EUA preparam a NATO para enfrentar a Rússia e a China
A cimeira de 3-4 de Dezembro da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (NATO), em Londres, assemelha-se a uma reunião de
família após o ressentimento quanto à questão dos
gastos militares dos aliados europeus dos EUA.
A tendência é aumentar os gastos com defesa dos aliados europeus e
do Canadá. É expectável que mais de US$100 mil
milhões sejam acrescentados aos orçamentos de defesa dos Estados
membros até o final de 2020.
Mais importante ainda, a tendência na reunião dos ministros dos
Negócios Estrangeiros da NATO, em Bruxelas nos dias 19 e 20 de Novembro,
na véspera da cimeira de Londres, mostrou que apesar das crescentes
diferenças dentro da aliança os Estados membros cerraram fileiras
em torno de três itens prioritários da agenda global dos EUA
escalada da política agressiva em relação à
Rússia, militarização do espaço e
contenção da ascensão da China.
A NATO seguirá a liderança de Washington para estabelecer um
comando espacial, considerando oficialmente o espaço como
"um novo domínio operacional"
. Segundo o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, esta
decisão "pode permitir aos planeadores da NATO solicitarem aos
aliados que forneçam recursos e serviços, tais como
comunicações por satélite e imagens de dados".
Stoltenberg
disse
: "O espaço também é essencial para a
dissuasão e defesa da aliança, incluindo a capacidade de navegar,
para reunir inteligência e detectar lançamentos de mísseis.
Cerca de 2.000 satélites orbitam a Terra. E cerca de metade deles
pertence a países da NATO".
Da mesma forma, Washington instou a NATO a identificar oficialmente a
ascensão da China como um desafio a longo prazo. Segundo reportagens dos
media, a reunião de Bruxelas atendeu à exigência dos EUA e
decidiu oficialmente iniciar a vigilância militar da China.
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo,
atacou a China
após a reunião de Bruxelas: "Finalmente, nossa
aliança deve tratar da ameaça actual e potencial a longo prazo
representada pelo Partido Comunista Chinês. Setenta anos atrás, as
nações fundadoras da NATO uniram-se pela causa da liberdade e da
democracia. Não podemos ignorar as diferenças e crenças
fundamentais entre os nossos países e aquelas do Partido Comunista
Chinês".
Até aqui, tudo bem. Contudo, está para ser visto se o grande
desígnio de Washington de arrastar a NATO para sua
"estratégia indo-pacífica" (leia-se
contenção da China) ganhará força. Claramente, os
EUA pretendem ter uma palavra a dizer nas crescentes relações
comerciais e económicas dos aliados europeus com a China a fim de
delimitar a influência chinesa na Europa. A campanha dos EUA para
bloquear a tecnologia 5G da China deparou-se com a rejeição de
vários países europeus.
Por outro lado, o projecto europeu descarrilou e o eixo franco-alemão
que era a sua âncora tornou-se instável. O fosso entre Paris e
Berlim funciona em vantagem de Washington mas, paradoxalmente, também
atrapalha o sistema de aliança ocidental.
O presidente francês Emmanuel Macron irritou a Alemanha com os seus
recentes apelos a melhores relações com a Rússia
"para impedir que o mundo entre numa conflagração"; com
as suas observações brutalmente francas acerca da "morte
cerebral" da NATO e de a política dos EUA sobre a Rússia ser
"histeria governamental, política e histórica"; assim
como sua ênfase repetida numa política militar europeia
independente dos EUA.
A congruência de interesses entre Berlim e Washington em
relação a Macron manifestou-se no endosso da NATO à
escalada liderada pelos EUA contra a Rússia e a China, com a
França bastante isolada. No entanto, esta congruência será
posta à prova muito em breve na reunião da cimeira no formato
Normandia sobre a Ucrânia, que a França sediará em 9 de
Dezembro, após a cimeira da NATO em Londres. A França está
a ajudar a Rússia a negociar um acordo com a Ucrânia.
Os recentes
telefonemas
entre o presidente russo Vladimir Putin e seu colega ucraniano Volodymyr
Zelensky enfatizaram o crescente interesse em Moscovo e em Kiev ao nível
da liderança de melhorar as relações entre os dois
países.
Em última análise, as relações franco-alemãs
são de importância crucial não apenas para o futuro
estratégico da Europa, mas também para o sistema de
aliança ocidental como tal. Se alguém estivesse em dúvida,
o
veto francês em Outubro
significa morte súbita para a proposta de adesão à
União Europeia do estado balcânico da Macedónia Norte, que
a NATO está a promover como seu mais novo membro. Berlim e Washington
estão lívidos, mas um veto é um veto.
Com a NATO a ser configurada por Washington para uma postura de confronto,
Rússia e China não baixarão a sua guarda. Numa
reunião do Conselho de Segurança da Federação Russa
em 22 de Novembro, Putin
disse
: "Existem muitos factores de incerteza... a competição e a
rivalidade estão a aumentar e a transmutar-se em novas formas... Os
países principais desenvolvem activamente suas armas ofensivas... o
chamado "clube nuclear" está a receber novos membros, como
todos sabemos. Também estamos seriamente preocupados acerca da
infraestrutura da NATO que se aproxima das nossas fronteiras, bem como com as
tentativas de militarizar o espaço sideral".
Putin enfatizou: "Nestas condições, é importante
fazer previsões adequadas e precisas, analisar as possíveis
mudanças na situação global e utilizar as previsões
e conclusões para desenvolver nosso potencial militar".
A acumulação militar liderada pelos EUA contra a Rússia e
a China estará em exibição em dois grandes
exercícios no próximo ano, com os nomes de código "
Defender 2020 in Europe
" e "
Defender 2020 in the Pacific
".
Significativamente, apenas quatro dias antes de Putin fazer as
observações acima, o presidente chinês Xi Jinping disse-lhe
numa reunião em Brasília à margem da cimeira do BRICS que
"as mudanças complexas e profundas em curso na actual
situação internacional com crescente instabilidade e incerteza
instam a China. e a Rússia a estabelecerem uma coordenação
estratégica mais estreita para defender conjuntamente as normas
básicas que governam as relações internacionais, oporem-se
ao unilateralismo, ao
bullying
e à interferência nos assuntos de outros países,
salvaguardar as respectivas soberania e segurança e criar um ambiente
internacional razoável e justo".
Putin respondeu dizendo que "a Rússia e a China têm um
importante consenso e interesses comuns em manter a segurança e
estabilidade estratégicas globais. Sob a actual situação,
os dois lados devem continuar a manter uma estreita comunicação
estratégica e apoiar-se firmemente na salvaguarda da soberania,
segurança e direitos de desenvolvimento". (
MFA chinesa
)
A resposta russa também é visível no terreno. A parcela de
armas e equipamentos modernos na Marinha e no Exército russos atingiu um
nível impressionante de 70%. O primeiro lote piloto de
tanques T-14 Armata da próxima geração
chegará
às tropas russas no final de 2019 princípio de 2020.
Em 26 de Novembro, o Ministério da Defesa da Rússia declarou que
o inovador sistema de mísseis Avangard de Moscovo com o veículo
hipersónico de impulso deslizante em Dezembro será
instalado em prontidão de combate
na Força Estratégica de Mísseis.
Pela primeira vez, os sistemas de guerra electrónica na
base militar da Rússia no Tajiquistão
serão reforçados com a mais recente estação de
interferência Pole-21 que pode conter mísseis de cruzeiro, drones
e bombas aéreas guiadas e sistemas de orientação de armas
de precisão. Moscovo está a proteger-se contra a presença
dos EUA e da NATO no Afeganistão.
27/Novembro/2019
[*]
Analista político, indiano.
O original encontra-se em
https://indianpunchline.com/us-primes-nato-to-confront-russia-china/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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