A terceira onda da crise:
O capitalismo no olho do furacão
desarticulação monetário-financeira,
depressão prolongada e lutas sociais
A crise sistêmica global encaminha-se para um novo patamar de
ebulição, com impactos muitos mais explosivos do que em 2008,
quando quebrou o Lehmon Brothers. Podemos dizer que aquele episódio,
apesar das conseqüências devastadoras para a economia mundial e,
especialmente, para os Estados Unidos, deve ser considerado apenas como o
início da crise sistêmica global. As contradições
violentas que se acumularam no interior do sistema capitalista desde a
década de 70 e se aprofundaram com as políticas monetaristas nas
décadas de 80 e 90, ainda não se manifestaram em toda a sua
plenitude. Estamos nos aproximando de mudanças quantitativas e
qualitativas no interior da ordem internacional capitalista, tais como a
desarticulação do sistema monetário-financeiro que emergiu
após a Segunda Guerra Mundial, a depressão prolongada na grande
maioria dos países capitalistas centrais, especialmente na
economia-líder, e a retomada das lutas sociais em dimensão
global.
O período que se abre agora vai entrecruzar um conjunto de
fenômenos explosivos que tornarão o início da crise apenas
como a primeira ventania antes da grande tempestade. Passado o período
de tensa calmaria ocorrido em função das injeções
trilionárias de dólares pelos governos dos países
centrais, principalmente os EUA, ocasião em que os meios de
comunicação procuraram criar um clima manipulatório de
normalidade e retomada do crescimento, a hora da verdade está chegando
para todos os gestores políticos do grande capital, todos eles ainda
presos aos valores de um mundo que começou a ruir em 2008 e, por isso
mesmo, não conseguem compreender a profundidade da crise, nem tomar as
medidas necessárias para enfrentá-la. Continuam a utilizar os
mesmos métodos do passado para fenômenos inteiramente novos do
mundo do presente.
A recessão na Europa e, especialmente, na zona do euro, já uma
realidade, muito embora ainda seja mais forte nas regiões da Europa do
Sul, os elos débeis do sistema imperialista europeu. Mesmo com todas as
tentativas de regulação, injeções
trilionárias de recursos para salvar países e bancos, a economia
européia está mergulhada na recessão, tanto porque os
problemas que originaram a crise não foram resolvidos como porque as
medidas de austeridade vão aprofundar ainda mais o processo recessivo.
Os ajustes que estão sendo realizados em praticamente todos os
países aumentam o desemprego e a queda da atividade econômica. O
desemprego médio na região está acima de dois
dígitos, sendo que em vários países ultrapassa 20% e entre
os jovens este índice ainda é maior. Desemprego significa queda
na renda
[NR]
e queda na renda tem como resultado redução do consumo e,
portanto, mais recessão.
Nos Estados Unidos a situação é ainda mais grave, apesar
da manipulação da mídia e das estatísticas
não revelarem em plenitude a crise da economia-líder. Na verdade,
os Estados Unidos condensam todos os problemas da crise capitalista: uma
dívida pública que já ultrapassa 100% do PIB, com impactos
potenciais muito mais explosivos que a dívida européia, pois a
carga tributária norte-americana corresponde a apenas 19% do PIB,
enquanto na Europa ultrapassa uma média de 30%.
A crise fiscal se torna cada vez mais problemática, com vários
Estados e municípios em situação pré-falimentar,
além do fato de que as políticas de facilidades quantitativas (
qualitative easing 1 e 2
) estão se tornando inviáveis politicamente, tanto do ponto de
vista interno quanto internacionalmente. A crise do setor imobiliário
continua se agravando, com o preço das residências caindo à
medida em que a crise persiste. Existem ainda os cortes no orçamento que
o governo está realizando para satisfazer as pressões dos
republicanos.
Essas medidas ainda não produziram resultados explosivos porque o Fed
tem conseguido até agora realizar um conjunto de ações que
vem adiando a emergência explicita da crise (juros baixíssimos,
injeções de recursos no sistema financeiro, facilidades
quantitativas, etc), mas esse arsenal de medidas tem limites e não pode
se sustentar indefinidamente, uma vez que produzirão efeitos colaterais
severos na economia. À medida em que a campanha eleitoral se desenvolva,
vai ficar mais clara a gravidade dos problemas. A esses problemas podem ser
adicionados a questão do dólar como moeda de reserva mundial e a
dívida pública que já ultrapassou 100% do PIB.
Outro ponto importante a ser abordado nesta crise é o surgimento das
lutas sociais. Se na primeira onda da crise os trabalhadores praticamente se
comportaram como espectadores, a partir da segunda onda, com a crise das
dívidas soberanas e as medidas de ajustes do grande capital, as lutas
sociais emergiram em praticamente todas as regiões afetadas pela crise.
Mesmo ainda embrionárias, com elevado grau de espontaneísmo, sem
uma direção com perspectiva de classe na maioria dos
países, essas lutas estão se intensificando, especialmente na
Europa, onde o capital tem realizado os ajustes mais severos. Mesmo nos Estados
Unidos, surgiram vários movimentos em resposta à crise, em
vários Estados, especialmente o Ocuppy Wall Stret, que tem grande
potencial de desenvolvimento com o aprofundamento da crise.
Esses fenômenos ainda não estão plenamente percebidos em
função de avassaladora manipulação midiática
que o capital desenvolve cotidianamente para dar uma aparência de
normalidade à conjuntura. Mas a crise é dramática e, em
algum momento próximo, os elementos objetivos da crise irão se
impor e então as pessoas tomarão conhecimento da extensão
do problema. Estamos nos aproximando daqueles momento em que o
impensável acontece como se fosse fato do cotidiano.
Crises cíclicas e crises sistêmicas
Há uma enorme confusão e desconhecimento sobre a questão
das crises e, especialmente, sobre as crises sistêmicas. Por isso,
é importante realizarmos um esforço no sentido não
só de precisar melhor esta questão como também tentar
estabelecer um estatuto teórico às crises sistêmicas,
buscando avançar em relação a alguns fundamentos
não observados pelos clássicos, de forma a precisar melhor a
natureza do fenômeno, bem como suas implicações
econômicas, políticas e sociais.
As crises são fenômenos imanentes do sistema capitalista, oriundas
da contradição central entre o caráter social da
produção e a apropriação privada de seus resultados
e ocorrem com periodicidade regular desde os primórdios deste modo de
produção. As crises não têm origem monocausal
conforme muitos marxistas costumam analisar esses fenômenos. Resultam das
contradições gerais do sistema: não tem origem no
subconsumo, não é crise de desproporção entre os
diversos setores de produção, não é crise em
função da queda da taxa de lucro, da especulação
financeira ou qualquer outro fator isoladamente. A crise é a
fusão das contradições que se acumulam ao longo do ciclo,
muito embora possam se expressar mais acentuadamente em uma ou outra
variável específica.
Desde Adam Smith que se busca uma explicação para as crises
cíclicas do capitalismo, passando por Ricardo, Malthus, Rodsberto,
Sismondi, Marshall. Posteriormente, com o desenvolvimento do capitalismo,
outros autores desenvolveram novas abordagens da crise, como os ciclos ou ondas
longas, de Parvus, Von Gerendem, Kondratiev, Schumpeter, entre outros. Eles
buscaram de alguma forma, com as ferramentas de sua época, identificar e
compreender os fenômenos das crises. Estado estacionário em Smith,
renda decrescente da terra em Ricardo, subconsumo das massas em Malthus,
Sismondi e Rodsberto, os ciclos longos de Parvus, Von Gerendem, Krondratiev, as
destruições criadoras em Schumpeter, todos eles tentaram explicar
a natureza e o desenvolvimento das crises capitalistas.
No entanto, foi Marx quem definiu de maneira mais precisa os fundamentos
teóricos das crises capitalistas, ao deslocar a análise da
órbita da circulação para a esfera da
produção e defini-la como sínteses de todas as
contradições do capitalismo.
As crises sistêmicas
Para efeito desta análise, procuraremos diferenciar as crises
cíclicas das crises sistêmicas, bem como tentar estabelecer um
estatuto teórico para as crises sistêmicas. As crises
cíclicas se transformaram em fenômenos recorrentes do modo de
produção capitalista e para enfrentá-las o capital
já adquiriu vasta experiência e desenvolveu ferramentas para
atenuar seus efeitos mais perversos e ressurgir desse processo num patamar
superior. Já as crises sistêmicas são bem mais complexas,
com duração mais longa e efeitos devastadores mais acentuados.
Seus resultados provocam mudanças profundas na vida econômica, na
estrutura das relações de produção, na forma de
dominação do capital, além de modificações
em toda a vida social. Portanto, necessitam de um estatuto teórico
à altura dos fenômenos que provoca.
Marx não viveu o suficiente para testemunhar as crises sistêmicas
e delas apreender os resultados teóricos que expressou em
relação às crises em geral. Escreveu sobre sua
época, a época do capitalismo concorrencial e das crises
cíclicas. Não tinha obrigação de adivinhar o
futuro, nem teorizar sobre aquilo que ainda não existia, não
possuía vida material. Como ele próprio enfatiza:
"É por isso que a humanidade só apresenta os problemas que
é capaz de resolver e, assim, numa observação atenta,
descobrir-se-á que o próprio problema só surgiu quando as
condições materiais para resolvê-lo já existiam ou
estavam, pelo menos, em vias de aparecer".
[1]
Mesmo escrevendo sobre as crises em geral, no
Manifesto Comunista,
Marx já revelava alguma pista sobre o desenrolar das crises no
capitalismo, muito embora não tenha escrito especificamente sobre as
crises sistêmicas e, principalmente, sobre as crises do período da
internacionalização da produção e das
finanças, fenômenos que se tornaram conhecidos popularmente como
globalização:
"A sociedade burguesa moderna, que criou gigantescos meios de
produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já
não pode controlar os poderes infernais que invocou. Há dezenas
de anos a história da indústria e do comércio não
é senão a história da revolta das forças produtivas
modernas contra as modernas relações de produção
... Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente,
ameaçam cada vez mais a sociedade burguesa e seu domínio. Cada
crise destrói regularmente não só uma grande massa de
produtos fabricados, mas também grande parte das próprias
forças produtivas já criadas ... O sistema burguês
tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu meio ... A
que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e
à diminuição dos meios para evitá-las"
[2]
Em outras palavras, Marx já intuía que, à medida que o
capitalismo fosse se desenvolvendo, o sistema chegaria ao ponto em que as
crises seriam mais prolongadas, mais devastadoras e, especialmente, em
função da própria ampliação do
domínio do capital no mundo, seus gestores passariam a ter uma margem
menor de manobra para evitá-las ou administrá-las, dada a
amplitude do processo de acumulação e à
junção de contradições cada vez mais novas e
complexas neste modo de produção. Possivelmente, se tivesse
vivido após 1873, época do início da primeira grande crise
sistêmica do capitalismo, teria identificado esse fenômeno e
elaborado as conclusões teóricas necessárias.
Friedrich Engels, seu parceiro teórico e de lutas, que viveu bastante
tempo após a morte, e organizou sua obra seminal, os volumes II e III do
Capital,
já vislumbrava que algo de novo estava acontecendo em
relação às crise capitalistas, conforme escreveu, em 1886,
no prefácio da edição inglesa do Capital.
"Enquanto a força produtiva cresce em progressão
geométrica, a expansão dos mercados cresce, na melhor das
hipóteses, em progressão aritmética. O ciclo decenal de
estagnação, prosperidade, superprodução e crise,
que se repetiu sempre, de 1827 a 1867, parece ter se esgotado. Mas só
para deixarmos aterrissar no lodaçal desesperador de uma
depressão crônica e duradoura".
[3]
Alguns anos mais tarde, em 1890, em nota de rodapé do tomo II do
Capital, Engels volta novamente a se referir às novas
manifestações das crises, identificando alguns elementos
constitutivos de uma crise diferente, muito embora ainda sem definí-la
plenamente, até mesmo porque a crise sistêmica de 1873-1896
não estava totalmente completa nesse período. Apenas indaga se o
sistema não estaria diante de um fenômeno mundial de
"veemência inaudita":
"A forma aguda do processo periódico, com seu ciclo até
então de 10 anos, parece ter cedido lugar a uma alternância mais
crônica, mais prolongada, que se distribuiu entre diversos países
em tempos diferentes, de melhoria relativamente curta e débil dos
negócios e pressão relativamente longa e indecisa. Mas talvez
trata-se apenas de uma expansão de duração do ciclo. Na
infância do comércio mundial, de 1815 a 1847, pode-se comprovar
ciclo de até cinco anos; de 1847 a 1867 os ciclos são
decididamente de 10 anos; será que nos encontramos no período
preparatório de uma nova crise mundial de veemência
inaudita"?
[4]
A partir dessas pistas, continuaremos nossa investigação seguindo
as pegadas dos fundadores do marxismo, que definiram as crises do capitalismo
como colapso da totalidade, a totalidade do capitalismo de sua época, a
época do capitalismo concorrencial. Cremos que, a partir de um posto de
observação do século XXI, quando o capitalismo atingiu seu
amadurecimento pleno, poderemos realizar uma primeira mediação em
relação a esta questão teórica, sugerindo que as
crises cíclicas representam
colapsos parciais
da
totalidade,
enquanto as crises sistêmicas podem ser consideradas
rebeliões generalizadas da totalidade
contra a cisão da unidade entre valor de uso e valor, mercadoria e
dinheiro, produção e consumo, forças produtivas e
relações de produção plenamente desenvolvidas em
nível mundial, provocadas pelas contradições do sistema
capitalista e que se expressam explosivamente em toda a vida social, provocando
mudanças quantitativas e qualitativas no modo de produção
capitalista.
O correto entendimento teórico destas duas formas de
manifestação da crise do capital nos permite compreender melhor a
dinâmica histórica do capitalismo. Primeiro, as crises
cíclicas são fenômenos perturbadores do curso natural deste
modo de produção e já fazem parte do cotidiano
histórico. Dada suas manifestações rotineiras, os
capitalistas adquiriram experiência suficiente para manejá-las,
atenuar suas dimensões mais destrutivas e renascer das cinzas num
patamar superior, muito embora carreguem todas as contradições do
passado e acrescentem novas contradições que se
desenvolverão ao longo do próximo ciclo. As políticas
keynesianas utilizadas generalizadamente após a Segunda Guerra Mundial
podem ser consideradas como o exemplo mais sofisticado das ferramentas
utilizadas pelos capitalistas para administrar o ciclo econômico.
No entanto, as crises sistêmicas têm uma dimensão superior,
ocorrem em períodos mais longos, desestruturam toda a ordem anterior e
constroem, sob seus escombros, uma nova ordem, isso porque significam a
exaustão de um período histórico de
acumulação do capital. As crises sistêmicas não
só desorganizam de maneira radical o sistema econômico,
político e social construído para responder às
necessidades da ordem anterior, como atingem todas as
instituições da velha ordem, em proporções tais que
provocam mudanças no conjunto do sistema e abrem espaço para a
contestação do próprio sistema, uma vez que nestas
épocas de crises sistêmicas torna-se mais aberta a aliança
entre o Estado e as classes dominantes, pois essas duas criaturas siamesas
passam a agir abertamente no sentido de colocar todo o ônus da crise na
conta dos trabalhadores, o que leva a intensas lutas sociais.
As crises sistêmicas carregam consigo um conjunto de fenômenos
novos que vão muito além do horizonte convencional com o qual as
classes dominantes estão acostumadas a lidar, para os quais as
ferramentas corriqueiras do processo anterior (as crises cíclicas)
não surtem os mesmos efeitos. Por isso, são muito mais
explosivas, colocam em perigo a ordem capitalista e despertam os trabalhadores
para as batalhas de classe. Também são mais duradouras:
não apenas por carregarem consigo em bases ampliadas as velhas e novas
contradições, mas porque as classes dominantes, acostumadas aos
valores da velha ordem em desagregação, teimam em utilizar os
instrumentos convencionais, num ambiente em que estes já não
produzem mais os resultados que produziam no período precedente.
As crises sistêmicas do capitalismo apresentam características
bastante diferentes das crises cíclicas comuns, em função
não apenas de sua profundidade devastadora, mas também com
relação à forma como se desenvolvem no ambiente
econômico e social. Geralmente, as pessoas com pouco conhecimento
histórico têm dificuldades de compreender as diferenças
entre as crises cíclicas e as crises sistêmicas, confundem os dois
fenômenos ou então imaginam as crises sistêmicas como
colapsos destrutivos lineares que, ao serem desencadeadas, seguem uma
trajetória avassaladora de maneira contínua, sem compassos de
espera ou espasmos-recuperação.
A realidade das crises sistêmicas é bastante diferente: estas
crises irrompem de maneira unilateral na conjuntura e realizam os primeiros
estragos na economia e na sociedade, tomando a todos de surpresa. Mas os
governos reagem com uma série de medidas que aliviam momentaneamente os
efeitos mais perversos da crise. Num ambiente de tensões nos circuitos
que se beneficiavam da bonança anterior à crise, esses setores
procuram criar nos meios de comunicação uma atmosfera de
normalidade e recuperação da economia, de forma a manter seus
privilégios e retornar ao status precedente,
No entanto, a crise irrompe novamente de maneira unilateral na conjuntura,
muitas vezes com mais intensidade que no período anterior, ampliando a
destruição da primeira onda. Pode acontecer novamente um compasso
de espera para emergir uma nova onda da crise e assim por diante até
desagregar a velha ordem e provocar mudanças quantitativas e
qualitativas no interior do sistema ou a mudança do próprio
sistema. Nesse processo há apenas uma constância: a
contínua deterioração das condições
econômicas, sociais e políticas a cada patamar em que se
desenvolve a crise.
As crises sistêmicas são também mais devastadoras porque
reproduzem em bases ampliadas todas as contradições do
capitalismo. Toda crise do capital traz um conteúdo novo à
conjuntura, além de carregar em seu bojo as contradições
do passado. No entanto, as crises sistêmicas são muito mais
devastadoras porque são crises completas, rebeliões generalizadas
da totalidade contra a velha ordem (Campos, 2001). Esta crise que explode em
2008 é a primeira grande crise completa do sistema capitalista, portanto
mais explosiva, uma vez que envolve todo o arcabouço econômico e
social do sistema capitalista a esfera da produção, da
circulação, do crédito, das dívidas públicas
e privadas, o sistema social, o meio ambiente e os valores neoliberais (Costa,
2009).
Como constatam Roubini e Mihm:
"Infelizmente, as crises financeiras têm fluxos e refluxos; é
raro que explodam de uma só vez e terminem. Na verdade, se parecem mais
com furacões, que reúnem suas forças, amainam por algum
tempo, para em seguida se tornar mais destrutivos. Isso reflete o fato de que
as vulnerabilidades que se acumulam na formação de uma crise
são generalizadas e sistêmicas".
[5]
Assim foram as crises sistêmicas de 1873 e 1929. Em 1873, a crise
começou pela Bolsa de Valores de Viena, seguiu com falências
bancárias na Áustria e Alemanha, Estados Unidos e, posteriormente
na Inglaterra. A crise se espalhou ainda pela área industrial, tendo
como consequência grande desemprego entre os trabalhadores (Coggiola,
2009).
[6]
Como todas as crises sistêmicas, sua particularidade foi uma longa
depressão, até 1896, ou seja, 23 anos de crise. No entanto, esta
primeira grande crise sistêmica não foi linear como o senso comum
costumar imaginar: ocorreram períodos de recuperação em
vários pontos da curva descendente, conforme Dobb
: "A grande depressão, iniciada em 1873, foi interrompida por
surtos de recuperação em 1880 e 1888 e continuada até
meados da década de 90".
[7]
A crise sistêmica iniciada em 1873 resultou macroeconomicamente na
transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo
monopolista.
A crise de 1929-1945, bem mais documentada, o que nos poupa de alongarmos em
seus detalhes, produziu a segunda guerra mundial e a destruição
das forças produtivas de praticamente toda a Europa. Nos Estados Unidos,
epicentro da crise, o Produto Interno Bruto, entre 1929 e 1933, teve uma queda
de mais de 25%, a Bolsa de Valores se desagregou, e o desemprego atingiu um
quarto da população economicamente ativa. Da mesma forma que na
crise sistêmica de 1873-1896 a crise nos EUA teve momentos de
depressão e recuperação, especialmente com a
política do New Deal e a produção para guerra, mesmo assim
a produção de automóveis só alcançou os
patamares do início da crise (1929) quatro anos após o fim da
Segunda guerra Mundial, em 1949.
[8]
Como pode ser observado na crise anterior, a crise de 1929-1945 produziu
mudanças profundas na conjuntura econômica internacional, na
organização do capitalismo e na correlação das
forças sociais. Primeiro, a União soviética emerge da
Segunda Guerra como uma poderosa potência econômica e militar,
liderando um sistema socialista composto por um terço da humanidade.
Segundo, os países capitalistas, sob pressão dos trabalhadores,
reorganizam as relações de produção, tendo como
norte teórico o keynesianismo e a construção do Estado do
Bem Estar Social. No plano político, cria-se uma nova ordem
econômica internacional, com novas instituições e com os
países vencedores da guerra com poder de veto na
Organização das Nações Unidas.
Portanto, essa nova crise sistêmica de 2008, por incorporar todas as
contradições das crises anteriores e por ser a primeira crise
completa do sistema capitalista, com certeza resultará também em
mudanças de fundo na economia e na sociedade.
A crise sistêmica de 2008
A crise sistêmica de 2008 marca uma diferença qualitativa em
relação às duas crises sistêmicas anteriores
(1873-96 / 1929-1945), porque surge após um período em que o
capitalismo se transformou num sistema mundial completo, em
função da internacionalização da
produção e da internacionalização financeira,
popularmente denominada de globalização. Anteriormente, o sistema
só era realmente completo no que se refere a duas variáveis da
órbita da circulação: o comércio mundial e a
exportação de capitais. Com a globalização, o
sistema mundializou objetivamente as esferas da produção e da
circulação, unificando globalmente o ciclo do capital e fechando
assim uma etapa histórica que se iniciara com a revolução
inglesa de 1640 na Inglaterra (Costa, 2009).
A internacionalização da produção
possibilitou modificações profundas nas relações
de produção internacionais e mudou de maneira expressiva a forma
de expropriação do valor por parte da burguesia dos países
centrais, possibilitando a descentralização dos ambientes de
apropriação da mais-valia. Pela primeira vez na história
do capitalismo, a burguesia passou a extrair diretamente e generalizadamente o
valor fora de suas fronteiras nacionais,
[9]
transformando-se assim numa classe exploradora direta tanto nos países
centrais quanto na periferia, o que confirma objetivamente o caráter
internacional do proletariado.
No passado, a burguesia se apropriava do valor dos países
periféricos mediante o comércio internacional, em
função da troca desigual (produtos manufaturados versus
matérias-primas), o pagamento dos juros das dívidas, os
dividendos ou remessas de lucros enviadas pelas filiais de suas empresas que
atuavam na órbita da circulação. Agora, o capital vive sua
maturidade plena, ao transformar o planeta numa esfera única de
investimento, produção, realização e
acumulação do capital.
A internacionalização das finanças
e, especialmente, a desregulamentação financeira realizada
mundialmente após os governos Reagan e Tatcher, aliadas às
ferramentas das tecnologias da informação e a
universalização dos computadores, possibilitaram ao capital atuar
com a mais ampla liberdade possível em todas as partes do mundo e
auto-acrescentar-se ao longo das 24 horas do dia, rompendo assim as barreiras
do espaço e do tempo, num processo como nunca antes se verificara no
sistema capitalista. Para tanto, basta se utilizar da melhor maneira
possível os fusos horários para atuar permanentemente em todas as
praças financeiras do mundo, em todos os continentes.
Essas modificações operadas na área das finanças
marcaram também uma mudança na correlação de
forças entre as frações do grande capital internacional: o
setor mais parasitário passou a hegemonizar as decisões
econômicas e políticas nos países centrais e subordinou
todos os outros setores à lógica financeira, desenvolvendo de
maneira acelerada um processo especulativo que hegemonizou não só
a esfera das finanças, mas contaminou a produção e as
decisões orçamentárias do Estado. No plano
político, esse movimento foi expresso nas políticas neoliberais
desenvolvidas desde o final da década de 70 nos países centrais
e, posteriormente, em todos os países capitalistas ligados à
economia líder.
O frenesi especulativo se desenvolveu como um rastilho de pólvora,
facilitado pela interconexão dos mercados financeiros e sua
integração eletrônica, e resultou num enorme descolamento
entre a órbita financeira e a esfera da produção, criando
assim possibilidades de rupturas de liquidez a uma velocidade impressionante,
em função da extraordinária capacidade de
propagação pelos meios de comunicação, como se
verificou a partir da queda do Lehmann Brothers.
Estas considerações precedentemente elencadas, levando em conta o
grau de mudanças que se operou na base do sistema capitalismo,
dão à atual crise sistêmica um conteúdo novo, fruto
dos novos fenômenos que emergiram nesta fase do capitalismo. Conforme
assinalávamos em ensaio publicado em fevereiro de 2009, a crise
sistêmica global era profunda, devastadora e de longa
duração:
"Esta é a primeira grande crise realmente completa
[10]
do sistema capitalista, por isso mais complexa e potencialmente mais explosiva,
uma vez que envolve toda a vida social do sistema capitalista a esfera
da produção, da circulação, o crédito, as
dívidas públicas e privadas, o sistema social, o meio ambiente,
os valores neoliberais, a cultura individualista e, especialmente, o Estado
como articulador do processo de acumulação".
[11]
Portanto, a crise sistêmica mundial está em curso, apesar da
manipulação diária operada pelos meios de
comunicação. Eles buscam quotidianamente confundir os
trabalhadores, buscando dar uma aparência de normalidade e
recuperação da economia mundial, mas a realidade tem sido mais
dura que as miragens plantadas pela mídia. Em breve estaremos assistindo
um aprofundamento da crise, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, e a
ampliação das lutas sociais nas principais regiões
afetadas pela crise, uma vez que as medidas tomadas até agora para
enfrentar a crise estão objetivamente criando as condições
para seu acirramento.
A crise no coração do sistema
Conforme alertávamos em 2002, a crise mundial do capitalismo só
estaria madura quanto atingisse o coração do sistema: os Estados
Unidos, a Europa e o Japão.
[12]
Agora, com a crise sistêmica global, o mundo assiste a maior crise de
toda a história do capitalismo e, ao mesmo tempo, inicia-se o processo
de amadurecimento para as transformações de todas as
instituições construídas em Bretton Woods. O velho sistema
monetário-financeiro está desaparecendo, porque já
não cumpre mais as funções para as quais foi criado e nem
corresponde mais às novas relações de
produção oriundas da internacionalização da
produção e das finanças. A ordem econômica
internacional está à deriva: suas instituições,
seus métodos de regulação e ação
política dos governos centrais se mostram incapazes de resolver os
problemas oriundos da crise.
As várias frações de classe do grande capital,
(norte-americano, europeu e japonês) tateiam no escuro, impotentes diante
dos fenômenos novos para os quais não estão preparados.
Não conseguem entender a profundidade da crise e continuam aplicando sem
sucesso os mesmos métodos do passado. Essa impotência diante dos
fatos objetivos da vida torna mais agressiva as elites parasitárias dos
países centrais, que buscam a todo o custo sair da crise pelos
métodos mais primitivos e predatórios, como a
fomentação de guerras cada vez destrutivas contra
nações que não obedecem aos ditames do capital, a
imposições de ajustes econômicos predatórios contra
os trabalhadores, buscando regredir seus direitos aos estatutos do
século XIX, bem como a manipulação cada vez mais sem
cerimônia dos meios de comunicação para justificar suas
ações.
Mas a ofensiva do grande capital não pode esconder que o sistema
capitalista está doente, passa pelo momento de maior dificuldade em toda
a sua história e a crise sistêmica global tende a se agravar mais
a cada dia que passa, porque desde que foi desencadeada nenhum dos problemas
que a detonaram foi resolvido. Pelo contrário, a crise agora está
mais explosiva porque reúne em torno de si todas as
contradições do capitalismo oriundas do processo anterior e
adiciona os novos fenômenos do capitalismo contemporâneo, o que a
torna mais devastadora e cujo momento explosivo se aproxima com uma velocidade
expressiva. Em breve, a crise completa do capital estará produzindo
fenômenos tão desconcertantes que deixarão os observadores
impressionados com sua dinâmica e efeitos econômicos,
políticos, sociais e geopolíticos em todo o sistema capitalista.
Nossa investigação buscará apreender os principais
elementos constitutivos da crise sistêmica global nas duas principais
regiões do capitalismo central, Estados Unidos e a União
Européia e, a partir desses dados objetivos, avaliar a profundidade da
crise, os principais fenômenos novos que brotarão dessa
conjuntura, bem como as possibilidades de mudanças no interior do
sistema, a partir da entrada em cena de um novo personagem os
trabalhadores, cuja resistência vem se manifestando em várias
regiões, mas com o agravamento da crise está se abrindo um novo
patamar na luta de classes internacional.
A crise fiscal nos Estados Unidos
A crise fiscal dos Estados Unidos é muito grave e atinge todas as
esferas dos governos federal, estadual e municipal. A sociedade norte-americana
está iniciando um período de dificuldades semelhantes aos
países da periferia capitalista. O déficit público em 2010
atingiu 1,260 trilhão e nos últimos meses de 2011 atingiu cerca
de 10% do PIB. Essa performance tende a se agravar em função da
queda da atividade econômica, da redução no consumo das
famílias, além do aumento do desemprego. Quer queira ou
não o presidente Obama, os Estados Unidos iniciam, premidos pela
lógica objetiva dos fatos, um período de austeridade que
deverá agravar ainda mais a crise social no País, cuja
expressão mais visível é o aumento do número de
pobres, que hoje já alcança 60 milhões de pessoas.
A crise nos Estados Unidos tem origem nas contradições do sistema
capitalista, mas carrega consigo uma série de problemas
específicos que se foram acumulando ao longo dos anos, tais como o
deslocamento de plantas industriais para outras regiões e,
especialmente, em função de medidas tomadas pelo governo Bush,
como a redução de impostos para os setores de maior renda
[NR]
, os gastos trilionários para resgatar os bancos da crise, as guerras no
Afeganistão e Iraque, bem como a chamada "guerra contra o
terror", que ampliou de maneira acentuada o aparato de espionagem e
exércitos irregulares pelo mundo afora.
Vale ressaltar ainda que os Estados Unidos possuem um problema estrutural em
relação ao orçamento. Enquanto nos países da zona
do Euro a arrecadação tributária corresponde em
média a cerca de 30% do PIB, nos Estados Unidos o País arrecada
apenas 19% do produto. Essa é uma debilidade da economia
norte-americana, porque o nível de arrecadação torna mais
difícil uma solução do déficit no curto prazo,
especialmente se levarmos em conta que a redução de impostos e
aumento de gastos alteraram o panorama tributário norte-americano para
níveis mais baixos desde 1950 (Eichengreen, 2011). A menos que haja uma
política de ajuste predatório, o que é um problema com
poucas perspectivas em função da reação da
população, essa questão vai continuar por bastante tempo.
Esses problemas fizeram com que o déficit se fosse tornando cada vez
mais uma bomba de efeito retardado, à medida em que a economia
norte-americana perdia competitividade industrial, o setor financeiro passava a
hegemonizar as decisões de política econômica, as
administrações republicanas reduziam o imposto para os ricos e
aumentavam as despesas militares. A crise veio ampliar o déficit, uma
vez o governo teve que resgatar os bancos da falência e a
recessão oriunda da crise duplicou o nível de desemprego e
reduziu o consumo, completando assim um quadro de anemia fiscal no País.
Vejamos mais detalhadamente os principais pontos que tornam o déficit
fiscal uma questão explosiva, principalmente em função da
crise:
1) O deslocamento das plantas fabris para outras regiões operou-se de
maneira lenta mas permanente em função da queda na taxa de lucro
nos Estados Unidos. Parcelas expressivas das grandes corporações
deslocaram-se para vários continentes, especialmente para a Ásia
em busca de mão-de-obra e matérias baratas e
condições fiscais vantajosas. Os estrategistas do capital
imaginavam que o poder hegemônico norte-americano criaria uma economia de
serviços, com alta densidade tecnológica, a partir da qual os
Estados Unidos capturariam parcela expressiva da mais-valia produzida
mundialmente mediante a apropriação das rendas
[NR]
remetidas do exterior (royalties, patentes, dividendos, juros) e o sistema
financeiro se encarregaria de reciclar os capitais que migrariam para Estados
Unidos em função de seus mercados sofisticados e
hegemônicos. Esse movimento reduziu a dinâmica do setor da economia
que produzia o valor e abriu espaço para o frenesi especulativo que veio
a se estilhaçar em 2008 e contaminar todos os setores econômicos
do País.
A redução da competitividade industrial inverteu um curso
histórico: os Estados Unidos passaram de maior exportador mundial para
maior importador, acumulando ao longo dos últimos 30 anos crescentes
déficit na balança comercial. Na década de 70, os EUA
apresentaram apenas pequenos déficits na balança comercial, mas a
partir de meados da década de 80 esses déficits foram crescendo
de maneira extraordinária até ultrapassar, em 1984, a marca de
US$ 100 mil milhões. A partir daí, os saldos negativos na
balança comercial foram se avolumando até atingir US$ 328,8 mil
milhões em 1999. A partir de 2003, os déficits passam a superar
os US$ 500 mil milhões, até ultrapassar os US$ 800 mil
milhões em 2006, 2007, 2008, caindo para US$ 634,9 mil milhões em
2010 (Tabela 1).
Tabela 1 Balança Comercial dos EUA,1983-2010
Ano
|
Exportação
|
Importação
|
Saldo comercial
|
1983
|
205,6
|
258,0
|
-52,4
|
1984
|
224,0
|
330,7
|
-106,7
|
1985
|
218,8
|
336,5
|
-117,7
|
1986
|
227,2
|
365,4
|
-138,2
|
1987
|
254,1
|
406,2
|
-152,1
|
1988
|
322,4
|
441,0
|
-118,6
|
1989
|
363,8
|
473,2
|
-109,4
|
1990
|
393,6
|
495,3
|
-101,7
|
1991
|
421,7
|
488,5
|
-66,8
|
1992
|
448,2
|
532,7
|
-84,5
|
1993
|
465,1
|
580,7
|
-115,6
|
1994
|
512,6
|
663,3
|
-150,7
|
1995
|
584,7
|
743,5
|
-158,8
|
1996
|
625,1
|
795,3
|
-170,2
|
1997
|
689,2
|
869,7
|
-180,5
|
1998
|
682,1
|
911,9
|
-229,8
|
1999
|
695,8
|
1.024,6
|
-328,8
|
2000
|
781,9
|
1.218,0
|
-436,1
|
2001
|
729,1
|
1.141,0
|
-411,9
|
2002
|
693,1
|
1.161,4
|
-468,3
|
2003
|
724,8
|
1.257,1
|
-532,3
|
2004
|
814,9
|
1.469,7
|
-654,8
|
2005
|
901,1
|
1.673,5
|
-772,4
|
2006
|
1.026,0
|
1.853,9
|
-827,9
|
2007
|
1.148,2
|
1.957,0
|
-808,8
|
2008
|
1.287,4
|
2.103,6
|
-816,2
|
2009
|
1.056,0
|
1.559,6
|
-503,6
|
2010
|
1.278,3
|
1.913,2
|
-634,9
|
Fonte: Department of Commerce (Bureau of the Census and Bureau of Economic
Analysis), Table B -106
2) A conjuntura econômica viria a se deteriorar de maneira
dramática após a crise sistêmica global. A
redução dos impostos realizada entre 2001 e 2003 e os gastos com
as guerras do Afeganistão e Iraque, após a queda das torres
gêmeas, aliados à ampliação dos gastos militares
secretos em função da política anti-terrorista do governo
Bush, continuada por Obama, reduziram drasticamente o perfil tributário
dos EUA. Passou-se de um superávit fiscal em 2000 para um déficit
de 4% do PIB em 2007-2008 (Eichengreen, 2011). Essa conjuntura seria agravada
de maneira dramática em função da crise sistêmica
global, que levou o Tesouro a injetar cerca de 8,5 trilhões de
dólares para salvar os bancos, o que agravou de maneira dramática
a crise fiscal norte-americana.
3) Mas o problema menos conhecido e menos divulgado, mas tão grave como
os precedentemente elencados, é a crise fiscal dos Estados e
Municípios. Atualmente, 45 Estados estão com suas contas no
vermelho. A crise fiscal regional é resultado tanto da recessão
que o país enfrenta desde 2008, que reduziu as receitas, quanto das
perdas oriundas das aplicações financeiras realizadas por Estados
e Municípios na especulação financeira. Uma
particularidade da legislação fiscal norte-americana é o
fato de que os Estados e Municípios são proibidos de ter
déficits, muito embora sempre encontrem uma maneira criativa de burlar a
legislação.
Estados grandes e ricos como a Califórnia se encontram em calamidade
fiscal, enquanto outros mais pobres também possuem déficits
elevadíssimos. Por exemplo, 13 Estados estão com déficit
acima de 20% em relação ao ano fiscal de 2011, seis Estados com
déficit acima de 30% e 15 com déficit acima de 10%, o que
configura uma situação dramática do ponto de vista fiscal
(Tabela2). Como a crise eleva as despesas dos Estados e a recessão reduz
as receitas, temos assim um dilema difícil de ser resolvido e que tende
a se agravar à medida em que a recessão se ampliar pelo conjunto
da economia.
Tabela 2 Déficit dos Estados em relação ao ano
fiscal de 2011
Alabama
|
12,3
|
Loisiania
|
14,3
|
Oklahoma
|
13,7
|
Arizona
|
39,0
|
Maine
|
34,7
|
Oregon
|
34,2
|
Califórnia
|
20,7
|
Maryland
|
15,3
|
Pennsylvania
|
16,4
|
Colorado
|
25,1
|
Massachusetts
|
8,6
|
Rhode Island
|
13,4
|
Connecticut
|
28,8
|
Michigan
|
9,3
|
South Carolina
|
26,1
|
Delaware
|
11,4
|
Minnesota
|
25,0
|
South Dakota
|
8,8
|
District of Columbia
|
4,5
|
Mississipi
|
15,9
|
Tennessee
|
9,4
|
Florida
|
19,5
|
Missori
|
9,4
|
Texas
|
20,9
|
Georgia
|
25,4
|
Nebraska
|
9,7
|
Utah
|
14,7
|
Hawai
|
16,2
|
Nevada
|
54,5
|
Vermont
|
31,3
|
Idaho
|
3,5
|
New Hampshire
|
27,2
|
Virginia
|
8,5
|
Illinois
|
40,2
|
New Jersey
|
38,2
|
Washington
|
29,6
|
Indiana
|
9,4
|
New Mexico
|
9,1
|
West Virginia
|
3,6
|
Iowa
|
20,3
|
New York
|
15,9
|
Wiscosin
|
24.9
|
Kansas
|
10,1
|
North Carolina
|
30,6
|
Wyoming
|
10,3
|
Kentucky
|
9,1
|
Ohio
|
11,0
|
States total
|
19,9
|
Fonte: Center Of Budget and Policy Priorits, Tabel 4, March, 2012, by Elizabeth
McNichol, Phil Oliff and Nicholas Johnson
Esta crise dentro da crise vem afetando diretamente a população,
uma vez que os Estados endividados diminuem os salários dos
funcionários e reduzem serviços como linhas de metrô,
coleta de lixo, limpeza, assistência médica aos pobres, velhos e
deficientes. Há ainda os cortes nas verbas para escolas e faculdades,
demissão de professores, policiais, pessoal médico e
funcionários públicos em geral. Some-se a isso o fato de que a
infraestrutura de vários Estados e Municípios está em
frangalhos, com equipamentos sociais precários, pontes desabando,
escolas e hospitais sucateados.
Além dos problemas relacionados, um outro fator também veio
adicionar mais um elemento explosivo: a crise dos títulos municipais (
Munis Bonds
) e a incapacidade dos governos locais de pagá-los diante da conjuntura
de penúria fiscal. Trata-se de um mercado de US$ 3 trilhões,
geralmente estável em tempos de bonança. No entanto, como em
todas as crises, algumas questões que estavam adormecidas afloram na
superfície com uma veemência extraordinária.
Pode-se dizer que há um sinal amarelo no mercado de
Munis Bonds,
não apenas porque há pelo US$ 10 mil milhões em
títulos inadimplentes e outros US$$ 22 mil milhões em estado de
stress,
como costumam se referir eufemisticamente os comentaristas econômicos
norte-americanos. Mas o indicador mais objetivo da crise desse mercado foi o
fato de a Standard & Poor´s ter rebaixado a nota
tríplice A (AAA)
de 4% dos títulos desse mercado. Portanto, à medida em que a
crise for avançando, o mercado de
Munis Bonds
também seguirá a rota de desagregação,
amplificando para as populações regionais a crise nacional.
Outros dos indicadores da crise fiscal podem ser localizados nos gastos
militares dos Estados Unidos. Mesmo com as promessas de retirada das tropas do
Iraque e Afeganistão, os gastos norte-americanos continuam
desproporcionais em relação ao resto do mundo. Para se ter uma
idéia, o orçamento militar de 2011 está calculado em US$
700 mil milhões (4,8% do PIB), um quantum maior que os 17 maiores
orçamentos militares do planeta e seis vezes maior que o da China, a
nação com o segundo maior gasto do mundo. Nesta questão
tanto faz ser republicano ou democrata, todos estão de acordo em manter
a aperfeiçoar a máquina de guerra norte-americana e continuar
alimentando o complexo industrial militar. Segundo informações
dos meios de comunicação, essa máquina de guerra é
composta por 560 bases militares fora dos Estados Unidos e um aparato de
espionagem que tem mais pessoas com acesso a informações secretas
que todas as pessoas que vivem na capital, Washington.
Quem imaginar que o final da guerra fria significou a redução
desta máquina de guerra está completamente enganado. Hoje, os
Estados Unidos não têm concorrentes no espaço aéreo
nem nos mares: porta-aviões gigantes, submarinos atômicos,
satélites por toda a parte, aviões robôs, bombas
inteligentes guiadas a laser, caças-bombardeios, aviões
invisíveis, tanques e helicópteros da mais alta
sofisticação compõem a máquina militar mais
agressiva que a humanidade já conheceu. Muito embora esse aparato seja
assustador, ironicamente está perdendo a guerra para beduínos nas
areias do Iraque e guerrilheiros das montanhas no Afeganistão, o que
demonstra que a hegemonia não envolve apenas questões militares.
A crise da dívida dos Estados Unidos
A dívida dos Estados Unidos condensa atualmente toda a dinâmica da
economia norte-americana, seus problemas, contradições e
perspectivas, porque sintetiza historicamente as opções
econômicas estratégicas, a euforia e as debilidades da economia
líder do sistema capitalista. A crise da dívida, portanto,
é o elemento catalisador de todos os problemas da sociedade
norte-americana. Os dilemas políticos ocorridos recentemente no
Congresso, referentes ao aumento do teto da dívida, são apenas a
ponta do iceberg da crise política, econômica e social de um
sistema imperial em decadência, cujos contornos ficarão mais
claros à medida em que a crise for aprofundando as
contradições de uma economia ferida.
Ao longo dos últimos 30 anos a dívida pública funcionou
como uma espécie de colchão social, econômico e financeiro
do sistema de poder imperial norte-americano. Trata-se de um débito que
estruturou macroeconomicamente toda a ordem econômica internacional e
possibilitou aos Estados Unidos viverem por várias décadas com
déficits permanentes, um padrão de vida acima da média
mundial, enquanto os países superavitários transformavam seus
saldos comerciais positivos em títulos da dívida pública
norte-americana.
Em função do poderio de sua economia, da liderança que
exerciam no mundo capitalista, da sofisticação de seu mercado
financeiro e da liquidez de seus papéis, os títulos da
dívida dos EUA eram considerados o porto mais seguro para as
aplicações das reservas internacionais de grande maioria dos
países industrializados. Nações como a China, o
Japão e o Brasil, principais detentores desses títulos,
acumularam por anos a fio superávits comerciais e os trocaram por
T-Bonds,
títulos do Tesouro norte-americano, mesmo a uma taxa de juros
extraordinariamente baixa, como se esses papéis representassem a
cristalização do valor produzido mundialmente.
Para os Estados Unidos, tratava-se de um bom negócio. Sem trocadilho: um
negócio da China! Como num transe de mágica, os sucessivos
governos dos Estados Unidos conseguiam trocar papéis pintados
(dólares) ou promissórias (títulos da dívida),
ambos sem lastro em ativos reais, por bens tangíveis dos países
produtores de manufaturas do resto do mundo. Demorou muito para que os governos
começassem a compreender que a quantidade de dólares impressos
pelos Estados Unidos e espalhados pelo mundo, bem como os títulos da
dívida pelos quais trocavam seus superávits comerciais,
não possuíam relação direta com os ativos reais dos
Estados Unidos. Em outras palavras, os agentes econômicos que
participaram dessa pantomina estão atualmente com uma batata quente na
mão, pois a qualquer momento podem ser surpreendidos pela
terrível notícia que seus papéis não valem quase
nada, foram desvalorizados pela lei do valor.
Essa severa realidade está se aproximando com uma velocidade acentuada,
em função desta terceira onda da crise global. Conforme
advertíamos no início de 2009, a crise iria produzir um conjunto
de fenômenos novos:
"Quanto mais a crise se acirrar, mais haverá a possibilidade de
questionamento da hegemonia norte-americana e um acirramento da disputa
interimperialista, pois a crise pode gerar um clima de salve-se quem puder ...
Existe ainda a possibilidade concreta de uma maxidesvalorização
do dólar ou de um calote generalizado da dívida externa
norte-americana".
Naquela época pode ter parecido um exagero essas
afirmações, mas agora já é parte de uma dolorosa
realidade dolorosa para o mundo.
A dívida pública dos Estados Unidos vem crescendo de maneira
impressionante desde o início deste século: correspondia a cerca
de U$ 5 trilhões em 2000 e agora em outubro de 2011 se situa em torno de
US$ 15 trilhões (aumentou três vezes na década), ou seja,
cerca de 100% do PIB. Uma dívida dessa magnitude não seria grande
problema se as circunstâncias não fossem as mais sombrias para a
economia norte-americana, afinal países como a Itália convivem
com déficits de mais de 100% do PIB há vários anos. Mas
num período de crise sistêmica todos os valores do período
anterior passam a ser questionados. O debilitamento da economia, aliada
à disputa recente entre os republicanos e democratas em
relação ao teto da dívida, acendeu o sinal amarelo para os
detentores dos
T-Bonds,
criou um clima de desconfiança entre principais agentes
econômicos, especialmente a China, e dificilmente essa conjuntura
será revertida, em função do agravamento da crise.
Em termos de perspectiva, os
T-Bonds
já não podem ser considerados a base das finanças
mundiais, uma vez que estão mais claras uma série de fissuras na
estrutura de dominação econômica e financeira dos Estados
Unidos. Pela primeira vez em 70 anos, uma agência de
classificação de risco rebaixou a nota dos títulos
norte-americanos. Um dos principais fundos privados de investimentos dos
Estados Unidos, o PINCO, já colocou os
T-Bonds
fora do seu portfólio. A China, principal credor, discretamente
está se desembaraçando desses títulos. E não faz em
maior velocidade porque está presa ao destino de seu maior devedor. Caso
se desfaça rapidamente a crise se aprofundará, haverá uma
grande desvalorização, o que significa também
prejuízos na mesma proporção para os chineses. Os bancos
centrais dos principais países industrializados estão acelerando
a compra de ouro, o que tem feito o preço do metal subir
vertiginosamente, ao mesmo tempo em reflete a desconfiança na capacidade
dos EUA de honrar a dívida.
Numa conjuntura dessa ordem a tendência principal é uma
contínua deterioração da situação
econômica financeira do País e, consequentemente, uma perda de
confiança dos agentes econômicos na capacidade dos Estados Unidos
de honrar a dívida. Quanto mais a conjuntura interna se deteriora
(recessão, desemprego, crise imobiliária, austeridade fiscal,
crise nas administrações locais, crise do dólar, crise
social) basta uma fagulha, um elemento fortuito, para desencadear a nova onda
da crise de grandes proporções que já está madura
no interior do sistema. Uma crise no coração do sistema se
espalhará pelo conjunto do planeta como um rastilho de pólvora,
colocando a economia mundial numa situação mais explosiva que a
de 2008.
A crise do dólar como moeda mundial
A dívida pública dos Estados Unidos e o dólar são
como irmãos siameses. Portanto, o destino de um está ligado
à performance do outro e vice-versa. Por isso, a crise da dívida
contamina o prestígio da moeda norte-americana, abala sua credibilidade,
consolida um clima de desconfiança e abre espaço para que os
países passem a contestar com mais rigor a hegemonia do dólar.
Por isso, várias nações já propõem
abertamente a substituição do dólar como moeda mundial e
instrumento de referência das transações internacionais.
O prestigio de uma moeda especialmente uma moeda de reserva
internacional está umbilicalmente ligado à
performance
da economia que a emite. Desde os acordos de Bretton Woods o dólar tem
sido a moeda de referência internacional. Mesmo que na década de
60 alguns países europeus, especialmente a França, tenham
questionado o privilégio norte-americano, mesmo com a
desvinculação do dólar em relação ao ouro
anunciada por Nixon em 1971, a moeda norte-americana continuou sendo um porto
seguro para as reservas internacionais dos Bancos Centrais e para as
transações do comércio internacional.
No entanto, com a decadência da economia dos Estados Unidos, a
emergência da China como potência mundial e o aparecimento do euro
como moeda de grande parte dos países da Europa e, especialmente, com a
crise sistêmica mundial e o aumento exponencial do endividamento
norte-americano, o panorama mudou radicalmente. O que era impensável em
tempos de calmaria a crise da dívida e a crise do dólar
hoje é uma realidade para grande parte dos agentes
econômicos. A maior parte dos Bancos Centrais bem que gostariam de se
desfazer do dólar, mas um movimento brusco dessa ordem levaria a
economia mundial ao caos e os países detentores de dólares a
registrar enormes prejuízos.
O governo norte-americano injetou, desde o início da crise, cerca de US$
8,5 trilhões para salvar os bancos e empresas e lançou dois
Quantitative Easing
(QE1 e QE2) e agora está com poucas condições de
lançar um
Quantitative Easing 3,
porque as medidas tomadas anteriormente reduziram o estoque de
ações do Federal Reserve, até mesmo estas
trilionárias injeções de capitais não apresentaram
resultados desejados, uma vez que a economia continua em processo de
deterioração. Essa quantidade de dinheiro em
circulação é uma bomba de efeito retardado para a economia
dos Estados Unidos, pois em algum momento isso se refletirá em aumento
da inflação e, conseqüentemente da taxa de juros, o que
significa um tiro de misericórdia para qualquer esperança de
recuperação econômica.
Além disso, as ações monetárias unilaterais geram
sérios atritos com os aliados, porque inauguram uma espécie de
guerra cambial sem nenhuma regulação. Com a
inundação de dólares sem lastro no mundo, haverá
uma sobrevalorização das moedas nacionais (e uma
desvalorização do dólar) e um impacto negativo nas
balanças comerciais, pois quanto mais valorizada a moeda nacional menos
o País terá condições de exportar. Nesse contexto,
cada País procurará tomar as medidas necessárias para
proteger o seu setor exportador, o que em última instância
tenderá a desencadear um protecionismo generalizado, um clima de
salve-se quem puder.
Como os Bancos Centrais não podem se desfazer bruscamente do
dólar, seguem uma estratégia discreta de diversificar seu
portfólio, comprando ouro e realizando transações
comerciais bilaterais em moedas locais (yuan na Ásia, Euro na Europa,
Real com alguns países da América Latina) ou realizando fortes
investimentos na aquisição de ativos reais pelo mundo, como
compra de terras na África e América Latina, e empresas
lucrativas em vários países, de forma a se desfazerem dos
dólares em carteira. Mas esses movimentos não resolvem o problema
central: há mais dólares no mundo que os ativos reais
norte-americanos possam representar e esse fato em algum momento será um
fator para a contestação final do dólar como moeda de
reserva, como já vem sendo feito pela China, especialmente com o
agravamento da crise, afinal uma economia moribunda não pode ter uma
moeda de reserva mundial.
No entanto, a crise não significa que uma outra moeda venha substituir
imediatamente o dólar, pois este ainda possui um peso grande na economia
mundial e o Euro ou o Yuan ainda não estão em
condições de substituí-lo. Para se ter uma idéia, o
dólar representava 61% das divisas internacionais, em 2010. Continua a
moeda dominante nos mercados cambiais, com 85% das operações;
Cerca de 45% dos títulos das dívidas dos países são
expressos em dólar (Eichengreem, 2011). Portanto, numa
situação de crise, uma solução temporária
poderá ser a criação de uma cesta de moeda compostas por
Euro, Yuan, Dólar, Real, Rublo e DES (Depósitos Especiais de
Saque) do FMI. Mas essa solução não impediria a
desarticulação do sistema monetário financeiro montado a
partir de 1945.
A crise na União Européia
A União Européia é parte integrante do sistema
imperialista mundial, especialmente a Alemanha, França, Inglaterra e
Itália, e o velho continente está também envolvido
profundamente na crise sistêmica global e sofrerá
conseqüências semelhantes às que estão atingindo a
economia líder, tendo em vista as interconexões entre o grande
capital e as operações econômicas cruzadas entre as
várias frações da burguesia dos países centrais.
Acrescente-se a isso a identidade destas classes dominantes com o sistema
político e econômico neoliberal, implantado a partir do final da
década de 70, com a eleição de Margareth Tatcher, na
Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, além das
próprias contradições do capitalismo europeu.
A formação da zona do euro, sob a orientação do
Tratado de Maastricht, consolidou uma Europa do capital, no qual as
frações mais reacionárias da burguesia impuseram aos
países participantes um conjunto de leis e regras que buscam garantir
seus interesses econômicos e políticos, às custas dos
trabalhadores e dos povos europeus. Estruturou-se um conjunto de
instituições regidas pelos interesses do grande capital, sob a
ótica neoliberal, mesmo com este já moribundo, uma hierarquia
draconiana entre as nações e um sistema esquizofrênico onde
existe uma moeda única sem um Estado para respaldá-la, nem um
emprestador de última instância; com um teto de déficit
público formal, irrealista, especialmente em função da
crise, e uma assimetria fiscal que torna a gestão macroeconômica
da política monetária uma lenda.
Apesar de ser parte do sistema imperialista mundial, a União
Européia possui um conjunto de singularidades que devem ser levadas em
conta na análise desta crise. A primeira é a própria
constituição do bloco econômico, um processo que vem se
consolidando há várias décadas e que criou certa
identidade cultural entre os povos. A segunda é a criação
de uma moeda única na zona do euro. Mesmo levando em conta a
heterogeneidade das economias, o desenvolvimento desigual e as questões
fiscais, o euro rapidamente se constituiu num importante instrumento de reserva
dos bancos centrais, representando hoje 21% de todas as reservas em poder dos
estados nacionais. Além disso, o próprio desenvolvimento desigual
do capitalismo e os interesses dos diversos blocos das burguesias dos
países centrais, criam necessariamente disputas entre as
frações do grande capital da União Européia e as
frações dominantes do capital da economia líder e dos
outros países imperialistas, o que tem se refletido em decisões
de política internacional e na própria gestão da crise
européia.
No entanto, o processo que atinge a Europa e que se expressa atualmente na
crise das dívidas soberanas tem origem tanto nas
contradições do capitalismo europeu e seu modelo neoliberal
atrelado à economia líder, quanto da opção dos seus
governos em salvar os bancos com recursos públicos, cujo resultado levou
ao acirramento da crise, com a ampliação extraordinária
das dívidas soberanas. Se observarmos a evolução das
dívidas dos países europeus poderemos ver claramente o impacto
fiscal das operações de salvamento dos bancos europeus:
A dívida total dos países da área do euro correspondia a
79,3% do PIB em 2008 e cresceu para 102,4% em 2011. Se observarmos
isoladamente os diversos países da Europa, numa hierarquia inversa em
função da crise veremos mais precisamente o impacto das
operações de salvamento dos bancos. A dívida grega, que em
2008, era de 116,1% do PIB aumentou para 157,1% em junho de 2011. A
dívida portuguesa aumentou, no mesmo período, de 80,6% do PIB
para 110,8%; a da Espanha de 47,4% para 74,8%; a da Itália, cresceu de
de 115,2 para 129,0%; a da Irlanda de 49,6 para 120,4%; a da Inglaterra de 57%
para 88,5%; a da França de 77,8 para 97,3%; e a da Alemanha de 69,3
para 87,3%. O Japão, o mais endividado, passou de uma dívida de
174,1 em 2008 para 212,7% em junho de 2011. Em todos os países, o que se
nota é um salto extraordinário no endividamento após a
crise (Tabela 3).
Tabela 3 Passivo financeiro dos países centrais em
relação ao PIB
(junho de 2011)
Países
|
2000
|
2005
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
Bélgica
|
113,7
|
95,9
|
93,3
|
100,5
|
100,7
|
100,4
|
Alemanha
|
60,4
|
71,2
|
69,3
|
76,4
|
87,0
|
87,3
|
Grécia
|
115,3
|
121,2
|
116,1
|
131,6
|
147,3
|
157,1
|
Irlanda
|
39,4
|
32,6
|
49,6
|
71,6
|
102,4
|
120,4
|
Itália
|
121,6
|
120,0
|
115,2
|
127,8
|
126,8
|
129,0
|
Japão
|
135,4
|
175,3
|
174,1
|
194,1
|
197,7
|
212,7
|
Portugal
|
60,2
|
72,8
|
80,6
|
93,1
|
103,1
|
110,8
|
Espanha
|
66,5
|
50,4
|
47,4
|
62,3
|
66,1
|
74,8
|
França
|
65,6
|
75,7
|
77,8
|
89,2
|
94,1
|
97,3
|
Inglaterra
|
45,1
|
46,4
|
57,0
|
72,4
|
82,4
|
88,5
|
EUA
|
54,5
|
61,4
|
71,0
|
84,3
|
93,6
|
101,1
|
Eurozona
|
75,8
|
78,1
|
76,5
|
86,9
|
92,7
|
95,6
|
Total OCDE
|
69,8
|
76,3
|
79,3
|
90,9
|
97,6
|
102,4
|
Fonte: OECD Economic Outlook. No. 89, 2011
Apesar de a crise expressar-se mais explicitamente na questão das
dívidas soberanas, esta é uma crise do sistema como um todo. Sua
expressão nas dívidas soberanas é apenas a face mais
visível da crise sistêmica global na Europa. Um dado importante a
ser analisado é o fato de que as classes dominantes européias,
mesmo com a experiência da primeira onda da crise, continuam insistindo
nos velhos métodos do passado como se essa crise não tivesse
características inteiramente diferentes das crises anteriores. O mais
grave desta cegueira política é o fato de que estão
implementando um conjunto de medidas predatórias contra os trabalhadores
que terão como conseqüência o aprofundamento da crise, que
se espalhará para o conjunto das economias capitalistas; a
desagregação do sistema financeiro internacional tal como
conhecemos hoje; a recessão prolongada, o aumento do desemprego e a
crise social.
Vejamos mais detalhadamente os principais elementos dessa conjuntura explosiva.
O ritual é mais ou menos o seguinte: parte expressiva dessa
dívida foi incentivada pelos próprios bancos, no seu permanente
desejo de lucro fácil e sem risco, uma vez que se imaginava que as
dívidas dos Estados eram um porto seguro para as atividades
bancárias. Com a crise de 2008, os Estados ampliaram de maneira
extraordinária seu endividamento para salvar o sistema bancário
da falência. O sistema bancário ganhou sobrevida e impôs
condições financeiras draconianas para os próprios
países que lhes salvaram da bancarrota. Os Estados entraram em crise em
função do aumento cada vez maior do serviço da
dívida. Para garantir seus lucros, o sistema bancário vem
pressionando as instituições e governos europeus para que
imponham aos trabalhadores e ao povo em geral ajustes predatórios para
que possam pagar a dívida.
Vale ressaltar que a troika (União Européia, Banco Central
Europeu e FMI) tem se comportado nesta crise como uma junta de representantes
do grande capital. No entanto, as medidas tomadas até gora, tais como a
criação do fundo de resgate, empréstimos
bilionários ao sistema bancário, os torniquetes econômicos
impostos a países como a Grécia, Irlanda e Portugal, não
foram suficientes para resolver a crise, pelo simples fato de que a crise
sistêmica que envolve o mundo capitalista não pode ser resolvida
com medidas paliativas. Essas medidas apenas adiam o desfecho do processo. Se
observarmos o tamanho das dívidas soberanas e os recursos que
estão sendo organizados para resgatar as economias de um possível
colapso, poderemos constatar que são absolutamente irrelevantes diante
da dimensão do problema.
De fato, as dívidas soberanas dos países da zona do euro,
conforme podemos observar na tabela, são inadministráveis, pois
grande parte desses débitos ultrapassam 100% do PIB. Numa conjuntura de
crescimento econômico, as dívidas poderiam ir sendo roladas sem
grandes problemas, desde que não ultrapassassem certos limites. No
entanto numa conjuntura de crise, com recessão generalizada, desemprego,
queda no consumo e na arrecadação tributária, a
tendência é o aprofundamento da crise, fato que se
concretizará à medida em que o primeiro País se declarar
inadimplente, mesmo que este País não tenha grande
expressão econômica, tendo em vista a estreita
relação entre o endividamento e os bancos da zona do euro. Os
chamados mercados entrarão em pânico, contagiando todas as outras
dívidas e se instalará o caos econômico, um clima de
salva-se quem puder, o que também atingirá em cheio a economia
norte-americana.
Por falar na relação
bancos europeus-dívidas soberanas
, é necessário ressaltar que os bancos do velho continente
estão profundamente envolvidos nesse processo e foram partícipes
artífices do endividamento público. Em termos concretos, os
bancos da Europa têm em carteira 3 trilhões de euros em
títulos da dívida soberana, representando quase 8% de seus
ativos totais, o que por si só dá uma idéia da
dimensão do problema. Se levarmos conta que a crise de 2008 levou
à nacionalização de vários conglomerados
financeiros europeus, imaginem o que poderá acontecer ao sistema
bancário se ocorrer uma onde de calote soberano não apenas na
Grécia, Portugal ou Irlanda, mas em países como Espanha ou
Itália ou mesmo a França?!
A cegueira do grande capital e seus representantes políticos diante da
crise é tamanha que agora eles resolveram, num gesto desesperado, deixar
de lado as aparência e intervir diretamente nos países com crises
mais explícitas e exercer diretamente o poder político nas
instituições e governos da região. É o caso dos
pró-consules da Goldman Sachs que assumiram o poder na Europa. Ferina
ironia: os homem que fabricaram a crise estão agora comandando o poder
econômico e político na Europa. Sob a proteção da
manipulação midiática, que os apresenta como um
"governo técnico", eles estão encarregados de
implementar o trabalho sujo, que consiste em saquear as economias nacionais,
privatizar o patrimônio público, aumentar os impostos, ampliar o
desemprego, cortar os salários, as pensões, reduzir o
padrão de vida dos povos para satisfazer o apetite voraz do capital
financeiro.
Vejamos quem são esses personagens: Mário Draghi, antigo
vice-presidente e membro do Comitê de Administração da
Goldman Sachs, que tinha como uma de suas funções vender
swaps
aos países europeus, agora é presidente do Banco Central Europeu
(BCE); Mario Monti, ex-presidente da Comissão Trilateral, do grupo
Bilderberg, também assessor internacional da Goldman, agora é o
principal dirigente político da Itália; Lucas Papademos,
ex-governador do Banco Central Grego, participou das operações de
falsificação das contas do País a serviço da
Goldman, agora é o líder político da Grécia;
além de outros personagens influentes na Europa e que participam da rede
da Goldman na região.
[13]
Em relação a esses personagens, vale o que disse certa vez
Alessio Rastani, ex-trader, numa entrevista à BBC que chocou os mais
desavisados; "Os políticos não governam o mundo. A Goldman
Sachs governa o mundo".
Essa ação desesperada do grande capital na Europa pode ser o
canto dos cisnes antes da tempestade, mas vale uma advertência: a
ação ousada do capital representa um perigo para o padrão
de vida não apenas dos trabalhadores e da população em
geral, mas para a própria democracia, pois a burguesia, em sua busca
desesperada para sair da crise não apenas vem colocando todo o custo da
crise na conta dos trabalhadores, como também não hesitará
em atropelar a democracia e criar um clima de terra arrasada, caos,
instabilidade, para atingir seus objetivos, instalando governos de
caráter fascista, como ocorreu na Alemanha e Itália na
década de 30, com as conseqüências que todos conhecemos.
A luta de classes mudou de patamar
Mas um fenômeno novo vem ocorrendo nesta conjuntura, que é a
emergência das lutas sociais em praticamente todas as regiões do
planeta. Ainda embrionárias, com certo grau de espontaneísmo, sem
uma vanguarda com capacidade de construir um projeto alternativo ao do capital,
as lutas de massas mudaram de patamar. Na primeira onda, a crise não
teve uma resposta contundente dos trabalhadores, em termos de lutas sociais.
Tomados de surpresa pela intensidade da crise, sem uma direção
que as orientasse no sentido da combatividade de classe, fragmentados em
função da reestruturação produtiva, do refluxo que
caracterizou as três décadas de neoliberalismo e da ofensiva
contra o movimento sindical e os direitos dos trabalhadores operados pelos
sucessivos governos neoliberais, os trabalhadores praticamente se comportaram
como coadjuvantes diante da crise mundial.
O grande capital, também tomado de surpresa pela intensidade da crise,
buscou num primeiro momento resolver os problemas injetando uma quantidade
extraordinária de recursos na área financeira, visando evitar o
colapso do sistema. No entanto, tão logo foram aliviados os sintomas
mais perversos da crise, o grande capital se estruturou em nível
internacional, especialmente nos países centrais, para colocar todo o
ônus da crise na conta dos trabalhadores, com medidas draconianas,
impensáveis há poucos anos atrás, buscando aplicar aos
trabalhadores uma derrota histórica, condição essencial
para recuperar as taxas de lucros, disciplinar a classe operária, sair
da crise e organizar a economia em novo patamar, de acordo com seus interesses.
Mas, ao contrário do que imaginam os gestores do capital, essas medidas
predatórias podem até apresentar algum resultado no curto prazo,
mas é uma bomba de efeito retardado no médio prazo, uma vez que
provocarão queda na atividade econômica, desemprego, queda na
renda e no consumo e, portanto, mais recessão e mais crise. Realizar os
ajustes draconianos em nível global, como está sendo feito na
Europa, levará o mundo a uma depressão prolongada, maior que na
crise de 1930, e a um levante social também de caráter global.
Uma coisa é implementar essas medidas em países em que a
miséria é parte da vida quotidiana das pessoas. Outra, é
realizar essas medidas nos países onde as conquistas sociais já
faziam parte do quotidiano da sociedade. A reação nessas
sociedades pode ser muito maior, mais organizada, até mesmo porque as
relações de produção são muito mais
avançadas.
Conforme advertíamos em nosso primeiro artigo,
[14]
a crise torna a burguesia mais agressiva e evidencia de maneira mais clara os
projetos do capital para resolver os problemas oriundos da crise. Do ponto de
vista militar, pode-se constatar claramente uma ofensiva do imperialismo no
sentido para fomentar intervenções militares e guerras em
várias regiões, como os casos recentes da Líbia, da
Síria e do Irã. Do ponto de vista econômico há uma
ação articulada do capital no sentido de avançar sobre as
finanças do Estado, bem como sobre os direitos e garantias dos
trabalhadores e, do ponto de vista político, o capital vai cada vez mais
tirando a máscara e impondo aos povos governos diretamente geridos pelos
representantes do capital, cujas ações vem sendo realizadas no
sentido de suprimir as próprias liberdades democráticas
típicas dos tempos de calmaria do capitalismo.
Diante desse quadro, os trabalhadores vão tomando consciência da
conjuntura num processo de aprendizado mais rápido que nos tempos de
calmaria. A partir do momento em que os governos começaram a tomar
medidas concretas contra seus direitos e garantias, como no caso atual da
Europa, a crise abre espaço para a emergência da luta popular, os
trabalhadores e a população começam a sair às ruas
em resistência aos ajustes, vão perdendo o medo, reorganizando
suas forças e a luta de classes se intensifica.
Conforme ainda afirmávamos no mesmo artigo, a crise iria abrir a
possibilidade de uma retomada da luta de massas em caráter mundial,
especialmente nos países centrais.
"Os desdobramentos desta crise vão atingir profundamente os
trabalhadores em termos de emprego e de renda e vão acirrar a luta de
classes nos países centrais e na periferia. Ao contrário do senso
comum e de muitos companheiros da esquerda, nós achamos que o potencial
da classe operária e dos trabalhadores em geral é muito mais
forte nos países centrais que na periferia, pois é exatamente nos
países centrais onde se encontra a classe operária mais
avançada do ponto de vista das forças produtivas e o capitalismo
mais maduro. Portanto, é o teatro de operações mais
favorável para a luta de classes que nos países atrasados".
Essa nossa análise continua válida para este momento
histórico, muito embora a luta de classes não tenha ainda
atingido, da mesma maneira que na Europa, o coração da economia
líder, os Estados Unidos. Se observarmos o desenvolvimento da luta de
classes em caráter mundial desde 2008, poderemos constatar que ocorreu
uma mudança de qualidade em praticamente todos os continentes. Poucas
pessoas imaginariam a queda dos regimes da Tunísia, do Egito, do
Iêmen e as lutas ainda em curso dos povos árabes e do norte da
África e Oriente Médio contra os sistemas tirânicos nessas
regiões.
Na Europa, onde o ajuste predatório promovido pelo capital é mais
forte, tem ocorrido lutas em todos os países e, em muito deles, como na
Grécia, se aproxima de insurreição popular. Até
mesmo nos Estados Unidos ocorreram várias lutas sociais, em
vários Estados, e um importante movimento social, o
Ocuppy Wall Street,
pode ter um desdobrando muito grande no futuro próximo. Na
América Latina, as lutas sociais também estão ocorrendo de
maneira efetiva, apesar de a região não ter sofrido o impacto da
crise da mesma forma como ocorreu nos países centrais.
Até agora, no entanto, a resistência popular à ofensiva do
capital não tem sido realizada de forma organizada na maioria dos
países. Isso se deve ao fato de que, em função da crise do
socialismo, com a queda da URSS, ocorreu uma desagregação
generalizada política, orgânica e ideológica dos
comunistas, o que afetou de maneira profunda o curso da luta de classe em
nível mundial. Mas a crise é um fenômeno objetivo e se
desenvolve independentemente da vontade das pessoas. Como a crise vai se
aprofundar, o capital também vai procurar de todas as formas aprofundar
o ajuste em caráter mundial, o que ampliará a resposta dos
trabalhadores.
O futuro em disputa
A crise, por sua profundidade, dimensão e ofensiva do capital,
compõe um labirinto de possibilidades tanto para o capital quanto para
os trabalhadores. As crises em geral e as crises sistêmicas em
particular, significam a hora da verdade da luta de classes. As classes
fundamentais, burguesia e proletariado, entram em disputa aberta mesmo que a
luta aparentemente não se torne explícita. Cada classe vai medir
forças para implementar seu projeto de acordo com seus interesses e
quando mais a crise se estender, maior será o acirramento da luta de
classes.
Neste momento o capital está na ofensiva política, militar e
econômica, mas seu calcanhar de Aquiles é a própria crise
econômica que não consegue resolver. Conforme
assinalávamos, a crise se desenvolve em três patamares, a saber: a
crise econômica, que leva à crise social, que se os problemas
não forem resolvidas leva à crise política. A crise
econômica e a crise social estão na ordem do dia e a crise
política é o próximo momento da crise sistêmica
global, quando ocorrer a desarticulação monetária
financeira global e um ambiente de salve-se quem puder, com novas quebras
financeiras, protecionismo, ampliação da guerra cambial, ditadura
aberta do capital e emergência do movimento social em
função da desarticulação política do poder
do capital.
Nada está descartado num ambiente de crise econômica, social e
política do capital, nem mesmo um governo ao estilo fascista como na
década de 30 na Europa, nem a revolução social. As crises
funcionam como parteiras de uma nova época tanto para a burguesia quanto
para o proletariado. Em função da crise e das lutas sociais, pode
iniciar-se um período de repressão aberta contra os
trabalhadores, sob o pretexto de manter a lei, a ordem e a estabilidade
econômica. Mas também pode ocorrer uma resposta dos trabalhadores
muito maior do que se imaginava no início da crise. Vale lembrar que as
crises levam a um aprendizado acelerado das massas. Setores que antes pareciam
adormecidos, irrompem na cena política de maneira inesperada, há
uma mudança nas condições subjetivas de sua
organização.
Isso não significa que toda crise sistêmica gere fascismo ou
revolução. São apenas possibilidades. Mas a luta entre
capital e trabalho em caráter mundial está num outro patamar. O
mundo que emergirá após a crise será muito diferente da
ordem estruturada em Bretton Woods. Não se pode prever qual será
a classe vitoriosa nesse processo que se abriu com a crise de 2008, mas a
construção de um mundo futuro será resultado do embate que
as duas classes fundamentais travarão ao longo da crise sistêmica
global.
Notas
1- Karl Marx. Contribuição à Crítica da Economia
Política, pag. 6. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
2- Karl Marx. Manifesto Comunista, pg. 45. São Paulo: Boitempo
Editorial, 1998.
3- Engels, Friedrich. Prefácio à edição inglesa do
capital. Volume I, pg 33. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
4- Engels, Friedrich. O capital. Vol. II. Pg. 28. São Paulo: Abril
cultural, 1983.
5- Roubini, N. Mihm, S. A economia das crises Um curso relâmpago
sobre o futuro do sistema financeiro internacional. Rio de Janeiro:
Intrínseca, 2010.
6- Coggiola. O. As Grandes Depressões, 1873-1896 - 1929-1939, pag.
72-3. São Paulo: Alameda, 2009.
7- Dobb, M. A Evolução do Capitalismo, 9º. Ed., pag. 300.
Rio de Janeiro: LTC, 2009.
8- Coggiola, O. As Grandes Depressões 1876-18796
1929-1939, pag. 73-73. São Paulo: Alameda, 2009.
9- A extração do valor fora das fronteiras nacionais foi abordada
anteriormente por Michalet, em seu livro capitalismo mundial (Paz e Terra,
1984), muito embora aquela análise não se referisse à
questão da globalização atual.
10- A crise completa do sistema capitalista foi desenvolvida por Lauro Campos
(A crise completa a economia política do não. São
Paulo: Boitempo, 2001), muito embora o autor não estivesse se referindo
especificamente à crise sistêmica global em curso.
11- Costa, Edmilson. A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos
trabalhadores. Resistir.info, 5 de fevereiro de 2009.
12- Trata-se da tese de pós-doutoramento que elaboramos em 2002 no
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
13- Peter Chistodoulos,
hoje administrador da dívida pública grega, também
ex-presidente do Banco Nacional da Grécia e ex-trader da Goldman,
também participou da maquiagem das contas gregas para favorecer a
Goldman; Ottmar Issing, ex-presidente do Bundesbank e conselheiro internacional
as Goldman; Peter Sutherland, ex-presidente da Goldman Internacional, e
ex-integrante da Comissão de Competição da União
Européia; e até mo criar dos BRICS, Peter O´Neil, influente
personagem na formulação das políticas econômicas
atuais, também é um homem da Goldman, pois presidiu a Goldman
Sachs Asset Management.
14- Trata-se do artigo "A crise mundial do capitalismo e a perspectiva
dos trabalhadores", publicado inicialmente em resistir.info e depois
reproduzido em centenas de sites, blogs de vários países e,
posteriormente na revista Novos Temas, do Instituto Caio Prado Junior.
[NR] No Brasil chamam de renda a qualquer espécie de rendimento e
não apenas a renda propriamente dita.
Bibliografia
DEPARTMENT of COMMERCE
. Bureau of the Census and Bureau of Economic Analysis, Table B, 106, 2011.
CAMPOS,
Lauro. A Crise Completa A economia política do Não.
São Paulo: Boitempo Editorial
COGGIOLA,
Oswaldo. As Grandes Depressões, 1873-1986; 1929-1939. São Paulo:
Alameda, 2009.
COSTA , Edmilson. A Crise Econômica Mundial e as Perspectivas do
Capitalismo.
São Paulo: Novos Temas, No. 1, 2009.
_____________ A Globalização Neoliberal e as Novas
Dimensões do Capitalismo. Tese de Pós-Doutoramento. IFCH-Unicamp,
2002.
DOBB, Maurice. A Evolução do Capitalismo. Rio de Janeiro: LTC,
2009.
EYCHENGREEN, Barry. Privilégio exorbitante. Rio de Janeiro: Campus, 2011.
ENGELS, Friedrick. Nota de rodapé. Vol. II de O capital. São
Paulo:
Abril Culural, 1983.
ECONOMIC OUTLOOK
. OCDE, No. 89. Annex Table, 32. General government financial liabilities, 2011.
MCNICHOL, E; OLIFF, P. JOHNSON,
N. States Continue to Feel Recession´s Impact. Center Budget and Policy
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MARX, Karl;
ENGELS, Friedrick. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial,
1998.
MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia
Política. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MICHALE
T, Charles Albert. Capitalismo Mundial. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
OECD. Economic Outlook, No. 89, 2011.
ROUBINI,
Nouriel;
MIHM
, Stephen. A Economia das Crises Um curso relâmpago sobre o futuro
do sistema financeiro internacional. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.
Do mesmo autor:
Uma crítica aos pós-modernistas
A crise mundial do capitalismo e as perspectivas dos trabalhadores
A tragédia da social-democracia retardatária no Brasil
[*]
Doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com
pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
mesma instituição. É professor universitário e
autor de
Imperialismo
(Global, 2007),
A Política Salarial no Brasil
(Boitempo, 1997)
A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo
(Expressão Popular, 2008), além de vários ensaios
publicados no Brasil e exterior. É membro do Comitê Central do PCB.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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