Aqui está a notícia de um importante aniversário ignorado
no Ocidente e pelos media corporativos. Este ano, 2020, é o 70º
aniversário do exército de Voluntários do Povo
Chinês (VPC) ter entrado na República Popular Democrática
da Coreia (RPDC) para ajudar no que os chineses chamam "A guerra para
resistir à agressão dos EUA e ajudar a Coreia".
"A guerra, que aconteceu há 70 anos, foi imposta ao povo
chinês pela invasão do imperialismo. Depois de os EUA terem
ignorado repetidamente os avisos do governo chinês e de descaradamente
iniciarem uma guerra contra a Coreia, atacando mesmo o território da
República Popular da China (RPC), o Partido Comunista da China (PCC) e o
governo chinês tomaram resolutamente a decisão histórica de
resistir à agressão dos EUA, ajudar a Coreia e proteger a sua
pátria, assumindo a missão de salvaguardar a paz com coragem
indomável."
"Depois de as forças das Nações Unidas terem invadido
a RPDC em Outubro de 1950, avançando rapidamente em
direcção ao rio Yalu, que faz fronteira com a China, os VCP
cruzaram o Yalu e juntaram-se ao povo e ao exército da RPDC. Dois anos e
nove meses depois, o VCP e a RPDC "conquistaram uma grande
vitória".
O autor americano Bruce Riedel
referiu-se-lhe
como "a catástrofe do Yalu".
Em 31 de dezembro de 1950, os americanos já tinham sido levados 120
milhas [193 km] de volta ao sul do paralelo 38 e ainda estavam recuando. Seul
caiu nas mãos dos exércitos de Peng Dehuai [o comandante directo
dos VCP] no início de 1951. Foi de longe o pior desastre militar que as
Forças Armadas dos EUA sofreram em todo o século XX.
Foi uma vitória militar para os camponeses chineses e os combatentes da
RPDC, mas como deixou claro o
Diário do Povo,
isso não foi assumido com triunfalismo militar.
"O povo chinês ama e preza a paz. Considera a salvaguarda da paz
mundial e a oposição à hegemonia e à
política de poder como sua responsabilidade sagrada. Opõe-se
firmemente a que se recorra à ameaça da força militar para
resolver disputas internacionais e interferir nos assuntos internos de outros
países sob o nome da chamada democracia, liberdade e direitos
humanos".
O presidente do CPC, Xi Jinping, tinha-o dito anteriormente, em 28 de
Março de 2014:
"A nação chinesa, com 5 000 anos de
civilização, sempre acalentou a paz. A busca pela paz, amizade e
harmonia é parte integrante do carácter chinês que
está profundamente enraizado no seu povo".
[1]
Como salientou o
Diário do Povo:
"A vitória da Guerra para Resistir à Agressão dos EUA
e Ajudar a Coreia prova que uma nação, que está desperta e
ousa lutar por sua glória, independência e segurança,
é invencível".
Será isto verdade em todos os casos? O tamanho relativo das
nações combatentes e o nível de desenvolvimento militar e
tecnológico provavelmente desempenham um grande papel. No entanto,
existem vários exemplos que apoiam aquela afirmação.
Por exemplo, considere-se que o empobrecido Iémen
(população 28,5 milhões) não apenas resistiu
firmemente à invasão de 2015 pela Arábia Saudita
(população de 33,7 milhões) rica em petróleo,
apoiada pelos EUA mas também infligiu alguns graves danos
estratégicos ao invasor. E os EUA ainda estão atolados no
Afeganistão depois de 20 anos. Após a derrota vietnamita dos
imperialistas franceses, que foram auxiliados pelos EUA, os militares
norte-americanos sucederam-lhes, com o apoio militar de aliados como a
Austrália e a Coreia do Sul. O resultado militar final mostrou pessoal
dos EUA fugindo em helicópteros dos telhados de Saigão.
A RPDC nunca atacou os EUA. Foram apenas os EUA, quando intervieram na guerra
civil coreana, que atacaram a RPDC. Durante a guerra EUA-ONU-China-Coreia, os
EUA destruíram plantações, reservas de alimentos e a rede
de energia quando atacaram a RPDC
[2]
acções destinadas a causar escassez de alimentos. Foi uma
guerra em que os EUA usaram armas biológicas e químicas.
[3]
Os comandantes militares dos EUA chegaram mesmo a solicitar permissão
para usar armas nucleares.
[4]
Os EUA causaram enorme destruição durante a guerra na
península, uma guerra que vários afirmam ter sido iniciada pelos
EUA e a República da Coreia (RdC).
[5]
Houve várias incursões de tropas da RdC no Norte que precederam
a invasão pela RPDC que começou em 25 de Junho de 1950.
[6]
O especialista em questões coreanas Bruce Cummings escreveu:
"são os americanos que carregam a maior parte da responsabilidade
pelo paralelo 38".
[7]
A RPDC e a China culpam os EUA pela guerra uma
culpabilização logicamente inatacável. Porque se os EUA
não tivessem insistido em dividir a península coreana, o
casus belli
de reunir as duas Coreias não teria existido, consequentemente, a
situação de segurança precária de hoje teria sido
evitada.
[8-9]
Consequências para a China da Guerra para Resistir à
Agressão dos EUA e Ajudar a Coreia
Hoje, embora cercada de sanções económicas esmagadoras, a
RPDC é independente e totalmente capaz de impedir qualquer ataque. Seria
tolice atacar um oponente com armas nucleares. A RPDC, por sua vez, prometeu
não usar primeiro armas nucleares.
Na frente China-EUA, os EUA anulam o seu compromisso de reconhecer uma
única China, fornecendo armamento militar à província
separatista de Formosa (Taiwan). A Guerra para Resistir à
Agressão dos EUA e Ajudar a Coreia afectou profundamente os planos do
presidente Mao Zedong e das forças comunistas de libertar Formosa do
Kuomintang (KMT) e reincorporá-la à pátria chinesa.
[10]
Tal como aconteceu com a divisão da península coreana, os EUA
foram cúmplices na separação de Formosa da China
continental,
O Generalíssimo do KMT [Chiang Kai-shek também conhecido como
Jiang Jieshi], a sua corte e seus soldados fugiram para a ilha de Formosa.
Haviam
preparado sua entrada dois anos antes, aterrorizando a população
com calúnias até a submissão um massacre que tirou
a vida a cerca de 28 mil pessoas. Antes da fuga dos nacionalistas para a ilha,
o governo dos Estados Unidos não tinha dúvidas de que Formosa
fazia parte da China. Posteriormente, a incerteza começou a invadir as
mentes dos funcionários de Washington. A crise foi resolvida de uma
maneira notavelmente simples: os EUA concordaram com Chiang Kai-shek que a
maneira adequada de ver a situação não era que Formosa
pertencia à China, mas que Formosa era a China.
[11]
A China cresce economicamente enquanto os EUA lutam contra um crescimento
negativo. Embora agora militarmente poderosa, a China está comprometida
com uma existência pacífica.
O resultado expectável é que, com os EUA em declínio, um
dia os seus parentes de Formosa retornarão com orgulho à China
ressurgente e unificada
Notas
1 - Xi Jinping, "China's Commitment to Peaceful Development" in The
Governance of China (Beijing: Foreign Languages Press, 2014).
2 - Nhial Esso, What You Don't Know about North Korea Could Fill a Book
(Intransitive Publishers International, 2013): 63%.
3 - Ver (23 June 2001). Korean International War Crimes Tribunal: Report on
U.S. Crimes in Korea 1945-2000, (Korean Truth Commission).
4 - Bruce Cummings, "Korea: forgotten nuclear threats",
Le Monde diplomatique,
December 2004.
5 - Ver Ho Jong Ho, Kang Sok Hui, and Pak Thae Ho, The US Imperialists Started
the Korean War (Foreign Languages Publishing House, 1993).
6 - Ver Won Myong Uk and Kim Hak Chol, Distortion of US Provocation of Korean
War (Pyongyang : Foreign Languages Publishing House, 2003).
7 - Bruce Cumings, Korea's Place in the Sun: A Modern History (New York: W.W.
Norton & Co., 2005): 186.
8 - Carole Cameron Shaw, The Foreign Destruction of Korean Independence (Seoul:
Seoul National University Press, 2007).
9 - Nhial, 11-22%.
10 - Lin Cheng-yi, "The legacy of the Korean War: Impact on U.S.-Taiwan
relations,"
Journal of Northeast Asian Studies,
Winter92(11) Issue 4, p40.
11 - William Blum,
Killing Hope
(Zed Books, 2003): 23.
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