A burguesia bate continência para o General Mourão
por Gabriel Landi Fazzio
[*]
Existe quem se deixe enganar pela fala mansa do General-Vice-Presidente
Mourão, mesmo entre a autodeclarada "esquerda". Em um surto de
amnésia, todas suas declarações asquerosas durante a
campanha eleitoral são esquecidas. Após a posse da chapa
presidencial, ao melhor estilo "policial mau, policial bom",
Mourão passou a se maquiar com sensatez. A primeira
manifestação dessa tática aconteceu já na primeira
viagem presidencial: depois de semanas de hostilidade entre Bolsonaro e os
jornais burgueses, Mourão assumiu a Presidência acenando ao
diálogo, concedendo entrevistas e coletivas de imprensa. Vários
outros episódios semelhantes aconteceram nas semanas seguintes.
Agora, o
Valor Econômico
(um dos órgãos jornalísticos mais completos e
transparentes da burguesia brasileira) alardeia, em 28/03/2019: "Em jantar
na casa de Skaf, Mourão agrada a empresários".
Foi "um bate-papo informal sobre importantes questões de
Estado", informou ao
Valor
o próprio presidente da Cargill no Brasil, Luiz Pretti (que
também preside a Câmara Americana de Comércio). Pretti
não foi o único representante do agronegócio convidado
para a reunião: entre os mais de 30 empresários e executivos,
"participaram Rubens Ometto (Cosan), João Ometto (São
Martinho), Marcelo Ometto (Unica), Fernando Galletti de Queiroz (Minerva),
Pedro Parente (BRF) e Jacyr Costa Filho (Tereos)".
"Também estavam presentes Frederico Curado [Grupo Ultra], Johnny
Saad [Grupo Bandeirantes], José Osmar Medina [diretor do Hospital do
Rim, aliado de Skaf], Ruy Baumer [presidente do Sindicato da Indústria
de Artigos e Equipamentos Odontológicos, Médicos e Hospitalares
do Estado de São Paulo], Josué Gomes da Silva [Coteminas, filho
de José Alencar, vice presidente de Lula], Miled Khoury [Sawary Jeans],
Paulo Moll [Rede D'Or], Salo Seibel [Grupo Ligna], Dan Ioshpe [Presidente do
SindiPeças], Victorio de Marchi [AmBev] e Valdemar Verdi Júnior
[RNI negócios imobiliários]". Também o
"ex-presidente do STF e ex-ministro da Defesa de Dilma Rousseff, Nelson
Jobim, hoje no banco BTG", deu o ar de sua graça.
A pauta da discussão, naturalmente, passou pelas principais
exigências burguesas: a reforma da previdência,
redução de impostos para empresários, etc. Além
disso, "na avaliação de um dos executivos, um dos temas foi
a dificuldade de interlocução com Bolsonaro por conta da
influência da família, principalmente de Carlos Bolsonaro".
Curiosamente, o jornalismo sempre tão direto do
Valor
derrapa aqui. Como assim, "na avaliação de um dos
executivos"? Ou a questão foi tema da conversa, abordada por uma ou
mais falas, ou não. Não se trata de uma mera
avaliação,
mas de uma
informação.
O que será que o Valor tenta dissimular?
Em outra passagem, mais uma pista: "Um dos presentes disse não
enxergar um cenário em que Bolsonaro não consiga concluir o
mandato".
Ora, mas quem perguntou? Ou, como diria a sabedoria comercial, "quem
desdenha quer comprar". O empresário citado poderia muito bem ter
acrescentado: "infelizmente
". Ainda mais esclarecedor é
o fato de essa afirmação vir de
apenas um
dos mais de 30 presentes. O que será que se passa na cabeça dos
outros sobre essa mesma questão?
A verdade é que a coisa toda cheira a golpe, apesar de todas juras de
lealdade e toda a "sintonia" com o governo que Mourão
expressou na reunião, segundo o jornal. Como poderia ser diferente em um
encontro cujo anfitrião é justamente Paulo Skaff, golpista
profissional que esteve na vanguarda civil do
Impeachment
de Dilma? Ou como então interpretar as indiretas que saltam por toda a
notícia, do tipo:
"Um executivo disse ter saído do encontro com boa impressão
em relação ao vice-presidente". Segundo ele, Mourão
conversou com todos, foi simpático e acessível, além de
muito ponderado, "um contraponto à postura de Bolsonaro". Para
ele, a impressão é que existe uma ala moderada e sensata no
Planalto".
Na mesma toada, logo no dia seguinte (29/03), o próprio
Valor Econômico
noticiou a declaração do renegado ex-PCdoBista Aldo Rebelo. Com
o bom faro político, que é requisito indispensável para
todo oportunista bem-sucedido, Rebelo pega a coisa no ar: "É
possível que já esteja em curso uma espécie de
bolsonarismo sem Bolsonaro, uma espécie de bolsonarismo perfumado, de
salão, mas com a mesma agenda". Ainda assim, também como bom
oportunista, Rebelo não se esquece de prestar continência aos
militares, com o rabo entre as pernas, reafirmando contraditoriamente que
"não vê germe golpista no ar".
Bolsonaro pode até acreditar que sua tática está bem
coordenada: ele joga para a massa de seus eleitores, Mourão para a
burguesia liberal. Mas essa tática é tanto melhor para
Mourão, que com isso pavimenta seu caminho para a Presidência.
Escolhendo Mourão como seu vice, Bolsonaro acreditava estar blindado:
afinal, que esquerda iria querer depô-lo apenas para empossar um General?
Esqueceu-se, no entanto, que a tradição golpista da burguesia
brasileira é, infelizmente, muito mais consolidada do que a
tradição revolucionária da classe trabalhadora brasileira.
Agora, essa burguesia se prepara para armar a fogueira sob o carro-forte de
Bolsonaro, à espera de que ele próprio bata em retirada de seu
forno blindado. "A menos que Bolsonaro aprenda a governar, seu mandato
será curto", diz a revista
Economist
(segundo Karl Marx, "o órgão europeu da aristocracia das
finanças").
Para a burguesia liberal e mesmo para partes da classe média
"esclarecida", parece ser suficiente essa substituição
do Cabo chucro que fala a língua "do povão" conservador
pelo General de fala mansa que desfere golpes com elegância. Mas se
iludir com Mourão é absolutamente prejudicial para a classe
trabalhadora: uma eventual ascensão do General apenas pode abrir o
caminho para um governo ainda mais repressivo, conservador e alinhado aos
grandes grupos empresariais. Por isso mesmo, é preciso desde já
erguer a bandeira de uma oposição
integral
ao governo Bolsonaro-Mourão, que, no fim das contas, está em
sintonia ao menos naquilo que é essencial: roubar aos pobres para
engordar os ricos.
Abaixo o governo Bolsonaro-Mourão! Nenhum direito a menos! Pelo Poder
Popular e pelo Socialismo!
29/Março/2019
[*]
Militante do PCB de São Paulo
O original encontra-se em
pcb.org.br/portal2/22687/a-burguesia-bate-continencia-para-o-general-mourao/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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