Cidades de tendas nos EUA
A economia em fase terminal
por Paul Craig Roberts
[*]
Cidades de tendas a brotarem por todos os EUA estão a encher-se com os
desempregados e sem-abrigo resultantes da pior crise
económica desde os anos 30. Enquanto os americanos vivem em tendas, o
governo Obama embarca num programa de construção de uma
mega-embaixada de mil milhões de dólares em Islamabad, no
Paquistão, para rivalizar com aquela construída pelo governo Bush
em Bagdad.
Momentos difíceis afligem os estado-unidenses desde há tanto tempo que
até a extensão dos benefícios de desemprego de 6 para 18
meses em 24 estados com elevado nível de desemprego, e de 46 para 72
semanas em outros estados, começa a acabar. Na altura do Natal 1,5
milhão de americanos terão esgotado os seus subsídios de
desemprego, enquanto este continua a aumentar.
No meio desta crise económica em agravamento, a Casa dos Representantes
acaba de aprovar um orçamento de "defesa" de 636 mil
milhões de dólares.
De quem se estão a defender os Estados Unidos? Os americanos não
têm inimigos excepto aqueles que o seu governo se esforça
ininterruptamente por criar, através de bombardeamentos e
invasões de países que não constituem qualquer
ameaça aos EUA ou cercando outros como a Rússia com
bases militares ameaçadoras.
As guerras dos EUA são forçadas para atender à
máquina de lavagem de dinheiro: dos contribuintes e de credores
estrangeiros para a indústria de armamento e para as
contribuições para campanhas políticas que assegurem a
aprovação de orçamentos de "defesa" de 636 mil
milhões de dólares.
O presidente George W. Bush arranjou guerras no Iraque e no Afeganistão
baseadas inteiramente em mentiras e desinformações. Mas Obama
suplantou Bush, começando uma guerra no Paquistão sem qualquer
explicação.
Se a indústria de armamento e os SS neoconservadores levarem a sua
avante, os Estados Unidos estarão em breve também em guerra com o
Irão, Rússia, Sudão e Coreia do Norte.
No entanto, os EUA continuam a ser avassalados, como ocorre há
décadas, não por inimigos armados estrangeiros e sim por
imigrantes ilegais que atravessam as suas fronteiras.
É prova dos tempos Orwellianos em que vivemos que 636 mil milhões
de dólares usados para guerras de agressão sejam chamados de
"orçamento de defesa".
Quem pagará tudo isto? Quando os países estrangeiros tiverem
gasto os seus excedentes comerciais e não tiverem mais dólares
para reciclar na compra de títulos do Tesouro, quando os bancos
estado-unidenses tiverem gasto todo o dinheiro do seu salvamento
("bailout")
na compra de títulos do Tesouro, e quando a Reserva Federal não
puder imprimir mais dinheiro para manter o governo a funcionar sem aumentar a
inflação e as taxas de juros, o contribuinte será tudo o
que resta. Os dois principais conselheiros económicos de Obama, Timothy
Geithner, secretário do Tesouro e Larry Summers, director do Conselho
Económico Nacional, já acenam com a perspectiva de um aumento de
impostos para a classe média. Será Obama manobrado para longe das
suas promessas como ocorreu com Bush sénior?
EMPREGOS EM
TOPLESS
Verão os americanos a desconexão entre os seus interesses e os
interesses do "seu" governo? Na pequena cidade de Vassalboro, no
Maine, uma oferta de trabalho como empregada de mesa em
topless
num café atraiu mais 150 candidatas. As mulheres nesta pequena cidade
estão tão desesperadas por empregos que foram reduzidas a
despir-se para entretenimento dos seus vizinhos.
No entanto, o governo Obama vai arrumar o Afeganistão e o
Paquistão e construir palácios de mármore para espantar os
habitantes locais do outro lado do mundo.
O governo dos EUA continua a repetir "recuperação" da
mesma maneira que Bush repetia "ameaça terrorista" e
"armas de destruição em massa". A
recuperação não é mais real que o eram as
ameaças. De facto, é possível que o colapso
económico mal tenha começado. Vejamos o que se pode esperar aqui
nos EUA enquanto o seu governo busca a hegemonia no exterior.
A crise do imobiliário não acabou. Mais execuções
de hipotecas são de esperar enquanto o desemprego aumenta e a
protecção dos desempregos se esgotam. A crise comercial do
imobiliário ainda não chegou. Vêm a caminho mais
salvamentos, que terão de ser financiados por mais dívida ou
criação de moeda. Se não houver compradores suficientes
para os títulos do Tesouro, a Reserva Federal terá de
comprá-los criando contas à ordem para o Tesouro, isto é,
pela monetarização de dívida ou impressão de
dinheiro.
Mais dívida e criação de moeda colocará mais
pressão sobre o valor de troca do dólar americano. A partir de
certa altura os preços das importações, que incluem bens e
serviços em offshores de empresas estado-unidenses, aumentarão,
contribuindo para aumentar a inflação já alimentada pela
criação interna de moeda. A Reserva Federal será incapaz
de manter as taxas de juro baixas pela compra de títulos.
Parte alguma da política económica dos EUA aborda a crise
sistémica nos rendimentos estado-unidenses. Para a maioria dos
cidadãos os rendimentos reais cessaram de crescer há anos. Os
estado-unidenses substituíram esta falta de aumento nos rendimentos por
segundos empregos e acumulação de dívida devido à
falta de crescimento dos salários reais.. Com a maioria das
famílias esmagada por dívidas e com empregos a desaparecerem,
estes substitutos para um crescimento real dos rendimentos simplesmente
já não existem.
A política económica Bush-Obama na verdade piora a crise
sistémica que o dólar americano enfrenta enquanto divisa de
reserva. O facto de não haver alternativa ao dólar como divisa de
reserva não garante que este se mantenha nesse papel. É
possível que os países comecem a achar menos arriscado realizar
transacções comerciais com as suas próprias divisas.
Como é que uma economia fortemente baseada em gastos dos consumidores
recupera quando tantos empregos de valor acrescentado, o PIB e as receitas
fiscais associadas sobre as folhas de pagamentos, foram levados para o exterior
e quando os consumidores não têm mais bens com que alavancar um
aumento dos seus gastos?
Como é que os EUA pagarão as suas importações se o
dólar não for mais usado como divisa de reserva?
Estas são as questões não respondidas.
[*]
Ex-assistente do secretário do Tesouro na administração
Reagan, co-autor de
The Tyranny of Good Intentions
. Email:
PaulCraigRoberts@yahoo.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/roberts08062009.html
. Tradução de JC.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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