Deixo aqui uma saudação, certamente compartilhada pela
militância do meu Partido, às delegações dos
diversos Partidos presentes e a todos os convidados a este importante
Seminário Internacional, nomeadamente aos camaradas do Partido Comunista
do México (PCM), uma referência fundamental na
reconstrução revolucionária do Movimento Comunista
Internacional (MCI).
Tive o privilégio de assistir ao V Congresso do PCM, em 2014, em nome do
PCB, e testemunhar o que penso ter sido o momento de um salto de qualidade
desse partido marxista-leninista de fato (e não por auto
proclamação), vocacionado a se constituir na vanguarda da classe
operária mexicana e seus aliados, no caminho ao socialismo e ao
comunismo.
Impressionou-me, para além da energia e jovialidade de sua
militância e da qualidade política e ideológica dos seus
quadros, a composição social positivamente equilibrada do
conjunto dos delegados, com uma presença proletária significativa
e indicativa das possibilidades de inserção do Partido na classe
operária e entre os trabalhadores em geral.
As trajetórias do PCM e do PCB nas últimas décadas guardam
algumas diferenças e semelhanças. Uma destas é que nossos
Partidos foram vítimas de maiorias reformistas nos respectivos
Comitês Centrais que, para empreender a sua liquidação, se
aproveitaram da crise do MCI, em meio aos desvios revisionistas que acabaram
por degenerar e liquidar por dentro o Partido Comunista da União
Soviética (PCUS), culminando com a contrarrevolução que
levou à derrota as experiências de construção do
socialismo na União Soviética e no Leste Europeu.
É preciso deixar claro que a contrarrevolução e
liquidacionismo não surgiram da noite para o dia. Foram resultados de um
longo período em que vicejaram no MCI teses como as da
coexistência pacífica com o imperialismo, das alianças com
as burguesias, da renúncia à ditadura do proletariado e do
caminho pacífico ao socialismo, nos marcos da democracia burguesa (a
forma mais eficiente da ditadura do capital), que levaram ao
"eurocomunismo" e, posteriormente, na União Soviética,
à
glasnost
e à
perestroika.
A mais importante semelhança é que, por caminhos e em momentos
diferentes, o PCB e o PCM se reconstruíram e se situaram no campo
marxista-leninista do MCI, entre aqueles partidos que declaram
inconciliáveis o capital e o trabalho e impossíveis a
humanização e a reforma do capitalismo.
No caso do PCB, o revisionismo encontrou espaço para prosperar a partir
de uma Conferência Política, em 1958, cujas
resoluções, conhecidas como a "Declaração de
Março", marcaram a mudança radical de uma linha
política de antagonismo de classes, que vigorava desde o início
daquela década, e que passou a ser considerada sectária,
esquerdista e obreirista. A partir da posição equivocada de
considerar a contradição fundamental da sociedade brasileira como
sendo entre a nação e o imperialismo, passou a prevalecer no
Partido a opção pela ação política no
âmbito da institucionalidade burguesa, como via estratégica para
uma suposta revolução nacional e democrática, etapa tida
então como
sine qua non
em relação a uma futura revolução socialista.
A "Declaração de Março" (no que tem de
fundamental confirmada pelo V Congresso do PCB, 1960) foi uma das principais
razões da dura derrota que o PCB e os trabalhadores brasileiros sofreram
com o golpe sob a forma militar perpetrado, em abril de 1964, pelas
frações hegemônicas da burguesia brasileira e pelo
imperialismo, na medida em que alimentava a ilusão de que as reformas do
governo popular e democrático de João Goulart iam de vento em
popa, sem riscos de retrocessos.
Nosso Partido até 1964 indiscutivelmente hegemônico no
movimento sindical e operário, nas lutas estudantis e populares e no
mundo das artes e da cultura estava totalmente despreparado para levar
as massas a reagir ao golpe, que já dava muitos sinais de que estava
sendo costurado. O PCB foi fortemente golpeado, tendo passado mais de vinte
anos na clandestinidade, vítima de cruel repressão que ceifou a
vida de dezenas de valorosos quadros.
Eis algumas das conclusões a que chegou a Conferência Nacional de
1958
[1]
, alimentando as ilusões que levaram a esta profunda derrota:
"A revolução no Brasil, por conseguinte, não é
ainda socialista, mas anti-imperialista e antifeudal, nacional e
democrática..."
"O caminho pacífico da revolução brasileira é
possível em virtude de fatores como a democratização
crescente da vida política, o ascenso do movimento operário e o
desenvolvimento da frente única nacionalista e democrática em
nosso país... 0 povo brasileiro pode resolver pacificamente os seus
problemas básicos com a acumulação, gradual, mas
incessante, de reformas profundas e consequentes..."
Aos que se preocupavam com a possibilidade de um golpe de direita, a
Declaração os tranquilizava, assegurando que a
"legalidade institucional"
seria garantida pela
"frente única nacionalista e democrática"
e, pasmem, pelas próprias forças armadas do Estado
burguês...
"... pela resistência das massas populares, unidas aos setores
nacionalistas do Parlamento, das forças armadas e do governo, para impor
ou restabelecer a legalidade democrática, no caso de tentativas de golpe
por parte dos entreguistas e reacionários, que se proponham implantar no
país uma ditadura a serviço dos monopólios
norte-americanos".
Em 1º de abril de 1964, como sabemos, os comandantes das forças
armadas derrubaram o governo progressista em apenas um dia, sem qualquer
resistência, e instalaram uma ditadura burguesa sob a forma militar que
durou mais de 20 anos! Qualquer semelhança com o que acontece há
quase um século, notadamente na América Latina e no Caribe,
não é mera coincidência!
Só em dezembro de 1967, o PCB consegue realizar clandestinamente seu VI
Congresso, que persiste na estratégia etapista da
"revolução nacional e democrática, em aliança
com a burguesia nacional"
, como se vê nas seguintes passagens de suas resoluções:
[2]
"... esforçando-se (o partido) por conduzir à
luta contra o imperialismo e o latifúndio
as mais amplas massas da população brasileira,
inclusive a burguesia nacional
..."
(grifos meus)
"A vitória da revolução nacional e democrática
assegurará a completa libertação econômica e
política do país da dependência ao imperialismo e a
transformação radical da estrutura agrária, com a
eliminação do monopólio da propriedade da terra e das
relações pré-capitalistas de produção...
Através desse caminho de desenvolvimento serão criadas as
condições materiais para o desenvolvimento socialista da
sociedade brasileira
".
(grifos meus)
O VI Congresso define o novo regime burguês como
"
ditatorial, militar, de conteúdo entreguista, antidemocrático e
antioperário"
e afirma que o caminho para sua derrota é o
"desenvolvimento da luta de massas e de unidade de ação das
forças democráticas"
, o que ficou conhecido como a
política de frente democrática.
Alguns fatores contribuíram para que esta política surtisse
efeitos relevantes por pouco mais de dez anos: a derrota militar da heroica
luta armada foquista e voluntarista, a frustração de setores das
classes dominantes que queriam uma "redemocratização"
sob sua hegemonia e o fechamento total do regime, no final de 1968, como
resposta ao surgimento de greves operárias e multitudinárias
manifestações puxadas pela juventude estudantil, que mobilizavam
setores da classe média e o mundo das artes e da cultura. Esses fatores
fortaleceram o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), então o
único partido oposicionista permitido, que passa a ser a
expressão política e social da frente democrática e que, a
partir de 1974, consegue expressivas vitórias eleitorais que debilitam
de certa forma a ditadura.
Mas quando, em 1978, o movimento sindical e operário explode a partir da
faísca acesa pelas greves dos metalúrgicos paulistas e
experimenta um ascenso vertiginoso e consistente que persiste por cerca de dez
anos, começa a dividir-se a "frente democrática". Com o
agravamento das contradições entre o capital e trabalho, em face
das greves que se espalharam por todo o país e por todos os ramos de
produção, o MDB (policlassista, com hegemonia de setores
burgueses) passa a sofrer os efeitos desta divisão, com o surgimento,
à sua esquerda, de movimentos que levaram à
criação, no início dos anos 1980, do PT (Partido dos
Trabalhadores, liderado por Lula) e do PDT (Partido Democrático
Trabalhista, liderado pelo falecido Leonel Brizola), ambos socialdemocratas.
Amarrado à linha reformista, o PCB continua atuando no MDB e passa a
cumprir o papel de bombeiro da luta de classes, desestimulando greves e o
surgimento de instrumentos intersindicais combativos, a pretexto de não
"desestabilizar a transição democrática"
, quando, na verdade, o que acelerou o ocaso da ditadura não foi a
conciliação, mas a entrada em cena da classe operária e
demais trabalhadores que, com suas lutas, romperam com um confisco salarial de
15 anos, recuperaram direitos trabalhistas perdidos e conquistaram novos.
Ao invés de se aproximar de partidos progressistas e
articulações intersindicais classistas que surgiam, o
Comitê Central (CC) reforçava laços com o sindicalismo
pelego e a oposição burguesa, apoiando incondicionalmente o
governo Sarney (1985/90) e pagando o preço de um registro legal do PCB,
negociado tacitamente (em 1996), que o transformou em um partido de filiados,
aliado do MDB, basicamente eleitoral, bem comportado, empenhado em substituir
suas células com base nos locais de trabalho por diretórios
registrados cartorialmente na justiça eleitoral pelo critério do
local de moradia.
Confirmada pelos VII (1982) e VIII (1987) Congressos, essa linha
política reformista fez dos anos 1980 uma década perdida para o
PCB, marcada pela degeneração ideológica e perda de sua
importância no movimento sindical e operário, mas também de
uma luta interna crescente, que tomou corpo a partir de uma Conferência
Sindical Nacional do Partido (1987) em que a maioria dos participantes
impôs uma fragorosa derrota à política de
conciliação de classe.
Importante registrar que, por volta de 1972, sentindo que a ditadura planejava
um duro golpe contra o Partido, o CC decidiu manter no país apenas um
terço dos seus membros e articulou o exílio dos demais, incluindo
o camarada Luiz Carlos Prestes (à época Secretário Geral),
que se estabeleceu em Moscou. Esta ofensiva contra o PCB se deu depois que as
organizações que optaram pela luta armada haviam sido derrotadas.
É que o regime pretendia destruir as forças com potencial
revolucionário antes de promover uma anistia e iniciar a
"redemocratização", que definia como
"lenta, segura e gradual"
, com vistas a mudar a forma, mas não a essência, da ditadura de
classe da burguesia. E o PCB, pelo passado heroico que o credenciava a ter
futuro, por sua importância política e sindical à
época e suas ligações internacionais, era tido pelos
ideólogos da direita como o principal inimigo a ser batido, antes do
início do rito de passagem que ficou conhecido como
"transição democrática".
Entre 1974 e 1975, a ditadura prendeu e assassinou quase todos os cerca de 15
membros do CC que ficaram no país. No final de 1979, retornam ao Brasil
todos os membros do CC que estiveram exilados, após anistia acordada
entre a ditadura e a oposição burguesa, que beneficiava tanto as
vítimas como os algozes da repressão, dos mandantes aos
torturadores e assassinos. Em pouco tempo, percebeu-se que voltavam divididos
em três grupos: um, minoritário, em torno de Prestes; outro,
majoritário, da velha burocracia exilada em países socialistas,
sobretudo a URSS; o terceiro, também minoritário, dos
eurocomunistas que se haviam instalado na Europa Ocidental, em especial na
Itália.
Infelizmente porque eram corretas as críticas que faziam à
política de conciliação de classes da maioria do CC
o camarada Prestes e seu grupo tomaram outros rumos e se afastaram do Partido,
em 1980, com a publicação da "Carta aos Comunistas"
[3]
. Consolidou-se então no CC uma aliança entre a velha burocracia
reformista e os eurocomunistas, tendo como Secretários Gerais os
camaradas Giocondo Dias (1980-87) e Salomão Malina (1987-91).
Em junho de 1991, no IX Congresso, Malina renuncia à Secretaria Geral,
já transformada em Presidência Nacional, a pretexto de
adaptação à legislação, e entrega a
direção nacional do PCB a um parlamentar oportunista do Partido,
expoente de uma corrente interna socialdemocrata que se apresentava como
"renovadora" e já comandava, naquele momento, a vã
tentativa de liquidar o PCB, com a ação ou omissão de
praticamente toda a velha guarda reformista, que sucumbiu política e
pessoalmente ao colapso do PCUS e da União Soviética.
Alguns meses antes do IX Congresso (1991), camaradas minoritários no
Comitê Central que se colocavam contra a liquidação do
Partido, articularam-se e divulgaram um manifesto denominado
"Fomos, somos e seremos comunistas!"
[4]
, conseguindo derrotar no Congresso, por uma margem estreita de votos, a
proposta de criação de uma
"nova formação política"
que substituísse o PCB. Apesar disso, esta corrente que lutava para
manter e reconstruir o PCB (chamada pelos reformistas de "ortodoxa")
permaneceu em minoria no novo CC eleito.
Em agosto de 1991, aproveitando-se do fim iminente da União
Soviética e do PCUS, a Executiva Nacional do Partido resolve convocar,
em caráter de urgência, uma sessão extraordinária do
CC para 1º de setembro, com um único ponto na pauta: a
convocação de um Congresso Extraordinário (para 24 e 25 de
janeiro de 1992), para liquidar o PCB e decidir o nome e a
direção do
"novo partido de esquerda"
que o substituiria, proposta aprovada, nesta sessão do CC, por cerca de
dois terços dos presentes.
Ao término da sessão, os membros do CC que votaram contra a
proposta assumiram imediatamente a mesa dos trabalhos. Decididos a lutar pela
manutenção do Partido, resolveram divulgar o manifesto
"O PCB VIVE! VIVA O SOCIALISMO!"
[5]
, criar o
Movimento Nacional em Defesa do PCB
e convocar o
Encontro Nacional em Defesa do PCB
, que se realizou com sucesso, no Rio de Janeiro, em 12 e 13 de outubro, com a
presença entusiástica de centenas de militantes de 16 Estados
brasileiros.
Este Encontro aprovou uma Declaração Política, elegeu uma
Coordenação Nacional do Movimento e decidiu como tarefa
prioritária uma imediata campanha de agitação e contatos
com a militância, considerando que era possível construir uma
maioria para derrotar os liquidacionistas, já que nas bases
partidárias a proposta de acabar com o PCB repercutia negativamente.
No entanto, em meio aos debates para a eleição de delegados, a
Executiva Nacional do CC instituiu o que chamou de
"Fóruns Socialistas"
, reuniões a que não tínhamos acesso, em que podiam ser
eleitos delegados com direito de voto no Congresso Extraordinário
não militantes do PCB que declarassem pretender filiar-se ao "novo
partido" que nele seria criado, falsificando previamente o resultado, em
aliança com setores identificados como a "esquerda do MDB".
Diante disso, a Coordenação Nacional do Movimento convocou nossos
militantes comprometidos com a manutenção do PCB para um Encontro
Nacional, algumas horas antes do início do "X Congresso", num
local a poucos metros de onde se realizaria a tentativa de liquidar o Partido.
Constatado que o direito de voto a não filiados havia alterado a
correlação de forças na militância em nosso
desfavor, o Encontro, por unanimidade das centenas de militantes presentes,
decidiu não reconhecer o "X Congresso", transformar nosso
encontro em
CONFERÊNCIA NACIONAL DE REORGANIZAÇÃO DO PCB
, marchar coletivamente até o recinto em que se realizaria a farsa, nela
exigir a palavra de dois camaradas para expor nossas posições e,
na volta, dar início à Conferência Nacional, em que foi
eleito o novo Comitê Central do PCB, aprovada uma
Declaração Política e convocados uma nova
Conferência para agosto daquele ano e o verdadeiro
X CONGRESSO,
para março de 1993.
A principal diferença entre as trajetórias do PCB e do PCM, hoje
em dia relativa, é que no caso do PCB não houve
solução de continuidade na existência do Partido, enquanto
que, em relação ao PCM, houve um lapso temporal de 13 anos, entre
a dissolução (1981) e o início da sua
reconstrução (1994), conforme exposto nas Teses do seu
Comitê Central,
"Um siglo de lucha de los comunistas de México"
[7]
, que dão início a um estudo rigoroso e metódico da sua
história.
O diferencial positivo a favor do PCB é que não deixou de existir
um dia sequer, desde a sua fundação em 1922. Mesmo tendo passado,
também por treze anos (1992-2005), por um período de debilidades
organizativas e materiais e indefinições políticas e
ideológicas, de qualquer forma o Partido nunca deixou de ser uma
força a serviço das lutas e reivindicações dos
trabalhadores, da defesa do socialismo e do internacionalismo proletário
e nunca abandonou a sua referência nas contribuições de
Marx, Engels e Lenin.
Durante esses 13 anos, foi-se forjando um núcleo dirigente capaz de
enfrentar a confusão ideológica que se instalou nos primeiros
anos de reconstrução e de consolidar, num lento processo de
estudos, debates e enfrentamentos a diversas formas de reformismo e
oportunismo, uma linha estratégica revolucionária baseada na
convicção de que a contradição fundamental na
sociedade brasileira é entre o capital e o trabalho
caracterizando a revolução como socialista e numa
concepção leninista de partido, fincado nas células, no
centralismo democrático e na direção coletiva.
Não foram poucas as dificuldades de lutar ao mesmo tempo pela
preservação e reconstrução de um partido marcado
à época pela conciliação de classes e a
diluição orgânica. Em 1992, muitos camaradas seguiram
conosco no Partido mas, por variadas razões diferentes da vontade de
reconstruí-lo revolucionariamente, como se nossa luta fosse apenas para
preservar um patrimônio histórico.
Em todos os debates no CC e nos Congressos que realizamos em 1993 (X), 1996
(XI), 2000 (XII) e 2005 (XIII) havia sempre um fluxo de entradas e
saídas de militantes no Partido, sempre reforçando o aspecto
qualitativo. O grande consenso dos que ficamos no Partido em 1992 era a sua
preservação, mas as divergências apareciam de forma
inconciliável quando o debate era com relação à
natureza do partido, à política de alianças, ao
caráter da revolução brasileira e outros temas.
As resoluções do XIII Congresso
[8]
, realizado em março de 2005, foram o marco da
reconstrução do PCB como partido revolucionário, passando
a atrair a confiança de muitos comunistas. Podemos dizer que o ano de
2022 marcará, ao mesmo tempo, três momentos importantes da
história do PCB: os 100 anos de sua fundação (1922), os 30
anos de sua refundação (1992) e os 17 anos (2005) de sua
reconstrução revolucionária.
Na sequência do XIII Congresso, nosso Partido depurou-se naturalmente dos
reformistas que defendiam a manutenção de nosso apoio ao governo
de conciliação de classe do PT, do qual afastamo-nos por
decisão da maioria esmagadora dos delegados.
O processo de reconstrução consolidou-se com a
Conferência Nacional de Organização,
de março de 2008
[9]
que aprovou o atual Estatuto e armou o Partido com critérios
leninistas para se adaptar à nova orientação
política e com o
XIV Congresso
, de outubro de 2009
[10]
que, a partir de uma análise rigorosa sobre a formação
social e o capitalismo brasileiros e a conjuntura internacional, recuperou
definitivamente o prestígio do PCB, que passa a ser respeitado e
considerado um partido relevante no Brasil e no seio do Movimento Comunista
Internacional.
Uma boa síntese das conclusões a que nosso Partido chegou neste
processo, tirando proveito da análise dos nossos próprios erros
do passado, encontramos numa passagem de um texto elaborado por uma
comissão de membros do Comitê Central
[11]
, publicado em 2013
("Breve balanço das polêmicas e dissidências comunistas
no Brasil"):
"Nos últimos vinte anos, nós, comunistas do PCB, temos
procurado caracterizar a realidade brasileira com base na perspectiva central
de que o capitalismo desenvolveu-se de forma plena no país. Rompemos em
definitivo com a estratégia nacional-democrática ou
nacional-libertadora, a partir do momento que deixamos de ter qualquer
ilusão com a possibilidade de construção de um
"capitalismo nacional autônomo", capaz de se chocar com os
imperativos mundiais do capitalismo monopolista e do imperialismo.
Tentamos aprender com os erros do passado, em especial com a derrota
imposta aos comunistas e à classe operária pelo golpe de 1964 e
pela ditadura que aprofundou o capitalismo no país. Daí
afirmarmos categoricamente que o caráter da revolução no
Brasil é socialista e defendermos uma estratégia de lutas
anticapitalista e anti-imperialista como única alternativa
possível à realidade atual, de hegemonia completa da
burguesia".
Já a reconstrução do PCM, iniciada em 1994, teve como
vantagens comparativas primeiro o fato de ter se dado em um momento em que os
escombros do Muro de Berlim e sobretudo os da União Soviética
já não embaçavam tanto a visão dos comunistas e,
segundo, por ter sido um recomeço sem ter que conviver, em minoria, com
os que queriam acabar com o Partido por dentro nem com os que queriam
mantê-lo para continuar como era!
Permito-me apontar aqui alguns dos principais fatores que, a meu juízo,
favoreceram a vitória dos esforços para que o PCB e o PCM se
reencontrassem com sua vocação revolucionária: a
influência positiva da reconstrução do MCI, a partir dos
Encontros Internacionais de Partidos Comunistas e Operários, por
iniciativa do Partido Comunista da Grécia (KKE) e a
refundação de nossas Juventudes Comunistas, que têm sido
decisivas para revigorar os nossos Partidos. Não há futuro para
qualquer partido comunista, se não contar com uma juventude
revolucionária!
Mas esse balanço não pode nos levar a ilusões de que nosso
futuro revolucionário está garantido pelo que já fizemos
(e não fizemos!) até aqui.
Só estaremos na vanguarda das Revoluções Socialistas que
virão, em nossos países e no mundo todo, se não
abandonarmos o leito fértil do marxismo-leninismo e do internacionalismo
proletário; se não conciliarmos com o reformismo senil e o
esquerdismo infantil e se, na tática, não nos afastarmos da
estratégia!
Proletários de todo o mundo, uni-vos!
Cidade do México, 23 de novembro de 2019
PS Ao concluir esta modesta contribuição a esse
necessário balanço, não posso deixar de render homenagem a
todos os nossos velhos camaradas: aos que dedicaram suas vidas ao Partido, aos
que pagaram com elas; aos que ficaram no Partido antes ou depois de 1991 e aos
que seguiram com Prestes. Tive a honra de conviver e aprender com muitos deles.
Travamos debates francos e calorosos, às vezes duros, em torno de nossas
divergências, mas sempre num ambiente de respeito mútuo e de
camaradagem. São heróis do povo brasileiro! Mesmo quando erravam,
pensavam acertar! E aqueles que hoje consideramos seus erros se deram em
praticamente todos os Partidos Comunistas!
(1)
www.marxists.org/portugues/tematica/1958/03/pcb.htm
(2)
www.marxists.org/portugues/tematica/1967/12/resolucao.htm
(3)
www.marxists.org/portugues/prestes/1980/03/carta.htm
(4)
fdinarcoreis.org.br/...
(5)
fdinarcoreis.org.br/fdr/2012/06/05/manifesto-em-defesa-do-pcb/#more-55
(6) Neste evento, resolveu-se criar o chamado PPS - Partido Popular Socialista,
um partido socialdemocrata que gradualmente se posicionou na centro-direita e
que já mudou de nome para Cidadania;
(7)
solidnet.org/article/...
(8)
fdinarcoreis.org.br/fdr/2013/01/22/resolucoes-do-xiii-congresso-do-pcb/
(9)
pcb.org.br/portal/precongresso/XIVTeses4.pdf
(10)
fdinarcoreis.org.br/fdr/2012/07/06/outros-outubros-virao/
(11) Comissão formada pelos camaradas Milton Pinheiro, Muniz Ferreira e
Ricardo Costa.
[*]
Membro do Comitê Central do PCB.
Intervenção no Seminário Internacional promovido pelo
Partido Comunista do México, em 23/11/19, nos marcos das
comemorações de um século de luta dos comunistas mexicanos
e dos 25 anos da reconstrução do seu partido.
O original encontra-se em
https://pcb.org.br/portal2/24421/a-reconstrucao-revolucionaria-do-pcb-2/
Esta intervenção encontra-se em
https://resistir.info/
.