O modelo "Ocean" e o fascismo
Como funciona o novo método de fraudar eleições e
manipular eleitores
O capitalismo sempre utilizou a prática de eleições como
arma contra-revolucionária e de burla das massas. Uma farsa. Mas agora,
com o afundamento do imperialismo, etapa em que se torna mais
reacionário e mais violento, a burguesia em desespero elabora um
método quase "cinematográfico" de
manipulação e enganação do povo, mas cujos
resultados, como já afirmou o
AND
anteriormente, ficaram expressos de
forma clara na campanha do Brexit (saída da Inglaterra do grupo da
União Europeia), nos êxitos do partido alemão
populista-fascista Alternativa Para a Alemanha e na vitória eleitoral do
arqui-reacionário Donald Trump no USA. Expresso também no recente
pleito no Brasil.
Unindo conteúdos teóricos das chamadas Ciências do
Comportamento (Psicologia e outras), mecanismos militares, truques de
espionagem, além de conhecimentos de jornalismo (confecção
de notícias mentirosas ou falsas, as famosas
fake news
), informática (algoritmos e outros) e redes sociais, empresas
direitistas-fascistas desenvolveram algo que pretende ser uma
"máquina" de ganhar eleição e de obter
seguidores fiéis.
Elas criaram um modelo, denominado
"Ocean"
, para estabelecer parâmetros de personalidade de
votantes/eleitores, produzindo materiais específicos para pessoas mais
(ou menos) "neuróticas", "amáveis",
"extrovertidas", etc, fazendo com que seja aumentada a probabilidade
de que cada eleitor vote em determinado candidato ou tema, ou seja, vote no
cliente que contratou a empresa (ou escritório/consultoria) para aplicar
seu marketing.
O "Ocean" é um conjunto de traços psicológicos
que são medidos pelo escritório/consultoria para atingir seu
alvo. Cada letra tem um significado, em inglês.
Vejamos: Letra O = Openness (Abertura Abertura do indivíduo a
novas experiências); Letra C = Conscientiousness (Consciência
Nível de preocupação do indivíduo com
organização e eficiência); Letra E = Extroversion
(Extroversão Nível de sociabilidade do indivíduo,
além de sensibilidade e cooperação com questões
relativas a outras pessoas); Letra A = Agreeableness (Simpatia ou Amabilidade -
Nível de confiança com que o individuo recebe as
notícias) Letra N = Neuroticism (Neurose ou Instabilidade
Emocional Nível de intensidade emocional com que o
indivíduo reage ao receber informações).
ESCÂNDALO FOGO DE PALHA
Esse modelo, embora lembre um teste de almanaque antigo, uma psico-tolice, uma
sondagem mental fraudulenta, ao ser vitaminado com outros ingredientes
(notadamente com TI, Tecnologia de Informação), produziu efeitos
danosos em parcelas da população mundial submetidas a ele. Tais
efeitos foram denunciados no primeiro semestre deste ano, como sendo o
"escândalo do Facebook". Descobriu-se que
empresas/escritórios/consultorias roubaram milhões de dados
daquela rede social para fazer marketing político direcionado (com base
no "Ocean"), através do bombardeio de postagens
cibernéticas individualizadas, com evidente propósito
manipulador. Muitas dessas postagens eram compostas por noticias falsas.
Foram apontados como culpados o Facebook (que por causa disso teria perdido
parte de seu valor econômico) e a empresa Cambridge Analytica (CA).
Porém foi tudo fogo de palha e simulação: o Facebook
perdeu só umas migalhas de seu poderio e a CA, embora tenha anunciado
falência, parece ter seguido em seu trabalho, de modo disfarçado.
A Cambridge é uma agência de publicidade anglo-ianque que analisa
dados de eleitores ou consumidores para executar "planos de
comunicação estratégica".
Inicialmente, para montar seus primeiros planos, ela usou os resultados de um
questionário aplicado por pesquisadores da Universidade de Cambridge
(Inglaterra) em 50 mil voluntários usuários do Facebook.
As respostas do questionário permitiram à CA usar algoritmos e
avaliar a intensidade com que cada item do "Ocean" estava presente na
personalidade (ou comportamento) das pessoas. Antes do escândalo, afirmou
o gerente da Cambridge no EUA,
Alexander Nix
: "Após milhares e milhares de americanos responderem ao
questionário, nós desenvolvemos um modelo capaz de prever a
personalidade de cada um dos adultos que vivem nos Estados Unidos".
E mais: a CA além de anunciar que possui controle/predição
sobre os habitantes dos EUA, parece controlar o próprio presidente do
país. Sim, a empresa não é um business qualquer. Ela
é praticamente "a dona" de Donald Trump, pois foi a principal
patrocinadora financeira da candidatura, através do seu
trilionário fundador/presidente Robert Mercer.
Mercer, ex-programador da IBM que fez uma imensa fortuna descobrindo usos para
algoritmos complexos (em computação, trata-se de
sequência-ritmo finito de instruções para executar
determinada tarefa, repetindo passos para isso), hoje é um ancião
judeu recluso e fascista. Conforme artigo do repórter Matt Forney,
publicado na internet em 12 de outubro de 2017, ele é um fervoroso
apoiador do estado sionista de Israel.
Assim fica fácil entender o motivo pelo qual Trump reconheceu
Jerusalém como capital de Israel, confrontando a ONU e a maioria das
nações do mundo, que vêem a cidade também como
capital palestina-árabe.
CHANTAGEANDO COM PROSTITUTAS E ESPIÕES
Bob Mercer e sua Fundação têm aberto generosamente os
cofres para a direita dos EUA, da Inglaterra e de outros pontos do planeta
(comenta-se que o dinheiro chegou até o Brasil). Desde 2010, só
nos EUA, eles doaram 36 milhões de dólares para candidatos do
Partido Republicano e grupos reacionários variados.
Eles são, por exemplo, os mantenedores de um site de notícias
agressivo e odiado pelo povo estadunidense, chamado Breitbard News e de uma
organização policialesca chamada Secure America Now, dentre
outras. Anos atrás foram parceiros dos Irmãos Koch no
financiamento de entidades de jovens direitistas, principalmente na
América Latina.
Portanto os dólares de Mercer também aparecem em nosso
país como incentivadores/criadores do MBL (Movimento Brasil Livre),
conforme denúncia do jornal
The Guardian
acerca das ações dos Koch. O MBL era coordenado por
Kim Kataguiri
, um quase adolescente acusado de mentiroso por seus professores, e de cometer
ilegalidades na internet, como perfis falsos e páginas sustentadas com
fake news, que lhe valeram punições. Mesmo com o MBL moribundo,
na última votação Kataguiri elegeu-se deputado federal
pelo DEM (ex Arena ou PDS/PFL, partidos de sustentação da
ditadura militar).
Mercer também bancou um grupo que produziu anúncios
anti-muçulmanos para redes sociais e Google na eleição de
2016 no USA.
Sócio de Mercer além de gerente da Cambridge antes do
escândalo Facebook, Alexander Nix foi filmado por uma emissora de TV
britânica falando sobre o uso de chantagem para encurralar
políticos, através da contratação de prostitutas e
espiões. Nas imagens feitas pelo Channel 4 ele aparece se gabando de
seus métodos (e da empresa CA) para desacreditar adversários
políticos (competidores de seus clientes por certo), envolvendo
espionagem e prostituição.
MUDANÇA COMPORTAMENTAL EM 60 PAÍSES
Embora grande e forte, a CA é apenas um braço de outra companhia,
o SCL (
Strategic Communication Laboratories
). Sediada na Inglaterra, essa empresa-matriz prepara estratégias
políticas para governos e empreendimentos particulares baseada na
análise de dados. Conforme seu site, já "conduziu programas
de mudança comportamental em mais de 60 países", e tem
escritórios na Ásia e América Latina.
O SCL tem duas vertentes: SCL Defesa e SCL Eleições. Já
prestou serviços para os Departamentos de Defesa da Inglaterra, e do USA
no Oriente Médio (incluindo o Afeganistão, onde as tropas do Tio
Sam estão tomando um suadouro e não conseguem ganhar a guerra).
Segundo informou ao jornal
The Guardian
o ex-funcionário Christopher Wylie, a especialidade do SCL
"são as operações psicológicas", que
procuram mudar as crenças e os pensamentos políticos das
pessoas-alvos por meio da "dominação informativa",
técnica que inclui rumores, desinformação e
circulação maciça de notícias falsas.
Wylie, que foi o principal denunciante do vazamento de dados do Facebook, que
deu origem ao escândalo, disse ao jornal que as
"operações de informação" fazem parte da
doutrina militar dos EUA. Outro funcionário do SCL comparou a empresa a
um "MI6 de aluguel" (leia-se "mercenário"),
referindo-se ao nome do famoso serviço secreto britânico. Mas
é como um MI6 sujo, porque você não é tolhido e
não precisa estar subordinado a controle (para trabalhar em atos de
espionagem e similares).
Mark Block, estrategista do Partido Republicano do USA afirmou certa vez que o
SCL "faz guerra cibernética para (vencer-se)
eleições".
O dono do SCL, fundado em Londres em 2005 é o milionário
britânico
Nigel Oakes
, um dos irmãos Oakes, ligados à nobreza, aos ricos e poderosos
da terra-da-rainha. Nigel foi também o fundador do Behavioral Dynamics
Institute. Como o nome indica, esse Instituto realiza Dinâmicas
Comportamentais, que são práticas psicológicas ou
técnicas utilizadas para identificar diferenças no
"funcionamento" dos seres humanos. Essas técnicas foram
resultado de um estudo psicológico iniciado há décadas
pelo ianque MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) com mais de 200 mil
pessoas de 25 culturas.
Agora esses conhecimentos estão sendo usados para manipular eleitores e
ganhar rios de dinheiro com campanhas eleitorais, em favor de teses
ultradireitistas/fascistas.
"ESTAMOS INDO PARA O BRASIL"
Um aliado de Bob Mercer e integrante da CA foi assessor da campanha eleitoral
de Trump e, depois da vitória, fez parte de sua equipe de governo. Seu
nome: Steve Bannon.
Em agosto último, Eduardo, um dos filhos do candidato Jair Bolsonaro,
informou em rede social que se encontrou com Bannon nos EUA. Feliz da vida
postou uma foto de ambos, sorrindo juntos, e anunciou que o assessor iria atuar
como conselheiro da campanha de seu pai.
No entanto, essa relação da Cambridge com nosso país (na
verdade o interesse da empresa em "participar", leia-se lucrar
financeiramente ou ideologicamente, da eleição brasileira de
2018) começou bem antes.
Em 2016, segundo a BBC Brasil, um especialista nacional em marketing,
André Torretta
, foi procurado por um emissário da CA, do qual ele não informou
o nome, pretendendo criar estratégias de comunicação
adequadas ao candidato brasileiro que contratasse o serviço, pois a
firma "tinha especial interesse nas eleições de 2018".
Animado, em 2017 Torretta concordou em abrir uma filial no país, que se
chamaria CA Ponte (junção dos nomes Cambridge Analytica e Ponte
Estratégia). Passados alguns meses, o Estado de S.Paulo de 21 de janeiro
de 2018 publicou que membros da equipe de Bolsonaro tentaram contratar a CA,
mas que o trabalho não teria sido acertado.
O tempo passou, até que dois meses depois, em 21 de março, o
acerto parece ter sido realizado, pois O Globo publicou o seguinte:
"Estamos indo para o Brasil", diz diretor da Cambridge Analytica
Empresário da consultoria que coletou dados do Facebook para
Trump miram o ano eleitoral no país.
Quem veio foi Mark Turnbull, diretor de gestão da CA, confirmando que a
companhia efetivamente iria atuar no Brasil, e que inclusive uma filial estava
em funcionamento aqui.
Ao iniciar o serviço, os executivos da CA Ponte planejaram utilizar
cerca de 750 informações sobre cada eleitor brasileiro
freqüentador de redes sociais, para direcionar a propaganda adequada
à personalidade/comportamento de cada um. Isso porque o uso de Big Data
(grande volume de dados) é o principal instrumento da CA em atividades
políticas. Nos EUA foram mais de 1000 informações por
eleitor. O que se viu, em seguida, foi a vitória do improvável
Donald Trump.
O que se viu aqui foi um enorme crescimento da candidatura Bolsonaro,
alimentada por 40 mil robôs atuando no Twitter, 100 mil contas no
WhatsApp, 68 páginas no Facebook gerando mais de 12 milhões de
interações via perfis falsos e spams.
Em outubro, quando acontecia o primeiro turno, a revista
Fórum
divulgava a bomba sobre a ajuda de Steve Bannon ao candidato:
Guru da ultra-direita mundial e ex-assessor de Trump atua na campanha das redes
sociais de Bolsonaro Divulgando fake news e material misógino,
xenófobo e racista, Steve Bannon concentrou o movimento de
extrema-direita nos EUA.
Bannon parece ter dado conselhos proveitosos. O candidato venceu a
eleição no segundo turno. Antes disso, o jornal
Folha de S. Paulo
noticiou, possivelmente indicando o papel que o guru estrangeiro estaria
desempenhando na campanha brasileira, que empresários estariam comprando
pacotes de disparos em redes sociais de milhões de mensagens contra o
adversário.
Seria uma ação ilegal, por ser considerada doação
financeira disfarçada. Segundo o jornal, essas empresas estariam usando
bases de dados vendidas por agências de estratégia digital, o que
também é fora da lei. As normas eleitorais permitem apenas o uso
de listas de apoiadores do próprio candidato, com números cedidos
de forma voluntária.
14/Novembro/2018
[*]
Jornalista.
O original encontra-se em
anovademocracia.com.br/...
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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