A Polónia dirige as operações militares na Ucrânia
As provas da participação activa a Polónia no conflito
ucraniano acumulam-se, enquanto a guerra continua a devastar as regiões
do Sudeste da ex-Ucrânia. Até o presente, a
intervenção de Varsóvia tem sido feita indirectamente. Nem
por isso é menos portadora de morte e destruição, ainda
que nenhuma unidade militar polaca tenha sido deslocada ao terreno ucraniano. A
Polónia não só contribuiu para o treino dos terroristas do
Euromaidan, que antecedeu o desencadeamento do caos orquestrado na
Ucrânia, como enviou ao terreno comboios de mercenários para
reprimir brutalmente aqueles que se opunham ao golpe de Estado e levantavam-se
contra a junta de Kiev. Vêem-se agora circular fotos que evidenciam a
implicação da Polónia na espiral demente dos
acontecimentos que ensangrentam a Ucrânia.
Na semana passada, Jerzy Dziewulski, o conselheiro de segurança do
antigo presidente polaco Aleksander Kwaniewski
[1]
, foi fotografado em Slaviansk em companhia de Oleksandr Tourtchynov, o
presidente interino da Ucrânia
[2]
. Dziewulski é um perito notório em contra-terrorismo. Ele foi
treinado nos Estados Unidos, em Israel e na Alemanha. Possui e dirige a sua
própria empresa de segurança privada
[3]
. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia, Radoslaw
Sikorski, declarou nada saber da presença de mercenários polacos
na Ucrânia, limitando-se a indicar que transmitirá ao gabinete do
procurador as informações que circulam a respeito. A foto que
mostra Dziewulski em companhia de Tourtchynov prova que ele mente. A verdade
é que a Sikorski e Dziewulski foi confiada a responsabilidade das
decisões estratégicas e tácticas da política de
ingerência de Varsóvia no conflito ucraniano. Eles agem em
coordenação e um não avança sem o outro.
Foi pouco antes da operação punitiva desencadeada em Abril pela
junta de Kiev que começaram a filtrar-se informações sobre
as equipes de mercenários que operam no interior das fronteiras da
ex-Ucrânia. Mas as provas do envio por Varsóvia de contingentes de
mercenários polacos à Ucrânia só vieram à
superfície recentemente
[4]
. Radoslaw Sikorski apressou-se a contestar a veracidade das
revelações divulgadas no fim de Maio, mesmo quando o ministro
delegado dos Negócios Estrangeiros da Rússia sublinhava, pelo seu
lado, que mercenários estrangeiros, em particular polacos, estavam
envolvidos no terreno e participavam nas operações. De modo muito
desenvolto, Sikorski declarou não dar o menor crédito ao
anúncio da captura destes mercenários e dos seus oficiais de
enquadramento polacos. Para o Ministério dos Negócios
Estrangeiros, estas informações são mentirosa e
malévolas, trata-se de "pura propaganda". Fica-se ainda mais
espantado com as afirmações de Sikorski, apenas uma semana antes,
a denunciar a ilegalidade do próprio princípio do mercenariato.
Portanto não é preciso esperar que ele confirme a
existência destes mercenários polacos. Agora que circula, na rede
Internet, a foto de Dziewulski em uniforme de combate com capacete e pistola a
tiracolo, em companhia de Tourtchynov, tornou-se impossível negar a
presença de forças polacas na zona dos combates.
É instrutivo consultar o curriculum vitae de Dziewulski para compreender
até que ponto esta foto é reveladora das torpezas do governo
polaco, surpreendido em plena malfeitoria em meio às suas
manigâncias. Como indica seu sítio Internet, Dziewulski é
um perito do anti-terrorismo e foi ele que criou a Comissão dos
Serviços Especiais polacos (as forças especiais). Ele recebeu
formação na utilização de minas explosivas, nas
técnicas de execução de explosivos de toda espécie
e na prática do tiro emboscado. Ele seguiu estágios de
formação prática em Israel, nos Estados Unidos, na
Alemanha e em França, passando mesmo pelo Departamento de Estado e pelo
Bureau of Alcohol, Tobacco & Firearms (ATF) durante a sua estadia na
América. Ele vangloria-se de ser o melhor perito do mundo em
matéria de segurança e inclusive entre as empresas especializadas
(leia-se: sociedades que asseguram a formação e a
disponibilização de mercenários) e na
organização e execução de planos de
segurança personalizados (leia-se: a condução de
acções ofensivas por grupos de mercenários). Dados os
laços estreitos que ele mantém com Aleksander Kwaniewski (o
antigo presidente polaco), é muito provável um envolvimento
importante do aparelho complexo dos serviços de segurança
nacional do Estado polaco. A partir daí, não se vê como o
ministro dos Negócios Estrangeiros, Radoslaw Sikorski, poderia ignorar
tudo da implicação directa, no conflito que se envenena dia a dia
no seu vizinho ucraniano, de um personagem tão próximo das mais
altas autoridades do governo.
O que decorre de tudo isto é que Sikorski e Dziewulski tomaram o
controle da política externa da Polónia em relação
ao seu vizinho ucraniano. São eles que conduzem em conjunto, e em duas
frentes, a ofensiva em curso contra as populações do Donbass.
Sikorski, que manobra para suceder à
baronesa Catherine Ashton
como Alto Representante da União Europeia para os Negócios
Estrangeiros,
praticamente eclipsou o próprio primeiro-ministro. Exactamente 69% dos
europeus confessam não conhecer Donald Tusk, o chefe do governo polaco.
Sikorski quer encarnar a alta estratégia executada pela Polónia
para fazer prevalecer seus interesses nos territórios da antiga
República das Duas Nações. É à
ambição de fazer ressuscitar este império perdido que o
chefe dos serviços de segurança ucranianos da
administração da era Ianoukovytch atribui a
participação da Polónia no golpe de Estado de Fevereiro
último.
Pelo seu lado, Dziewulski não ocupa a frente do palco. Até a
publicação da foto mencionada acima, suas actuações
a Leste das fronteiras da Polónia permaneciam, no essencial, na sombra.
Com as forças que controla, ele assegura a execução, sobre
o terreno, da estratégia definida por Sikorski, operando as escolhas
tácticas apropriadas. O campo das competências que ele desenvolveu
anteriormente leva a pensar que bem poderia ser ele aquele que supervisiona a
acção das legiões de mercenários que enxameiam o
Donbass (e portanto o responsável directo de todos os crimes de guerra
que ali são perpetrados). Afinal de contas, é pouco
provável que Tourtchynov perca seu tempo a fazer-se fotografar em
companhia de um personagem de terceira ordem (o que Dziewulski não
é), na proximidade as linhas de frente da ofensiva que ele desencadeou.
Em conjunto, Sikorski e Dziewulski constituem o cérebro e o braço
da máquina de guerra que Varsóvia instalou para além da
sua fronteira oriental na esperança de reconstituir a defunta
República das Duas Nações, esquecida do facto de que ela
própria não é, na Ucrânia, senão o agente dos
Estados Unidos e da NATO
[5]
.
[1] Aleksander Kwaniewski foi eleito presidente da república
polaca em 9 de Outubro de 1995, vencendo Lech Walesa, o anterior presidente.
Ele foi eleito para um segundo mandato em 8 de Outubro de 2000. Durante o seu
primeiro mandato, em 1999, verificou-se a adesão da Polónia
à NATO. Em 2004, no decorrer do seu segundo mandato,
Varsóvia tornou-se membro da União Europeia.
[2] Oleksandr Tourtchynov é igualmente o antigo chefe dos
serviços secretos ucranianos.
[3] Ver seu sítio na Internet:
Jerzy Dziewulski
.
[4 A advertência de Moscovo:
" Moscow warns Kiev against using military, mercenaries in southeastern Ukraine "
, RT, 8 avril 2014 ; Nosso artigo:
" Ukraine : la Pologne avait formé les putschistes deux mois à l'avance "
, por Thierry Meyssan, Réseau Voltaire; E a resposta oficial do
ministro:
" Poland denies training mercenaries for Maidan protests foreign minister "
, Itar-Tass, 10 juin 2014
[5]
" La Pologne, nouvelle tête de pont d'un plan de déstabilisation de l'Otan "
, por Andrew Korybko, Tradução Gérard Jeannesson, Oriental
Review, Réseau Voltaire, 26 février 2014.
[*]
Da Moscow State University of International Relations (MGIMO).
A versão em francêes encontra-se em
www.voltairenet.org/article184282.html
e em inglês em
orientalreview.org/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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