O acordo secreto de Parceria Trans-Pacífico (TPP)
por WikiLeaks
Hoje, 13 de Novembro de 2013, a WikiLeaks divulgou o
rascunho secreto do texto negociado para todo o Capítulo de Direitos de Propriedade Intelectual da Parceria Trans-Pacífico (Trans-Pacific Partnership, TPP).
O TPP é o maior tratado de todos os tempos, abrangendo países
que representam mais de 40 por cento do PIB mundial. A divulgação
do texto pela WikiLeaks verifica-se antes da cimeira decisiva dos Negociadores
Chefe da TPP em Salt Lake City, Utah, de 19-24 de Novembro de 2013. O
capítulo publicado pela WikiLeaks é talvez o mais controverso do
TPP devido aos seus efeitos de grande amplitude sobre medicamentos, editoras,
serviços internet, liberdades civis e patentes biológicas.
Significativamente, o texto divulgado inclui as posições de
negociação e os desacordos entre todos 12 estados membros em
perspectiva.
O TPP é o precursor do igualmente secreto pacto TTIP (Transatlantic
Trade and Investment Partnership) entre os EUA e a UE, para o qual o presidente
Obama iniciou negociações EUA-UE em Janeiro de 2013. Juntos, o
TPP e o TTIP abrangerão mais de 60 por cento do PIB global. Ambos os
pactos excluem a China.
Desde o princípio das negociações TPP, o processo de
redacção e negociação dos capítulos do
tratado foi envolvido num nível de secretismo sem precedentes. O acesso
aos rascunhos dos capítulos do TPP está blindado em
relação ao público geral. Membros do Congresso dos EUA
só podem ver porções seleccionadas dos documentos
relativos ao tratado em condições altamente restritivas e sob
supervisão estrita. Foi revelado anteriormente que apenas três
indivíduos em cada país TPP têm acesso ao texto completo do
acordo, ao passo que a 600 "conselheiros comerciais"
lobbyistas que defendem os interesses de grandes corporações
estado-unidenses tais como Chevron, Halliburton, Monsanto e Walmart
é concedido acesso privilegiado a secções cruciais do
texto do tratado.
As negociações do TPP estão actualmente numa etapa
crítica. A administração Obama está a preparar-se
para a tramitação rápida
(fast-track)
do tratado TPP de uma maneira que impedirá o Congresso dos EUA de
discutir ou emendar quaisquer das suas partes. Numerosos chefes de estado e
figuras de proa dos países TPP, incluindo o presidente Obama, declararam
sua intenção de assinar e ratificar o TPP antes do fim de 2013.
O editor-chefe da WikiLeaks, Julian Assange, declarou: "A
administração estado-unidense está a pressionar
agressivamente o TPP através do processo legislativo às
escondidas". O rascunho avançado do Capítulo sobre Direitos
da Propriedade Intelectual, publicado pela WikiLeaks em 13 de Novembro de 2013,
permite ao público, com plena oportunidade, familiarizar-se com os
pormenores e implicações do TPP.
O capítulo do Propriedade Intelectual (PI), com 95 páginas e 30
mil palavras, estabelece disposições para instituir um regime
legal transnacional de extremo alcance e aplicação
obrigatória, modificando ou substituindo leis em estados membros do TPP.
As subsecções do capítulo incluem acordos relativos a
patentes (as quais podem produzir bens ou drogas, copyright (que podem
transmitir informação), marcas registadas (que podem descrever
informação ou bens como autênticos) e design industrial.
A secção mais longa do capítulo
"Imposição"
("Enforcement")
é dedicada a pormenorizar novas medidas de policiamento, com
implicações de extremo alcance para direitos individuais,
liberdades civis, editores, fornecedores de serviço internet, bem como
para o património criativo, intelectual, biológico e ambiental.
Medidas particulares proposta incluem tribunais supranacionais de
litigação aos quais tribunais nacionais soberanos deverão
acatar, mas que não têm salvaguardas de direitos humanos. O
CapÍtulo PI do TPP declara que estes tribunais podem conduzir
audiências com provas secretas. O Capítulo PI também
replica muitas das disposições de vigilância e
imposição dos tratados SOPA
[1]
e ACTA
[2]
postos de lado.
O texto consolidado obtido pela WikiLeaks após a reunião do TPP
em 26-30 de Agosto de 2013 no Brunei ao contrário de quaisquer
outros documentos relacionados com o TPP divulgados anteriormente para o
público contem anotações pormenorizando
posições de cada país sobre as questões em
negociação. Julian Assange enfatiza que uma "servilmente
obsequiosa" Austrália é o país que mais provavelmente
apoiará a posição linha dura de negociadores
estado-unidenses contra outros países, enquanto estados incluindo
Vietname, Chile e Malásia é mais provável que fiquem em
oposição. Numerosos países chave da Bacia do
Pacífico e outros próximos incluindo Argentina, Equador,
Colômbia, Coreia do Sul, Indonésia, Filipinas e, muito
significativamente, a Rússia e a China não estiveram
envolvidos na redacção do tratado.
Nas palavras do editor-chefe da WikiLeaks, Julian Assange, "Se
instituído, o regime de PI do TPP atropelaria direitos individuais e de
livre expressão, bem como trataria com desprezo o património
intelectuais e criativo. Se você lê, escreve, publica, pensa, ouve,
dança, canta ou inventa; se você planta ou consome alimento; se
você está agora doente ou pode estar um dia, o TPP tem-no sob a
sua mira".
Os actuais estados membros da negociação do TPP são:
Estados Unidos, Japão, México, Canadá, Austrália,
Malásia, Chile, Singapura, Peru, Vietname, Nova Zelândia e Brunei.
[1] SOPA:
Stop Online Piracy Act
[2] ACTA:
Anti-Counterfeiting Trade Agreement
Descarregue
aqui
o texto integral do capítulo PI do tratado secreto TPP (96 p., 634 kB).
O original encontra-se em
https://wikileaks.org/tpp/pressrelease.html
Este comunicado encontra-se em
http://resistir.info/
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