
são diferentes de todas as organizações políticas.
São diferentes porque detém um poder que mais ninguém tem:
o monopólio da violência organizada e legal. E com isso não
se brinca! É necessário treino, conhecimentos e tranquilidade
para saber gerir a violência.
É uma lástima que os jornalistas e os seus patrões
não percebam esta coisa tão simples que acabei de referir! Os
partidos políticos da esquerda mais consequente perceberam o alcance
simbólico do acto das forças de segurança e não
reivindicaram para si e para as suas manifestações igual
tratamento. Eles lá sabem o por quê! Mas os partidos conservadores
e fascizantes que hoje governam este país vieram bater na tecla da
quebra do princípio do Estado de Direito!
Estado de Direito para cumprimento do que dá jeito! Contudo o Estado de
Direito não existe quando se atropelam direitos adquiridos, quando se
pratica a desigualdade institucional, quando se avilta quem já se
não pode defender por falta de armas legais para o fazer, como é
o caso dos reformados e pensionistas.
Que Estado de Direito é este que só exige cumprimento das leis
quando quer impor a sua vontade? Este Estado está em vias de se tornar
fascista e de mandar às urtigas o Direito! O Governo gostaria de poder
exercer o sem mando sem a intervenção dos órgãos
reguladores do Direito.
Portugal está a entrar declaradamente na via da desobediência
civil. Os reitores das universidades cortaram relações com o
Governo, as forças de segurança mostraram que podem ir até
onde elas quiserem
Faltam as Forças Armadas para mostrarem o
mesmo
Faltam os tribunais deliberarem sobre a ilegalidade das
decisões governamentais, porque o povo votante, e só o votante,
já nas últimas eleições declarou a ilegitimidade do
Governo e da Assembleia da República. Ora, se a maioria votante serve
para eleger também serve para mostrar a ilegitimidade de quem diz que
governa em nome de uma maioria que já não o é. Mas
fascistoidemente impõem-se dois pesos e duas medidas!
É tempo de deixarmos a retórica e passarmos à
prática da rebelião civil!
[*]
Coronel.
O original encontra-se
www.facebook.com/AOFA.Oficiais.das.Forcas.Armadas/posts/660106574009418:0
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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