O significado da pressão chinesa por uma nova divisa mundial de reserva

por Washington's Blog

Ontem, depois de a China apelar a uma divisa supra-soberana , o dólar deslizou quando os investidores começaram a ver os números no painel da parede. Especificamente, o Banco Popular da China disse que o Fundo Monetário Internacional deveria administrar parte das reservas cambiais estrangeiras dos seus membros. Ver isto :

"Para impedir as deficiências na principal divisa de reserva, há necessidade de criar uma nova divisa que seja desligada das economias dos emissores", disse o Banco Popular da China (BPC) numa revisão da economia em 2008 hoje divulgada. Em Março, o BPC instara o FMI a expandir operações dos seus Direitos Especiais de Saque (DES) e a avançar rumo a uma "divisa de reserva supra-soberana".

O BPC argumenta que a frequência e a intensidade das crises financeiras que se seguiram ao colapso do sistema de Bretton Woods sugere que os custos do sistema baseado no dólar podem exceder os seus benefícios e que os DES poderiam assumir um papel chave global.

A declaração do BPC vem um dia depois de um alto chefe de investigação do Partido Comunista ter dito que a China deveria comprar ouro e propriedade imobiliária nos EUA ao invés de Títulos do Tesouro.

Responsáveis americanos e comentaristas ocos tentaram minimizar a importância da tendência irreversível do dólar a enfraquecer como a divisa de reserva do mundo . Eles têm argumentado que a China está numa armadilha do dólar. Com milhões de milhões de dólares, argumentam, a China não pode deixar o dólar afundar.

Mas, como destacou Marc Faber, 2 milhões de milhões de dólares nas reservas não é realmente tanto assim para um país muito populoso como a China. E a China há muito indicou que estava gradualmente a sair dos dólares. Os sinais vieram na forma de: (1) a China a sair de títulos do Tesouro longos rumo àqueles com duração de três anos ou menos, e (2) a China a utilizar as suas reservas para comprar commodities, ao invés de mais dólares.

Nouriel Roubini argumenta :

O processo que levará – no médio prazo – a um desafio ao US dólar como a principal divisa global de reserva começou. Os credores dos EUA – os BRICs, os estados do Golfo e outros – estão a ficar cada vez mais alarmados com a perspectiva de que os EUA venham a tratar do seu caminho fiscal insustentável através da inflação e da degradação do valor do dólar através da desvalorização. Assim, eles não sentarão passivamente à espera de que isto aconteça: já começaram a diversificar em ouro, recursos (como as compras da China de minas e energia, minerais e commodities por todo o mundo).

E o economista senior do Federal Reserve Bank of Cleveland argumentou no mês passado:

Se bem que os DESs possam hoje ser declarados oficialmente um activo internacional de reserva, eles provavelmente não se tornarão a divisa internacional chave do mundo em qualquer tempo próximo.

Por outras palavras, como explicou Nouriel Roubini, os economistas do Fed acreditam que os DES possam ser declarados divisa de reserva mundial, mas a actual utilidade do dólar como um meio de troca internacional altamente líquido significa que ele não será substituído no futuro próximo como a unidade chave do comércio internacional.

Seria o DES uma divisa de reserva melhor do que o dólar?

Dado o historial do FMI de impor medidas draconianas, destrutivas e anti-democráticas a países do terceiro mundo, não estou seguro de que a designação do FMI como o emissor da divisas mundial de reserva seja uma grande ideia.

Mas para entender o grande quadro dos DESs, dólares e outras potenciais divisas de reservas e meios de troca, temos de dar um passo atrás e verificar o que o dinheiro realmente é.

Deveria ser recordado que o dinheiro em si próprio não tem de ser uma mercadoria valiosa. Obviamente, o ouro é uma mercadoria valiosa e pode servir como dinheiro. E, sob muitos aspectos, ter uma divisa apoiada pelo ouro é melhor do que ter uma divisa fiduciária.

Mas na sua essência, a divisa é unicamente um meio de manter registo das trocas de bens e serviços. Por outras palavras, o dinheiro é simplesmente um meio de manter a contagem, um placard, um sistema de manter registos.

Como tal, o dinheiro poderia ser ligado simplesmente a qualquer coisa objectiva, tal como o índice de preço no consumidor (desde que ele inclua alimentos e energia) ou – como a China propôs – um cabaz de 30 ou mais commodities.

De facto, não há necessidade de os EUA ou qualquer outro país cederem a sua soberania a um grupo de banqueiros internacionais. Por outro lado, não há necessidade para o resto do mundo de ficar obrigado à ditadura unilateral inerente à utilização do dólar como a divisa de reserva mundial.

Ao invés disso, o dinheiro pode ser devolvido à sua função mais minimalista de ser uma fita métrica neutra para medir bens e serviços intercambiados. Por outras palavras, ao invés de ser um instrumento de guerra financeira e opressão, o dinheiro pode retornar à sua função simplesmente como um contador objectivo de quem deve a quem o que pelos bens e serviços que proporcionaram.

Como explica Ellen Brown no seu livro A Teia da Dívida (resumido por Stephen Lendman):

Uma divisa global é outra proposta –que cria mais problemas do que resolve. O mundo "não é uma nação ou uma região" e quem deverá ser o patrão e ficar como responsável? Além disso, se todos os governos emitirem a mesma divisa, "a oferta monetária global (seria) vulnerável a governos irresponsáveis que emitissem demasiado". Os fortes acabariam por dominar os fracos e a soberania nacional seria enfraquecida, talvez finalizada. Um mundo "plenamente dolarizado" é uma receita para a perturbação suficiente para por a escassez "na ordem do dia".

Ao invés de uma divisa, é necessária "uma fita métrica única" contra a qual governos possam avaliar as suas divisas – alguma medida independente através da qual os comerciantes possam negociar os seus contratos e terem certeza de obter o que negociaram"...

As divisas nacionais "tornar-se-iam aquilo que sempre deveriam ter sido – (contratos) ou promessa(s) de retornar bens e serviços de um certo valor, medidos com uma fita métrica universalmente reconhecida para a sua determinação".

O original encontra-se em www.washingtonsblog.com/2009/06/china-pushes-for-move-away-from-dollar.html e http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=14139

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
01/Jul/09