A conspiração na Venezuela, ou a praça Maidan na
versão latino-americana
As tentativas para desestabilizar a Venezuela não acabaram, apesar dos
esforços do governo de Nicolas Maduro para iniciar um diálogo com
a oposição. A última tentativa para pôr o governo
à prova foi uma manifestação da oposição em
12 de Fevereiro em frente da Procuradoria-Geral no centro de Caracas. Entre as
reivindicações dos manifestantes estava a
libertação imediata dos que foram presos pela
participação em motins de rua nas cidades de Tachira e Merida e
em eleições anteriores.
Durante estes motins, choveram pedras e cocktails Molotov sobre a
polícia. Vários carros da polícia foram devorados pelas
chamas. Grupos de jovens começaram a arrombar as portas da
Procuradoria-Geral e a destruir as portas da entrada para a
estação do metro do Parque Carabobo e os brinquedos de um parque
de crianças vizinho. Muitos dos vândalos usavam máscaras e
coletes à prova de balas e empunhavam barras de metal. Alguns deles
tinham armas de fogo. Houve feridos e morreram duas ou três pessoas mas,
mesmo no auge da confrontação, a polícia só usou
balas de borracha e gás lacrimogénio.
A violenta manifestação foi organizada via Internet pelo grupo
radical da oposição
Voluntad Popular.
O seu líder, Leopoldo Lopez há muito que defende acerrimamente
o derrube do actual regime pela força. O Procurador-Geral deu ordens
para a sua detenção. Segundo todas as aparências, Lopez
passou à clandestinidade e refugiou-se nos EUA (sabe-se que está
a colaborar com a CIA). Foi ainda emitido outro mandado de prisão para o
vice-almirante reformado Fernando Gerbasi, antigo embaixador da Venezuela em
Bogotá. Este chefiou a organização de distúrbios no
território fronteiriço na Colômbia. Os participantes nos
ataques à polícia e nos fogos postos em
instituições do estado foram colocados na lista dos procurados.
É evidente o paralelo entre os incidentes de Fevereiro de 2014 e a
tentativa de derrubar o presidente Chavez em Abril de 2002. Nessa época
as manifestações populares de massas e a acção
atempada das unidades militares que se mantiveram leais ao presidente
asseguraram a rápida neutralização dos rebeldes. Os meios
de comunicação venezuelanos têm vindo a publicar muitos
artigos sobre a flagrante semelhança entre os "protestos
espontâneos" no seu país e os da praça Maidan de Kiev.
Na Venezuela os serviços de informações dos EUA usam
estudantes e paramilitares colombianos, membros de grupos militantes que
participam na limpeza de territórios sob o controlo das guerrilhas FARC
e ELN
[1]
, como carne para canhão
Actualmente os paramilitares têm
vindo a passar a fronteira para os estados venezuelanos de Zulia, Barinas e
Merida, infiltrando-se em comunidades colombianas e esperando ordens de marcha.
Em Novembro de 2013 Jose Vicente Rangel descreveu os preparativos para
operações subversivas na Venezuela no seu programa televisivo
Confidenciales.
Durante uma viagem recente a Miami, Leopoldo Lopez visitou um centro de treino
de combatentes em Los Cayos, chefiado por imigrantes cubanos. Um grupo de
"cadetes" venezuelanos demonstrou a Lopez as suas proezas de tiro;
usaram fotografias do presidente Maduro como alvos. Lopez prometeu fornecer
fundos para treinar atiradores adicionais a fim de garantir "a
restauração da democracia e da liberdade" na Venezuela.
Também está a funcionar em Miami um centro de
comunicações entre os conspiradores venezuelanos e os
serviços de informações dos EUA. O grupo conspirador
venezuelano inclui o ex-ministro da Defesa, Narvaez Churion, e antigos
líderes da agência punitiva DISIP
[2]
da época da Quarta República.
A situação na Venezuela é complicada pela persistente
guerra financeira e económica, planeada nos Estados Unidos. Tornaram-se
mais frequentes as situações de roubos de comida da cadeia de
armazéns estatais de víveres Mercal, que depois é vendida
no mercado negro a preços artificialmente altos. O contrabando causa
enormes prejuízos à segurança alimentar do país.
Centenas de organizações mafiosas funcionam ao longo da fronteira
com a Colômbia, transportando para território colombiano bens
subsidiados pelo governo venezuelano. Exportam-se quantidades colossais de
gasolina, diesel, lubrificantes, pneus, e peças de automóvel. Em
muitos casos a gasolina, pura e simplesmente, não chega aos postos de
abastecimento do lado venezuelano. Os paramilitares asseguram
protecção às operações de contrabando,
chegando ao ponto de eliminar o pessoal das alfândegas venezuelanas e
militares enviados para guardar a fronteira.
Os venezuelanos estão habituados a um generoso paternalismo estatal:
cuidados médicos grátis, construção maciça
de "casas populares", um sistema de educação
grátis e milhares de bolsas de estudo estatais para os que procuram
adquirir conhecimentos em universidades estrangeiras. No entanto, nos
últimos meses a euforia consumista tem sido frequentemente marcada por
diversos tipos de interrupções da electricidade e da água
e défice de alimentos e de outros bens. Tudo isto é o resultado
duma sabotagem deliberada organizada segundo as tradições
clássicas da CIA. Não é por acaso que Walter Martinez, o
popular anfitrião do programa de televisão
Dossier,
contou aos seus espectadores como o derrube do governo de Salvador Allende no
Chile em 1973 foi planeado com a participação da multinacional
americana ITT. Os conspiradores foram especialmente cuidadosos na sabotagem do
planeamento económico e na criação duma procura
especulativa de todos os bens. Os métodos usados hoje para
desestabilizar a Venezuela são uma exacta reprodução do
cenário chileno que levou a um sangrento massacre e à ditadura de
Pinochet.
Foi-se amontoando muito ódio contra a Venezuela. A ameaça de
guerra civil é discutida permanentemente nos meios de
comunicação. Contra este cenário, o presidente Maduro
continua a defender pacientemente o diálogo, a procura duma
compreensão mútua e de um desanuviamento interno. Nesta
situação, não podemos deixar de mencionar a
influência destrutiva de pessoas ligadas a círculos sionistas nos
EUA e em Israel. Controlam o sistema bancário e o comércio e
infiltraram-se profundamente nos meios de comunicação
venezuelanos, incitando a acções de "protesto civil" e
criando um clima de terror psicológico no que se refere a importantes
figuras governamentais. Praticamente todos os clichés hostis que foram
usados na propaganda americana-sionista contra Chavez estão a ser usados
contra Maduro
Os venezuelanos têm dinheiro, mas cada vez é mais difícil
gastá-lo. Até comprar bilhetes de avião para passar umas
férias algures no estrangeiro se tornou um problema. Os meios de
comunicação venezuelanos, 80 % dos quais estão sob o
controlo da oposição, culpam o presidente Maduro e os seus
apoiantes pelo "desconforto universal". Supostamente estes
deixaram-se arrastar pelas "experiências socialistas" na
economia. Na realidade, nem Chavez nem Maduro tocaram nos princípios da
economia capitalista. Não porque não se atrevessem a isso, mas
porque acharam que seria prematuro tomar medidas radicais, principalmente
depois duma tentativa para alterar a constituição do país
para se adequar aos objectivos de reformas socialistas. O referendo sobre esta
questão demonstrou que cerca de metade dos votantes era contra essa
ideia. Também não houve consenso nas fileiras do Partido
Socialista Unido, no poder nessa altura. A decisão de Chavez de levar a
efeito gradualmente o seu programa de reformas socialistas, a um ritmo
moderado, nunca foi implementada devido à sua morte prematura.
A propaganda anti-governamental, coordenada por centros subversivos dos EUA,
está a explorar plenamente a teoria do crescimento da
corrupção no país e a cumplicidade da "burguesia
vermelha bolivariana" nela. Isso é dirigido primeiro que tudo e
principalmente contra os antigos associados de Chavez que cerraram fileiras em
torno de Maduro, mantendo-se fiéis à ideologia bolivariana e
à sua tríade de "povo-exército-líder". A
CIA e os técnicos de imagem da oposição estão a
tentar aliciar os jovens receptivos à propaganda da "guerra contra
a corrupção" para as barricadas venezuelanas A
coordenação destas actividades está a ser efectuada
através de diversos canais, mas tudo está ligado à
embaixada dos EUA em Caracas.
Comparado com o seu antecessor, Kelly Keiderling, que foi denunciado pela
contra-informação venezuelana como coordenador de
operações subversivas no país, o actual responsável
americano Phil Laidlaw, igualmente agente de carreira da CIA, mostra mais
imaginação nas suas tentativas para agitar uma
revolução colorida na Venezuela que venha a tornar-se numa guerra
civil. Por iniciativa de Laidlaw, foram publicadas na Internet cartas de
solidariedade com os "activistas Maidan" destinadas a estudantes
venezuelanos: "Admiramos a vossa coragem! A liberdade e a democracia
primeiro!" Não ficaria surpreendido se, num futuro próximo,
Mr. Laidlaw vier a organizar o posicionamento de vários destacamentos de
combatentes da praça Maidan de Kiev em qualquer base aérea
secreta da CIA na Venezuela para ajudar a luta contra a "ditadura de
Maduro".
[1] Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e
Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN)
[2] Dirección de los Servicios de Inteligencia y Prevención
(DISIP)
Ver também:
prensapcv.wordpress.com/
[*]
Jornalista.
O original encontra-se em
www.strategic-culture.org/...
. Tradução de Margarida Ferreira.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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