A NATO encara a Rússia como adversária
por M. K. Bhadrakumar
[*]
O Tratado da Organização do Atlântico Norte alegará
que a palavra "contínuo" não é a mesma que a
palavra "permanente". A
cimeira da NATO em Gales neste fim-de-semana
esteve a um passo de estacionar tropas permanentemente próximo das
fronteiras da Rússia, o que teria violado o Acto Fundador da
aliança de 1997 com a Rússia. Portanto, a recém criada
força "ponta de lança"
("spearhead")
de 4000 soldados apenas manterá uma presença militar
"contínua". A força, no entanto, poderia mover-se
dentro de horas para a fronteira da Rússia.
A NATO afirma que é uma força de dissuasão, mas,
comprovadamente, o facto relevante é que vai ser pelo menos uma limitada
acumulação de forças da NATO ao longo da fronteira
Leste-Oeste, a qual estará várias centenas de quilómetros
mais próxima de Moscovo do que na era da Guerra fria quando o Pacto de
Varsóvia costumava cobrir o vasto espaço até o Muro de
Berlim.
Na verdade, a cimeira não discutiu a admissão da Ucrânia na
NATO; nem acordou no fornecimento de armas àquele país. Mas o
presidente Barack Obama instou a aliança a empreender um projecto a
longo prazo para reconstruir o exército ucraniano bem como acrescentar
novos membros. (O texto da Declaração da Cimeira de Gales
está
aqui
).
A Rússia não pode senão perguntar-se acerca do
calendário que a NATO teria em mente para abrir bases permanentes
próximas da sua fronteira e quão longe vão os
propósitos da aliança para fortalecer seus laços com a
Ucrânia e a Geórgia, o que de facto colocaria estes países
sob as suas asas sem, talvez, torná-los membros da aliança.
Moscovo tomou nota de que, como colocou uma
declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros
neste fim-de-semana, "A cimeira adoptou uma linha dirigida à
expansão da NATO para Leste e de fortalecimento da sua presença
próximo às fronteiras da Rússia". A
declaração acrescentava que estes planos têm sido
"promovido durante longo tempo e a crise ucraniana torna-se meramente uma
desculpa para o começo da sua implementação".
A declaração advertiu especificamente que a
interferência da NATO na Ucrânia
levará à escalada de tensões naquele país e a um
descarrilamento do caminho de paz nascente e, mais preocupantemente, "no
aprofundamento da divisão na sociedade ucraniana".
No final das contas, o que a cimeira da NATO em Gales formalizou foi o status
da Rússia como adversário. O ambiente da segurança na
Europa mudou fenomenalmente. Há possibilidade de haver deslizamento
estratégico. Pode ter sido uma coincidência ou pode
não ter sido que no sábado seis navios de guerra da Frota
do Norte da Rússia moveram-se para as Ilhas Nova Sibéria, no
Árctico, para
reconstruir naquele arquipélago a base naval da era soviética
que fora abandonada em 1993.
07/Setembro/2014
[*]
Ex diplomata indiano.
O original encontra-se em
http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2014/09/07/nato-views-russia-as-adversary/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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