Será que pára-quedistas europeus irão saltar sobre Maputo?
por
Ruptures
Após as eleições em Moçambique a União
Europeia intimou a comissão eleitoral desse país a que "se
explicasse" sobre alegadas irregularidades.
Em Moçambique, o presidente cessante, Filipe Nyusi, foi reeleito em 15
de Outubro com 73,5% dos votos, contra 21,5% para o seu principal opositor, do
movimento Renamo (antiga guerrilha apoiada pelos ocidentais, que em 1992 se
transformou em partido político).
Nas eleições legislativas que desenrolaram em simultâneo, o
partido no poder desde a independência do país a Frelimo,
do qual saiu o presidente reeleito conservou a maioria absoluta.
A Renamo denunciou fraudes maciças e exigiu uma anulação
dos escrutínios. Ela foi apoiada neste sentido por diferentes grupos de
observadores estrangeiros, nomeadamente aqueles enviados pela União
Europeia.
Consequentemente, em 8 de Novembro, a UE publicou um comunicado indignado,
denunciando nomeadamente "votações fraudulentas, votos
múltiplos, invalidações deliberadas de votos da
oposição". Ela indignou-se igualmente com "taxas de
participação improváveis" e com "um
número significativo de contagens anormais".
Bruxelas portanto intimou a Comissão Eleitoral a que "se
explicasse" sobre estas irregularidades e exortou o Tribunal
Constitucional do país a "corrigir algumas (sic) delas".
Teria sido mais simples para a UE que se substituísse directamente ao
referido Tribunal Constitucional moçambicano.
É de notar que num outro continente a reeleição do
presidente boliviano Evo Morales foi igualmente contestada pela
oposição liberal. Esta última antecipou-se várias
horas à contagem, em 20 de Outubro, e fez descer os seus
partidários à rua. A União Europeia, assim como os Estados
Unidos, rapidamente exigiram que os eleitores retornassem às urnas.
Diante dos tumultos e motins a favor da oposição no interior da
polícia e do exército, o presidente anunciou a sua
demissão em 10 de Novembro. Por enquanto, Bruxelas permanece silenciosa
diante deste
golpe de Estado de facto
.
Os vinte e sete devem doravante "aprender a empregar a linguagem da
força" Ursula Von der Leyen
O ditame da União Europeia a Moçambique foi formulado na
véspera do dia em que a futura Presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, fez um discurso em Berlim por ocasião do
trigésimo aniversário da queda do Muro na qual ela
declarou que os 27 doravante deveriam aprender a "empregar a linguagem da
força" pois "hoje o soft power não é suficiente
se quisermos nos afirmar no mundo como europeus". Confirmou os
comentários feitos anteriormente pelo próximo Alto Representante
da UE para a política externa (ler o editorial da recente
edição da
Ruptures
), o socialista espanhol Josep Borrell.
Aguarda-se portanto com impaciência uma iniciativa forte neste sentido.
Por exemplo um "grupo de batalha" da UE (agrupamentos militares
multinacionais que nunca foram utilizados até hoje) que saltaria sobre
Maputo a fim de fazer prevalecer os resultados eleitorais desejados?
11/Novembro/2019
O original encontra-se em
ruptures-presse.fr/actu/mozambique-ue-frelimo-renamo-bolivie/
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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