Crise e predação: Índia, COVID e finança global
A escolha colocada, uma vez mais, pela crise do COVID-19:
continuar a
subordinação às finanças globais ou seguir um rumo
de desenvolvimento nacional democrático
A obra
Crise e predação: Índia, COVID e finança global
destaca os seguintes pontos:
1. Mesmo antes de ocorrer a crise do COVID-19, a economia da Índia
estava em depressão. A condição das grandes massas
populares, particularmente as do sector informal, era grave.
2. Em resposta ao COVID-19, o governo indiano impôs as medidas de bloqueio
mais rigorosas do mundo. Dado o carácter da economia da Índia,
isso teve um impacto particularmente grave para a maioria das pessoas.
3. Ao mesmo tempo, o governo despendeu escassas verbas para amortecer o impacto
dessas medidas nas pessoas. Em comparação com outros governos, o
governo indiano proporcionou apenas despesas adicionais das mais baixas (em
percentagem do PIB) a nível mundial. Embora algumas despesas adicionais
possam ocorrer nos próximos meses, já está claro que o
valor final será terrivelmente baixo. A actual expansão
orçamental pode ser de apenas 1% do PIB para o ano fiscal a fechar em
Março de 2021, em comparação com 3% do PIB após a
Grande Crise Financeira de 2007-09. Porém a crise na economia real agora
é muito, muito maior do que a da Grande Crise Financeira.
4. Esta extraordinária falta de firmeza decorre do facto subjacente aos
interesses financeiros globais de que se opõem explicitamente a qualquer
expansão considerável dos gastos do governo na Índia,
pelas razões descritas neste livro. As finanças globais
estão em posição de ditar isso porque os governos de todos
os matizes, ao longo dos anos, tornaram o país dependente de fluxos de
capital estrangeiro. As reservas de moeda estrangeira da Índia, embora
aparentemente amplas, foram acumuladas por meio de empréstimos e
investimentos voláteis estrangeiros. Dada esta dependência, os
governantes da Índia renunciam a qualquer aumento considerável
das despesas do Estado. Temem que tal aumento provoque um abaixamento da
notação das agências de classificação
(rating)
baseadas nos EUA, resultando numa saída dos investimentos estrangeiros,
uma quebra do mercado de acções e uma queda do valor da rupia.
Assim, os legisladores indianos estão empenhados em atrair e reter
fluxos de capital estrangeiro, mesmo quando há grandes excedentes no
fluxo de capitais.
5. Em resposta à crise actual, o governo depara-se com uma escolha. Em
teoria, poderia desafiar a pressão das finanças globais e atender
às necessidades básicas de seu povo (um objectivo que está
ao alcance da actual capacidade material da Índia). No entanto, isso
exigiria impor um controlo sobre os fluxos desestabilizadores de capital
estrangeiro e a preparação para renunciar a esses fluxos de
capital estrangeiro no futuro, com tudo o que isso implica, a fim de se seguir
uma via de desenvolvimento nacional democrático. Para isso, os
governantes precisariam do que inerentemente lhes falta, dada as suas
próprias bases classistas, a saber, uma visão positiva do
desenvolvimento nacional democrático e uma aliança de classes
para realizá-lo. A outra opção é submeter-se ao
regime de financiamento externo, aguardando os sinais de quanto pode gastar nas
diferentes conjunturas, desistindo de qualquer pretensão de soberania
económica.
6. Os governantes da Índia aderiram a esta última
opção. Agora, ansiosos para reforçar as
participações em moeda estrangeira e tranquilizar os investidores
estrangeiros sobre os seus créditos,
tentam atrair investimentos estrangeiros para a dívida pública,
com consequências potencialmente graves. Os governantes também
apelaram aos Estados Unidos para ajudar a lidar com a crise cambial por meio do
fornecimento de "linhas swap". Se os Estados Unidos estendessem essa
ajuda, seria necessário um
quid pro quo
na forma de subordinação mais completa. Quer esses investimentos
e ajuda se materializem ou não, o país está torna-se ainda
mais vulnerável a fluxos voláteis, criando assim o cenário
para novas crises e pressões.
7. A crise económica e política internacional foi acentuada com o
COVID-19. Os Estados Unidos e seus aliados usaram o surgimento do COVID-19 para
atingir a China por motivos que nada têm a ver com o vírus. A
actual crise internacional também fez com que os governantes da
Índia se aproximassem ainda mais dos Estados Unidos, integrando a
Índia na estratégia de hegemonia global. Isso agravou muito as
disputas não resolvidas e as tensões entre a Índia e a
China, desencadeando um confronto de fronteira que terá
consequências negativas de longo alcance para o povo indiano, ao mesmo
tempo que se coloca ao serviço dos interesses dos EUA.
8. A actual contenção de despesas do governo face a uma
depressão sem precedentes está a resultar em enormes
dificuldades, que por sua vez podem dar origem a distúrbios e ondas de
revolta. As acções dos governantes contra oponentes
políticos e activistas de movimentos populares têm sido
preventivas, punitivas e severas. À medida que a situação
se desenvolve, as condições de emergência prevalecentes
permitem o uso mais desenfreado de métodos repressivos e divisionistas
como depender das forças de segurança, vigilância do
Estado, deter de activistas políticos e pessoas democráticas,
aumento da propaganda e censura dos media independentes em nome de
controle da pandemia.
9. Estas condições impõem com mais urgência do que
nunca a escolha delineada anteriormente: resignar-se a uma maior
subordinação da economia e das vidas das pessoas às
finanças globais, ou seguir a via do desenvolvimento nacional
democrático
Conteúdo
1 - A escolha colocada mais uma vez pela crise do COVID-19
2 - A crise
antes
do COVID-19
3 - O impacto do confinamento nas condições da Índia
Referência: O subfinanciamento da saúde
pública
4 - O que explica a recusa do governo quanto à despesa?
Referência: As reservas cambiais da
Índia: que protecção oferecem contra uma
saída repentina de capital estrangeiro?
5 - Por que motivo os investidores estrangeiros se opõem aos gastos do
governo?
Referência: A crise financeira como
oportunidade para investidores estrangeiros
6 - Aprofundando a dependência e a incerteza
Referência: O falso argumento para justificar
o desejo de investimento estrangeiro na dívida do governo
7 - Índia, COVID-19, Estados Unidos e China
8 - A economia da Índia e o caminho pela frente
Ver também:
FMI aproveita a pandemia para abrir caminho a privatizações
[*]
Research Unit for Political Economy
, instituição científica indiana. O presente texto é o sumário do
livro
Crisis and predation,
editada em 2020 pela Monthly Review Press. A obra pode ser
descarregada em
resistir.info/livros/crisis_and_predation.pdf
Este sumário encontra-se em
https://resistir.info/
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